domingo, 30 de setembro de 2012

Caminho de Swann

Henry Ryland - Amendoeiras em Flor

“Possuía ela, para julgar as coisas que se devem ou não se devem fazer, um código imperioso, abundante, sutil e intransigente, com distinções imperceptíveis ou ociosas (o que lhe dava a aparência dessas leis antiga que, a par de prescrições ferozes como o massacre de crianças de peito, proíbem, com exagerada delicadeza, que se cozinhe o cabrito no leite de sua própria mãe ou que se coma ou que se coma o tendão de algum animal)” .
Marcel Proust, em " Caminho de Swann"
Tradução: Mario Quintana

sábado, 29 de setembro de 2012

Solidão

(John William Godward)
Quanto mais ando a procura de gente
mais me encontro sozinho no vago...
e eu nem sabia mais o montante
que queria, nem aonde eu extenso ia...
mas talvez o que sentia... Solidão!

João Guimarães Rosa (1908-1967)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Apontamentos

Jane Small
O deslizante cisne destas águas
nem simbolista nem parnasiano;
a tartaruga em si mesma trancada;
as rêmiges de fogo no viveiro;
o cris da areia em solas transeuntes;
o guarda que de inerte se assemelha
às árvores, e árvore é com sua farda;
o macaco brincando de ser gente;
a foto de jornal sobre o canteiro;
essa flor que nasceu sem dar aviso
nos ferros rendilhados do gradil;
a caixa envidraçada de empadinhas
e cocadas baianas logo à entrada;
o ver, em si, como ato de viver;
o perder-se e encontrar-se nas aléias,
no entrelaçar de curvas sombreadas,
de onde espero surgir alguma ninfa
sem que surja nenhuma (e continuo
procurando a metáfora do sonho);
o barquinho alugado por sessenta
minutos, e o perfume, que é gratuito,
de resinosos troncos tutelares
desta gentil paisagem recolhida;
uma cantiga - ó minha Carabu...
entoada à distância e logo extinta;
o torpor que a meu ser eis se afeiçoa
na vontade de relva, de reflexo,
de sopro, de sussurro me tornar;
a ausência de relógio e de colégio,
de obrigação, de ação, de tudo vão.

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Dia de Cosme e Damião

Fra Angelico – Cosme e Damião
Santos Cosme e Damião, os santos gêmeos, morreram em cerca de 300 d.C. Crê-se que foram médicos, e sua santidade é devida por exercer a medicina sem cobrar por isto. Sua festa é celebrada atualmente no dia 26 de setembro pela Igreja Católica, no dia 27 de setembro pelas religiões afro-brasileiras e no dia 1º de novembro pela Igreja Ortodoxa.
São Cosme e São Damião são santos católicos com grande receptividade entre as camadas afro-brasileiras do Recôncavo baiano.
São associadas aos Ibejís, divindades gêmeas do Candomblé. Apesar do catolicismo oficial venerar a figura de Cosme e Damião como santos adultos e que dedicaram a vida a praticar a medicina caridosa, os mesmos santos “correspondem” a entidades infantis nos cultos afros – brasileiros, e é justamente dessa maneira que Cosme e Damião são venerados pela maior parte de seus devotos: os santos meninos.
Pessoas devotas, crianças, católicos, pais-de-santo, babalorixás, vendedores ambulantes do souvenir dos santos, simpatizantes, toda essa gente devota segue em clara romaria até o bairro da Liberdade, precisamente á Paróquia dos Santos Cosme e Damião, no dia 27 de setembro. Durante todo o dia de São Cosme e São Damião, são várias celebrações com procissão, missas durante o dia e uma celebração do Cardeal á noite.
Nas comemorações são oferecidos caruru, vatapá, doces e pipoca para a vizinhança.

