sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Filosofia

“Felicidade é ver o bem que podemos fazer, e nos conduzir a isto”.
Sócrates (469 a.C – 389 a.C.)
Jacques Louis David - Sócrates
Surgiu nos séculos VII-VI a.C. nas cidades gregas situadas na Ásia Menor. Começa por ser uma interpretação des-sacralizada dos mitos cosmogônicos difundidos pelas religiões do tempo. não apenas os mitos gregos, mas dos mitos de todas as religiões que influenciavam a Ásia menor.
A palavra "filosofia" (do grego) resulta da união de outras duas palavras: "philia", que significa "amizade", "amor fraterno" e respeito entre os iguais e "sophia", que significa "sabedoria", "conhecimento". De "sophia" decorre a palavra "sophos", que significa "sábio", "instruído".
Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Indica um estado de espírito, da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita.
Assim, o "filósofo" seria aquele que ama e busca a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. A tradição atribui ao filósofo Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes de Cristo) a criação da palavra.
Histórica e tradicionalmente, a filosofia se inicia com Tales de Mileto. Ele foi o primeiro dos filósofos pré-socráticos a buscarem explicações de todas as coisas através de um princípio ou origem causal (arché) diferentemente do que os mitos antes mostravam.
Depois dos pré-socráticos Platão é quem inicia esta nova linguagem, a filosofia como a conhecemos, a busca da essência, a ontologia dos conceitos universais em detrimento do conhecimento vulgar e sensorial.
Modernamente, é a disciplina ou a área de estudos que envolve a investigação, a argumentação, a análise, discussão, formação e reflexão das idéias sobre o mundo, o Homem e o ser. Originou-se da inquietude gerada pela curiosidade em compreender e questionar os valores e as interpretações aceitas sobre a realidade dadas pelo senso comum e pela tradição.
A partir da Filosofia surge a Ciência, pois o Homem reorganiza as inquietações que assolam o campo das idéias e utiliza-se de experimentos para interagir com a sua própria realidade.
“Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber.”

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Lembro-me de ti

Andrei Belichenko and Maria Boohtiyarova
Lembro-me de ti
Nesse instante absoluto,
A vida conduzida por um fio de música.
Intenso e delicado, ele vai-nos fechando num casulo
Onde tudo será permitido.

Se é só isso que podemos ter,
Que seja forte. Que seja único.
Tão íntimo quanto ouvirmos a mesma melodia,
Tendo o mesmo - esplêndido - pensamento.
Lya Luft

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Agora o céu não é das aves

Gabriel Ritter Von Max
Agora o céu não é das aves,
Agora o mar não é dos peixes!
Desabam tetos, quebram-se as traves,
Tu não me deixes, tu não me deixes!

Olha que o Tempo sua os segundos
No manicómio da Eternidade!
Estoiram os astros, chocam-se os mundos.
Tu não me deixes, por piedade!

Repara a hora como endoidece,
Como acelera, como recua.
Eu tenho a culpa do que acontece,
Mas, se me deixas, a culpa é tua.

Reinaldo Ferreira (1922-1959)

Boris Casoy

terça-feira, 27 de novembro de 2012

À Musa

George Henry Boughton
Quanto, à noite, espero a tua chegada,
a vida me parece suspensa por um fio.
Que importam juventude, glória, liberdade,
quando enfim aparece a hóspede querida
trazendo nas mãos a sua rústica flauta?
Ei-la que vem. Soergue o seu véu,
olha para mim atentamente.
E lhe pergunto: "Foste tu quem a Dante
ditou as páginas do Inferno?". E ela: "Sim, fui eu".

Anna Akhmátova (1889-1966)
Tradução: Lauro Machado Coelho

Fumo 'apodrece' cérebro

Estudo diz que cigarro e maus hábitos
afetam a memória e o aprendizado.
O cigarro 'apodrece' o cérebro ao danificar a memória, o aprendizado e o raciocínio lógico, segundo um estudo feito por pesquisadores da universidade King's College, Londres, na Inglaterra.
A pesquisa feita com 8,8 mil pessoas com mais de 50 anos mostrou que alta pressão sanguínea e estar acima do peso também afetam o cérebro, mas não na mesma medida.
Cientistas envolvidos na pesquisa afirmam que as pessoas precisam perceber que o seu estilo de vida afeta tanto a mente quanto o corpo.
A pesquisa foi publicada na revista científica "Age and Being".Os pesquisadores investigaram o elo entre o cérebro e as probabilidades de ataque cardíaco e derrame. Os voluntários da pesquisa -- todos com mais de 50 anos -- participaram de testes de memorização de novas palavras. Eles também eram instigados a dizer o maior número de nomes de animais em um minuto.
Os mesmos testes foram realizados após quatro anos e depois oito anos.
Os resultados mostraram que o risco de ataque cardíaco e derrame "estão associados de forma significativa com o declínio cognitivo". As pessoas com maior risco foram as que mostraram maior declínio.
Também foi identificada uma "associação consistente" entre fumo e baixos resultados no teste.
"O declínio cognitivo fica mais comum com o envelhecimento e para um número cada vez maior de pessoas interfere com o seu funcionamento diário e bem-estar", diz Alex Dregan, pesquisador que trabalhou no estudo.
"Nós identificamos uma série de fatores de risco que poderiam ser associados ao declínio cognitivo, e todos eles podem ser modificados. Nós precisamos conscientizar as pessoas para a necessidade de mudanças de estilo de vida por causa do risco de declínio cognitivo".
Para Simon Ridley, pesquisador da entidade Alzheimer's Research UK, o declínio cognitivo ao longo dos anos pode levar a doenças como demência.
Outra entidade britânica de estudo do Alzheimer -- a Alzheimer's Society -- emitiu uma nota na qual elogia o estudo da King's College London.
"Todos sabemos que cigarro, alta pressão sanguínea, altos níveis de colesterol e alto índice de massa corpórea fazem mal ao coração. Essa pesquisa acrescenta vários indícios de que isso pode fazer mal à cabeça também".

