quarta-feira, 31 de julho de 2013

Impressionismo

Kieron Williamson
"O mestre da pintura Claude Monet
agora se chama Kieron e tem 10 anos de idade"
Há cinco anos o desassossego do garoto inglês Kieron Williamson rendeu-lhe de presente de seus pais um conjunto de tintas e pincéis – a esperança era que ele se fixasse em alguma ocupação em casa, quando chegasse da escola. Kieron foi além das expectativas. Agora ele está com 10 anos de idade e surpreende artistas e colecionadores de todo o mundo pela genialidade de suas telas e pela extrema similaridade de sua técnica com a do genial mestre impressionista francês Claude Monet (1840-1926). Na semana passada encerrou-se mais uma exposição de Kieron: 30 obras foram vendidas no valor total de R$ 1,6 milhão. Desde que começou a pintar, ele já recebeu com seu trabalho R$ 7,2 milhões. “Suas telas são impressionistas sem ser abstratas”, diz o marchand Adrian Hill, um dos diretores da Picturecraft Gallery.

Fonte:
Revista: Isto É : ( Impressionismo )

domingo, 28 de julho de 2013

Cachaça

Cachaça: uma dose de História
Hercules Florence - Moagem de cana no engenho
Bebida acompanhou a formação da nossa nacionalidade, cumprindo importante papel na economia colonial e provocando a primeira revolta no Brasil contra o domínio português. Mais tarde, se tornaria símbolo da pátria independente antes de ser vilipendiada e superar a rejeição dos que veem o que é brasileiro como sinônimo de atraso.
Presente nos mapas dos navegantes europeus desde fins do século XV, o Brasil foi quase esquecido nas primeiras décadas do século XVI pela Coroa portuguesa, que não dispunha nem de gente suficiente no Reino para uma obra de colonização no vasto território d’além-mar. Com isso, a costa brasileira era visitada indistintamente por aventureiros – italianos, holandeses, franceses, espanhóis... – que se dedicavam à coleta de pau-brasil, sempre negociando com os índios. A partir da terceira década do século, no entanto, uma circunstância especial ajudaria a definir o futuro lusitano das terras do Brasil: a necessidade de produzir mais açúcar, que alcançava naquele momento o status de “ouro branco”.
A busca por novas áreas para desenvolver a cultura da cana-de-açúcar foi um dos fatores que levaram a Coroa portuguesa a procurar um modelo de povoamento para o Brasil, que tinha, ao longo de toda a sua costa, as condições favoráveis para que a gramínea vicejasse: altas temperaturas, solos ricos e fartura de água. Regiões como São Vicente, Pernambuco e o Recôncavo Baiano são muito rapidamente ocupadas por engenhos e vastas plantações.
A expedição de Martim Afonso que aportou em 1531 no Brasil, como se sabe, trouxe mudas de cana e especialistas agrícolas. E, muito provavelmente, trouxe um dos primeiros alambiques do Novo Mundo, talvez um que já tivesse produzido aguardente de uva, mel ou cana nas Canárias, ponto de passagem da esquadra do fidalgo e provável origem das primeiras mu das de cana dessa primeira iniciativa organizada de produção canavieira em larga escala no Brasil.
Numa das três regiões citadas acima – mais provavelmente São Vicente , se levarmos em conta o caminho feito pela cachaça nas décadas seguintes –, o processo da destilação que os ibéricos aprenderam com os árabes produziu, pela primeira vez, a aguardente de cana no Brasil.
Naquele momento, nada diferenciava aquela aguardente de outros destilados de cana que surgiam em outros pontos da América – como o rum, na Nova Inglaterra e no Caribe – ou das ilhas do Atlântico – o grogue de Cabo Verde. A cachaça só ganharia seu nome definitivo – de origem espanhola – e sua especificidade alguns séculos depois.
Claro que essa origem foi mitificada em lendas como a do melado esquecido no fogo e depois escondido do feitor, que fermentou e, após evaporar, condensou-se no teto do engenho e gotejou, dando origem à denominação “pinga”. Pior ainda a potoca que afirma ser o termo “aguardente” advindo de uma suposta ardência do líquido em contato com as feridas nas costas do escravo vítima do látego, quando se sabe que a expressão latina aqua vitae era de largo uso em todo o mundo latino ainda no Império Romano.
De todo modo, a cachaça firmou-se muito rapidamente no gosto popular dos “negros da terra” (índios), africanos e portugueses de estirpe popular ou degredados que formaram os primeiros núcleos de povoamento nas terras brasileiras. Era barata, sendo feita com uma pequena parcela do caldo ou da rapadura derivados da cana farta nas grandes plantações, e de relativamente fácil produção. Enquanto os fidalgos se entregavam ao vinho e à bagaceira vindos do Reino, o populacho das três raças se consolava com a cachaça enquanto o Brasil ia se formando.
MINAS GERAIS A cachaça chegou às Minas com os tropeiros e bandeirantes, através do Caminho Velho, que já existia no fi m do século XVII e ligava Paraty a Guaratinguetá e, daí, à região aurífera da Vila Rica. Também subiu o rio São Francisco, com os baianos que se internaram no sertão rosiano. Em 1715, o governador da província, Brás Baltazar da Silveira, já dá início à perseguição ao líquido brasileiro, proibindo a construção de novos alambiques, sob a alegação de que a bebida “inquieta os negros” e causa “dano irreparável ao Real Serviço e à Fazenda” – pura reserva de mercado para os vinhos e bagaceiras do Reino. A lei é tão inócua quanto as anteriores e outras que se sucederão ao longo do século para deter o avanço dos alambiques, que vão se tornando parte do equipamento básico das fazendas mineiras.