Oração a “Cosme e Damião”
Amados São Cosme e São Damião,
Em nome do Todo-Poderoso
Eu busco em vós a bênção e o amor.
Com a capacidade de renovar e regenerar,
Com o poder de aniquilar qualquer efeito negativo
De causas decorrentes
Do passado e presente,
Imploro pela perfeita reparação
Do meu corpo e de
(Dizer nome dos seus familiares)
Agora e sempre,
Desejando que a luz dos santos gêmeos
Esteja em meu coração!
Vitalize meu lar,
A cada dia,
Trazendo-me paz, saúde e tranquilidade.
Amados São Cosme e Damião,
Eu prometo que,
Alcançando a graça,
Não os esquecerei jamais!
Assim seja,
Salve São Cosme e Damião,
Amém!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Flores Azuis

Elizabeth Parsons
O livro se inicia com uma carta de amor escrita por um remetente anônimo que assina apenas como "A.", mas que se caracteriza como uma mulher que se separou e digere esse momento através da escrita. O livro é composto por nove dessas cartas, intercaladas com nove capítulos em que elas são lidas por Marcos, um arquiteto recém-separado. Inicialmente, as cartas foram endereçadas corretamente: o nome da rua, número do prédio e do apartamento, tudo confere, mas o destinatário está incorreto. Marcos mora nesse apartamento há apenas um mês e observa que esta primeira carta é dirigida a outro que não ele, mas sua curiosidade o leva a lê-la e, depois desse primeiro contato com essa remetente misteriosa, não consegue mais se distanciar. As cartas são escritas e deixadas em sua caixa de correio diariamente, do dia dezenove de janeiro ao dia 27 do mesmo mês. Marcos se envolve com essas cartas, com o conteúdo da escrita; elas causam um impacto devastador em sua vida, transformam-se em uma obsessão e fazem com que ele enxergue claramente as diferenças entre ele e a ex-mulher e suas idiossincrasias. As cartas o levam também a dispensar Fabiane, candidata à nova namorada e, finalmente, o fazem perceber aspectos importantes da sua personalidade. Através da leitura dessas cartas, Marcos descortina o que gosta e quer de uma mulher.
E, se fosse possível, um texto que não só explicasse as palavras, mas também guiasse a tua leitura. Ali, onde havia palavras simples, banais, leia algo extremamente belo, algo inesperado, para que você volte, para que você me ame e volte. Ou, mesmo que você não me ame, que essa leitura seja também uma forma de amor. E fique essa comparação, essa esperança.
Carola Saavedra in: Flores Azuis. Ed. Cia das Letras

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Ar Vivo

Wilhelm Menzler Casel
Olhei e vi-te
À minha frente te vi na multidão
Entre os trigos eu te vi
Tu vi-te debaixo de uma árvore

No término da viagens que fiz
No fim de todos os meus tormentos
Ao dobrar de todas as gargalhadas
Quando emergia do fogo ao sair da água

No inverno eu te vi no verão
Na minha casa eu vi-te
Eu te vi nos meus braços
Nos meus sonhos eu vi-te

Não vou mais deixar-te.

Paul Éluard (1895-1952)
Tradução: Maria Gabriela Llansol

José Dirceu

José Dirceu de Oliveira e Silva
(Passa-Quatro, 16 de março de 1946)
José Dirceu em 4 fotos:
Com 19 anos, 22 anos e 25 anos
Atualmente.
Por que a mídia, principalmente a Globo, odeia o José Dirceu?
Pelos seguintes motivos:
1 - Foi Dirceu, quando Ministro da Casa Civil, (chefe do Gushiken), que deu a ideia de se regular as mídias. Criar uma Ley De Medios, e a Globo não perdoa.

2 - Foi Dirceu que acabou com a farra da Globo. Antes de Lula, toda a verba de publicidade do governo era dividida somente entre 499 veículos.

3 - E para cada R$ 1,00 de verba publicitária do governo, a Globo ficava com R$ 0,80 (80%).

4 - Dirceu redistribuiu a verba publicitária do governo entre quase 9.000 veículos. Antes eram só 499. Agora, Globo só recebe 16% do total.

5 - Foi ideia do José Dirceu criar o Ministério das Cidades que acabou com o poder dos coronéis locais. Oposição e velha mídia não perdoam.

6 - Foi Dirceu quem acabou com a farra dos livros didáticos que eram publicados pela Editora Abril e Fundação Roberto Marinho.