Fonte:
BBC Brasil: ( Fumo 'apodrece' cérebro. )

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

As Palavras Certas

Paul St George
“A sua luta com as palavras era geralmente dolorosa e isso por duas razões. Uma era a razão comum a escritores desse tipo: atravessar o abismo existente entre expressão e pensamento; a enlouquecedora sensação de que as palavras certas, as únicas palavras, estão à sua espera na outra margem sob a névoa distante, e o tremor da ideia ainda despida reclamando por elas deste lado do abismo.
Ele não fazia uso de frases feitas porque as coisas que queria dizer eram de constituição excepcional e ele sabia além disso que não se pode dizer que nenhuma ideia real exista sem palavras feitas sob medida. De forma que (para usar uma comparação mais próxima) a ideia que só parecia nua não estava senão pedindo as roupas que usava para se tornar visível, enquanto as palavras à espreita ao longe não eram cascas vazias como pareciam, mas estavam apenas esperando a ideia que já escondiam para incendiá-la e pô-la em movimento. Às vezes, ele se sentia como uma criança a quem dão uma mixórdia de fios e mandam que produza uma maravilha de luz. E ele produzia; e às vezes não tinha a menor consciência de como conseguia isso, e outras vezes ficava pensando nos fios durante horas no que parecia o modo mais racional – e não conseguia nada”.

Autor:
NABOKOV Vladimir
A verdadeira vida de Sebastian Knight
Editora: Alfaguara.
Ano: 1941

Caso RioCentro

Dossiê revela farsa de militares
Bomba no Riocentro
No dia 30 de abril de 1981 uma bomba explodiu dentro de um carro no estacionamento do Riocentro.
PORTO ALEGRE - Missão Nº 115. Esse era o nome oficial da vigilância desencadeada pelos serviços de espionagem do Exército no centro de convenções Riocentro, no Rio, em 30 de abril de 1981, quando 20 mil pessoas ali se reuniam para um show musical em protesto contra o regime militar. Duas bombas explodiram lá, e os agentes “supervisores” da ação foram as únicas vítimas do episódio, que lançou suspeitas sobre atividades terroristas praticadas por militares e mergulhou em agonia uma ditadura que vinha desde 1964 e acabaria sepultada em 1985. Tudo isso a população brasileira já intuía, por meio de depoimentos. O que até agora permanecia oculto — e está sendo revelado pelo jornal “Zero Hora” — são registros de militares envolvidos no episódio e manobras de abafamento do incidente, arquitetadas por servidores da repressão.
O segredo está em arquivos que eram guardados em casa pelo coronel reformado do Exército Julio Miguel Molinas Dias — assassinado aos 78 anos, em 1º de novembro, em Porto Alegre, vítima de um crime ainda nebuloso. Molinas Dias era, na época do atentado, comandante do Destacamento de Operações e Informações — Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do Rio de Janeiro, o Aparelhão. O arquivo do coronel continha 200 páginas, várias delas encabeçadas pelo carimbo “confidencial” ou “reservado”. O calhamaço evidencia que o aparelho repressivo militar tentou maquiar o cenário do Riocentro para fazer com que as explosões parecessem obra de guerrilheiros esquerdistas.
Os registros estavam guardados pelo minucioso oficial. A unidade comandada por Molinas era responsável por espionar e reprimir opositores ao regime militar. O DOI-Codi era localizado dentro do 1º Batalhão de Polícia do Exército, na Rua Barão de Mesquita, no bairro da Tijuca. Ao se aposentar, o coronel levou para casa documentos preciosos, contando pormenores da sigilosa rotina da caserna. O dossiê deixa transparecer que a bomba no Riocentro também fez estragos dentro da sede do DOI-Codi, distante 30 quilômetros do centro de eventos.
Oficiais forjaram o cenário
Em meio aos papéis, surgem evidências de que oficiais forjaram fatos. Há inclusive uma orientação para simular o furto do veículo pertencente ao sargento que morreu na explosão, no sentido de desaparecer com pistas que seriam comprometedoras.
O acervo de Molinas foi arrecadado pela Polícia Civil gaúcha após o assassinato dele e revela detalhes inéditos do lado de dentro dos portões de uma das mais temidas unidades das Forças Armadas durante os anos de chumbo.
“Zero Hora” teve acesso a memorandos datilografados e também manuscritos, no qual o coronel registra a mobilização que se instalou naquele quartel-sede da espionagem política do Brasil, imediatamente após a explosão. São ordens, contraordens e telefonemas com a finalidade de evitar que fatos e versões indigestas ao Exército viessem à tona.
Os papéis contêm medidas de prevenção para segurança de militares, recomendações para não serem fotografados e relação de bombas e artefatos explosivos no paiol do quartel para destruição coletiva e individual. Mas o mais espesso lote de documentos do coronel é do tempo em que ele dava as ordens no comando do DOI.
De próprio punho, o coronel Molinas teria redigido parte desses memorandos, divididos em dias, horas e minutos. Trabalho facilitado porque era detalhista. Em meio à papelada sobressaem-se relatórios sobre o desastroso atentado no centro de convenções Riocentro. Uma das duas bombas que explodiram durante um show musical acabou matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário e ferindo com gravidade o capitão Wilson Luiz Chaves Machado, chefe da seção de Operações do DOI-Codi.
Os papéis do coronel Molinas mostram que Rosário tinha o codinome de Agente Wagner e Wilson era chamado Dr. Marcos (militares de baixa patente eram chamados de agentes e oficiais eram doutores, na gíria da espionagem).

