segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Haikai

Angelus
Dedos da brisa
nas teclas das folhas
adormecem os pássaros.

Yeda Prates Bernis

domingo, 30 de janeiro de 2011

Jornada da Alma

Tenho um vídeo que ganhei assim que saiu o Filme “Jornada da Alma” e assisti novamente (acho que pela oitava vez), porque me ajuda quando estou muito precária.
A história de Sabina Spielrein vista através da lente do cineasta italiano Roberto Faenza (“Página da Revolução”), me surpreendeu por levantar inúmeras questões para além do tema central que aborda a paixão entre ela e Carl Gustav Jung, seu psiquiatra.
E ainda mais por se tratar de alguém com problemas psicológicos onde a “paciência” e a “compreensão” inexiste.


Deixo aqui só esta parte onde tem a música Tumbalalaika.
Shtyl a boccher, on un tracht
Tracht un tracht a gatze nacht
Vemen tsu nemen un nit far shemen,
Vemen tsu nemen nit zu far

Refrain
Tumbala, tumbala, tumbalalaika,
tumbala, tumbala, tumbalalaika
Tumbalalaika, shpiel balalaica

Shpiel balalaika, freylacvh zol zayn
Meydl, meydl, ch´vel bay dir fregen,
vos kan vaksn, vaksn on regn?
Vos kon brenen un nit oyfhern?
Vos kon beken, veynen on treren?

Refrain
Tumbala, tumbala, tumbalalaika,
tumbala, tumbala, tumbalalaika
Tumbalalaika, shpiel balalaica

Narisher bocher vos darfstu fregn?
A shteyn ken vaksn, vaksn, on regn.
Libeh ken brenen un nit oyfhern
A harts kon benkn, veynen on treren


Tradução: Recordações


Senhora, senhora, me diga novamente
O que pode crescer, crescer sem a chuva?
O que pode incendiar durante muitos anos?
Quem pode ansiar e chorar, sem lágrimas?


Tumbalalaika, toque a Balalaika,
Tumbalalaika, toque a Balalaika,
Tumbalalaika - nos deixe ser felizes.


Tolo rapaz, por que ainda pergunta?
É a pedra que cresce, que cresce sem chuva.
É o amor que pode incendiar por anos.
É o coração que pode chorar sem lágrimas
.
Tenho uma postagem sobre este filme e a Sabina Spielrein no meu outro blog ( Aqui )


Histórias em Quadrinhos

30 de Janeiro - Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos
As primeiras histórias em quadrinhos datam da Pré-História, visto que os homens das cavernas já pintavam nas paredes o que lhes acontecia. No início do século XX, contudo, foi definido o conceito de histórias em quadrinhos, e sua técnica começou a ser desenvolvida.
Há vários precursores das histórias em quadrinhos, destacando-se o brasileiro Angelo Agostini, embora haja quem diga que a primeira criação surgiu com Richard Fenton Outcault, em The Yellow Kid, de 1863. Foi Outcault quem introduziu o "balão", no qual são escritas as falas dos personagens.
Nas primeiras fases das histórias em quadrinhos, os argumentos eram apresentadas aventuras de crianças e bichinhos, com muito humor. Em 1929, as histórias em quadrinhos ganharam muita popularidade; na década de 1930, o gênero "aventura" foi incorporado às histórias. A Era de Ouro, como ficou conhecida essa fase, teve seu auge com personagens como: Flash Gordon, de Alex Raymond; Dick Tracy, de Chester Gould; Tarzan, uma adaptação de Harold Foster para o personagem de E. R. Burroughs (do livro Tarzan, o filho das selvas).
Nessa nova fase, surgiu mais um gênero, tipicamente americano: o super-herói, como o Super-Homem, de Siegel e Shuster.
As histórias em quadrinhos significaram mais do que um simples divertimento. O governo americano as utilizava como armas ideológicas para elevar o moral dos soldados e do povo em época de guerra. Alguns personagens em quadrinhos se alistaram na Segunda Guerra Mundial, incentivando jovens americanos a tomar a mesma postura.
Foi criado, então, um Código de Ética, mas nesses tempos de liberdade de criação e expressão reduzidas, os roteiros das histórias foram camuflados com textos aparentemente inofensivos que induziam nas entrelinhas.
Na década de 1960, voltou com força total o gênero dos super-heróis, como o Homem-Aranha, criado por Stan Lee e Esteve Ditko.
Nessa mesma década e a partir da década de 1970, os quadrinhos underground - com temas que abordavam o subconsciente norte-americano, as crises existenciais, os auto questionamento -, criados por Robert Crumb, fizeram e ainda fazem sucesso.
No Brasil, vários cartunistas ganharam destaque pela criatividade: Henfil (personagens: Graúna e Zeferino), Ziraldo (personagens: Pererê e Menino Maluquinho), Péricles (personagem: O Amigo da Onça), Maurício de Sousa (personagens: Cebolinha, Mônica , Cascão ), Fernando Gonsales (personagem: Níquel Náusea), Angeli (personagem: Rebordosa), Millôr Fernandes, entre outros.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Erro

