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domingo, 25 de janeiro de 2015

Palavras

Francis Sydney Muschamp
"...as palavras não são mais concebidas ilusoriamente como simples instrumentos, são lançadas como projeções, explosões, vibrações, maquinarias, sabores: a escritura faz do saber uma festa. (...) a escritura se encontra em toda parte onde as palavras têm sabor (saber e sabor têm, em latim, a mesma etimologia). (...) É esse gosto das palavras que faz o saber profundo, fecundo."
- Roland Barthes (1915-1980)


sexta-feira, 29 de março de 2013

Espera

Charles West Cope
Tumulto de angústia suscitado pela espera do ser amado, no decorrer de mínimos atrasos (encontros, telefonemas, cartas, voltas).
Espero uma chegada, uma volta, um sinal prometido. Pode ser fútil ou imensamente patético: em Erwartung (Espera), uma mulher espera seu amante, de noite, na floresta; quanto a mim, só espero um telefonema, mas é a mesma angústia. Tudo é solene: não tenho noção das proporções.
Roland Barthes (1915-1980
Fragmentos de Um Discurso Amoroso.
Tradução: Hortênsia dos Santos
Francisco Alves Editora.

terça-feira, 26 de março de 2013

Fragmentos de Um Discurso Amoroso

Amanda Cass
Coração: Esta palavra vale para todo tipo de movimentos e desejos, mas o que é constante é que o coração se constitui em objeto de dom - quer ignorado, quer rejeitado.

1. O coração é o órgão do objeto (o coração, infla, fraqueja, etc., como o sexo), tal como é retido, encantado, no campo do Imaginário. O que o mundo, o que o outro vai fazer de meu desejo? Essa a inquietude em que se concentram todos os movimentos do coração, todos os "problemas" do coração.

2. Werther se queixa do príncipe de X: "Ele aprecia meu espírito e meus talentos mais do que este coração, que contudo é meu único orgulho [...] Ah, o que sei, qualquer outro pode saber - meu coração é meu e de ninguém mais." Você me espera onde não quero ir: ama-me onde não estou. Ou ainda: o mundo e eu não nos interessamos pela mesma coisa; e, desgraçadamente para mim, esta coisa dividida sou eu; não me interesso (diz Werther) pelo meu espírito; você não se interessa por meu coração.

3. O coração é o que acredito dar. Cada vez que este dom me é devolvido, é então pouco dizer, como Werther, que o coração é o que resta de mim, uma vez extraído todo o espírito que me atribuem e que não quero: o coração é o que me resta, e este coração que me resta no coração é o coração pesado: pesado do refluxo que o encheu dele mesmo (apenas o amante e a criança têm o coração pesado).

( X ... deve ausentar-se por semanas, talvez mais; quer, no último momento, comprar um relógio para a viagem; a vendedora graceja: "O senhor quer o meu? O senhor devia ser bem jovem, quando eles custavam esse preço, etc."; ela não sabe que eu estou com o coração pesado.)
Roland Barthes (1915-1980)
Fragmentos de Um Discurso Amoroso.
Ed. Martins Fontes

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Fragmentos de Um Discurso Amoroso

Abraço




O gesto do abraço amoroso
parece realizar por um momento,
para o sujeito, o sonho de união total com o ser amado.






Adorável
Não conseguindo nomear a especialidade
do seu desejo pelo ser amado,
o sujeito apaixonado chega a essa palavra
um pouco tola: adorável.

Afirmação












Ao contrário de tudo e contra tudo,
o sujeito afirma o amor como valor.

Angústia


O sujeito apaixonado,
do sabor de uma ou outra contingência,
se deixar levar pelo medo de um perigo,
de uma mágoa, de um abandono,
de uma reviravolta - sentimento que ele
exprime sob o nome de angústia.




Ausência
Todo episódio de linguagem que põe em cena
a ausência do objeto amado - quaisquer
que sejam a causa e a duração
- e tende a transformar essa ausência em prova de abandono.



Chorar









Propensão particular do sujeito apaixonado
a chorar: modos de aparição
e função das lágrimas do sujeito.



Compreender



Ao perceber repentinamente
o episódio amoroso como um nó
de razões inexplicáveis e de soluções bloqueadas,
o sujeito exclama:
"Quero compreender (o que me acontece)!"




