terça-feira, 30 de junho de 2015

A palavra "século", uma conquista de temporalidade histórica

Rupert Bunny
“A palavra latina saeculum era aplicada pelos Romanos a períodos de duração variável, ligada muitas vezes à ideia de uma geração humana. Os cristãos, embora conservassem a palavra na sua antiga acepção, conferiram-lhe também o sentido derivado de vida humana, vida terrena, em oposição ao além. Mas, no século XVI, certos historiadores e eruditos tiveram a ideia de dividir os tempos em porções de cem anos. A unidade era bastante longa, a cifra 100 simples, a palavra conservava o prestígio do termo latino, e no entanto levou algum tempo a impor-se. O primeiro século em que verdadeiramente se aplicaram o conceito e a palavra foi o século XVIII: a partir daí, esta cômoda noção abstrata ia impor a sua tirania à história”.
Jacques Le Goff (1924-2014)

sábado, 27 de junho de 2015

Que Humanidade é Esta?

René Magritte
“Se o homem não for capaz de organizar a economia mundial de forma a satisfazer as necessidades de uma humanidade que está a morrer de fome e de tudo, que humanidade é esta? Nós, que enchemos a boca com a palavra humanidade, acho que ainda não chegámos a isso, não somos seres humanos. Talvez cheguemos um dia a sê-lo, mas não somos, falta-nos mesmo muito. Temos aí o espetáculo do mundo e é uma coisa arrepiante. Vivemos ao lado de tudo o que é negativo como se não tivesse qualquer importância, a banalização do horror, a banalização da violência, da morte, sobretudo se for a morte dos outros, claro. Tanto nos faz que esteja a morrer gente em Sarajevo, e também não devemos falar desta cidade, porque o mundo é um imenso Sarajevo. E enquanto a consciência das pessoas não despertar isto continuará igual. Porque muito do que se faz, faz-se para nos manter a todos na abulia, na carência de vontade, para diminuir a nossa capacidade de intervenção cívica”.
José Saramago (1922-2010)

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O Dia dos Homens

Adilson Santos
Viver é preciso.
Não existe Inferno
nem Paraíso.

Apenas o chão.
E uma persistente
chuva de verão.

Lêdo Ivo

domingo, 21 de junho de 2015

Criacionismo X Evolucionismo

Criacionismo
Evolucionismo
A teoria prega que a vida, a Humanidade, a Terra e o Universo foram criados por uma força sobrenatural, um Criador. A teoria é um conjunto de pesquisas - em constante desenvolvimento - iniciadas pelo legado do cientista britânico Charles Darwin.
As diferentes religiões tem sua própria versão do criacionismo. Darwin percebeu semelhança entre os animais vivos e em extinção e concluiu que suas características passam por um processo em que fatores naturais modificariam os organismos.
O Cristianismo, por exemplo, adota a Bíblia, mais precisamente o livro de Gênisis, como fonte explicativa sobre a criação do Homem. Ele levantou a ideia de que os seres vivos estão em constante concorrência e, assim, somente os mais preparados às condições ambientais poderiam sobreviver.
Para o Criacionismo, o Homem foi feito à imagem e semelhança de Deus e, portanto, não descende de primatas. E sua obra "A Origem das Espécies" (1859), ele afirmou que o homem e o macaco teriam uma mesma ascendência.

