segunda-feira, 31 de março de 2014

Ditadura Militar

Dia do Golpe Militar
50 anos do Golpe Militar de 1964.
Este ano, o Brasil vive a mais dolorosa efeméride de sua história: 50 anos do Golpe de Estado.
A coincidência com ano eleitoral, Copa do Mundo, e prováveis protestos de rua, nos dá a chance de forçarmos o Brasil a fazer o que até hoje nunca fez: politizar o debate sobre o golpe de 64. Por que ele aconteceu? Quem se beneficiou? Quem são os herdeiros do golpe?
Seria um belíssimo presente à democracia brasileira, por exemplo, se a Lei da Anistia fosse revista. Não para prender velhinhos, mas para darmos uma satisfação política a nós mesmos, sobretudo, é preciso lembrar à sociedade que o que vivemos não foi nenhuma “ditabranda”. Vivemos um período de ruptura democrática, truculento e sinistro, que abortou o sonho de milhões de brasileiros. O golpe serviu para ampliar a desigualdade de renda, achatar o salário dos trabalhadores, e esmagar as esperanças de setores organizados de construir um país mais justo.
Não há nada de brando no esmagamento do sonho de centenas de milhões de cidadãos e na violação da normalidade democrática, com a instalação de um regime militar de exceção que, paulatinamente, aniquilou todas as liberdades no país.
Não há nada de brando na ruptura brutal de toda uma série de estudos e pesquisas acadêmicas e científicas em curso no país, nas universidades, quase todas abandonadas por causa de uma repressão estúpida e paranoica.
O Brasil, especialmente a nossa juventude, precisa ser melhor informado sobre o que aconteceu. A ditadura trouxe corrupção, miséria e degradação institucional. A origem do sucateamento dos serviços públicos está na ditadura. O problema da corrupção política também tem raízes no período de exceção, porque era um tempo sem liberdade de imprensa, sem instituições de controle e com chefes políticos exercendo cargos administrativos importantes de maneira quase totalitária. Quem ousaria acusar o diretor de uma estatal de corrupção, sendo o mesmo um coronel ou general com poder de mandar prender o acusador por “subversão”?
Precisamos conhecer melhor a história da construção do golpe. Como ele foi gestado, como foi a campanha midiática que o preparou? As passeatas que antecederam o golpe também merecem ser objeto de mais estudo, até porque a mídia, a mesma mídia que apoiou o golpe, prossegue até hoje tentando organizar protestos “espontâneos” para derrubar forças populares.
Às vésperas dos 50 anos do golpe militar torna-se necessário um resgate da História para entendermos o presente. Em 1964 o Brasil era um país politicamente repartido. Dividido e paralisado. Crise econômica, greves, ameaça de golpe militar, marasmo administrativo. O clima de radicalização era agravado por velhos adversários da democracia. A direita brasileira tinha uma relação de incompatibilidade com as urnas. Não conseguia conviver com uma democracia de massas num momento de profundas transformações. Temerosa do novo, buscava um antigo recurso: arrastar as Forças Armadas para o centro da luta política, dentro da velha tradição inaugurada pela República, que já havia nascido com um golpe de Estado.
Nos últimos anos se consolidou a versão de que os militantes da luta armada combateram a ditadura em defesa da liberdade. E que os militares teriam voltado para os quartéis graças às suas heroicas ações. Num país sem memória, é muito fácil reescrever a História.
A luta armada não passou de ações isoladas de assaltos a bancos, sequestros, ataques a instalações militares e só. Apoio popular? Nenhum. Argumenta-se que não havia outro meio de resistir à ditadura a não ser pela força. Mais um grave equívoco: muitos desses grupos existiam antes de 1964 e outros foram criados pouco depois, quando ainda havia espaço democrático. Ou seja, a opção pela luta armada, o desprezo pela luta política e pela participação no sistema político, e a simpatia pelo foquismo guevarista antecederam o AI-5, quando, de fato, houve o fechamento do regime. O terrorismo desses pequenos grupos deu munição (sem trocadilho) para o terrorismo de Estado e acabou sendo usado pela extrema direita como pretexto para justificar o injustificável: a barbárie repressiva.
A luta pela democracia foi travada politicamente pelos movimentos populares, pela defesa da anistia, no movimento estudantil e nos sindicatos. Teve em setores da Igreja Católica importantes aliados, assim como entre os intelectuais, que protestavam contra a censura. E o MDB, este nada fez? E os seus militantes e parlamentares que foram perseguidos? E os cassados?
Os militantes da luta armada construíram um discurso eficaz. Quem os questiona é tachado de adepto da ditadura. Assim, ficam protegidos de qualquer crítica e evitam o que tanto temem: o debate, a divergência, a pluralidade, enfim, a democracia. Mais: transformam a discussão política em questão pessoal, como se a discordância fosse uma espécie de desqualificação dos sofrimentos da prisão. Não há relação entre uma coisa e outra: criticar a luta armada não legitima o terrorismo de Estado. Temos de refutar as versões falaciosas. Romper o círculo de ferro construído, ainda em 1964, pelos adversários da democracia, tanto à esquerda como à direita. Não podemos ser reféns, historicamente falando, daqueles que transformaram o antagonista em inimigo; o espaço da política, em espaço de guerra.
Marco Antonio Villa
Historiador, autor do livro 'Ditadura à Brasileira' (Ed. Leya).
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sexta-feira, 28 de março de 2014

