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quinta-feira, 5 de abril de 2012

Soneto X

Granger - Minstrel
Quando te vejo, o rosto louro ornado
De lauréis verdes, tocar o alaúde,
E a te seguir forçar de modo rude
Árvores, pedras, quando coroado,

Te olho de dez mil virtudes cercado,
Erguendo a honra à maior altitude,
E dos demais ofuscar a virtude,
Meu coração pergunta apaixonado:

“Tantas virtudes te fazem amado,
Tantas te fazem ser tão estimado;
Não poderiam, pois, fazer-te amar?

E, acrescentando à virtude louvável,
Tua maneira de ser muito amável,
Meu doce amor ainda te inflamar?”

Louise Labé (1526-1566)
Tradução: Sergio Duarte

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Soneto II

Alfred Woolmer
Ó belos olhos, ó olhares cruzados,
Ó quentes ais, ó lágrimas roladas,
Ó negras noites em vão esperadas,
Ó dias claros em vão retornados!

Ó tristes queixas, ó anseios dobrados,
Ó tempo gasto, ó aflições passadas,
Ó mortes mil em redes mil jogadas,
Ó duros males contra mim lançados!

Ó riso, ó fronte, dedos, mãos e braços!
Ó alaúde, viola, arco e compassos:
Chamas demais para uma só mulher!

De ti me queixo: esses fogos que trago
No coração causaram muito estrago,
Mas não te queima um lampejo sequer.

Louise Labé (1526-1566)
Tradução: Felipe Fortuna

quarta-feira, 28 de março de 2012

Louise Labé

Louise Labé (1526-1566)
Uma intelectual e um "eu lírico feminino" em uma
harmoniosa articulação do Discurso Amoroso.

O Renascimento é uma época caracterizada por transições. Transição econômica e política (feudalismo – capitalismo), transição social (ruptura com as estruturas medievais) e transição artística (redescoberta e revalorização das referências da antiguidade clássica). Todas estas transições resultam em valores humanistas e naturalistas que levam em sua base conceitos associados ao Humanismo: o neoplatonismo, o antropocentrismo, o hedonismo, o racionalismo, o otimismo e o individualismo, cujo precursor é Petrarca.
Apesar de todas essas mudanças na sociedade e no pensamento da época, a mulher parecia estar em absoluto repouso intelectual e histórico; e continuava-se esperando que uma mulher fosse o objeto de mais alta virtude, que possuísse apenas dons naturais: bela e adorada, que se dedicasse às atividades cotidianas reduzidas ao casamento, em uma vida isolada e que, intelectualmente, somente desenvolvesse artes como tricô, tapeçaria, pintura e música. No entanto, nesse contexto aparece uma mulher que diz:
“Beijai-me agora, e muito, e outra vez mais,
Dai-me um de vossos beijos saborosos,
E depois, dai-me um desses amororos,
E eu pagarei com brasa o que me dais.

Com mais dez beijos longos, langorosos,
E assim, trocando afagos tão gostosos,
Gozemos um do outro, em calma e paz.

Eu viva em vós e vós vivendo em mim.
Deixai que vague, pois, meu pensamento:

Não dá prazer viver bem comportada;
Bem mais feliz me sinto, e contentada,
Quando cometo algum atrevimento”.

Louise Labé
Tradução: Sérgio Duarte

terça-feira, 27 de março de 2012

Soneto

Paul Fischer - Summer on the Beach
Vê-se morrer toda coisa animada,
Quando do corpo a alma leve parte.
Eu sou o corpo, e tu a melhor parte.
Onde estás, pois, ó alma bem-amada?

Nunca me deixes tão sobressaltada,
Para salvar-me após seria tarde.
Ah, não coloques teu corpo em tal arte:
Junta-lhe a parte e metade estimada.

Mas vem, Amigo, e sê bem cuidadoso
Nesse reencontro e retorno amoroso,
Acompanhando-o, nunca de dureza.

Nem de rigor: mas de graça amigável,
Que docemente tem tua beleza,
Antes cruel, agora favorável.

Louise Labé (1526-1566)
Tradução: Felipe Fortuna