Jacek Yerka
ERRO
Edifiquei minha
casa sobre a
areia.

Todo dia recomeço.

Eunice Arruda

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Tudo passa

Michel Rauscher
Passam as horas, os minutos, os segundos
Passa o tempo, passa alegria,
Mas passa tristeza também,
Passa a adolescência,
Mas passa a imaturidade também
Passam as brincadeiras,
Mas passa a sobriedade também
Passam as dores, passam os amores,
Passam os dias,
Passa a lida,
Passa a vida.
Passam os desejos,
Passam os sonhos
Tudo passa,
Eu passo,
Tu passas,
Ele passa
E nós passamos...

Claudia Liz

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sempre há quem roube

Roubam-me Deus
Outros o Diabo
Quem cantarei?

Roubam-me a Pátria
E a humanidade
Outros m'a roubam
Quem cantarei?

Sempre há quem roube
Quem eu deseje
E de mim mesmo
Todos me roubam
Quem cantarei?

Roubam-me a voz
Quando me calo
Ou o silêncio
Mesmo se falo-
Aqui del rei!

Jorge de Sena (1919-1978)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Canastrão

Rodrigo é o nome desse rapaz que leciona ginástica para o Projeto Fitness Carrefour Bairro. Isso já acontece ha 2 anos e as aulas são na Praça do Largo Santa Cruz no Cambuí.
A maioria dos alunos tem mais de 40 anos, alguns com mais de 80, portanto, pode-se dizer que é um grupo de “Terceira Idade”, onde muitos têm problemas de artrose, dores, etc. Isso requer que o professor tenha habilidade psicológica na elaboração do programa e que tente atender a todos e não discrimina-los.
Para tanto o ideal seria um professor com experiência, uma pessoa madura, sensível e não um garoto de 20 anos ainda adolescente, mimado que tem seu primeiro emprego, e que não depende dele para viver, pois mora com os pais.
Ele usa a sua juventude e “beleza” como “arma” de conquista, o que não é difícil num grupo onde a maioria são mulheres casadas há bastante tempo. Elas o idolatram, imagino que deveriam construir um nicho na praça com luzes reluzentes para ele ficar.
Na sexta-feira passada ele deu uma aula só de andar, ou seja, 1 hora só caminhando. Perguntei a ele se não havia uma alternativa, pois eu não consigo andar muito. Ele deu as costas e foi andar com a turma deixando eu e o senhor Orival às favas.
Se uma senhorinha que tem 88 anos estivesse e outra Pina de 82 também estivesse ficaríamos nós a ver navios, como ficou o senhor Orival e eu.
Realmente Rodrigo merece um nicho brilhante no centro da praça. Tietes não faltarão. Se até nos presídios as mulheres fazem fila, imaginem alguém um pouco melhor. Sendo novo e bonito é tudo.

domingo, 23 de janeiro de 2011

O corpo não é uma máquina

Jose Miguel Roman Frances
“O corpo não é uma máquina
como nos diz a ciência.
Nem uma culpa como
nos fez crer a religião.
O corpo é uma festa”.