Não se sabe tudo

Valentine Rekunenko
“Saber tudo de tudo. Ou tudo de algum saber. Decerto é impossível e mesmo indesejável. Mas que tu sintas que é bela a luz ou ouvir um pássaro cantar e terás sido absolutamente original. Porque ninguém pode sentir por ti”.
Vergílio Ferreira (1916-1996)

quarta-feira, 26 de março de 2014

A mudança de relações entre pais e filhos

Giuseppe Sciuti - La pace domestic

“A mudança de relações entre pais e filhos é um exemplo típico da expansão geral da democracia. Os pais já não estão muito seguros dos seus direitos sobre os filhos, os filhos já não sentem que devem respeito aos pais. A virtude da obediência, que era outrora exigida sem discussão, passou de moda e com certa razão.
A psicanálise aterrorizou os pais cultos com o medo de causarem, sem querer, mal aos filhos. Se os beijam, podem provocar o complexo de Édipo; se não os beijam, podem provocar crises de ciúmes. Se os repreendem em qualquer coisa, podem fazer nascer neles o sentimento do pecado; se não o fazem, os filhos adquirem hábitos que os pais consideram indesejáveis. Quando veem as crianças a chupar no polegar, tiram disso toda a espécie de conclusões terríveis, mas não sabem o que fazer para evitá-lo. O uso dos direitos dos pais que era antigamente uma manifestação triunfante da autoridade, tornou-se tímido, receoso e cheio de escrúpulos.
Perderam-se as antigas alegrias simples e isto é tanto mais grave quanto é certo que, devido à nova liberdade das mulheres solteiras, a mãe tem de fazer muito mais sacrifícios do que antigamente ao optar pela maternidade.
Nessas circunstâncias, as mães conscienciosas exigem muito pouco dos filhos e as mães pouco conscienciosas exigem demasiado. Umas reprimem a sua afeição natural e mostram-se reservadas, as outras procuram nos filhos uma compensação das alegrias a que tiveram de renunciar. No primeiro caso, impede-se o desenvolvimento da afetividade das crianças, no segundo estimula-se em excesso. Em nenhum dos dois, porém, há essa felicidade simples e natural que é o melhor que a vida de família pode proporcionar.
Em face de todas estas dificuldades, é de admirar que a natalidade decline?”.
Bertrand Russell (1872-1970)