7 - Foi Dirceu que articulou e viabilizou a governabilidade do governo Lula.

8 - Foi Dirceu que BARROU Demóstenes de ser o Secretário Nacional de Justiça. Demóstenes e Cachoeira se juntaram para ferrar Dirceu.

9 - Por que Dirceu sofre perseguição do Ministério Público? Em 2004, foi ideia de Dirceu de se criar um controle externo sobre o MP.

10 - Por que Cesar Peluso não gosta de Dirceu? Márcio Thomaz Bastos indicou a Lula o nome de Peluso para o STF. Dirceu barrou. Márcio Thomaz Bastos forçou a barra.

11- Dirceu, quando Ministro Chefe Casa Civil, fechou as portas do BNDES à mídia: "dinheiro só para fomentar desenvolvimento, jamais pagar dívidas".

12 - Dirceu fez o BNDES parar de financiar as privatizações e deixar de ser hospital para empresas privadas falidas.

Fonte: Contexto Livre

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Serenidade

Rogelio de Egusquiza
Seremos sonhos
serenas sombras
sonoras somas
selvagens sinas.
Sem silêncios,
só sentimentos.
Sobrarão saudades.
Serenidades...
Ana Wagner

domingo, 23 de setembro de 2012

Primavera

A Primavera
Luc Olivier Merson
Lá vem ela
Pelas praças e jardins
Sorridente e bela
A primavera
Com as chuvas criadeiras
Resplandecendo nos canteiros
Alegrando as brincadeiras
Florescendo nos outeiros
Sua brisa já posso sentir
O aroma que trás lembrança
Perfume que envolve a alma
No colorido que da esperança
Estação que alegra os olhos
Estação que embeleza a terra
Estação que acalanta e revela
E inspira a escrita dos poetas
É tempo de ver as “borboletas”
É tempo de ouvir passarinhos
É tempo de luz que revela
A beleza da Primavera.

Claudia Liz

sábado, 22 de setembro de 2012

Atitude

(John William Godward)
Rimar faz mal,
coitado do poeta,
que por qualquer razão,
quer ligar, rimar, juntar.

Prefiro versos soltos,
pequenos e grandes,
cheios de gentes,
cantantes, falantes, antes.

Porra! O que eu faço?
versos e rimas,
narro fatos.

Reflito o momento,
comento, assuntos assim,
não vejo essência,
em fazer versos pra mim.
Rodrigo Capella

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Vidas simples

João Bosco Campos
Eis-me aqui, na bucólica doçura
desta risonha e encantadora vila,
onde gozo, há dois meses, a ventura
de uma vida suavíssima e tranquila.

Palpitante de cores e de festas,
a mata em flor abre-se em mil botões…
Que alvoroço de ninhos, nas florestas!
Que infinito de paz, nos corações!

Aqui tudo à alegria nos exorta;
há pureza nas almas e no clima;
o ar sadio da terra nos conforta,
a bondade dos homens nos anima.

Vendo, assim, tão perto a natureza
cheia de encantos e de exemplos sábios,
a gente há de ter sempre, com certeza,
mais ternura nos olhos e nos lábios.

Longe da agitação e do barulho,
ante a moldura desta vida calma,
o homem se despe da maldade e orgulho,
e veste de esperanças a sua alma.

E, quando, um dia, ele regressa à vida
agitada das grandes capitais,
a alma que nele volta agradecida,
dessas paragens não esquece mais!

Theobaldo Miranda Santos (1905-1971)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A Religião da Solidão

Caravaggio – Meditação de São Francisco
É possível que a religião da solidão seja de certa maneira superior à religião social e formalizada. O que é certo é que ela apareceu mais tarde no decurso da evolução. Além disso, os fundadores das religiões e seitas historicamente mais importantes têm sido todos, com exceção de Confúcio, solitários. Talvez seja verdade dizer-se que, quanto mais poderosa e original for uma mente, mais ela se inclinará para a religião da solidão, e menos ela será atraída no sentido da religião social ou impressionada pelas suas práticas. Pela sua própria superioridade a religião da solidão está condenada a ser a religião das minorias. Para a grande maioria dos homens e das mulheres a religião ainda significa, o que sempre significou, religião social formalizada, um assunto de rituais, observâncias mecânicas, emoção das massas. Perguntem a qualquer dessas pessoas o que é a verdadeira essência da religião, e eles responderão que ela consiste na devida observância de certas formalidades, na repetição de certas frases, na reunião em certos tempos e em certos lugares, da realização por meios apropriados de emoções comunais.
Aldous Huxley (1894-1963)