Eduardo Galeano

sábado, 22 de janeiro de 2011

Romero Britto

Romero Britto celebra vitória de Dilma com anúncio no ‘NYT’
Retrato de Dilma feito pelo artista plástico Romero Britto.
O artista plástico Romero Britto decidiu homenagear a presidente publicando um retrato, na edição desta semana da “The New York Times Magazine”, a revista dominical do “The New York Times”, um anúncio de página inteira.
Para tanto, calcula ter gasto US$ 20 mil (cerca de R$ 33,5 mil). Aos domingos, a tiragem da revista fica em torno de 400 mil exemplares.
Pernambucano com galeria em Miami, autor de murais ultracoloridos, Britto usou a peça publicitária para apresentar sua versão de Dilma ao público americano. A presidente é retratada com as cores fortes que caracterizam a obra do artista.
Acima da imagem, lê-se “parabéns, minha querida, a nova presidente do Brasil”. Na sequência, o artista parabeniza “todas as mulheres da América Latina”.
Britto diz que, dos amigos americanos, só ouve “comentários positivos” sobre a sucessora de Lula.
A empolgação pela “primeira mulher presidente”, segundo ele, foi contagiante. Nos Estados Unidos durante as eleições, afirma ter feito questão de votar na petista lá mesmo.
Ele não sabe se Dilma já ficou a par da homenagem, mas disse que pretende presenteá-la com a arte em sua próxima visita ao Brasil. Espera que seja no Carnaval.

O Jornal “Folha de São Paulo”, fez um deboche..., como já dizia minha avó, “inveja é uma m...”

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Eu queria te dar minha emoção mais pura

Walter Crane
Eu queria te dar minha emoção mais pura,
associar-te ao meu sonho e dividir contigo
migalha por migalha, o pouco de ventura
que pudesse colher no caminho onde sigo...

E esse estranho desejo em que se desfigura
a palavra de amor e pureza que eu digo,
- e queria te dar essa minha ternura
que às vezes, por trair-se ao teu olhar, maldigo...

Bem que eu quis te ofertar meu destino, meu sonho,
minha vida, e até mesmo esta efêmera glória
que desperdiço a cantar nos versos que componho...

Nada quiseste...E assim, os sonhos que viviam,
se ontem, puderam ser um começo de história,
hoje, são dois caminhos que se distanciam...

J. G. de Araujo Jorge (1914-1987)

Inscrição para um portão de cemitério

William-Adolphe Bouguereau
Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.

Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
“Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!”

Mario Quintana (1906-1994)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Pequeno Tratado das Grandes Virtudes

Estou lendo um livro - "O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes", de André Comte-Sponville. O autor nasceu em 1952 em Paris é ateu e filósofo. Como todo ateu ele se pauta na Ética, ou seja, na adoção de valores humanos, possuidor de consciência e de valores que não dependem da fé em divindade nenhuma.
Isso para mim é fundamental. É nisso que acredito.
Comte-Sponville utiliza o referencial de Jean Paul Sartre, que já havia dito que "todos somos responsáveis por todos" e de Dostoievsky, "somos todos responsáveis por tudo, diante de todos".
Sponville neste livro - "O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes", nos mostra um cominho de salvação pela desesperança – é o cerne da sua obra filosófica. E eu a acho bem sedutora. A desesperança no sentido do "não esperar", ou seja, de não ficar amando apenas aquilo que nos falta.
A desesperança aqui é tomada no sentido Spinozista, onde o Amor não é falta. Como ele diz num trecho: "aqui é preciso deixar Platão e buscar Spinoza". Em Spinoza a equação de Platão: "Amor = Desejo = Falta", vira: "Amor = Desejo = Potência".
Ou seja, Amor é igual a desejo, mas desejo não é falta, e sim potência. Assim o Amor é felicidade, isto é, a potência ou capacidade de amar. Amar como uma "ação" e não como uma "paixão". Dito de outra forma: Amar ativamente, realizando aquilo que depende de nós e não esperar, sofrendo (paixão), por aquilo que não depende de nós.
Sponville fala da nossa eterna busca pela felicidade, essa busca que parece nunca ter fim e que vive cheia de esperança, sendo consequentemente a culpada por não nos permitir viver o presente e sempre esperar por um “futuro melhor”.
Sobre a “Esperança” Jorge Luís Borges disse: “A esperança é o mais sórdido dos sentimentos”.
Shakespeare disse: “Os miseráveis não têm outro remédio a não ser a esperança”.
E meu autor favorito Albert Camus disse: “Toda a infelicidade dos homens nasce da esperança”.
Embora lendo fica intelectualmente fácil de entender, aplicar isso não é simples, nem fácil.
A leitura deste livro é interessante. O tema é bastante oportuno nesta época em que o relacionamento entre as pessoas é cada vez mais intenso, com o advento da internet, e a religião perde seu antigo valor de balizamento moral em virtude de um desencantamento do mundo e por que não dos religiosos e de suas instituições.
Virtude é sinônimo de poder. A virtude do veneno é matar, a da faca é cortar, do remédio, curar. E do homem? Agir bem. Sabemos disso. Agindo bem temos o máximo de poder possível. É pela virtude que chegamos às alegrias humanas. O autor do livro, André Comte-Sponville, reconhece que teve muito trabalho para escolher sobre quais virtudes discorreria e, após eliminar algumas e fundir umas com as outras.
São elas:
  • Contentamento
  • Diligência
  • Temperança
  • Simplicidade
  • Polidez
  • Fidelidade
  • Prudência
  • Coragem
  • Tolerância
  • Pureza
  • Doçura
  • Boa-fé
  • Humor
  • Amor
Elas não devem ser cultivadas isoladamente, mas em conjunto. Existem virtudes mais fracas que outras, algumas servem de passagem para as demais, e o amor, que substituiria a todas tem o problema de ser a única virtude a não depender da nossa vontade.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ela pousa em minhas pálpebras