segunda-feira, 24 de março de 2014

A Felicidade está no Realizar, e não no Usufruir

Pierre-Auguste Renoir
“Atolavam-se na ilusão da felicidade que extraíam dos bens possuídos. Ora a felicidade o que é senão o calor dos atos e o contentamento da criação? Aqueles que deixam de trocar seja o que for deles próprios e recebem de outrem o alimento, nem que fosse o mais bem escolhido e o mais delicado, aqueles que ouvem sutilmente os poemas alheios sem escreverem os poemas próprios, aproveitam-se do oásis sem o vivificarem, consomem cânticos que lhes fornecem, e fazem lembrar os que se apegam às manjedouras no estábulo e, reduzidos ao papel de gado, mostram-se prontos para a escravatura”.
Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944)

sábado, 22 de março de 2014

O Medo do Aborrecimento

Johann Georg Meyer
“O gênero de aborrecimento de que sofre a população das cidades modernas está intimamente ligado à sua separação da vida da Terra. Essa separação torna o seu viver ardente, poeirento e ansioso, tal como uma peregrinação no deserto. Nos que são suficientemente ricos para escolher o seu gênero de vida, o estigma peculiar de insuportável aborrecimento que os distingue é devido, por muito paradoxal que isso possa parecer, ao seu medo do aborrecimento. Ao fugirem do aborrecimento que é fecundo, são vítimas de outro de natureza pior. Uma vida feliz deve ser, em grande medida, uma vida tranquila, pois só numa atmosfera calma pode existir o verdadeiro prazer”.
Bertrand Russell (1872-1970)

terça-feira, 18 de março de 2014

Ondas de Solidão

Henri Houben
“Se possuísse uma canoa e um papagaio, podia considerar-me realmente como um Robinson Crusoé, desamparado na sua ilha. Há, é verdade, em roda de mim uns quatro ou cinco milhões de seres humanos. Mas, que é isso? As pessoas que nos não interessam e que se não interessam por nós, são apenas uma outra forma da paisagem, um mero arvoredo um pouco mais agitado. São, verdadeiramente como as ondas do mar, que crescem e morrem, sem que se tornem diferenciáveis uma das outras, sem que nenhuma atraia mais particularmente a nossa simpatia enquanto rola, sem que nenhuma, ao desaparecer, nos deixe uma mais especial recordação.
Ora estas ondas, com o seu tumulto, não faltavam decerto em torno do rochedo de Robinson - e ele continua a ser, nos colégios e conventos, o modelo lamentável e clássico da solidão”.
Eça de Queirós (1845-1900)

domingo, 16 de março de 2014

Para pensar

Hieronymus Bosch - A Estrada da Vida
“Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores. Quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto sacrifício...
Então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”.
Ayn Rand (1905-1982)

quinta-feira, 13 de março de 2014

Pitonisa

Michelangelo
Tantos deuses
me possuíram
tantas mulheres
me fizeram
em seus ventres em seus sonhos
(de mim)
médium de seus desejos.

Miriam Portela

quarta-feira, 12 de março de 2014

Números

Christine Till
Eu valho muito pouco, sou sincero,
Dizia o Um ao Zero,
no entanto, quanto vales tu? Na prática
és tão vazio e inconcludente
quanto na matemática.
Ao passo que eu, se me coloco à frente
de cinco zeros bem iguais
a ti, sabes acaso quanto fico?
Cem mil, meu caro, nem um tico
a menos nem um tico a mais.
Questão de números. Aliás é aquilo
Que sucede com todo ditador
Que cresce em importância e em valor
Quanto mais são os zeros a segui-lo.