sábado, 20 de junho de 2015

O Mistério da Poesia

Alberto da Veiga Guignard
“Não sei o nome desse poeta, acho que boliviano; apenas lhe conheço um poema, ensinado por um amigo. E só guardei os primeiros versos: ‘Trabajar era bueno en el sur... Cortar los árboles, hacer canoas de los troncos’. E tendo guardado esses dois versos tão simples, aqui me debruço ainda uma vez sobre o mistério da poesia.
O poema era grande, mas foram essas palavras que me emocionaram. Lembro-me delas às vezes, numa viagem; quando estou aborrecido, tenho notado que as murmuro para mim mesmo, de vez em quando, nesses momentos de tédio urbano. E elas produzem em mim uma espécie de consolo e de saudade não sei de quê.
Lembrei-me agora mesmo, no instante em que abria a máquina para trabalhar nessa coisa vã e cansativa que é fazer crônica.
De onde vem o efeito poético? É fácil dizer que vem do sentido dos versos; mas não é apenas do sentido. Se ele dissesse: ‘Era bueno trabajar en el sur’ não creio que o poema pudesse me impressionar. Se no lugar de usar o infinito do verbo ‘cortar’ e do verbo ‘hacer’ usasse o passado, creio que isso enfraqueceria tudo. Penso no ritmo; ele sozinho não dá para explicar nada. Além disso, as palavras usadas são, rigorosamente, das mais banais da língua. Reparem que tudo está dito como os elementos mais simples: ‘trabajar, era bueno, sur, cortar, árboles, hacer canoas, troncos’.
Isso me lembra um dos maiores versos de Camões, todo ele também com as palavras mais corriqueiras de nossa língua:
‘A grande dor das coisas que passaram’.
Talvez o que impressione seja mesmo isso: essa faculdade de dar um sentido solene e alto às palavras de todo dia. Nesse poema sul-americano a ideia da canoa é também um motivo de emoção.
Não há coisa mais simples e primitiva que uma canoa feita de um tronco de árvore; e acontece que muitas vezes a canoa é de uma grande beleza plástica. E de repente me ocorre que talvez esses versos me emocionem particularmente por causa de uma infância de beira-rio e de beira-mar. Mas não pode ser: o principal sentido dos versos é o do trabalho; um trabalho que era bom, não essa ‘necessidade aborrecida’ de hoje. Desejo de fazer alguma coisa simples, honrada e bela, e imaginar que já se fez.
Fala-se muito em mistério poético; e não faltam poetas modernos que procurem esse mistério enunciando coisas obscuras, o que dá margem a muito equívoco e muita bobagem. Se na verdade existe muita poesia e muita carga de emoção em certos versos sem um sentido claro, isso não quer dizer que, turvando um pouco as águas, elas fiquem mais profundas...”.
Rubem Braga (1913-1990)
(Do livro “A traição das elegantes”, contido nas “200 crônicas escolhidas”)