Enquanto as minas escasseavam em fins do século XVIII, os alambiques se multiplicavam para desgosto da Coroa. Durante a Inconfidência, ela será usada para brindes, por exemplo, no banquete oferecido pelo Padre Toledo em outubro de 1788 após o batizado dos filhos de Alvarenga Peixoto e Bárbara Heliodora – considerada a primeira reunião inconfidente na Comarca do Rio das Mortes, hoje Tiradentes.
A própria família de Tiradentes produzia – e produz – cachaça, no engenho Boa Vista, na atual cidade de Xavier Chaves. O padre Domingos da Silva Xavier, irmão do alferes, cuidava do alambique. Já no território da lenda, o último pedido do futuro mártir da nacionalidade brasileira teria sido: “Molhem minha goela com cachaça da terra”.
A ligação lendária entre o alferes e a bebida faz todo o sentido dentro da construção dos símbolos da nacionalidade brasileira do século XIX, a reboque da Independência. Nesse período, a cachaça atinge seu ponto mais elevado como parte da vida nacional. Em 1863, são 150 os alambiques em funcionamento apenas em Paraty, fornecendo, inclusive, para o Palácio Imperial, onde a preferência do conde d’Eu – que se casaria com a princesa Isabel no ano seguinte – seria glosada, mais tarde, por Oswald de Andrade: “No baile da Corte/ Foi o Conde d’Eu quem disse/ Pra Dona Benvinda/ Que farinha de Surui, Pinga de Paraty e fumo de Baependi/ É comê, bebê, pitá e caí.”
Recebida em palácio e cantada pelos nobres, tal era o prestígio da cachaça naquele século que foi admitida até nas cerimônias religiosas, como atesta o Baile da Aguardente, recolhido por Melo Morais Filho e mencionado por Câmara Cascudo no seu Prelúdio da cachaça. Segundo o folclorista, a penetração na religiosidade – a mais profunda das representações de um povo – comprova o elevado status que a cachaça atingiu naquele momento.
REJEIÇÃO Mas a segunda metade daquele século testemunharia a ascensão da burguesia e, com ela, aquilo que Nelson Werneck Sodré denominou a “ideologia do colonialismo” – a afinidade entre a burguesia nascente brasileira e a europeia, com a subordinação material e cultural da primeira pela segunda. O mais divulgado dos “preconceitos justificatórios” difundidos por essa ideologia, vulgarizado no período, é o da superioridade racial das raças europeias, particularmente nórdicas, sobre os de outras raças, especialmente negros e indígenas.
A prosódia brasileira é rejeitada – nos teatros, adota-se o modo de falar lisboeta –, e os burgueses brasileiros são os mais numerosos assinantes da Revue des Deux Mondes fora da França. E ganha espaço a ideia de um Brasil “civilizado” (o litorâneo, de pretensões cosmopolitas) em oposição ao atrasado – o interiorano, território do índio, do cabra e da cachaça.
Estreitamente ligada à história da escravidão, a cachaça é rejeitada como bebida de negro, de caboclo (os índios desgarrados que iam para a cidade em condição de miséria), de cabra (o trabalhador do canavial nordestino). Mas, como diz Câmara Cascudo, ela asseguraria sua sobrevivência, “ficando com o povo”.
E é nessa condição que ela aparece em mais um episódio da história brasileira. Numa noite de novembro de 1910, o marinheiro Marcelino Rodrigues tenta embarcar no navio Minas Gerais com duas garrafas da branquinha. Um ato de indisciplina, por certo, repreendido por um cabo enérgico, que apreende as garrafas. Marcelino reage a navalha, mas é preso e recebe, como punição, 250 chibatadas – dez vezes mais do que era o disposto pelo regulamento.
O episódio precipitou a longamente planejada Revolta da Chibata, imortalizada na canção de João Bosco e Aldir Blanc Mestre-sala dos mares. A letra genial de Aldir homenageia o líder do movimento que pretendia acabar com os castigos físicos na Marinha brasileira: João Cândido. Filho de escravos, o marujo comandou os quatro encouraçados que ameaçaram bombardear a capital da recém-instituída República caso suas reivindicações não fossem aceitas. Seis anos antes, o “almirante negro” tinha recebido também uma punição por levar cachaça a bordo: suspensão do soldo.
A cachaça era o consolo para a vida dura daqueles homens para quem a abolição, a República e a cidadania não haviam chegado de todo. E, assim ela atravessou o século XX: como a amiga do povo, cantada pelos poetas populares e rejeitada por aqueles que viam no que era mais profundamente brasileiro o sinal do atraso.
VITÓRIA Mas mesmo esses setores acabam, no fim do século, por se sentirem ultrapassados diante da vitória retumbante da cachaça, sobrevivente às perseguições seculares e entronizada como símbolo nacional. A bebida se valoriza, ganha qualidade, aprimora suas técnicas de envelhecimento, e seu consumo começa a não ser visto mais como coisa da “ralé”.
No século XXI, o Brasil e o que seja brasileiro entram na moda e a cachaça vai junto, ocupando cada vez mais espaços. Agora, testemunha-se a chegada dos grandes grupos multinacionais (a Diageo, com a compra da Ypióca, e a Campari, com a aquisição da Sagatiba) que almejam, junto com empresários nacionais e o governo brasileiro, agora de todo convencidos dos valores da bebida, levá-la a outro patamar, abrindo um novo capítulo nessa história que se confunde com a da superação e resistência do povo brasileiro: a de potência mundial.