Ela pousa em minhas pálpebras,
Põe seus cabelos sobre os meus,
Tem a forma de minhas mãos,
Tem a cor dos meus olhos,
Se entranha em minha sombra
Como uma pedra contra o céu.

Ela nunca fecha seus olhos
Nem me deixa mais dormir.
Em pleno dia, seus sonhos
Dissipam os sóis,

Fazem-me chorar, chorar e rir,
Falar sem ter nada pra dizer. (...)

Paul Éluard (1895-1952)
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Tragédia do Rio de Janeiro

Diante da Tragédia do Rio de Janeiro
A água suja
que traz consigo a dor
que traz o mau cheiro insuportável dos esgotos
Traz o lixo e doenças
Traz pedras e sofrimento...

A água barrenta que leva consigo quase tudo.
que leva os sonhos de uma vida
leva o sorriso e o brilho no olhar.
leva muito...
leva vidas...
Só não leva o
amor e a esperança
para recomeçar.

MJSpeglich

domingo, 16 de janeiro de 2011

Amor Romântico

A Armadilha da Proteção
O matrimônio e o amor não possuem nada em comum; estão tão longe entre si como dois polos, inclusive, antagônicos. O matrimônio é antes de tudo um acordo econômico, um seguro que só se diferencia dos seguros de vida correntes no que é mais vinculador e rigoroso. Os benefícios que se obtém dele são insignificantes em comparação com o que se paga por ele. Quando se assina uma apólice de seguros, se paga dinheiro e se tem sempre a liberdade de interromper os pagamentos. Entretanto, se o prêmio de uma mulher é um marido, tem que pagar por ele com seu nome, sua vida privada, o respeito de si mesma e sua própria vida “até que a morte os separe”. Além disso, o seguro do matrimônio a condena a depender do marido por toda vida, ao parasitismo e à completa inutilidade, tanto do ponto de vista individual quanto social. O homem também paga o seu tributo, mas como sua esfera de vida é muito mais ampla, o matrimônio não o limita tanto quanto à mulher. As correntes do marido são muito mais econômicas.
Essa instituição converte a mulher em um parasita e a obriga a depender completamente de outra pessoa. A incapacita para a luta pela vida, aniquila sua consciência social, paralisa sua imaginação e lhe impõe, depois, graciosamente sua proteção, que na realidade é uma armadilha, uma paródia do caráter humano. Se a maternidade é a maior realização da mulher, que outra proteção necessita senão o amor e a liberdade? O matrimônio profana, ultraja e corrompe essa realização. Por acaso não disse à mulher que somente sob sua proteção poderá dar a vida? Não a põe na conversa, a degrada e a envergonha se se nega a comprar seu direito à maternidade com sua própria pessoa? Por acaso o matrimônio não sanciona a maternidade, ainda que haja concebido com ódio ou por obrigação? E quando a maternidade é escolhida, produto do amor, do êxtase, da paixão desafiante, não se coloca uma coroa de espinhos numa cabeça inocente, gravada em letras de sangue o odioso epíteto de “bastarda”?
Amor livre? Por acaso o amor pode ser outra coisa mais que não livre? O homem comprou cérebros, mas todos os milhões deste mundo não conseguiram comprar o amor. O homem submeteu os corpos, mas todo o poder da terra não foi capaz de submeter o amor. O homem conquistou nações inteiras, mas todos os seus exércitos não poderão conquistar o amor. O homem encarcerou e aprisionou o espírito, mas não pode nada contra o amor. Incrustado em um trono, com todo o esplendor e pompa que pode proporcionar o seu ouro, o homem se sente pobre e desolado se o amor não para na sua porta. Quando existe amor, a cabana mais pobre se enche de calor, de vida e alegria; o amor tem o poder mágico de converter um mendigo em rei. Sim, o amor é livre e não pode crescer em nenhum outro ambiente. Em liberdade, se entrega sem reservas, com abundância, completamente. Todas as leis e decretos, todos os tribunais do mundo não poderão arrancar-lhe do solo em que fincou suas raízes. O amor não necessita de proteção, porque ele se protege a si mesmo.