quinta-feira, 18 de junho de 2015

As maiores Declarações de Amor da Literatura Universal

Sandro Botticelli
A literatura, enquanto manifestação artística, é uma das formas mais belas de expressão da essência humana. O amor, quando agracia os humanos com sua bênção, geralmente deixa marcas e experiências para a vida inteira.
Abaixo, a lista baseada no número de citações e uma pequena amostra do amor incendiário dos personagens selecionados.
Carta a D. - André Gorz
(De André Gorz para Dorine Keir)
Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinquenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher. Eu só preciso lhe dizer de novo essas coisas simples antes de abordar questões que, não faz muito tempo, têm me atormentado. Por que você está tão pouco presente no que escrevi, se a nossa união é o que existe de mais importante na minha vida?
Primo Basílio - Eça de Queiroz
(De Basílio para Luísa)
Que outros desejem a fortuna, a glória, as honras, eu desejo-te a ti! Só a ti, minha pomba, porque tu és o único laço que me prende à vida, e se amanhã perdesse o teu amor, juro-te que punha um termo, com uma boa bala, a esta existência inútil. E Luísa tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante.
Dom Quixote - Miguel de Cervantes
(De Dom Quixote para Dulcinéia)
Ó Dulcinéia del Toboso, dia da minha noite, glória da minha pena, norte dos meus caminhos, estrela da minha ventura (assim o céu te depare favorável em tudo que lhe pedires!), considera, te peço, o lugar e o estado a que a tua ausência me conduziu, e correspondas propícia ao que deves à minha fé! Ó solitárias árvores, que de hoje em diante ficareis acompanhando a minha solidão, dai mostras com o movimento das vossas ramarias de que vos não anoja a minha presença! Ó tu, escudeiro meu, agradável companheiro em meus sucessos prósperos e adversos, toma bem na memória o que vou fazer à tua vista, para que pontualmente o repitas à causadora única de tudo isto!
Romeu e Julieta -William Shakespeare
(De Julieta para Romeu)
Meu inimigo é apenas o teu nome. Continuarias sendo o que és, se acaso Montecchio tu não fosses. Que é Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Sê outro nome. Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume. Assim Romeu, se não tivesse o nome de Romeu, conservara a tão preciosa perfeição que dele é sem esse título. Romeu, risca teu nome, e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo inteira.
Lolita -Vladimir Nabokov
(Humbert sobre Dolores Haze)
Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta. Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita. Será que teve uma precursora? Sim, de fato teve. Na verdade, talvez jamais teria existido uma Lolita se, em certo verão, eu não houvesse amado uma menina primordial.
Os Sofrimentos do Jovem Werther - Johann Wolfgang von Goethe
(Werther sobre Carlota)
Hoje não pude ir ver Carlota, uma visita inesperada me segurou em casa. Que havia a fazer? Mandei o meu criado ao encontro dela, só para ter junto de mim alguém que tivesse estado em sua presença. Com que impaciência o esperei, com que alegria tornei a vê-lo! Não tivesse vergonha e teria me atirado ao seu pescoço e coberto seu rosto de beijos. Falam que a pedra de Bolonha, quando exposta ao sol, absorve seus raios e reluz por algum tempo durante a noite. Dava-se o mesmo comigo e aquele rapaz. A lembrança de que os olhos de Carlota haviam pousado em seu rosto, em suas faces, nos botões de sua casaca e na gola de seu sobretudo, tornava-o tão querido, tão sagrado para mim!
A Trégua - Mario Benedetti
(Martín Santomé sobre Avellaneda)
Ah, os velhos tempos em que Avellaneda era só um sobrenome, o sobrenome da nova auxiliar (faz apenas cinco meses que anotei: A mocinha não parece ter muita vontade de trabalhar, mas pelo menos compreende o que a gente explica), a etiqueta para identificar aquela pessoinha de testa ampla e boca grande que me olhava com enorme respeito. Ali estava ela agora, diante de mim, envolta em sua manta. Não me lembro de como era ela quando me parecia insignificante, inibida, nada além de simpática. Só me lembro de como é agora: uma deliciosa mulherzinha que me atrai, que me alegra absurdamente o coração, que me conquista.

Fonte:
Revista Bula: ( Por Carlos Willian Leite )

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Análise da Obra

Salvador Dali - Metamorfose de Narciso
Salvador Dalí mostra Narciso sentado a beira de um lago, olhando para baixo, enquanto, próximo, está uma figura de pedra se decompondo que se parece bastante com ele, mas que é percebida de uma outra forma bem diferente - como a mão que segura um bulbo ou ovo, de onde brota um narciso.
Na psiquiatria e particularmente na psicanálise, o termo narcisismo designa a condição mórbida do indivíduo que tem interesse exagerado pelo próprio corpo.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Palavra

James Joseph Jacques Tissot

Uma palavra lasciva: delícia,
uma palavra dengosa.

Duas palavras alegres: peteca e
manhã.

Uma palavra tensa:
tempo.

Uma palavra firme: chão.
Duas palavras tristes: dor e saudade.

Uma palavra livre:
beija-flor.

