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domingo, 11 de setembro de 2011

Entre partir e ficar

Frederick Arthur Bridgman - Afternoon in Algiers
Entre partir e ficar hesita o dia,
enamorado de sua transparência.

A tarde circular é uma baía:
em seu quieto vai e vem se move o mundo.

Tudo é visível e tudo é ilusório,
tudo está perto e tudo é intocável.

Os papéis, o livro, o vaso, o lápis
repousam à sombra de seus nomes.

Pulsar do tempo que em minha têmpora repete
a mesma e insistente sílaba de sangue.

A luz faz do muro indiferente
Um espectral teatro de reflexos.

No centro de um olho me descubro;
Não me vê, não me vejo em seu olhar.

Dissipa-se o instante. Sem mover-me,
eu permaneço e parto: sou uma pausa.

Octavio Paz (1914-1998)
Tradução: Antônio Moura

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Teus olhos

Sir Frank Dicksee
“Teus olhos são a pátria do relâmpago,
silêncio que fala, numa clareira de bosque,
onde a luz canta no ombro duma árvore
e são pássaros todas as folhas,
praia que a manhã encontra
constelação de olhos, cesta de frutos
de fogo, espelhos deste mundo, portas
do além, pulsação tranquila do mar
ao meio-dia, universo que estremece”.

Octavio Paz (1914-1998)