Fonte:
Revista: História Viva : ( Cachaça )

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Mudar é possível e necessário

Johann Georg Meyer von Brem
“Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes”.
Paulo Freire (1921-1997)
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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Provérbios do Inferno

Vicente Romero Redondo
As Prisões se constroem com pedras da Lei;
Bordéis, com tijolos da Religião.
A vanglória do pavão é a glória de Deus.
O cabritismo do bode é a bondade de Deus.
A fúria do leão é a sabedoria de Deus.
A nudez da mulher é a obra de Deus.
Excesso de pranto ri. Excesso de riso chora.
O rugir de leões, o uivar de lobos, o furor do mar em procela e
a espada destruidora são fragmentos de eternidade,
demasiado grandes para o olho humano.
A raposa culpa o ardil, não a si mesma.
Júbilo fecunda. Tristeza engendra.
Vista o homem a pele do leão, a mulher, o velo da ovelha.
O pássaro um ninho, a aranha uma teia, o homem amizade.
O tolo, egoísta e risonho, o sisudo e tristonho,
serão ambos julgados sábios,
para que sejam exemplo.
O que agora se prova outrora foi imaginário.
O rato, o camundongo, a raposa e o coelho
espreitam as raízes; o leão, o tigre,
o cavalo e o elefante espreitam os frutos.
A cisterna contém: a fonte transborda.
Uma só ideia impregna a imensidão.
Dize sempre o que pensas e o vil te evitará.
Tudo em que se pode crer é imagem da verdade.
Jamais uma águia perdeu tanto tempo
como quando se dispôs a aprender com a gralha.
A raposa provê a si mesma, mas Deus provê ao leão.
De manhã, pensa, Ao meio-dia, age.
Ao entardecer, come.
De noite, dorme.
Quem consentiu que dele te aproveitasses, este te conhece.
Assim como o arado segue as palavras,
Deus recompensa as preces.