Enquanto é o amor que gera os filhos, não há crianças abandonadas, famintas ou carentes de afeto. Conheço mulheres que foram mães sem liberdade com o homem a quem amavam. Poucos filhos têm desfrutado do matrimônio do cuidado, proteção e devoção que a maternidade livre é capaz de deparar-lhes. Os defensores da autoridade temem a maternidade livre por medo de que se despoje de sua presa. Quem então lutaria nas guerras? Quem se faria de carcereiro ou polícia se as mulheres se negam a dar luz indiscriminadamente? A raça, a raça! Grita o rei, o presidente, o capitalista, o sacerdote. Há que salvar a raça, ainda que a mulher seja degradada ao papel de pura máquina, e a instituição do matrimônio é a única válvula de segurança contra o perigoso despertar sexual da mulher.
Na realidade, em nosso atual estado de pigmeus, o amor é algo desconhecido para a maioria das pessoas. Não o compreendem, e se esquiva ou muitas raras vezes se arraiga; e quando o faz, de repente murcha e morre. Sua fibra delicada não pode suportar a tensão e os esforços do viver cotidiano. Sua alma é demasiadamente complexa para ajustar-se a viscosa textura da nossa trama social. Chora, se lamenta e sofre com os que o necessitam e, no entanto, carecem de capacidade para elevar-se a sua altura.
Algum dia, os homens e as mulheres se elevarão e alcançarão o cume das montanhas; se encontrarão grandes, fortes e livres, dispostos a receber, compartilhar e aquecerem-se nos dourados raios do amor. Que imaginação, que fantasia, que gênio poético pode prever, ainda que seja aproximadamente, as possibilidades dessa força nas vidas dos homens e das mulheres? Se no mundo tem que existir alguma vez a verdadeira companhia e a unidade, o padre será o amor e não o matrimônio.
Emma Goldman (1869-1940)– Amor livre
Traduzido por: Antonio Henrique do Espirito Santo.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Tom Jobim

Sítio onde Tom Jobim compôs Águas de Março some na lama.
À beira do Rio Preto, no sítio Poço Fundo, onde passava férias sozinho, Tom Jobim fazia tudo virar música. Era a lama, o sapo, a rã, o caco de vidro, a luz da manhã e até um carro enguiçado do amigo João Gilberto, que visitava a toca do maestro em busca de arranjos para suas canções. Águas de Março foi o que de mais impressionante Jobim anotou ali na casinha, depois de uma temporada de verão com muita água caindo do céu na tranquila São José do Vale Rio Preto, a 40 minutos de Petrópolis, Rio.
Desde as 8 horas da manhã de quarta-feira, a casa em que Jobim criou também Dindi e Matita Perê, segundo seu filho Paulo Jobim, não existe mais. O teto desabou, as paredes ruíram, muitas árvores se foram. O refúgio de Jobim desapareceu em duas horas. Ali perto, no mesmo sítio, estava seu neto Daniel com a família. Ninguém ficou ferido.

Fonte: jornal Estado de SP

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Homem um ser que se habitua

Childe Hassam - French Tea Garden

“A melhor definição
que posso dar de um homem
é a de um ser que se habitua a tudo”.

Fiódor Dostoiévski (1821-1881)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A Dor

Octavia Monaco
A dor que abate, e punge, e nos tortura,
que julgamos às vezes não ter cura
e o destino nos deu e nos impôs,
é pequenina, é bem menor, e até
já não é dor talvez, dor já não é
dividida por dois.