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Namorados no Mirante

Dante Gabriel Rossetti
Eles eram mais antigos que o silêncio
A perscrutar-se intimamente os sonhos
Tal como duas súbitas estátuas
Em que apenas o olhar restasse humano.
Qualquer toque, por certo, desfaria
Os seus corpos sem tempo em pura cinza.
Remontavam às origens - a realidade
Neles se fez, de substância, imagem.
Dela a face era fria, a que o desejo
Como um hictus, houvesse adormecido
Dele apenas restava o eterno grito
Da espécie - tudo mais tinha morrido.
Caíam lentamente na voragem
Como duas estrelas que gravitam
Juntas para, depois, num grande abraço
Rolarem pelo espaço e se perderem
Transformadas no magma incandescente
Que milênios mais tarde explode em amor
E da matéria reproduz o tempo
Nas galáxias da vida no infinito.

Eles eram mais antigos que o silêncio...

Vinícius de Moraes (1913-1980)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Evangelho de Tomé

Caravaggio - A incredulidade de São Tomé
O chamado Evangelho de Tomé é um apócrifo, pois não faz parte do cânone definido pela Igreja de Roma porque, em sua opinião, não foi inspirado por Deus; mas é, de fato, um apócrifo no verdadeiro sentido do termo grego de que deriva, pois é um texto oculto, secreto, reservado a iniciados nos mistérios.
O Evangelho de Tomé foi escrito por volta do ano 140 A.D., tendo sido citado por alguns Padres da Igreja, como Orígenes (185-254), até que em 787 foi considerado herético pelo Segundo Concílio de Niceia. Porém, a despeito da sua antiguidade, apenas foi parcialmente conhecido no Ocidente em 1920, quando o professor H. G. Evelyn White, da Universidade de Cambridge, publicou uma tradução em inglês de dois papiros em grego do século III, onde constam, somente, 14 Sentenças, e que foram descobertos, em mau estado, entre 1896 e 1907 na famosa estação arqueológica de Oxyrhynchus (antiga cidade egípcia situada a cerca de 180 Km do Cairo).
O texto completo apenas foi conhecido do grande público em 1981, quando a Harper Row, Publishers publicou a tradução em inglês dos cinquenta e dois tratados encontrados.