William Blake (1757-1827)

terça-feira, 23 de julho de 2013

Pompéia

Pompéia: a Vida Sexual na Antiguidade
Friso com desenho erótico, s.d - Roma.
Encoberta pelas cinzas vulcânicas do Vesúvio, a excitante vida (sexual) de Pompeia permaneceu preservada durante séculos. Longe dos olhares dos moralistas e dos conservadores, mantiveram-se obras e objetos que demonstram como o povo romano se relacionava com sua sexualidade. Estes achados fizeram com que durante muitos anos fez com os romanos fossem vistos como devassos. Mas a verdade é que eles compreendiam o sexo como algo natural e divino.
Em 24 de agosto de 79 d.C., a cidade de Pompéia foi varrida do mapa pela erupção do vulcão Vesúvio. A tragédia, que matou milhares de pessoas e enterrou a cidade em seis metros de cinza, também preservou – como uma cápsula do tempo – imagens intactas do império Romano. Os estudos sobre a história romana tendiam a encarar a sexualidade através de segundo uma visão tradicional e conservadora. Durante anos, algumas peças com imagens explícitas eram destruídas durante as escavações. Outras, preservadas por seus valores artísticos, foram escondidas a sete chaves nos acervos dos museus.
Detalhe de Skyphos com um grupo erótico, 1st CE - Roma.
"(...) vejo pessoas que iam e vinham furtivamente por entre portas com placas e meretrizes nuas. Um pouco tarde, e mesmo um pouco demais, compreendi que ela me havia levado a um bordel." Satyricon - Petrônio (? - 66d.C | Roma).
Muitas das imagens, hoje nos museus, anteriormente estavam presentes nas ruas e nas casas das pessoas nas mais diferentes classes sociais de Pompeia. Ao contrário do que os primeiros estudiosos pensavam, os romanos não eram faziam mais sexo do que as pessoas fazem na atualidade. A diferença estava no valor que o sexo possuía em suas vidas.
A arte erótica presente em Pompeia muitas vezes obrigou historiadores a reverem seus conceitos sobre a presença feminina. A mulher nua não era apenas retratada como uma divindade mitológica, mas também como um indivíduo praticante de sexo livremente. Há também teorias que afirmam que as relações sexuais eram desprovidas de afetividade, sendo muitas vezes comercias - com profissionais tanto do sexo feminino quanto masculino – ou com os próprios escravos. Homens e mulheres faziam uso de todos esses serviços.
"Falam de ti os fofoqueiros, Quíone, que não tens fodido nunca, e não há boceta mais casta do que a tua. Só que, quando tomas banho, não cobres a parte do corpo que deverias cobrir. Se tens pudor, põe a calcinha no rosto." Marcial (40 d.C a 104 d. C. poeta epigramático).
O sexo era entendido como algo mágico e divino. Tanto que o falo – assim como os seios - era símbolo de sorte e da fertilidade, e ficavam nas casas e nos furos da entrada da cidade. Príapo – o deus da fertilidade com o falo gigante - era representado ao lado de cestas de frutas e plantações. Os deuses em geral eram seres muito sexuais. A maioria das imagens traz deuses e divindades ligados à sexualidade: Vênus, Marte, Mercúrio, Eros, Príapo, sátiros e bacantes.
Já nos murais dos prostíbulos, as imagens serviam de estímulo e de “cardápio” dos serviços oferecidos aos clientes. Em quartos simples com uma cama de pedra e um colchão em cima, os frequentadores encontravam à frente de suas cortinas as lobas – como eram chamadas as profissionais do sexo - com roupas diminutas e oferecendo, a quem pudesse pagar seu preço, uma noite repleta dos mais diversos prazeres, como cenas de sexo anal são encontradas apenas nos prostíbulos e termas, ao contrário do sexo oral, que era mais aceito socialmente – pela alta estima que os romanos concediam à boca. Mas isso não implicava que o sexo anal fosse praticado naturalmente.
Além dos murais, também foram encontradas diversas inscrições – grafites – nas paredes das ruas e prostíbulos. De declarações de amor, a afirmações de ciúmes, chegando à descrição de atos e preferências sexuais, ao alcance dos olhos de qualquer habitante que passasse em frente. Alguns exemplos presentes em Pompeia podem ser lidos abaixo:
"Por que, Taís, me acusas sempre de ser velho? Ninguém é velho, Taís pra uma chupada." Marcial (40 d.C a 104 d. C. poeta epigramático).
"A noite toda fiz amor com uma moça lasciva cujas habilidades sexuais nenhuma outra pode superar. Cansado, depois de mil posições, pedi-lhe que me deixasse fodê-la como a um moço. Nem bem terminava meu pedido, e ela já me concedia seus favores. Rindo e vermelho de vergonha, pedi-lhe algo mais indecente ainda. Ela, cheia de luxúria, disse que sim sem qualquer hesitação." Marcial (40 d.C a 104 d. C. poeta epigramático).
"Eu, Lidê, posso satisfazer três homens ao mesmo tempo. Um com a minha boca, outro com meu cu. Recebo o pederasta, o amante e o fantasioso. Ainda que tenhas pressa e venhas com dois amigos, não deixes de entrar."
"Festo fodeu aqui com seus camaradas" ou "Aqui fui comida" (escrito na parede de um prostíbulo).
É interessante perceber as similaridades e rupturas entre romanos antigos - ou egípcios e indianos antigos - e as sociedades atuais. Pertinente porque rompemos preconceitos em relação a outros povos e suas práticas sexuais, e percebemos "gostos" em comum. Mas também, olhar o passado nos leva a uma melancolia: o sexo hoje está muito mais ligado aos conceitos de pecado, enquanto no passado era um caminho para o divino. E no final esvaziamos o significado de algo que, ainda que muito carnal, possuía sua parcela celestial e poética.
Veja mais aqui:
John William Godward - Pompéia

