quarta-feira, 30 de junho de 2010

Noite

Roberto Weigand

Úmido gosto de terra,
cheiro de pedra lavada
— tempo inseguro do tempo! —
sombra do flanco da serra,
nua e fria, sem mais nada.
Brilho de areias pisadas,
sabor de folhas mordidas,

— lábio da voz sem ventura! —
suspiro das madrugadas
sem coisas acontecidas.
A noite abria a frescura
dos campos todos molhados,

— sozinha, com o seu perfume! —
preparando a flor mais pura
com ares de todos os lados.
Bem que a vida estava quieta.
Mas passava o pensamento...
— de onde vinha aquela música?
E era uma nuvem repleta,
entre as estrelas e o vento.

Cecília Meireles (1901-1964)

sábado, 26 de junho de 2010

Ramsés II

John David Parrish
Entre o Divino e o Terreno
Ramsés II foi o terceiro faraó da XIX dinastia egípcia, uma das dinastias que compõem o Novo Império. Reinou entre aproximadamente 1279 a.C. e 1213 a.C.
O seu reinado foi possivelmente o mais prestigioso da história egípcia tanto no aspecto econômico, administrativo, cultural e militar. Também um dos mais longos reinados da história egípcia.
Aos dez anos Ramsés recebeu o título de "filho primogénito do rei", o que correspondia a ser declarado como herdeiro do trono. O seu pai introduziu-o no mundo das campanhas militares quando era ainda um adolescente, tendo Ramsés acompanhado o seu pai em campanhas contra os Líbios e em campanhas na Palestina.
Quando jovem (20 anos), casou-se com Nefertari, a mais importante e célebre das várias esposas que Ramsés teve na sua vida, tendo sido a grande esposa real até à sua morte.
O primeiro filho deles chamava-se Amun-her-khepeshef e nasceu antes que Ramsés II subisse ao trono.
Quando jovem participava ativamente do exercito nas campanhas de seu pai, e fora nomeado seu sucessor.
Era uma época de milagres, maldições, de deuses e homens que acreditavam ser deuses. E de um jovem guerreiro do mais poderoso império do mundo, o homem que desafiou o Deus dos hebreus, Ramsés O Grande.
Segundo a Bíblia seu amado primogênito foi morto na última e mais terrível de Dez Pragas, uma praga que obrigou o faraó a libertar seus escravos hebreus e seu líder Moisés, dando início para a longa jornada conhecida como Êxodo. Um egiptólogo acredita ter encontrado no Vale dos Reis o crânio do primogênito de Ramsés.
A ciência forense analisou as questões:
1. Seu primogênito foi realmente morto na última maldição de Deus para que ele liberasse os judeus do cativeiro no Egito.
2. Qual a idade dele quanto morreu?
Muitos arqueólogos não acreditam que o êxodo ocorreu, porque os egípcios não deixaram nada escrito. Vá ate o maior complexo de tempos já feito, Karnac, e conheça a história da batalha de Kadesh (para Ramsés uma das maiores batalhas vencidas pelo Egito, mas outro tratado diz que houve empate). Deste modo nunca será encontrada nada do êxodo pois está foi uma batalha perdida e Ramsés não ia deixar nada nem ninguém saber disto.
Voltamos ao êxodo bíblico. Ramsés II após as 10 pragas manda os judeus irem embora, mas seu filho muda de ideia e da cidade de Pi Rameses saem carroças que vão atrás dos judeus. Deus manda uma rajada de fogo que bloqueia o caminho. Os judeus estão presos entre este fogo e o mar vermelho. Moisés, no seu gesto mais famoso, estende sua mão e abre o mar para os judeus passarem. Quando o último atravessa, a coluna de fogo some e os egípcios entram no mar, mas este se fecha e eles morrem.
Na história bíblica, Ramsés é quem persegue os judeus, mas ele era muito velho de acordo com estudo e isto torna-se improvável.
No crânio encontrado está uma marca que pode sugerir algumas coisas, como:
• a queda de uma biga;
• assassinado no harém do pai;
• ou morrido com um golpe na cabeça no campo de batalha (a + provável).
Isto significa que sua morte não foi igual a descrita no êxodo. O que ocorreu então?