Fonte:
Jornal O Globo: ( Dossiê Riocentro )

domingo, 25 de novembro de 2012

O Céu e o Ninho

Georges Elgood
És ao mesmo tempo o céu e o ninho.
Meu belo amigo, aqui no ninho,
o teu amor prende a alma

És ao mesmo tempo o céu e o ninho.
Meu belo amigo, aqui no ninho com mil cores,
cores e músicas.

Chega a manhã,
trazendo na mão a cesta de oiro,
com a grinalda da formosura,
para coroar a terra em silêncio!

Chega a noite pelas veredas não andadas
dos prados solitários,
já abandonados pelos rebanhos!
Traz, na sua bilha de oiro,
a fresca bebida da paz,
recolhida
no mar ocidental do descanso.

Mas onde o céu infinito se abre,
para que a alma possa voar,
reina a branca claridade imaculada.
Ali não há dia nem noite,
nem forma, nem cor,
nem sequer nunca, nunca,
uma palavra!
Rabindranath Tagore (1861-1941)
in "O Coração da Primavera"
Tradução: Manuel Simões.

A História se repete

Congoleses fogem da cidade de Goma
Fotografia: Jerome Delay
Segundo as Nações Unidas e a República Democrática do Congo, os rebeldes seriam apoiados pelo Ruanda. RDC "condena agressão do Ruanda". Clima em Goma é de medo. Rebeldes querem identificação de militares e polícias.
Desde terça-feira, 20.11, os rebeldes assumiram o controle de Goma, capital regional no leste da República Democrática do Congo.
A cidade já tinha sido conquistada em 1998 por rebeldes pró-ruandeses. E, se existe um sentimento que domina a cidade, é precisamente o medo.
Fúria na exibição fraca - e na impotência da ONU - levou a revoltas e da queima de carros e prédios em Kinshasa, Kisangani e outras cidades. A perda de Goma foi um choque enorme e uma fratura simbólica.

Fonte:
DW World: Notícia.
Rebeldes assumem controle de Goma
20?11/2012.



sábado, 24 de novembro de 2012

Poema Nu

Edward Hopper

Amor, sinônimo de pobreza,
Amor, sinônimo de poesia.

A grande Ode antiga
Clama no deserto:

O poeta meu servo
É pobre como um sino,
Pobre como um gramofone de 1900.

A poesia é pobreza,
E o amor sobe para o espaço
Sem ajuda.

Murilo Mendes (1901-1975)

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Com fúria e raiva

William-Adolphe Bouguereau
Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada

De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse

Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra.

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

Para Pirra

Peter Paul Rubens
Quem, Pirra
agora
se lava em rosas
(pluma e latex)
na rosicama do
teu duplex?
Quem,
onda a onda,
do teu cabelo
desfaz a trança
platino-blonda?
Pobre coitado
inocente inútil
vai lamentar-se
para toda a vida.
Um deus volúvel
mais do que a brisa
muda em mar negro
seu lago azul.
Pensava que eras
dócil-macia
toda ouro mel.
Não és. Varias.
(Ah quem se fia
no fútil brilho
desse ouropel!)
Eu, por meu turno,
todo ex-aluno,
esta oferenda
ao deus Netuno
padripotente
no teu vestíbulo
deixo suspensa
(vide a legenda):
VMIDA AINDA
A TVNICA

Haroldo de Campos (1929-2003)

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Árvore galo

Aldemir Martins
Grito, fruto obscuro
e extremo dessa árvore: galo.