Coração
Essa palavra vale por todas as espécies
de movimentos e desejos, mas o que é constante,
é que o coração se constitui um objeto de dom –
seja ignorado, seja rejeitado.
Corpo
Todo pensamento, toda emoção,
todo interesse suscitado no sujeito
apaixonado pelo corpo amado.
Dedicatória
Episódio de linguagem que acompanha
todo presente amoroso, real ou projetado, e, ainda,
mais geralmente, todo gesto, afetivo ou interior,
pelo qual o sujeito dedica alguma coisa ao ser amado.
Despelado
Sensibilidade especial do sujeito apaixonado,
que o torna vulnerável, à mercê das mais leves feridas.
Desrealidade
Sentimento de ausência,
fuga da realidade experimentada
pelo sujeito apaixonado, diante do mundo.
Errância
Apesar de que todo amor é vivido como único
e que o sujeito rejeite a ideia de repeti-lo
mais tarde em outro lugar, às vezes ele surpreende
em si mesmo uma espécie
de difusão do desejo amoroso;
ele compreende então que está destinado a errar
até a morte, de amor em amor.
Esconder
Figura deliberativa:
o sujeito apaixonado se pergunta,
não se deve declarar ao ser amado que o ama
(não é uma figura de confissão), mas
até que ponto deve esconder dele
suas "perturbações" (as turbulências)
da sua paixão: seus desejos,
suas aflições, enfim, seus excessos
(na linguagem raciniana: seu furor).
Escrever
Enganos profundos, debates e
impasses que provocam o desejo de "exprimir"
o sentimento amoroso numa criação
(notadamente de escritura).
Espera
Tumulto de angústia suscitado
pela espera do ser amado, no decorrer de mínimos
atrasos (encontros, telefonemas, cartas, voltas).
Eu-te-amo
A figura não se refere
à declaração de amor, à confissão, mas
ao repetido proferimento do grito do amor).
Festa
O sujeito apaixonado vive cada encontro
com o ser amado como
uma festa.
Louco
O sujeito apaixonado é atravessado
pela ideia de que ele está ou está ficando louco.
Magia
Consultas mágicas, pequenos
ritos secretos e ações de graça
não estão ausentes da vida
do sujeito apaixonado,
qualquer que seja sua cultura.
Ternura
Gozo, mas também avaliação inquietante
dos gestos ternos do objeto amado,
na medida em que o sujeito compreende
que esse privilégio não é para ele.
União
Sonho de total união com o ser amado.

Autor:
Roland Barthes (1915-1980)
Fragmentos de Um Discurso Amoroso
lustrações: Alone Gut

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Que há de desejo na leitura?

Toulouse-Lautrec
Que há de desejo na leitura? O Desejo não pode ser nomeado, nem sequer (ao contrário do Pedido) dito. No entanto, não há dúvida de que existe um erotismo da leitura (na leitura, o desejo está ali com o sei objeto, o que é a definição do erotismo).
(...) A leitura aparece assim marcada por dois traços fundamentais. Ao fechar-se para ler, ao fazer da leitura um estado absolutamente separado, clandestino, no qual o mundo inteiro é abolido, o leitor – o lente – identifica-se com os dois outros sujeitos humanos – para dizer a verdade bem próximos um do outro – cujo estado requer igualmente uma reparação violenta: o sujeito amoroso e o sujeito místico.
Roland Barthes (1915-1980)
O rumor da língua.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Escrever

Albert Anker
“Escrevo para não ficar louco”, dizia Bataille - o que queria dizer que escrevia a loucura; mas quem poderia dizer: “Escrevo para não ter medo”? Quem poderia escrever o medo (o que não impediria dizer contá-lo)? O medo não expulsa, não constrange nem realiza a escritura: pela mais imóvel das contradições, os dois coexistem – separados.
Roland Barthes (1915-1980)

sábado, 5 de março de 2011

Palavras

“...as palavras não são mais concebidas ilusoriamente como simples instrumentos, são lançadas como projeções, explosões, vibrações, maquinarias, sabores: a escritura faz do saber uma festa. (...) a escritura se encontra em toda parte onde as palavras têm sabor (saber e sabor têm, em latim, a mesma etimologia).
(...) É esse gosto das palavras que faz o saber profundo, fecundo”.
Roland Barthes (1916-1980)