Martha Galrão

domingo, 14 de junho de 2015

'Luz divina' que fez Paulo virar cristão era meteoro, diz estudo

Giovanni Battista Gaulli – The Conversion of Saint Paul
Paulo não olhou para Jesus, mas em um meteorito quando estava a caminho de Damasco, diz astrônomo.
William Hartmann, co-fundador do Instituto de Ciência Planetária em Tucson, Arizona, EUA, explicou em um artigo publicado na revista Meteoritics and Planetary Science,o que tanto inspirou o apóstolo Paulo a seguir Jesus Cristo poderia ter sido um meteorito.
Segundo a Bíblia, antes dele se converter, o apóstolo Paulo era um dos perseguidores mais zelosos dos cristãos. Mas durante uma viagem a Damasco, ele viu uma luz brilhante no céu.
O apóstolo ficou cego por três dias e ouviu uma voz ou um som divino. A experiência que ele teve o deixou tão impressionado que acabou abraçando a fé cristã.
Hartmann acredita que o meteorito que caiu em Chelyabinsk, na Rússia, em 2013, poderia ser um bom exemplo do que Paulo experimentou. Ao mesmo tempo, o cientista sublinha que não tem a intenção de desacreditar o cristianismo com a sua interpretação, mas, simplesmente quer mostrar como um meteorito poderia ter mudado o curso da religião.
A voz que Paulo ouviu, foi apenas o barulho da explosão. Hartmann diz que a descrição de luz no céu, e o som ensurdecedor e a cegueira temporária corresponde tudo coincide com os eventos de um meteorito.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Origem da Língua Portuguesa

“A nossa língua comum foi construída por laços antigos,
tão antigos que por vezes lhes perdemos o rastro”.

Mia Couto
No século III a.C., os romanos invadiram e conquistaram a Península Ibérica, incorporando-a ao Império Romano. A convivência fez com que os povos vencidos passassem, a falar a língua dos invasores. Nessa época, a língua era apenas falada e empregada pelo povo, que usava o Latim Vulgar, falado na região do Lácio¹, em Roma. Dessa língua originaram as línguas neolatinas ou românicas. (galego-português, castelhano, francês, catalão, italiano, provençal, sardo, e romeno).
Bem diferente do Latim Vulgar era o Latim Clássico, língua falada e também escrita por grandes escritores da época, como Virgílio e Horácio. Todavia, foi o Latim Vulgar que expandiu pela península, sendo falado do século III a.c. até o século V da era cristã. Com isso ele sofreu diversas modificações e influências de outras línguas.
Fases da Língua Portuguesa:
No desenvolvimento histórico da língua portuguesa houve três grandes fases:
Pré-histórica - compreende as origens até o século IX. Não há nenhuma documentação dessa época. A partir do século V, surge o romanço português, dialeto do latim usado até IX.
Proto-Histórica - estende-se do século IX ao século XII. Encontram-se documentos, redigidos em latim bárbaro, com palavras tiradas do romanço.
Histórica - tem início no século XII e vai até os dias atuais. Os textos dessa época começaram a ser escritos em português arcaico.
Essa fase é dividida em dois períodos.
Arcaico: compreende o período que vai do século XII ao século XVI. Houve, inicialmente, uma língua comum, o galego-portugês, falado a noroeste da Península Ibérica. Em regiões da Galiza e no norte de Portugal.
Era usado em textos, numa literatura bem trabalhada. Surgiu, então, a primeira cantiga da língua portuguesa, escrita em galego-portugês, chamada Cantiga da Ribeirinha de Paio Soares de Taveirós.
Moderno: compreende o período que vai do século XVI à nossa época. AS primeiras gramáticas da língua portuguesa surgem no início do século XVI, de autoria de Fernão de Oliveira (1536) e de João de Barros (1540).
Em 1572, é publicada a obra épica Os Lusíadas de Luiz Vaz de Camões. A partir dessa obra, a língua já começou a apresentar as características atuais.
O Português Hoje
O português é língua oficial do Brasil, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, apesar da incorporação de vocábulos nativos e de modificações gramaticais e de pronúncia, eles mantém uma unidade com o português de Portugal.
Vejamos:
● América – Brasil.
● África - Guiné Bissau, Cabo Verde, Angola Moçambique, e São Tomé e Príncipe.
● Ásia - Macau, Goa, Damão e Diu.
● Europa - Portugal.
● Oceania - Timor Leste.
● Ilhas Atlânticas próximas a costa africana - Madeira (Ilha da Madeira) e Açores.