Mas que, fora dele,
é mero complemento de auroras.

Ferreira Gullar

Primavera Silenciosa

Cinquenta anos atrás, Rachel Carson (1907-1964), fez soar um alarme que ainda se ouve até hoje.
Com seu livro “Primavera Silenciosa”, Rachel – uma naturalista já conhecida pelo best-seller “O Mar que nos Cerca” – denunciou os efeitos do uso indiscriminado de pesticidas no mundo natural, que afetavam inclusive os humanos. O livro foi publicado em 27 de setembro de 1962.
“Hoje esses borrifadores, pulverizadores e aerossóis são utilizados quase que universalmente em fazendas, jardins, florestas e residências ... embora o alvo pretendido possa ser apenas algumas ervas daninhas ou insetos”, escreveu Rachel. “Alguém acredita que é possível depositar uma enxurrada de venenos na superfície da Terra sem torná-los impróprios para todas as formas de vida?”
O livro “Primavera Silenciosa” chamou a atenção para os perigos do uso de pesticidas e levou o Comitê Consultivo Científico do presidente John F. Kennedy a recomendar regulamentações.
Em parte devido à “Primavera Silenciosa”, o pesticida DDT foi banido nos Estados Unidos e para uso agrícola em todo o mundo por meio da Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes. No entanto, em 2006 a Organização Mundial da Saúde aprovou seu uso para controlar a incidência de malária em países em desenvolvimento, onde as alternativas não se mostraram eficazes. A própria Rachel escreveu: “Um conselho prático deve ser ‘pulverize o mínimo possível’ em vez de ‘pulverize até o limite da sua capacidade’”.
A Biblioteca do Congresso dos EUA, incluiu “Primavera Silenciosa” em sua lista de Livros que Moldaram a América.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Os Arautos Negros

Michel Rauscher
Há golpes na vida tão fortes... Eu nem sei!
Golpes como do ódio de Deus; como se ante eles
a ressaca de quanto foi sofrido
se empoçara na alma... Eu nem sei!

São poucos, porém são... Abrem sulcos escuros
no rosto mais fero e no lombo mais forte.
Serão talvez os potros de bárbaros Átilas;
ou os arautos negros que nos manda a Morte.

São as caídas fundas dos Cristos da alma,
de alguma fé adorável que o Destino blasfema.
Esses golpes sangrentos são as crepitações
de algum pão que na porta do forno se queima.

E o homem... Pobre... Pobre! Volve os olhos, como
quando por sobre os ombros nos chama uma palmada;
volve os olhos loucos, e todo o vivido
se empoça, como charco de culpa, na mirada.

Há golpes na vida tão fortes... Eu nem sei!

Cesar Vallejo (1892-1938)
Tradução: Fernando Mendes Vianna

Que há de desejo na leitura?

Toulouse-Lautrec
Que há de desejo na leitura? O Desejo não pode ser nomeado, nem sequer (ao contrário do Pedido) dito. No entanto, não há dúvida de que existe um erotismo da leitura (na leitura, o desejo está ali com o sei objeto, o que é a definição do erotismo).
(...) A leitura aparece assim marcada por dois traços fundamentais. Ao fechar-se para ler, ao fazer da leitura um estado absolutamente separado, clandestino, no qual o mundo inteiro é abolido, o leitor – o lente – identifica-se com os dois outros sujeitos humanos – para dizer a verdade bem próximos um do outro – cujo estado requer igualmente uma reparação violenta: o sujeito amoroso e o sujeito místico.
Roland Barthes (1915-1980)
O rumor da língua.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Dia da Bandeira