Pode ter sido erro de tradução: mão foram 600.000 hebreus libertados no Exodo, mas poucos milhares e Mar Vermelho quer dizer na verdade mar-de-junco, que é na verdade um pântano.
Outros 2 erros: Moisés não tinha 80 anos, mas era jovem e o exército hebreu não estava tão indefeso. Como o mar-de-junco era um pântano, as bigas atolaram e os hebreus mataram todos, inclusive Amun-re-Kepechek.
Ramsés então cria a metáfora da 10ª praga para ocultar esta história!!!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Um ano sem o rei do Pop

Michael Jackson
Há um ano foi anunciada a morte de Michael Jackson, o rei do Pop e um dos maiores ídolos da música e da dança nas últimas gerações.
A imprensa o criticou muito e não soube mostrar a quantidade de pessoas que ele ajudou durante toda a carreira. Só começaram a falar bem depois que ele morreu.
Michael esteve no Brasil:
• 1974 - Quando era adolescente, acompanhado dos irmãos no grupo Jackson Five, se apresentou em cinco capitais.
• 1993 trouxe a apresentação da turnê Dangerous para o Estádio Morumbi, em São Paulo.
• Em outros momentos, veio gravar clipes e participar de entrevistas e projetos sociais.

Mesmo com a aparente distância, ele mostrava uma relação de carinho com o País e cultivou o amor de diversos fãs.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Os antigos retratos de parede

Alberto Godoy
Os antigos retratos de parede
Não conseguem ficar longo tempo abstratos.
Às vezes os seus olhos te fixam, obstinados
Porque eles nunca se desumanizam de todo
Jamais te voltes pra trás de repente.
Não, não olhes agora!
O remédio é cantares cantigas loucas e sem fim…
Sem fim e sem sentido…
Dessas que a gente inventava
enganar a solidão dos caminhos sem lua.

Mario Quintana (1906-1994)

domingo, 20 de junho de 2010

Reflexão



“O errado é errado mesmo que todos o façam; o correto é correto mesmo que ninguém o faça”.

Sathya Sai Baba
(23 novembro de 1926 - 24 abril de 2011)

sábado, 19 de junho de 2010

Luar póstumo

Numa noite de lua escreverei palavras,
simples palavras tão certas
que hão de voar para longe, com asas súbitas,
e pousar nessas torres das mudas vidas inquietas.

O luar que esteve nos meus olhos, uma noite,
nascerá de novo no mundo.
Outra vez brilhará, livre de nuvens e telhados,
livre de pálpebras, e num país sem muros.

Por esse luar formado em minhas mãos, e eterno,
é doce caminhar, viver o que se vive.
Porque a noite é tão grande... Ah, quem faz tanta noite?
E estar próximo é tão impossível!

Cecília Meireles (1901-1964)

Ensaio sobre a Cegueira

“Se podes olhar vê,
se podes ver, repara.
… se antes de cada ato nosso,
nos puséssemos prever todas as consequências dele,
a pensar nelas a sério,
primeiro as imediatas, depois as prováveis,
depois as possíveis, depois as imagináveis,
não chegaríamos sequer a mover-nos de onde
o primeiro pensamento nos tivesse feito parar”.

José Saramago
Ensaio sobre a cegueira

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Dentro da minha vida vou guardando o meu sonho

Dentro da minha vida vou guardando o meu sonho
em chuviscos sutis de amor e de veneno.

O abismo me fecunda e se desfaz o encanto,
com a Dor permaneço dolorido pensando.

(Era um canto dormido
em seda triste e branda,
adormeceu no estéril desencontro dos ventos
e a vida, estilhaçada como árvore deserta,
ficou.)

Oh! como doem, doem essas dores humildes.

Pablo Neruda

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Mensagem

“Se as portas da percepção
se abrissem,
tudo pareceria como é: infinito”.