¹Lácio (em latim: Latium) é uma região histórica da Itália Central na qual a cidade de Roma foi fundada e cresceu até tornar-se capital do Império Romano.

terça-feira, 9 de junho de 2015

As Palavras mais belas da Língua Portuguesa

Durante o ano 2015 pedimos aos leitores e colaboradores da Revista Bula que nos indicassem quais são as palavras mais bonitas da língua portuguesa. Ao todo, seis enquetes foram realizadas, entre os meses de janeiro e junho, totalizando mais de 5 mil participações. O resultado não pretende ser abrangente ou definitivo e corresponde apenas à opinião das pessoas consultadas.
Eis o resultado em ordem alfabética.
Adeus Marés
Adorável Melancolia
Amor Memória
Caminhos Metáfora
Chuva Palavras
Coragem Palimpsesto
Cuidar Paz
Cumplicidade Perfeitamente
Efêmero Reciprocidade
Equilíbrio Recomeçar
Enternecer Resiliência
Esperança Respeito
Felicidade Risos
Flamboiã Saudade
Gentileza Sentir
Imprescindível Silêncio
Inexorável Singularidades
Infinito Sublime
Liberdade Tertúlia

domingo, 7 de junho de 2015

Arqueólogos nas barbas do "Estado Islâmico"

Foto G1
A destruição do sítio arqueológico de Palmira, declarado patrimônio histórico pela Unesco, seria uma "enorme perda para a humanidade", alertou a diretora da organização, depois que os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) assumiram o controle da cidade.
"Palmira é um extraordinário patrimônio da humanidade no deserto e qualquer destruição ocorrida em Palmira seria não apenas um crime de guerra, mas também uma enorme perda para a humanidade", disse Irina Bokova em um vídeo publicado pela organização, que tem sede em Paris.
Bokova acrescentou que está "extremamente preocupada" com os últimos acontecimentos e reiterou o pedido por um iminente cessar-fogo e uma retirada das forças militares.
"Afinal de contas, trata-se do berço da civilização humana. Pertence a toda a humanidade e acredito que todos deveriam ficar preocupados com o que está acontecendo", completou a diretora da Unesco.
Os jihadistas já destruíram outros tesouros arqueológicos desde que declararam um "califado" ano passado no Iraque e na Síria. "É importante porque estamos falando do nascimento da civilização humana, estamos falando de algo que pertence a toda a humanidade", ressaltou a diretora da Unesco.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Como Hobbes pode Explicar o Mundo Atual