O Dia da Bandeira foi criado no ano de 1889, através do decreto lei número 4, em homenagem a este símbolo máximo da pátria.
A Pátria - Pedro Bruno
A Pátria, título do quadro produzido em 1919, pelo pintor brasileiro Pedro Bruno, que sem sombra de dúvidas é uma das telas mais belas do nosso acervo artístico. Dotada de uma grande riqueza de conteúdo histórico, o quadro procura representar o sentimento patriótico, bem como, a esperança e credibilidade depositados na República, sistema político implantado no Brasil em 15 de novembro de 1889.
Sendo assim, quais seriam os elementos simbólicos presentes neste quadro que precisaríamos destacar para bem entendermos a sua mensagem?
Para começar, não posso deixar de brevemente comentar, que não é possível abordar o tema “Proclamação da República no Brasil”, sem realizar o embate ideológico entre dois sistemas políticos que perpassam por nossa história: a MONARQUIA, que vigorou no Brasil entre os anos de 1822 a 1889 e a própria REPÚBLICA, que implantada em 1889, embora tenha sofrido ao longo da história períodos de interrupções, perdura até os dias atuais em nosso país. Este embate se faz presente na imagem acima de forma simbólica, portanto, é preciso ter em mente que, historicamente falando, o sistema monárquico sempre esteve associado à figura masculina. Isto pode ser muito bem exemplificado na postagem de número 2 deste Blog, quando tratamos sobre O Leviatã de Thomas Hobbes. Por outro lado, após a Revolução Francesa, o sistema republicano tem sido fortemente representado pelo elemento feminino, em sinal do contraditório entre os dois sexos e consequentemente entre os dois sistemas. Como exemplo, temos a Marianne, figura alegórica que representa a República Francesa.
É justamente desta linha de raciocínio que partiremos para a análise de A Pátria:
Se observarmos no canto superior direito da tela, notaremos a presença de um velho sentado e que até aparenta ser o único elemento masculino da cena. Nele está representado o sistema monárquico, nos dando a ideia de ultrapassado, de atraso, de arcaico, etc. e como quase nem dá pra vê-lo, podemos afirmar que é como se ele estivesse saindo de cena, o que de fato acontecera quando em 1889 a República fora implantada no Brasil.
Em oposição ao velho (monarquia), destaca-se no cenário as mulheres (república) que tecem a nova bandeira brasileira, ou seja, que constroem a nova pátria. Nesse sentido é de suma importância ressaltar que a simbologia da mulher está estritamente condicionada à representatividade do sistema político, no caso a REPÚBLICA, e não à sua participação política de fato, o que não havia naquela época.
Também notamos a presença de crianças na cena, e estas simbolizam o “nascimento” da nova pátria. Chamo a atenção para três delas, a primeira (à esquerda) mama tranquilamente ao colo da sua mãe que está coberto com uma parte da bandeira, a segunda criança (ao centro) apresenta-se de pé abraçando a bandeira e a terceira (à direita) aparece ao chão, deitada, brincando com uma das estrelas que será costurada na bandeira. Indiscutivelmente, podemos afirmar que a bandeira é o elemento de destaque no quadro e por isso é mostrada como objeto de amor, de devoção: “ela é abraçada, ela protege e abriga os seus filhos.” Este é o sentimento patriótico que deveria brotar no coração dos brasileiros segundo os republicanos.
Além disso, a maternidade é um dos elementos simbólicos significantes da cena e deve ser associada a ideia de “terra mãe”, um dos sinônimos atribuídos a palavra pátria.
Para finalizar nossa análise, ainda podemos destacar dois aspectos importantes na cena: Ao fundo, temos um quadro de Tiradentes, que durante o período colonial e imperial foi fadado à condição de traidor e que após a implantação da república foi elevado à qualidade de herói nacional e ao lado deste mesmo quadro, outro de Marechal Deodoro da Fonseca, o proclamador e primeiro presidente do nosso sistema republicano.