O Evangelho de Tomé

Um trecho: -

Estas são as Sentenças secretas que Jesus vivo proferiu e Dídimo Tomé escreveu:
1. E ele disse: "Quem encontrar a interpretação destas Sentenças não experimentará a morte.”
2. Jesus disse: "Que aquele que busca não cesse de buscar até encontrar. Quando encontrar, perturbar-se-á. Quando se perturbar ficará maravilhado e reinará sobre o Todo.”
3. Jesus disse: "Se aqueles que vos guiam vos disserem, ‘Vede, o Reino está no céu’, então os pássaros do céu preceder-vos-ão. Se vos disserem ‘está no mar’, então os peixes preceder-vos-ão. Mas o Reino está dentro de vós e fora de vós. Quando vos conhecerdes a vós mesmos, então sereis conhecidos e compreendereis que sois vós os filhos do Pai vivo. Mas se não vos conhecerdes, então vivereis na pobreza e sereis a pobreza.”
4. Jesus disse: "O idoso não hesitará em perguntar a uma criança de sete dias acerca do lugar da vida, e ele viverá. Pois muitos dos primeiros serão últimos e tornar-se-ão um e o mesmo.”
5. Jesus disse: "Conhecei o que está perante a vossa face, e o que vos está oculto ser-vos-á revelado, porque nada há oculto que não seja revelado.”
6. Os seus discípulos interrogaram-no dizendo, ‘Queres que jejuemos? Como oraremos? Devemos dar esmolas? Que dieta devemos observar?”
7. Jesus disse: " Afortunado é o leão que o homem comer e o leão se torna homem; e desgraçado é o homem que o leão comer , e o homem se torna leão”.
8. E Ele disse: "O ser humano é como um pescador sensato que lançou a sua rede ao mar e a retirou cheia de pequenos peixes. Entre eles, o pescador sensato descobriu um grande e excelente peixe. Atirou todos os pequenos peixes ao mar e escolheu, facilmente, o peixe grande. Quem tiver ouvidos para ouvir que ouça!”.
9. Jesus disse: "Eis que o semeador saiu, levou uma mão cheia de sementes, e espalhou-as. Algumas caíram na estrada; os pássaros vieram e apanharam-nas. Outras caíram nas rochas, não criaram raízes no solo e não produziram espigas. Outras caíram em espinheiros que sufocaram as sementes e os vermes comeram-nas. E outras caíram em solo fértil e isso produziu uma boa colheita; produziram sessenta por medida e cento e vinte por medida”.
10. Jesus disse: "Lancei fogo ao mundo e eis que estou a guardá-lo até que arda.”

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Ame-se profundamente

Charles Edouard Edmond Delort
“Ame-se profundamente, para
Que o amor não seja algo
passageiro, mas seja a própria
eternidade em você”.

Paulo Roberto Gaefke

domingo, 16 de setembro de 2012

Fragmento de um poema

Lucas Cranach - The Paradise
Que mando fatal me encaminha?
Quem sangra os meus olhos? Quem arma o meu braço?
Quem age por mim contra o meu próprio horror da matança?

É a fonte da Vida
Que ordena vingança
Vingança!

Mário de Andrade (1893-1945)

sábado, 15 de setembro de 2012

A Árvore da Serra

- As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

- Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pôs alma nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minha alma!...
- Disse – e ajoelhou-se, numa rogativa:

“Não mate a árvore, pai, para que eu viva!”
E quando a árvore, olhando a pátria serra,
Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!

Augusto dos Anjos (1884-1914)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Passam ventos de morte...

Herman Corrodi
Passam ventos de morte, passam ventos
Pelos jardins outrora perfumados.
Flores pendidas, mortas, laceradas,
Abrem no chão feridas silenciosas.

Passam ventos de morte. E tudo é tão gelado
E tudo é triste e tudo é desconsolo.
A chuva desce sobre os cemitérios
E leva frio aos mortos esquecidos.

Passam ventos de morte. Trazem velhos
Perfumes de esperanças já vencidas.
Vozes distantes, vozes do passado.

Teu sorriso... Tuas mãos às minhas presas.
Amada... Teus cabelos, teus cabelos...
Teus carinhos que nunca foram meus!

Hélio Pellegrino (1924-1988)

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun

Madame Vigee-Le Brun e sua filha Jeanne-Lucie-Louise (1789)
Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun (16 de abril de 1755 — 30 de março de 1842) foi uma pintora francesa. Ela é reconhecida como a pintora mais famosa do século XVIII. Seu estilo é neoclássico ao exibir ideais de simplicidade e pureza, mas seu trabalho também pode ser considerado rococó por sua graça, delicadeza e naturalismo.
Em 1776, ela casou-se com Jean-Baptiste-Pierre Le Brun, um pintor e negociante de arte. Pintou retratos de muitos nobres e chegou a ser convidada para pintar a rainha consorte Maria Antonieta da França, no Palácio de Versalhes. A rainha ficou tão satisfeita que comissionou Vigée-Le Brun para fazer outros retratos seus, dos seus filhos e de outros membros da família real francesa.
Depois da prisão da família real durante a Revolução Francesa, Vigée-Le Brun fugiu da França. Ela viveu e trabalhou por alguns anos na Itália, na Áustria e na Rússia, onde sua experiência de lidar com uma clientela aristocrática mostrou-se útil.
Na Rússia, ela pintou vários quadros para a nobreza e para a família imperial de Catarina, a Grande.
Vigée-Le Brun regressou à França durante o reinado de Napoleão I. Ela visitou a Inglaterra no início do século XIX, onde pintou quadros de famosos, como Lorde Byron. Em 1807, ela viajou para a Suíça e foi feita um honorário membro da Société pour l'Avancement des Beaux-Arts de Genebra.
Vigée-Le Brun deixou um legado de 660 retratos e 200 paisagens. Seus trabalhos podem ser encontrados em grandes museus, como o Museu Hermitage, a Galeria Nacional de Londres, o Museu do Louvre e a National Gallery of Art, bem como em coleções privadas.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Sótão