John Faed
Já faz tempo que Thomas Hobbes, na sua grande e clássica obra “O Leviatã” citou o estado-natural como bellum omnium contra omnes, desse modo, não são novas as ideias desse famoso filósofo inglês, tão repetidas em todos os cantos, em diversas salas de aula e discussões políticas, não deve haver arrependimento quando, em suma, conseguimos utilizar de um método clichê para explicarmos, ou melhor dizendo, tornarmos públicas as razões óbvias pela qual podemos dizer que já estamos no estado-natural, quer dizer, na guerra de todos contra todos.
Levanto três exemplos na história passada e recente:
1. Cristão corta cabeça de jihadista em vingança por atrocidades do EI.
Não é surpresa que o EI (Estado Islâmico) tem praticado atrocidades, invadindo cidades, decapitando pessoas de outras religiões ou ainda, nacionalidades consideradas impuras. O problema é grave e garante uma série de ações – insuficientes – para conter o avanço desse que é o mais novo grande inimigo do ocidente civilizado, no Oriente Médio.
Poderíamos nos ater aos fatos evidenciados, até o momento em que, um cristão faz o mesmo com um integrante do EI. Podemos nos perguntar agora: e daí? Ele só está retribuindo o que já fizeram com diversas pessoas.
Ora, é completamente inaceitável a referência ao povo islâmico como único, maldoso, assassino e fundamentalista, da mesma forma como não podemos culpar cristãos, por exemplo, de serem os impuros.
Neste momento, estamos analisando o ocorrido sob o prisma religioso e sem nenhum cunho político-capitalista, portanto ainda nesse ponto, essas análises serão suprimidas – por hora.
Perceba que são povos diferentes, vindos de uma mesma origem que se confundem na fundação de suas mentalidades religiosas. Contudo lutam há pelo menos um milênio por uma supremacia que só funciona na base da filosofia weberiana dos tipos de autoridade, causando o mais completo caos nas relações, aonde não só se tenta convencer da força de seu Deus pelo poder invisível, mas também da força das armas, que insistem em ser a principal fonte desse poder.
Com todas as evidencias levantadas, podemos analisar que, a confusa história desses povos, tanto cristãos, quanto muçulmanos, que já se encontraram tantas vezes ao longo da trajetória da humanidade, que podemos trazer à tona, inclusive, convivência pacífica por algum tempo, mas também as cruzadas religiosas, tudo em nome da suprema hegemonia que tem tornado perversa, envolvendo pessoas que nada tem a ver, como as crianças que lutam, para morrer nessa que é uma terra de gigantes.
2. As Cruzadas Religiosas
Todo mundo nas aulas de história em algum momento, já se viu revoltado com sua religião padrão, melhor dizendo, o cristianismo, quando revê a história das cruzadas religiosas. Uma guerra santa, bem parecida com a Jihad islâmica, porém com espadas, cavaleiros e reis europeus, lutando contra os impuros, os fora da ordem e inaugurando um novo estágio histórico, criando ainda os primeiros protótipos de cidades medievais.
A religião parece não ser uma adepta da paz, quando se chocam os interesses ditos divinos, mas representados por figuras terrenas, seres de carne, osso e erros constantes, longe de toda a perfeição de que os livros sagrados descrevem a força de Deus.
As cruzadas, assim como a Jihad, contavam com crianças despreparadas, mas armadas como gente grande para enfrentar um inimigo que só representava a ameaça de subir o valor dos artigos de tapeçaria para os soberanos. Estima-se que nesse movimento tenham morrido, cerca de um milhão de seres humanos.
3. As Guerras Políticas
O mundo se viu obrigado, em especial a partir do século XV a assistir um intenso movimento de intercâmbio de ideias, costumes, cultura e muita demonstração de poder que iam além da religião.
Estima-se segundo pesquisa feita pelo Population Reference Bureau que, cerca de 100,5 bilhões de pessoas já morreram em guerras até os dias de hoje. Ora, poderíamos fazer diversas ponderações sobre esse dado assustador, mas podemos fazê-lo mais tarde.
Toda guerra por causa social, política, econômica ou cultural que envolvem os mais diversos motivos desmotivados e infundados motivam o acontecimento dessa desordem. Vivemos num permanente estado de sítio não declarado, como se viver fosse uma dádiva dada por homens armados até os dentes que podem a qualquer momento, retirar esse presente.
Por curiosidade, são dois dos conflitos atuais mais importantes em andamento, dos quais já escrevi sobre:
Guerra Civil Síria: Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas) 220 mil mortos; 6,5 milhões de desalojados; 3 milhões de refugiados.
Guerra Civil da Ucrânia: Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas) 9 mil mortos; 285 mil desalojados; 1 milhão de refugiados.
O bellum omnium contra omnes representa, dessa maneira, a clara disputa pelo poder simbólico no mundo, acontece que a análise de Hobbes sobre esse estado-natural animalesco, poderia ser resolvido dentro das fronteiras, sob o comando de um governo soberano, o grande problema é que a teoria não previa uma intensa luta supranacional, que ultrapassam os limites imaginários e físicos.
Thomas Hobbes era, de fato, um visionário, mas quando limitou o espaço de convivência em uma fronteira, não pode conceber a ideia de que governos de outros países que tentassem controlar outrem, só causariam o que nós podermos perceber: o caos.

Fonte:
Blog Obvious: ( Eduardo Almeida )