sábado, 20 de julho de 2013

Reflexão:

Colin Paynton
Luto contra três gigantes:
▪ o medo,
▪ a injustiça e
▪ a ignorância.

Miguel de Cervantes (1547-1616)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Afinal, quem muda o quê?

Alice Dalton Brown
Planejar o futuro é uma fuga, eu acho que planejar o futuro é mesmo uma fuga de viver o dia e olhar o que esta acontecendo agora. Quando eu era criança eu nunca planejava o futuro e o tempo para mim parece que não passava, nem existia, só o presente, e tudo era mas intenso; hoje às vezes eu fico planejando o futuro, pensando no que eu vou ser, no que vou estudar, marketing, ou comunicação, ou sei lá o quê, chega de pensar no futuro, ah pensar no futuro cansa tanto! E quando vejo, o tempo passou e eu não percebi, Divirta-se, já que você não consegue mudar nada, essa é outra frase que fica na porta do meu quarto, a gente consegue mudar alguma coisa no mundo, um pouco, pouquíssimo, quase nada, e acho que o mundo muda mais a gente do que a gente muda o mundo.
Ana Miranda

sábado, 13 de julho de 2013

Um bom livro

“Mas Konrád ficava sempre pálido quando ouvia música. Qualquer tipo de música, mesmo a mais vulgar, o tocava muito de perto, como uma agressão física. Ficava pálido e a boca começava-lhe a tremer. A música transmitia-lhe algo que os outros não podiam compreender. Provavelmente as melodias não se dirigiam ao seu intelecto. A disciplina, que era a sua vida, o meio em que era criado, à custa do qual conquistava uma posição no mundo e que admitia voluntariamente, tal como o crente aceita o castigo e a penitência, afrouxava nessas ocasiões, como se a postura rígida e hirta cedesse no seu corpo. Era como quando, no desfile, depois da parada militar longa e fatigante, de repente se ouvia o comando de “destroçar!” Naquelas ocasiões, esquecia-se de onde estava, os seus olhos sorriam, olhava para o vazio, não via nada do que o circundava, nem os superiores, os companheiros, as belas mulheres, nem o público que estava no teatro. Ouvia a música com todo o corpo, tão sequiosamente como o preso escutava na prisão os ruídos distantes dos passos que talvez trouxessem a notícia da libertação. Nessas ocasiões, se alguém lhe falava, não ouvia. A música dissolvia o mundo à sua volta, alterava as leis da convenção artificial, e nesses instantes Konrád jamais era soldado. Uma noite, no Verão, quando Konrád e a mãe do general tocavam uma peça para quatro mãos no palácio, algo aconteceu. Estavam sentados na sala grande, antes do jantar, e o oficial da guarda e o filho escutavam educadamente a música num canto, com aquela condescendência cortês e aquela paciência de alguém que diz: “A vida é um dever, também se deve suportar a música. Não é conveniente contrariar as senhoras”. A mãe tocava com paixão: interpretavam a Fantaisie polonaise de Chopin. Como se tudo tivesse começado a vibrar no quarto. Pai e filho sentiam, no canto da sala, na poltrona, enquanto esperavam educada e pacientemente, que nos dois corpos, no corpo da mãe e no de Konrád, alguma coisa se estava a passar. Como se a rebelião da música tivesse levantado a mobília, como se uma força atrás da janela agitasse as cortinas pesadas de seda, como se tudo o que os corações humanos haviam enterrado e que era gelatinoso e bafiento, começasse a viver, como se no coração de cada pessoa se ocultasse um ritmo mortal que, num determinado momento da vida, começava a pulsar com uma força tremenda. Os ouvintes pacientes perceberam que a música era perigosa”.
Sándor Márai (1900-1989), in 'As Velas Ardem Até ao Fim'