A alegria que às vezes num segundo
nos dá desejos de abraçar o mundo,
e nos põe tristes, sem querer, depois,
aumenta, cresce, e bem maior se faz,
já não é alegria, é muito mais
dividida por dois.

Estranha essa aritmética da vida,
nem parece ciência, parece arte;
compreendo a dor menor, se dividida,
não entendo é aumentar nossa alegria
se essa mesma alegria
se reparte.

J. G. de Araujo Jorge (1914-1987)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Trecho 'O Amante'

“(…)
O álcool preencheu a função que Deus não teve, teve também a de me matar, de matar. Este rosto do álcool veio-me antes do álcool. O álcool veio confirmá-lo. Tinha em mim o lugar para aquilo, soube-o como os outros mas, curiosamente, antes da hora. Tal como tinha em mim o lugar do desejo. Tinha aos quinze anos o rosto do prazer e não conhecia o prazer. Este rosto via-se muito. Mesmo a minha mãe devia vê-lo. Os meus irmãos viam-no. Tudo começou para mim desta maneira, por este rosto clarividente, extenuado, estes olhos pisados, adiantados ao tempo, aos fatos.”
Marguerite Duras (1914-1996)
Tradução: Luísa Costa Dias e Maria da Piedade Ferreira

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ministra desmente “Folha” pelo twitter!

Jornal quer usar religião contra Dilma
Estranhei quando vi a “reportagem” da “Folha” logo cedo nesse domingo: os jornalistas Valdo Cruz, Simone Iglesias e Breno Costa trouxeram - no pé de uma matéria na página A9 – a informação de que Dilma retirara o crucifixo do gabinete e a Bíblia da mesa de trabalho do Palácio do Planalto.
Uma pulga atrás da orelha: por que o jornal não deu foto, mostrando o gabinete “antes” (com crucifixo e Bíblia) e “depois” (sob a intervenção da malvada presidenta ateia)?
E, se o fato era tão importante (a ponto de os editores botarem em primeira página), por que os repórteres incluíram a informação no pé e não na abertura do texto? Jabuti não sobe em árvore – é o que dizem. O assunto talvez não interessasse aos jornalistas que assinaram a matéria, mas certamente interessou aos donos do jornal. E certamente interessa à direita que trouxe a religião para o centro do debate político, sob os auspícios de Serra, na última campanha eleitoral. É uma forma de mandar o recado: nós avisamos, ela é a favor do aborto, não é religiosa, esses comunistas são perigosos!
Pois bem. Isso estava evidente. Mas o mais interessante veio no começo da tarde. A ministra-chefe da Secom, Helena Chagas, usou o twitter para desmentir a “Folha”. Entendam bem: a ministra não minimizou, não tentou explicar a decisão (que, aliás, seria legítima) de retirar crucifixo e Bíblia. Não! A ministra, simplesmente desmentiu o jornal!
E o curioso: desmentiu não com nota oficial, mas pelo twitter!!!
O que disse Helena Chagas:
- “Pessoal, só esclarecendo: a presidenta Dilma não tirou o crucifixo da parede de seu gabinete. A peça é do ex-presidente Lula e foi na mudança”;
- “Aliás,o crucifixo, que Lula ganhou de um amigo no início do governo, é de origem portuguesa.
Mais: Dilma também não tirou a bíblia do gabinete.”;
- “A bíblia está na sala contígua, em cima de uma mesa – onde, por sinal, a presidenta já a encontrou ao chegar ao Planalto. Por fim…”;
- “…um último detalhe: embora goste de trabalhar com laptop, a presidenta não mudou o computador da mesa de trabalho. Continua sendo um desktop.”
Ou seja: segundo a ministra, a “Folha” errou no factual!
A “Folha” pode detestar a Dilma, e pode até achar que deve insuflar a direita religiosa. Mas, pra isso, precisa se ater aos fatos!
De todo jeito, sejamos cuidadosos: vamos aguardar as explicações do jornal da família Frias…
Esse episódio, do “crucifixogate”, tem tudo pra entrar na mesma lista do “bolinhagate”, do grampo sem áudio e da ficha falsa da Dilma! Com um detalhe extra: ao desmentir o jornal pelo twitter, Helena Chagas não deixa de mandar um recado pra turma da Barão de Limeira – vocês já não estão com essa bola toda.
Humilhante: o maior jornal (?!) do país desmentido pelo twitter.
Rodrigo Vianna

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Teus olhos

Sir Frank Dicksee
“Teus olhos são a pátria do relâmpago,
silêncio que fala, numa clareira de bosque,
onde a luz canta no ombro duma árvore
e são pássaros todas as folhas,
praia que a manhã encontra
constelação de olhos, cesta de frutos
de fogo, espelhos deste mundo, portas
do além, pulsação tranquila do mar
ao meio-dia, universo que estremece”.