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Crescimento do Islamismo

Até 2050, islamismo crescerá 73% e será religião que mais terá se expandido no mundo, diz estudo. Alta taxa de fertilidade e significativa população abaixo de 15 anos são motivos que explicam aumento de muçulmanos no planeta nas próximas décadas.
Conforme a recém-publicada pesquisa do Pew Research Center, a religião muçulmana irá ultrapassar o número de cristãos no mundo em meados dos anos 2050. Isto pode concretizar o Choque das Civilizações e a Reconstrução da Nova Ordem Mundial de Huntington?
Família muçulmana na Malásia
O Pew Research Center é um dos mais importantes “think tank” dos Estados Unidos, com sede em Washington. Segundo o estudo chamado “The Future of World Religions: Populations Growth Projetions, 2010 – 2050”, a religião muçulmana alcançará o mesmo número de cristãos no mundo em 2050, e possivelmente, pela primeira vez na história, vai predominar como a maior em 2070.
Em linhas gerais, o estudo descreve que devido a obtenção de uma população mais jovem e com uma alta taxa de fertilidade, os islâmicos tendem a crescer seu número de praticantes no mundo, diferentemente dos cristãos.
Apesar da religião católica representar mais de um terço da população mundial, vários aspectos influenciam na diminuição gradativa dos cristãos no mundo. A Europa é um exemplo nítido disso. O atual problema demográfico do velho continente é grave e preocupante. A taxa de fertilidade dos europeus é baixa, e não custa concluir que além dos fatores políticos e econômicos, o fator demográfico também colabora consideravelmente para a crise. Um dos exemplos mais surpreendentes do problema demográfico está na Alemanha, onde 40% de sua população terá mais de 60 anos em 2050. Em Portugal constata-se o mesmo.
Leia aqui todos os textos de * Lucien de Campos:
Seguindo outro rumo, os muçulmanos têm uma taxa de fertilidade alta e com tendência a crescer. Pode-se notar isso na Palestina ocupada. Quase a metade da população palestina tem menos de 14 anos, e a média de idade é de 17 anos. Sem a proteção devida dos direitos fundamentais com as famílias, as mulheres muçulmanas convivem com o medo da guerra e da grande possibilidade de perderem seus filhos. Através disto, elas têm muitos filhos, todos com uma diferença mínima de idade. Até mesmo aquelas com maiores níveis de educação acabam por ter um número considerável de filhos. Nota-se que, ao engravidar várias vezes pelo medo de perder filhos no conflito, as palestinas desenvolvem, assim, um senso instintivo de sobrevivência. Isto ocorre quando existem demasiadas violações de direitos humanos com a população, pois a fertilidade é uma das poucas liberdades que sobraram ao povo palestino. E isto pode se aplicar também em outras regiões conflituosas no Oriente Médio, como na Síria e Iraque.
Dessa maneira, ao presenciar os atuais protestos contra o islamismo no mundo, como as recentes manifestações na Austrália, pode-se prever que o mundo vai ser reordenado pelas tensões de países com diferentes religiões e etnias. É o que justamente descreveu Samuel Huntington, em 1996, no seu livro Choque das Civilizações e a Reconstrução da Nova Ordem Mundial.
Huntington é considerado um grande teórico das relações internacionais, e sua tese consiste no fato de que a nossa civilização é dividida por entidades culturais distintas.
Destaca, assim, o fator religioso como primordial para criar tensões no cenário internacional. Para ele, o mundo seria dividido por oito civilizações, entre elas a ocidental, latino-americana e islâmica, sendo que os conflitos tenderiam a ocorrer ao longo das linhas de cisão destas denominadas civilizações.
Contudo, o crescente embate entre “ocidente x oriente”, no qual o fanatismo extremo, tanto dos dois lados, como também a “ameaça islâmica” difundida pelo ocidente através do surgimento do terrorismo, tudo isso colabora para sustentar a tese de Huntington.
Basta saber se, com o crescimento demográfico de religião muçulmana, em 2050 vamos nos deparar com um mundo conflituoso, dividido por culturas e religiões. Espero que não.
*Lucien de Campos é mestrando em Diplomacia e Relações Internacionais pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa e colaborador em Pragmatismo Político.