quinta-feira, 11 de julho de 2013

'Por que Gostamos de História'

“A história, afinal de contas, não é apenas aquilo que aconteceu, mas a maneira pela qual nos apropriamos disso.” O argumento é do historiador Jaime Pinsky, na tentativa de explicar que, ao estudar o passado, o entendimento que se forma é indiscutivelmente a partir de uma ótica atual. Isso, consequentemente, pode gerar diferentes contos de um mesmo fato. Por isso, para ele, é o historiador quem consegue analisar uma grande diversidade de temas e dar, assim, a historicidade ao cotidiano. Algo que jornais e revistas, e seus profissionais, afirma, não conseguem fazer, ou não devem ter essa pretensão, já que a notícia e a história, acredita, têm conceitos extremamente diferentes. Uma ideia sustentada no livro 'Por que Gostamos de História' (Contexto, 222 págs.), recém-lançado pelo livre-docente pela Universidade de São Paulo (USP).
“Eu faço uma abordagem no livro que às vezes parece jornalística, mas é de historiador, porque dá uma dimensão histórica ao cotidiano”, diz. “Por exemplo: existe uma pequena notinha sobre o desenvolvimento da pílula anticoncepcional dentro do jornal. Diz que estão sendo feitos estudos, experiências com mulheres, e por aí vai. Mas a manchete do jornal foi sobre algum fato político que aconteceu na região, algo assim. Qual é o fato mais importante? O historiador é quem percebe qual é fato mais relevante, através de instrumentos, pela influência humana. E, no caso, seria a pílula. Isso é uma diferença de abordagem, que é diferente entre jornalistas e historiadores”, completa.
Obviamente, as diferenças existem entre um profissional e outro, até porque são profissionais com atuações, estudos e formações distintas, exatamente como acontece com os objetivos pretendidos dentro de cada ofício. Da mesma forma que, pelos mesmos motivos citados, a principal reação de um especialista dentro da sua educação é defender e apresentar o seu ponto de vista. Por isso, mesmo sem a pretensão de fazer história, a notícia sempre fará parte da história, ajudando, inclusive, na própria construção da mesma.
Por outro lado, o que Pinsky objetiva com o livro é mostrar a enorme abrangência que uma abordagem histórica pode ter. “Você pode abranger a educação, a cultura, o país em que você vive, compreender melhor o mundo, as relações familiares, estruturas de poder. Eu faço um ensaio, por meio de textos pequenos e fáceis de ler, que mostra isso”, explica o autor.
Dividido em oito capítulos — que abordam história, cultura, mundo, povos e nações, cotidiano, educação, brasil e família —, o livro é composto por artigos elaborados, selecionados e editados pelo autor. Entre os temas abordados, além da diferença entre história e notícia na visão particular dele, há assuntos como a Primavera Árabe, Barack Obama e o mensalão.
Jaime Pinsky lança livro que discute o papel do historiador.

terça-feira, 9 de julho de 2013

O mar

John Silver
Esse mar é uma espécie de eternidade. Quando eu era criança, ele golpeava e golpeava. mas também já golpeava quando meu avô era criança, quando era criança o avô do meu avô. Uma presença móvel, porém sem vida. Uma presença de ondas escuras, insensíveis. Testemunha da história, testemunha inútil porque não sabe nada da história. E se o mar fosse Deus? Também uma testemunha insensível. Uma presença móvel, porém sem vida.
Mario Benedetti (1920-2009)

sábado, 6 de julho de 2013

Obra 'Terra Mátria' revela o Thomas Mann 'brasileiro'