domingo, 18 de novembro de 2012

Aberrações da Ditadura

Aos 2 anos, filho de militantes foi preso e classificado como 'subversivo' pela ditadura:
Nasci em fevereiro de 1968, no bairro da Liberdade, em São Paulo. Minha mãe, Jovelina Tonello, trabalhava na prefeitura de Osasco e foi demitida durante a licença maternidade por causa da militância do meu pai.
Ele, Manoel Dias do Nascimento, era líder sindical. Em 1968, teve a prisão decretada e entrou na clandestinidade.
Meu pai já era do Partido Comunista Brasileiro, e virou um dos fundadores da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), liderada pelo Carlos Lamarca.
Quando meu pai decide ir para a luta armada, minha avó resolve ir também. Ela fica com o Lamarca no vale do Ribeira, no sul do Estado, com três filhos adotivos para simular uma família normal na casa, que chamavam de “aparelho”. Ela também ajudava o movimento costurando roupas para os militantes.
Meu pai fica organizando a guerrilha na capital. No dia 19 de maio de 1970, ele foi preso, quando estava no “ponto” para passar informações aos companheiros. Eu fui preso com minha mãe mais tarde, no mesmo dia, em nossa casa na Vila Formosa. A gente vai para a Operação Bandeirantes, depois para o Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e para a ala feminina do presídio Tiradentes. Eu só tinha dois anos de idade, mas já tinha carteirinha de subversivo.
Eu vi meus pais serem torturados e sei que também apanhei. Fui usado para ameaçarem meu pai. Isso está registrado em depoimentos.
Não tenho lembranças, só traumas. Meus pais não conversam sobre isso. Só soube dos detalhes quando voltei ao Brasil, em 1986.
Minha mãe foi várias vezes na Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo buscar documentos.
Nesse vai e volta, apareceu minha ficha num álbum do Dops de “terroristas e subversivos”. Tem uma foto minha, aos dois anos, e está escrito que sou “subversivo”. Minha avó também tinha sido presa. Meus irmãos de criação, que estavam com ela, foram para o juizado de menores. Não sei por que eu não fiquei com eles. É isso que eu quero saber, o que se passou nesses 28 dias de escuridão na minha vida.
Ernesto Carlos Dias, que viveu 16 anos no exílio, em Cuba
RESGATE
Saí da prisão com a minha avó. Ela estava na lista dos 40 presos políticos libertados em troca do embaixador alemão Ehrenfried von Holleben, que tinha sido sequestrado.
Nós saímos no mesmo resgate em que foram libertados o Fernando Gabeira, o Carlos Minc e outros companheiros, em 16 de junho de 1970.
Tiramos uma fotografia antes de embarcar para o exílio na Argélia. Eu e meus irmãos somos essas crianças que estão na foto. Não tenho nenhuma lembrança desse dia. Ficamos um mês na Argélia e no dia 27 de julho de 1970 chegamos em Cuba. O objetivo era chegar no dia anterior, em comemoração ao aniversário da revolução cubana, mas por causa do mal tempo, partimos no dia seguinte.
Meus pais ainda ficaram presos aqui. Eles só foram resgatados no sequestro do embaixador suíço Giovanni Bücher, e foram para o exílio no Chile, junto com o frei Betto e o frei Tito.
Minha primeira lembrança é aos quatro anos de idade, quando eu morava em Cuba. Eu tinha muito medo de policiais, e minha tia Damaris, que morou com a gente no exílio, deu um brinquedo para um policial me entregar. Ele me deu um carrinho de corrida, brincou comigo, me botou em cima de uma motocicleta, e eu adorei. Quando ele foi embora, eu vi que era um policial. Essa é a minha primeira memória.
Só voltei para o Brasil definitivamente em janeiro de 1986. “Yo soy cubano, yo no soy brasileño” [eu sou cubano, eu não sou brasileiro]. A mim foi negada toda minha cultura, meus direitos civis.
Hoje os meus quatro filhos estudam essa história e veem a minha foto nos livros. Só que não fui só eu. Foram centenas de crianças que passaram coisas parecidas, dentro e fora dos cárceres.
Eu quero que levantem todas essas questões. Nós temos muitas crianças –que nem são mais crianças, alguns já estão na idade de se aposentar– que viveram essa escuridão.

As Vestes

Chris Bennett
Enfrentei furacões com meus vestidos claros
Quem me vê por aí com esses vestidos
estampados
não imagina as grades, os muros
o chão de cimento que eles tornaram leves
Não se imagina a escuridão
que esses vestidos cobrem
e dentro da escuridão os incêndios que retornam
cada vez que me dispo
cada vez que a nudez me liberta dos seus laços.