Octavio Paz (1914-1998)

domingo, 9 de janeiro de 2011

Magenta

Magenta é eleita a cor de 2011 na decoração.
O ano já começa cheio de tendências. Depois do azul turquesa em 2010, o Instituto Pantone - que há mais de 40 anos estuda e estabelece um código internacional de cores, servindo de guia a designers gráficos, estilistas, fotógrafos e designers de interiores - elegeu o magenta como a cor para enfrentar os desafios de um novo ciclo que se inicia em 2011. Para quem não sabe que cor é essa, trata-se de um rosa vívido, também chamado de fúcsia ou carmim.

sábado, 8 de janeiro de 2011

O Coração da Primavera

Mulher, não és só obra de Deus;
os homens vão te criando eternamente
com a formosura dos seus corações,
e os seus anseios
vestiram de glória a tua juventude.

Por ti o poeta vai tecendo
a sua imaginária tela de oiro:
o pintor dá às tuas formas,
dia após dia,
nova imortalidade.

Para te adornar, para te vestir,
para tornar-te mais preciosa,
o mar traz as suas pérolas,
a terra o seu oiro,
sua flor os jardins do Verão.

Mulher, és meio mulher,
meio sonho.

Rabindranath Tagore (1861-1941)
Tradução: Manuel Simões

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Escondo-me

Escondo-me na minha flor,
Para que, murchando em teu vaso,
tu insciente, me procures -
Quase uma solidão.

Emily Dickinson (1830-1886)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Eu tenho um fanatismo tão insensato pela palavra

Jean Gaudiol
“Eu tenho um fanatismo tão insensato pela palavra, pela tribuna que, faça embora o que fizer de melhor para a sociedade, terei cumprido mal o meu destino se não tiver a ocasião de, pelo menos uma vez, erguer a minha palavra sobre a fronte de qualquer infeliz, abandonado de todos; e aí impávido, altivo, audaz e insolente arriscar em prol de sua vida obscura todas as energias de meu cérebro, todos os meus ideais - a minha ilusão mais pura, o meu futuro e a minha vida!...”
Euclides da Cunha

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Da Guerrilha ao Planalto

Não adiantou toda a propaganda negativa da Imprensa Golpista sobre o passado de Dilma. Nem a disseminação de calunias, mentiras e falsificações de video e fotos feitos por blogues e neonazistas na internet. A elite brasileira preferiria que Dilma se arrependesse da luta armada e tagarelasse sobre isso: como o Gabeira faz sempre que tem oportunidade. Dilma tanto não se arrepende como ofereceu a vitória a todos aqueles mártires da liberdade.
“Dediquei toda a minha vida a causa do Brasil. Entreguei minha juventude ao sonho de um país justo e democrático. Suportei as adversidades mais extremas infligidas a todos que ousamos enfrentar o arbítrio. Não tenho qualquer arrependimento, tampouco ressentimento ou rancor.
Muitos da minha geração, que tombaram pelo caminho, não podem compartilhar a alegria deste momento. Divido com eles esta conquista, e rendo-lhes minha homenagem.
Esta dura caminhada me fez valorizar e amar muito mais a vida e me deu sobretudo coragem para enfrentar desafios ainda maiores.”

Presidenta Dilma no discurso de posse.

Soneto

Richard S. Johnson
Cheguei. Sinto de novo a natureza
Longe do pandemônio da cidade
Aqui tudo tem mais felicidade
Tudo é cheio de santa singeleza

Vagueio pela múrmura leveza
Que deslumbra de verde e claridade
Mas nada. Resta vívida a saudade
Da cidade em bulício e febre acesa

Ante a perspectiva da partida
Sinto que me arranca algo da vida
Mas quero ir. E ponho-me a pensar

Que a vida é esta incerteza que em mim mora
A vontade tremenda de ir-me embora
E a tremenda vontade de ficar.

Vinícius de Moraes (1913-1980)