Norman Rockwell
Por interstícios das malas abertas de quando éramos
crianças gritam as bocas sem nenhum eco
das bonecas. Criaturas fictícias, escalpelizadas
e sem tintas, de ventre oco. Mas o mortal
lugar do coração está ainda a palpitar.
O bojo do peito de celuloide, como o meu,
pede-nos perdão pela saudade que nos devora.

Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007)

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Passagem

Jean-Jacques-Raoul Jourdan
Entre fantasia e realidade
invento cores
entre solidão e a lágrima
eu canto.

Se a verdade queima meus sonhos
e a dor arde insuportável
eu choro até a noite acabar.

Depois eu lavo o rosto,
tomo meu café
e saio de bicicleta
à procura de outros caminhos.

Flávia Menegaz

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

10 • Fundação do 1º Jornal brasileiro

A Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro jornal publicado em território nacional, começou a circular em 10 de setembro de 1808, impressa em máquinas trazidas da Inglaterra, Órgão oficial do governo português, que se tinha refugiado na colônia americana, evidentemente o jornal só publicava notícias favoráveis ao governo.
Porém, no mesmo ano, pouco antes, o exilado Hipólito José da costa lançara, de Londres, o Correio Brasiliense, o primeiro jornal brasileiro – ainda que fora do Brasil.
A proibição à imprensa (chegaram inclusive a destruir máquinas tipográficas, e a Censura Prévia (estabelecida antes mesmo de sair a primeira edição da Gazeta).
A censura à imprensa acabou em 1827, ainda no primeiro reinado. A própria personalidade de D.PEDRO II, avessa as perseguições, garantia um clima de ampla liberdade de expressão.
O jornal do príncipe significou a instalação da imprensa no Brasil com as limitações da época: um jornal oficial, sob censura como tudo que se publicava no reino, de livros a cartas de baralho. Segundo o historiador Nelson Werneck Sodré, era "um arremedo de imprensa". Na descrição do historiador inglês John Armitage, que viveu como comerciante no Rio, a Gazeta era a revista Caras da época: só informava "ao público, com toda a fidelidade, do estado de saúde de todos os príncipes da Europa e, de quando em quando as suas páginas eram ilustradas com alguns documentos de ofício, notícias dos dias, natalícios, odes e panegíricos da família reinante. Não se manchavam essas páginas com as efervescências da democracia, nem com a exposição de agravos. A julgar-se do Brasil pelo seu único periódico, devia ser considerado um paraíso terrestre, onde nunca se tinha expressado um só queixume.

domingo, 9 de setembro de 2012

Encontro marcado

Sérgio Milliet - Retrato do poeta por Tarsila do Amaral
Eu tinha encontro marcado
nas esquinas da minha vida.
Mas cheguei e não vi ninguém...
Agora eu vou pela calçada
sozinho, sozinho, sozinho...
Não tem mais esquina na vida
não tem mais encontro nem nada...
Será que meu amor se enganou
E só me espera no fim?

Sérgio Milliet (1898-1966)

sábado, 8 de setembro de 2012

Se eu não fosse essa pessoa

Photography John French
Se eu não fosse essa pessoa
cheia de pântanos,
seria nuvem

Se eu não fosse essa
coisa estranha
seria um espelho voltado para o mar

Se eu não fosse eu
assim, cheia de medos e escuros
seria uma lacuna
só pra deixar você entrar.

Sheyla Azevedo