Iracema Macedo

sábado, 17 de novembro de 2012

Faces do Imperador D. Pedro II

Após fazer viagens à Europa, na segunda metade do século XIX, D. Pedro II conquistou a simpatia da imprensa do Velho Continente. Neste mês, a Revista de História discute o lado republicano do imperador.
D. Pedro II, o Imperador Republicano é capa da RHBN de novembro e discuti o lado republicano de D. Pedro II.
O historiador Cláudio Antônio Santos Monteiro, professor da Universidade Severino Sombra, analisa a representação da imagem do imperador em jornais franceses do final do século XIX.
Durante o Segundo Reinado, Pedro II efetuou três viagens pela Europa:
•1871
•1876,
•1887, despertando o interesse da imprensa em atividade no Velho Continente. Foi na França de Victor Hugo, da Terceira República, em que a imprensa mais prestigiou o monarca brasileiro, fixando uma imagem valorativa daquela figura e de seu reinado no Brasil. Embora se possa falar em um discurso laudatório da mídia impressa sobre o governante brasileiro, o fato é que esse discurso se cristaliza na França republicana em duas ocasiões especificas: na divulgação da Proclamação da República; e também no período seguinte à morte de Pedro II, em Paris, em 1891. Na ocasião, o monarca deposto recebe honras de chefe de Estado.
A primeira viagem: O Abolicionista
Em 25 de maio de 1871, dom Pedro II parte em primeira viagem ao exterior. Na França ainda ocupada, marcada pela Comuna e pela guerra, o clima é de efervescência política. A folha conservadora Le Gaulois destaca:
O Brasileiro. No momento em que nós começamos a ser infelizes todos os reis da Terra nos viraram as costas num prodigioso conjunto. Somente Dom Pedro nos permaneceu fiel na hora de nossa falta de fortuna. É preciso então agradecer a esse monarca pelo fato de ele ter consentido, apesar de tudo, vir ver se aqui os pratos estavam nos mesmos lugares.
Emile Villemont se refere aqui à época em que Paris acolhia os soberanos da Europa, como na Exposição Universal de 1867. O editor duvida: dizem que o imperador – o que duvidamos – será recebido oficialmente pelo presidente da República, e que ocorrerá nesse dia uma grande recepção em Versailles.
O jornal Le Constitutionnel é pontual: A viagem de dom Pedro na França é um bom presságio para nosso país, que hoje tem necessidade de aumentar suas relações comerciais com o exterior. Daqui a pouco tempo o imperador terá uma entrevista com o presidente da República francesa. Jamais uma entrevista foi tão oportuna, pois a atitude firme e digna de dom Pedro durante a guerra contra o Paraguai lhe angariou uma justa influência em toda a América do Sul.
A carta da Junta Francesa de Abolição (1866) força um comprometimento do monarca com a causa abolicionista. Pedro não põe os pés na França antes que a Lei do Ventre Livre fosse assinada.
Le Petit Journal, folha republicana, assevera, em 29 de setembro: Os telégrafos nos informam uma boa e humanitária notícia. O Senado do Brasil votou a emancipação dos escravos por 33 vozes contra 4. A escravidão somente existindo agora nas colônias espanholas.
Dia 20 de dezembro, Le Constitutionnel comenta o evento legislativo brasileiro: A grande lei brasileira que pôs fim à escravidão no país.
[Lembrando que a Abolição só ocorrerá em 1888; está, aqui, se referindo à Lei do Ventre Livre] A aplicação da lei sobre os escravos se dá em todo o império. Em janeiro de 1872, informa: Terça-feira passada o imperador assistiu em meio ao público ao curso de Franck no Collège de France. O professor, nesse dia, tendo sabido encontrar no seu objeto tratado ocasião de fazer alusão à lei que acaba de abolir a escravidão no Brasil, o auditório testemunhou sua calorosa simpatia ao soberano, que teve a iniciativa deste ato de justiça e humanidade.
Com três meses de intervalo, curiosamente, ambos os jornais afirmam que a escravidão não existia mais no Brasil.
Na perspectiva da Revue des ‘Deux Mondes’, a primeira viagem do imperador adquire outro significado:
Durante dez meses o imperador, que estava na Europa, esteve ausente do seu império e, coisa que prova a solidez das instituições brasileiras: a calma não foi um instante alterada. Uma grave questão, uma questão vital que interessa mais que qualquer outra ao futuro do Brasil, foi inclusive resolvida durante esse período, o vigor da lei da abolição gradual. Com certeza podemos dizer que existe um equilíbrio na América meridional. Nesse equilíbrio, o Brasil, que em decorrência das suas instituições é o país menos exposto às agitações e aos cataclismas políticos, tem um lugar considerável, que ninguém pode lhe contestar. A existência dessa grande monarquia liberal e constitucional deve ser, para os estados vizinhos, uma garantia e nenhuma ameaça. A diferença entre as formas de governo não é um obstáculo ao acordo. O que importa, aliás, esta diferença entre os nomes, se no fundo das coisas existe uma real analogia, se as instituições são, de uma parte e de outra, liberais, parlamentares, modernas?
Para o Le Constitutionnel: Dom Pedro gozou de uma grande e legítima popularidade. É um espírito liberal e aberto a todas as ideias generosas. Ironicamente, afirma: É certo que, se seu trono não fosse sólido, em uma época onde os tronos desabam com uma espantosa rapidez, não lhe faltaria um lugar de bibliotecário, se ele um dia precisasse.
Le Petit Jounal - 1876
Em sua segunda viagem dom Pedro encontra outra França. A III República caminha para a consolidação. Os grupos republicanos de centro-esquerda e da esquerda radical não se encontram mais marginalizados, ocupando espaço social e institucional cada vez maior. O mundo dos notables chega ao fim na França.
Le Temps, folha oficiosa da República, em março de 1877 divide o espaço com as folhas monarquistas: O imperador em Paris. O imperador do Brasil visitou o presidente da República no palácio Elysée. No dia 26: O imperador do Brasil assiste à seção pública anual da Academia de Ciência; ontem ele esteve na Academia Francesa. No dia 29: O imperador do Brasil foi eleito correspondente da Academia de Ciência para a seção de geografia e navegação. Le Temps privilegia a agenda política e cultural do monarca: Novidade do Dia. A recepção de ontem ao ministro da Instrução Pública foi das mais brilhantes. O marechal Mac-Mahon e a duquesa de Magenta chegaram às dez horas, o imperador e a imperatriz do Brasil fizeram sua entrada logo após; quase todos os ministros, um grande número de deputados e de senadores de todas as tendências, muitos generais e notáveis da ciência e das artes foram a essa recepção.
O conservador Le Monde abre polêmica:
Nós tivemos mais de uma vez, há alguns dias, o singular espetáculo da democracia se fraternizando com uma cabeça coroada. Sua majestade, o imperador do Brasil, que ontem dividiu familiarmente uma sopa de carne com o senhor Victor Hugo, nos reservou mais uma surpresa. Sua majestade esteve na usina de Noisiel-sur-Marne, onde ele foi recebido pelo cidadão Menier, igualmente célebre pelo seu radicalismo e por seus chocolates. O ilustre visitante tinha o desejo de ver a obra democrata em atitudes muito variadas. Dom Pedro foi à usina de Noisiel. O imperador pôde constatar por si mesmo se Noisiel era puro com seus chocolates como seu proprietário é puro no seu radicalismo. Dom Pedro, que na sequência dessa visita levará sem dúvida a seu império o segredo da verdadeira preparação do cacau, levará as atitudes de sua transformação democrática? Em troca de seus cacaus o Brasil recebeu da Europa todos os produtos e todas as doutrinas mais perfeitas do radicalismo. Mas é sempre interessante voltar às fontes. Em Noisiel, Dom Pedro estava na boa escola. Entretanto, o que nos espanta, não é a visita de um soberano que viaja discretamente, e que por isso pode se permitir algumas excentricidades, mas é a reação ‘simpática’ feita por um democrata a uma cabeça coroada. Onde estão os puros, onde estão os incorruptíveis à antiga República? Porque o cidadão Menier sabe curvar a cabeça diante de um tirano, não nos resta mais que nos questionarmos: virtude, você é apenas uma palavra! nós não acreditamos mais na pureza dos democratas nem na pureza dos chocolates.
Le Tempsnão perde tempo para retorquir o artigo: O imperador do Brasil acaba de assistir, mesmo sendo um imperador e imperador católico, à animosidade do Le Monde: o monarca não se opôs, com efeito, a incluir na série de excursões inteligentes que ele faz em Paris uma passada na fábrica de chocolate de senhor Menier. Ora, o senhor Menier faz parte da esquerda radical. O chocolate é então maldito, e maldito sem dúvida todos os que o fabricam, o consomem ou somente os veem. Esta é a opinião do Monde: será esta a opinião dos seus assinantes?
Le Gauloistambém registra um possível diálogo do radicalismo francês com o imperador:
Anteontem, no momento em que o imperador do Brasil acabava de visitar o Hôtel-Dieu, alguns internos brincavam com um de seus camaradas que se diz ser radical convicto. Como diabo você vai responder ao soberano se por acaso ele lhe interrogar?
Perguntaram. – E então, responde o interno com dignidade, se ele me questionar, eu lhe chamarei: cidadão imperador.
A esquerda radical na voz doL’Evénement, em julho de 1877, imortaliza o encontro de Victor Hugo com dom Pedro:
Quando o imperador partia do encontro – já era bastante tarde – Victor Hugo disse-lhe, com seu fino e espiritual sorriso: Senhor, eu não saberia vos dizer como estou contente que não tenha na Europa soberano como vós. – Como assim? Pergunta Dom Pedro. – Porque, responde Victor Hugo, nós estaríamos fortemente complicados, eu e meus amigos, para não dizer que iríamos ter dificuldades! Dom Pedro II explode de rir e vai embora como homem amável e de espírito.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A revelação do Abismo