William Blake (1757-1827)

Nossas vidas são como a respiração

Helen Allingham
“Nossas vidas são como a respiração,
como as folhas que crescem e caem.
Quando realmente entendermos
sobre as folhas que caem,
seremos capazes de varrer os caminhos
todos os dias e nos alegrar
com nossas vidas neste mundo mutável”.

Ajaan Chah (Tailândia, 1918-1992)

domingo, 13 de junho de 2010

Nasceu no meu jardim um pé de mato

Steve Henderson
Nasceu no meu jardim um pé de mato
que dá flor amarela.
Toda manhã vou lá pra escutar a zoeira
da insetaria na festa.
Tem zoada de todo jeito:
tem do grosso, do fino,
de aprendiz e de mestre.
É pata, é asas, é boca, é bico, é grão de
poeira e pólen na fogueira do sol.
Parece que a arvorinha conversa.

Adélia Prado

sábado, 12 de junho de 2010

O Essencial do Tao

Um caminho pode ser um guia, mas não uma trilha definida.
Podem-se dar nomes, mas não rótulos fixos.
Não ser é chamado o princípio do céu e da terra;
Ser é chamado a mãe de todas as coisas.
Sempre desapaixonados, para ver as aparências
Sua origem é a mesma, mas tem nomes diferentes,
Ambos são considerados mistérios.
O mistério dos mistérios é o portal das maravilhas.

Thomas Cleary

Essa... a alegria que ele quer

Gustav Klimt
Deus nos dá pessoas e coisas,
para aprendermos a alegria...
Depois, retoma coisas e pessoas para ver
se já somos capazes da alegria sozinhos...
Essa é a alegria que ele quer.

João Guimarães Rosa

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O Poeta Beija Tudo

Alfred Gockel
O poeta beija tudo, graças a Deus...
E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade...
E diz assim: "É preciso saber olhar..."
E pode ser, em qualquer idade, ingênuo como as crianças,
entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos...
E levanta uma pedra escura e áspera
para mostrar uma flor que está por detrás...
E perde tempo (ganha tempo...) a namorar uma ovelha...
E comove-se com coisas de nada: um pássaro que canta,
uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu,
um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino,
um bocadinho de sol depois de um dia chuvoso...
E acha que tudo é importante...
E pega no braço dos homens que estavam tristes e
vai passear com eles para o jardim...
E reparou que os homens estavam tristes...
E escreveu uns versos que começam desta maneira:

"O segredo é amar..."
Sebastião da Gama (1924-1952)

sábado, 5 de junho de 2010

Mensagem

Cathy Delanssay
“Cada um que faz a sua parte
e dissolve a sua quota de fascínio e ilusões
está aplainando o caminho para os que vêm a seguir.
Esse é o maior serviço que o discípulo pode prestar a Humanidade”.

Alice Bailey (1880-1949)

Mensagem

Maxfield Parrish
“A ocupação principal do homem é tornar-se
consciente do seu verdadeiro propósito na Vida;
todas as outras ocupações são secundárias
em relação a este interesse principal.”

Paul Brunton (1898-1981)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Furtei uma flor daquele jardim

Furtei uma flor daquele jardim.
O porteiro do edifício cochilava,
e eu furtei a flor.
Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água.
Logo senti que ela não estava feliz.
O copo destina-se a beber, e a flor não é para ser bebida.
Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia,
revelando melhor sua delicada composição.
Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem.
Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la.
Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia.
Temi por sua vida.
Não adiantava restituí-la ao jardim.
Nem apelar para o médico de flores.
Eu a furtara, eu a via morrer.
Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui
depositá-la no jardim onde desabrochara.
O porteiro estava atento e repreendeu-me:
– Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Há nos teus olhos escuros

Há nos teus olhos escuros
Tantas centelhas, que ao vê-las
Penso na treva e nos brilhos
Das noites cheias de estrelas...

Penso em cousas singulares,
Indagando entre delírios:
Por que é que os céus inda brilham?
Por que não se apaga Sírius?

Euclides da Cunha (1866-1909)