Thomas Mann e seu neto Frido, coautor do livro 'Terra Mátria'
Poucos se dão conta, em meio ao zum-zum-zum da Flip, mas uma das famílias mais importantes da literatura moderna mundial começou a não mais do que 10 km da tenda onde se realiza o festival literário de Paraty.
Foi num engenho da cidade que cresceu e viveu a brasileira Julia da Silva-Bruhns Mann (1851-1923), mãe de dois dos maiores autores alemães do século 20, Heinrich e Thomas Mann, avó de escritores como Klauss e bisavó de Frido Mann.
Este último é um dos autores de "Terra Mátria", principal estudo já realizado sobre as relações da família Mann com o Brasil, publicado agora pela editora Civilização Brasileira.
Coescrita com os pesquisadores Paulo Astor Soethe (brasileiro) e Karl-Josej Kuschel (alemão), a obra será lançada com um debate na quinta-feira, na programação paralela da Flip.
O livro, que traz dezenas de documentos inéditos, como cartas de Thomas e de Heinrich, trouxe novidades para os próprios familiares.
"Foi na realização do livro que descobri que vovô chegou a pensar em ir ao Brasil", diz à Folha, por telefone, Frido Mann. O "vovô" era Thomas (1875-1955), o maior escritor alemão moderno e autor de romances como "A Montanha Mágica" e "Doutor Fausto".
Frido, que esteve 16 vezes no Brasil (e que cancelou sua vinda a esta Flip na semana passada, por motivos pessoais), chama a atenção para uma carta desencavada nas pesquisas do livro.
Na correspondência, inédita, e reproduzida em "Terra Mátria", Thomas Mann escreve: "Sempre estive consciente do sangue latino-americano que pulsa em minhas veias e bem sinto o quanto lhe devo como artista. Apenas uma certa corpulência desajeitada e conservadora de minha vida explica que eu ainda não tenha visitado o Brasil".
A carta, hoje na Biblioteca Nacional da Áustria, em Viena, fora despachada em 1943 ao bairro de Higienópolis, para Karl Lustig-Prean, jornalista e produtor cultural de origem tcheca que se refugiou do nazismo em São Paulo.
Lustig-Prean (1892-1965), um líder do grupo antinazista "Movimento dos Alemães Livres do Brasil", manteve correspondência com Thomas (reproduzida na íntegra no livro) e também trocou cartas com seu irmão mais velho, Heinrich.
Autor de romances importantes como "O Anjo Azul", Heinrich Mann (1871-1950) chegou a levar a brasilidade da mãe à literatura.
Em "Entre Raças" (1907), ele romantiza a infância "tropical" de sua mãe, Julia, filha de um alemão com uma brasileira -- Maria Senhorinha da Silva era a avó materna de Thomas Mann.
Julia nasceu na estrada. Os pais se mudavam de uma fazenda em Angra dos Reis (RJ) para outra em Paraty.
O casarão onde ela viveu, o Engenho Boa Vista, ainda está de pé (leia texto ao lado). Quando ela tinha 7 anos, o pai, precocemente viúvo, resolveu voltar para a Alemanha. Levou consigo sua prole e a criada brasileira Ana, negra.
Como sustenta Paulo Astor Soethe, professor da Universidade Federal do Paraná, a família manteve muitos laços com o país.
"O livro conta, por exemplo, como foram os encontros de Thomas Mann com intelectuais brasileiros como Sérgio Buarque de Holanda e Erico Veríssimo e mostra como Gilberto Freyre defendeu a vinda do escritor ao Brasil", afirma Soethe.
Cassiano Elek Machado

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Violência

Gustav Klimt
“A violência, seja qual for a maneira
como ela se manifesta,
é sempre uma derrota”.

Jean-Paul Sartre (1905-1980)

terça-feira, 2 de julho de 2013

O Lago e a Rosa

Jean-Marc Janiaczyk
Só minha voz dentro do lago cresce
Como um caule de raiva. No alto a rosa,
Indiferente às aves diluídas
E ao sonho seco do tumor das ilhas.

No lago a dúvida é uma estrada (ou era?).
E os barcos têm perdido tantos lemes,
Que só retornam quando o vento vela
O cadáver solícito dos rumos.

Ao céu a rosa é fria como um grito
Diariamente antigo. O lago dorme
Longe das horas de sessenta medos.

E enquanto a dor não se transforma em rosa,
Só minha voz das águas mortas crava
Sobre a carne da luz beijos de pedra.

Homero Frei