Toulouse Lautrec
O silêncio fala em ondas vivas
Que se projetam no oco da penumbra

No além veste branco
Da neutra pluralidade sentida

E os anjos que estão perto
Governam as sedas

Sentimentos puros
Sobrevividos.

Maria Augusta Alves Pimenta

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Paracelso

Jean Perréal
“Quem nada conhece, nada ama.
Quem nada pode fazer, nada compreende.
Quem nada compreende, nada vale.
Mas quem compreende também ama, observa, vê...
Quanto mais conhecimento houver
inerente a uma coisa, tanto maior o amor...
Aquele que imagina que todos os frutos
amadurecem ao mesmo tempo, como as cerejas,
nada sabe a respeito das uvas”.

Paracelso (1493-1541)

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A vingança da porta

Mark Bolton

Era um hábito antigo que ele tinha:
entrar dando com a porta nos batentes
— "Que te fez esta porta?" a mulher vinha
e interrogava... Ele, cerrando os dentes:

— "Nada! Traze o jantar." — Mas à noitinha
calmava-se; feliz, os inocentes
olhos revê da filha e a cabecinha
lhe afaga, a rir, com as rudes mãos trementes.

Uma vez, ao tornar à casa, quando
erguia a aldrava, o coração lhe fala
— "Entra mais devagar..." Para, hesitando...

Nisso nos gonzos range a velha porta,
ri-se, escancara-se. E ele vê na sala
a mulher como doida e a filha morta.

Alberto de Oliveira (1857-1937)

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O Templo

Carol Leigh
À esperança o meu relógio ofereci:
Dela uma âncora recebi.

Velho livro de orações dei-lhe de presente:
Retribuiu-me com uma lente.

Dei-lhe então um frasco de lágrimas antigas:
E ela, algumas verdes espigas.

Nada mais te trago, não aguento tua tardança -
O que eu queria era uma aliança.

George Herbert (1593-1633)

domingo, 11 de novembro de 2012

Estamos só

Amanda Cass
“Cada um está só no coração da terra
trespassado por um raio de sol:
e de repente é noite”.
Salvatore Quasimodo (1901-68)
Poeta italiano