Carlo Alberto Salustri (1871-1950)
Tradução: Paulo Duarte

segunda-feira, 10 de março de 2014

Quadro de Renoir será exposto em Baltimore

Renoir - Paysage Bords de Seine
Uma pequena paisagem de Renoir com uma história digna de romance será exposta a partir do fim de março no Baltimore Museum of Art (BMA) – 62 anos, quatro meses e 14 dias depois dela ter sido vista publicamente pela última vez.
A mostra The Renoir Returns reunirá a pintura Paysage Bords de Seine, de 1879, com mais de 20 obras de arte da coleção da herdeira Saidie May de Baltimore, que legou todos seus bens ao museu após sua morte em 1951.
O quadro foi roubado há mais de 60 anos do museu e jamais recuperado pela polícia. Até que Martha Fuqua trouxe a obra à tona. Segundo ela, o quadro estava à venda em um mercado de pulgas na cidade – e ela o arrematou por US$ 7.
O museu entrou na justiça para reaver a pintura, mas Fuqua alegou que não sabia que se tratava de uma peça roubada – e que, por ter pago por ela, seria sua proprietária. Na semana passada, um juiz de Baltimore deu ganho de causa ao museu.
"Ficamos satisfeitos de receber esta adorável pintura de volta ao museu para reexibi-la ao povo de Baltimore e reuni-la às muitas obras-primas da coleção Saidie May", disse a diretora do museu, Doreen Bolger.
"Por estarmos comemorando o 100º aniversário do museu, estamos particularmente animados com a possibilidade de homenagear o legado de May como uma das doadoras mais generosas do BMA." A exposição ficará aberta até 20 de julho.
Entre os itens incluídos na exposição, está um pequeno esboço em óleo de Georges Seurat, que May comprou de uma galeria francesa no mesmo dia em que adquiriu a paisagem de Renoir. Estará também um autorretrato de Degas que o museu adquiriu com um acordo de seguro de US$ 2.500 que recebeu com o registro do desaparecimento do Renoir.

sábado, 8 de março de 2014

Haikai

Mario Weinert
Silêncio profundo!
Até o cantar dos grilos
está escondido nas rochas…

Matsuo Bashô (1644-1694)
Tradução: Casimiro de Brito

quarta-feira, 5 de março de 2014

Reflexão:

John William Godward
“E a vida passa... efêmera e vazia:
Um adiamento eterno do que se espera,
Numa eterna esperança que se adia...”.

Raul de Leoni (1895-1926)

terça-feira, 4 de março de 2014

Haikai

Melissa Graves-Brown
Acorda! O céu iluminou-se!
Vamos novamente para a rua
amiga borboleta.

Matsuo Bashô (1644-1694)
Tradução: Casimiro de Brito

domingo, 2 de março de 2014

Eduard Hildebrandt

Eduard Hildebrandt (1818-1869)

Retrato de Eduard Hildebrandt por Louis Auguste Moreau, em 1844, no Brasil
Eduard Hildebrandt nasceu em Danzig, em 9 de setembro de 1818, quando essa cidade era parte da Prússia e, posteriormente, parte do Império Alemão. Anteriormente era território polonês e atualmente é a cidade de Gdańsk, da Polônia.
Quando Eduard tinha 13 anos, seu pai faleceu. Fez seus primeiros estudos em Berlim e, posteriormente, em Paris. Em 1839, viajou por alguns países da Europa, pintando paisagens e cenas do cotidiano. Em 1842, visitou a Bélgica e a França, onde foi premiado no Salon de Paris.
Ao retornar a Berlim, conheceu o naturalista Humboldt que recomendou o jovem artista ao rei Frederico Guilherme IV, Imperador da Prússia.
Em 1844, veio ao Brasil como membro da expedição científica patrocinada pelo Imperador. Chegou no Rio de Janeiro em 31 de março. Em junho foi a São Paulo. Em agosto, chegou na Bahia, depois foi para Pernambuco. Nesses lugares fez ilustrações de imenso valor histórico. Em outubro, estava nos Estados Unidos.
Em 1847, ensinou pintura na Academia de Belas Artes de Berlim. Posteriormente voltou a viajar pela Europa e Ásia e seus trabalhos foram publicados em um álbum em 1867.
Faleceu em Berlim, em 5 de outubro de 1869.
Eduard Hildebrandt - Rua do Ouvidor