quinta-feira, 4 de junho de 2015

Como Hobbes pode Explicar o Mundo Atual

John Faed
Já faz tempo que Thomas Hobbes, na sua grande e clássica obra “O Leviatã” citou o estado-natural como bellum omnium contra omnes, desse modo, não são novas as ideias desse famoso filósofo inglês, tão repetidas em todos os cantos, em diversas salas de aula e discussões políticas, não deve haver arrependimento quando, em suma, conseguimos utilizar de um método clichê para explicarmos, ou melhor dizendo, tornarmos públicas as razões óbvias pela qual podemos dizer que já estamos no estado-natural, quer dizer, na guerra de todos contra todos.
Levanto três exemplos na história passada e recente:
1. Cristão corta cabeça de jihadista em vingança por atrocidades do EI.
Não é surpresa que o EI (Estado Islâmico) tem praticado atrocidades, invadindo cidades, decapitando pessoas de outras religiões ou ainda, nacionalidades consideradas impuras. O problema é grave e garante uma série de ações – insuficientes – para conter o avanço desse que é o mais novo grande inimigo do ocidente civilizado, no Oriente Médio.
Poderíamos nos ater aos fatos evidenciados, até o momento em que, um cristão faz o mesmo com um integrante do EI. Podemos nos perguntar agora: e daí? Ele só está retribuindo o que já fizeram com diversas pessoas.
Ora, é completamente inaceitável a referência ao povo islâmico como único, maldoso, assassino e fundamentalista, da mesma forma como não podemos culpar cristãos, por exemplo, de serem os impuros.
Neste momento, estamos analisando o ocorrido sob o prisma religioso e sem nenhum cunho político-capitalista, portanto ainda nesse ponto, essas análises serão suprimidas – por hora.
Perceba que são povos diferentes, vindos de uma mesma origem que se confundem na fundação de suas mentalidades religiosas. Contudo lutam há pelo menos um milênio por uma supremacia que só funciona na base da filosofia weberiana dos tipos de autoridade, causando o mais completo caos nas relações, aonde não só se tenta convencer da força de seu Deus pelo poder invisível, mas também da força das armas, que insistem em ser a principal fonte desse poder.
Com todas as evidencias levantadas, podemos analisar que, a confusa história desses povos, tanto cristãos, quanto muçulmanos, que já se encontraram tantas vezes ao longo da trajetória da humanidade, que podemos trazer à tona, inclusive, convivência pacífica por algum tempo, mas também as cruzadas religiosas, tudo em nome da suprema hegemonia que tem tornado perversa, envolvendo pessoas que nada tem a ver, como as crianças que lutam, para morrer nessa que é uma terra de gigantes.
2. As Cruzadas Religiosas
Todo mundo nas aulas de história em algum momento, já se viu revoltado com sua religião padrão, melhor dizendo, o cristianismo, quando revê a história das cruzadas religiosas. Uma guerra santa, bem parecida com a Jihad islâmica, porém com espadas, cavaleiros e reis europeus, lutando contra os impuros, os fora da ordem e inaugurando um novo estágio histórico, criando ainda os primeiros protótipos de cidades medievais.
A religião parece não ser uma adepta da paz, quando se chocam os interesses ditos divinos, mas representados por figuras terrenas, seres de carne, osso e erros constantes, longe de toda a perfeição de que os livros sagrados descrevem a força de Deus.
As cruzadas, assim como a Jihad, contavam com crianças despreparadas, mas armadas como gente grande para enfrentar um inimigo que só representava a ameaça de subir o valor dos artigos de tapeçaria para os soberanos. Estima-se que nesse movimento tenham morrido, cerca de um milhão de seres humanos.
3. As Guerras Políticas
O mundo se viu obrigado, em especial a partir do século XV a assistir um intenso movimento de intercâmbio de ideias, costumes, cultura e muita demonstração de poder que iam além da religião.
Estima-se segundo pesquisa feita pelo Population Reference Bureau que, cerca de 100,5 bilhões de pessoas já morreram em guerras até os dias de hoje. Ora, poderíamos fazer diversas ponderações sobre esse dado assustador, mas podemos fazê-lo mais tarde.
Toda guerra por causa social, política, econômica ou cultural que envolvem os mais diversos motivos desmotivados e infundados motivam o acontecimento dessa desordem. Vivemos num permanente estado de sítio não declarado, como se viver fosse uma dádiva dada por homens armados até os dentes que podem a qualquer momento, retirar esse presente.
Por curiosidade, são dois dos conflitos atuais mais importantes em andamento, dos quais já escrevi sobre:
Guerra Civil Síria: Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas) 220 mil mortos; 6,5 milhões de desalojados; 3 milhões de refugiados.
Guerra Civil da Ucrânia: Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas) 9 mil mortos; 285 mil desalojados; 1 milhão de refugiados.
O bellum omnium contra omnes representa, dessa maneira, a clara disputa pelo poder simbólico no mundo, acontece que a análise de Hobbes sobre esse estado-natural animalesco, poderia ser resolvido dentro das fronteiras, sob o comando de um governo soberano, o grande problema é que a teoria não previa uma intensa luta supranacional, que ultrapassam os limites imaginários e físicos.
Thomas Hobbes era, de fato, um visionário, mas quando limitou o espaço de convivência em uma fronteira, não pode conceber a ideia de que governos de outros países que tentassem controlar outrem, só causariam o que nós podermos perceber: o caos.

Fonte:
Blog Obvious: ( Eduardo Almeida )

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