Fonte:
Pew Research Center: ( The Future of World Religions )

terça-feira, 2 de junho de 2015

Fordlândia

Fordlândia - Escritório
Fordlândia: uma história e tanto que não deveria ser esquecida
Fordlândia foi o nome dado a uma vasta área de terra adquirida pelo empresário norte-americano Henry Ford, através de sua empresa Companhia Ford Industrial do Brasil, por concessão do Estado do Pará, por iniciativa do governador Dionísio Bentes e aprovada pela Assembleia Legislativa, em 30 de setembro de 1927. A área de 14.568 km² fica localizada no município de Aveiro, no estado do Pará, às margens do Rio Tapajós.Ford tinha a intenção de usar Fordlândia para abastecer sua empresa de látex necessário a confecção de pneus para seus automóveis, então dependentes da borracha produzida na Malásia, na época colônia britânica. Os termos da concessão isentavam a Companhia Ford do pagamento de qualquer taxa de exportação de borracha, látex, pele, couro, petróleo, sementes, madeira ou qualquer outro bem produzido na gleba. As negociações foram conduzidas pelo brasileiro Jorge Dumont Villares, representante do governador Dionísio Bentes, que visitou Henry Ford nos EUA. Os representantes da Ford, para receber a área, foram O. Z. Ide e W. L. Reeves Blakeley.A terra era infértil e pedregosa e nenhum dos gerentes de Ford tinha experiência em agricultura equatorial. As seringueiras, árvores de onde se extrai o látex, plantadas muito próximas entre si, o oposto das naturalmente muito espaçadas na selva, foram presa fácil para pragas agrícolas, principalmente micro-organismos do gênero Microcyclus que dizimaram as plantações.
Os trabalhadores das plantações recebiam uma alimentação típica norte-americana, como hambúrgueres, instalados em habitações também ao estilo norte-americano, obrigados a usar crachás e comandados num estilo a que não estavam habituados, o que causava conflitos e baixa produtividade. Em 1930, os trabalhadores locais se revoltaram contra gerentes truculentos, que tiveram que se esconder na selva até o exército brasileiro intervir e restabelecer a ordem.
O governo brasileiro suspeitava dos investimentos estrangeiros, especialmente na Amazônia, e oferecia pouca ajuda. Ford ainda tentou realocar as plantações em Belterra, mais para o norte, onde as condições para a seringueira eram melhores mas, a partir de1945, novas tecnologias permitiam fabricar pneus a partir de derivados de petróleo, o que tornou o empreendimento um total desastre, causando prejuízos de mais de vinte milhões de dólares.
Fim do Sonho
Com o falecimento de Henry Ford, seu neto Henry Ford II assumiu o comando da empresa nos Estados Unidos e decidiu encerrar o projeto de plantação de seringueiras no Brasil. Através do Decreto número 8.440 de 24 de dezembro de 1945, o Governo Federal brasileiro definiu as condições de compra do acervo da Companhia Ford Industrial do Brasil: a Ford foi indenizada em aproximadamente US$ 250.000, e o governo brasileiro assumiu as obrigações trabalhistas dos trabalhadores remanescentes, além de receber seis escolas (quatro em Belterra e duas em Fordlândia); dois hospitais; estações de captação, tratamento e distribuição de água nas duas cidades; usinas de força; mais de 70 quilômetros de estradas; dois portos fluviais; estação de rádio e telefonia; duas mil casas para trabalhadores; trinta galpões; centros de análise de doenças e autópsias; duas unidades de beneficiamento de látex; vilas de casas para a administração; departamento de pesquisa e análise de solo; plantação de 1.900.000 seringueiras em Fordlândia e 3.200.000 em Belterra.
Resumidamente, então, podemos entender que Ford deu com os burros n’água por ignorar que as seringueiras precisavam de todo um ecossistema para sobreviverem e produzirem. Jamais resistiriam isoladamente no inóspito solo amazônico.
Cultura Popular
Os cineastas Marinho Andrade e Daniel Augusto, que produziram o sensível documentário “Fordlândia”, a que assisti no Canal Brasil há um bom par de meses e que tem como fio condutor um filho de americanos que nasceu em Fordlândia, voltou para a América do Norte com os pais e anos mais tarde leva a família para conhecer o lugar onde nasceu.
O escritor argentino Eduardo Sguiglia lançou o livro "Fordlândia" (Editora Iluminuras, 1997), escolhido como um dos quatro melhores trabalhos de ficção pela The Washington Post (2000).