sábado, 30 de junho de 2012

Marx

Karl Marx (1818-1883)
As ideias filosóficas de Marx podem ser sintetizadas em oito pontos:
1. Adoção da perspectiva transcendental - Marx, como Immanuel Kant (1724-1804), desmistifica o conhecimento humano, que nas metafísicas dogmáticas tinha ficado reduzido a uma cópia passiva da realidade exterior. Quando o nosso autor afirmava que “até agora os filósofos estiveram preocupados em contemplar o mundo, nós vamos transformá-lo”, justamente propunha um novo tipo de conhecimento em que a verdade fosse efeito da ação humana, não a pura contemplação de um arquétipo pré-existente fora da razão.

2. Formulação do 11º mandamento: “Não explorarás o trabalho alheio”. Marx reagiu contra um princípio de ação estranho ao homem (moralidade pautada pela religião ou pelas leis da circulação de mercadorias), e colocou como critério de ação o homem mesmo, na sua dinâmica histórica, no seio da consciência de classe. A força do marxismo reside no mesmo princípio. O mandamento segundo o qual: ´Não explorarás o trabalho alheio´ parece consistir no ápice de toda uma ética humanista”.

3. Formulação do materialismo histórico. Competiria a Marx corrigir o rumo da reflexão feuerbachiana. A massa humana, que tinha sido idealizada por Feuerbach, encontra em Marx uma formulação concreta e atuante. Marx sintetizou esta dimensão na sua frase, presente na obra A ideologia alemã: “A existência humana determina a consciência”.

4. Inspiração de Marx em Claude-Henri de Saint-Simon (1760-1825). A afirmação de que “a vida social é essencialmente prática”, bem como a ideia de que “a produção faz o homem” e de que homens e sociedade se produzem a si mesmos pelo seu esforço.

5. Inspiração de Marx em Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865). Segundo Gurvitch, Marx inspirou-se nos seguintes pontos do pensamento proudhoniano: – A crítica às “classes altas”, burgueses e patrões, pela sua ociosidade. – O conceito de “força coletiva”, que inspira o conceito marxista de “forças produtivas”. – A predição acerca da desaparição do Estado.

6. Comunismo implantado por métodos violentos: a destruição do Estado burguês. Este elemento permanece claro na obra de Marx e se contrapõe aos esforços dos socialistas franceses, ingleses e alemães, em prol da construção de uma nova sociedade mediante reformas, com a chegada do proletariado ao poder através de eleições (como terminou, de fato, acontecendo, ao longo dos séculos XIX e XX). Para ambos, somente valia um tipo de comunismo: o imposto pelo líder, com absoluto banimento da dissidência e com a implantação de um regime de poder total.

7. Inspiração em Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Marx recebeu esta influência ao longo de sua permanência em Paris. Para o filósofo genebrino, a soberania do povo repousa na “vontade geral”. Esta é apropriada pela “vanguarda do povo”, constituída pelos “puros", aqueles que se despiram dos seus interesses individuais para defender o interesse público. Ora, essa vanguarda é chefiada, no caso da revolução comunista, pelo próprio Marx, que se converte numa espécie de salvador das massas proletárias.

8. Inspiração no pensamento dos liberais franceses Benjamin Constant de Rebecque (1767-1830) e François Guizot (1787-1874), cujas obras Marx leu durante a sua permanência em Paris. Até a expressão, presente no Manifesto Comunista: “proletários do mundo, uni-vos” inspira-se na frase conhecida de Guizot: “burgueses da França, uni-vos” e “enriquecei-vos”.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Minha terra

Daniel Ridgway Knight
O sol que nasce atrás da serra
A tarde inteira rumoreja
Cantando a paz da minha terra
Na toada sertaneja
Este sol, este luar
Estes rios e cachoeiras
Estas flores, este mar
Este mundo de palmeiras
Tudo isto é teu, ó meu Brasil
Deus foi quem te deu
Ele por certo é brasileiro
brasileiro como eu.

Waldemar Henrique (1905 -1995)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Queria de manhã trazer-te algumas rosas

Walter Crane
Queria de manhã trazer-te algumas rosas;
Mas na cintura as recolhi tão numerosas
Que o laço que amarrei não as pôde encerrar.

O laço se desfez. Levadas pelo vento,
As rosas para o mar se foram num momento;
E nas águas se vão pra nunca mais voltar;

O mar me pareceu rubro, como incendido.
É noite e perfumado ainda está meu vestido...
O cheiro da lembrança em mim hás de encontrar.

Marceline Desbordes-Valmore

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Gosto de viver

Foto Alexander Matev
Enquanto o Sol abrir
e a flor desabrochar;
enquanto a aurora
for irmã do mar;
enquanto o fruto der
a cor ao sangue;
enquanto o vento é sal
e a praia é grande;
enquanto o véu subir
e só mostrar beleza;
enquanto tudo isto
for certeza;
enquanto tudo isto
acontecer,
então a noite olvide
o seu negrume
e o galo cante
gosto de viver.

Edgar Carneiro

terça-feira, 26 de junho de 2012

Música eterna

“Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantado e seguindo a canção

Então, vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora e não espera acontecer
Então, vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.
[...]
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...
[...] ”.

Geraldo Vandré

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Santos Franciscanos

Francisco de Assis (1182-1226)
Giotto di Bondone – São Francisco e Santa Clara
Foi um frade católico da Itália. Depois de uma juventude irrequieta e mundana, voltou-se para uma vida religiosa de completa pobreza, fundando a ordem mendicante dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos, que renovaram o Catolicismo de seu tempo. Com o hábito da pregação itinerante, quando os religiosos de seu tempo costumavam fixar-se em mosteiros, e com sua crença de que o Evangelho devia ser seguido à risca, imitando-se a vida de Cristo, desenvolveu uma profunda identificação com os problemas de seus semelhantes e com a humanidade do próprio Cristo.
Alguns estudiosos afirmam que sua visão positiva da natureza e do homem, que impregnou a imaginação de toda a sociedade de sua época, foi uma das forças primeiras que levaram à formação da filosofia da Renascença.
Dante Alighieri disse que ele foi uma "luz que brilhou sobre o mundo", e para muitos ele foi a maior figura do Cristianismo desde Jesus.
Sua posição como um dos grandes santos da Cristandade se firmou enquanto ele ainda era vivo, e permanece inabalada. Foi canonizado pela Igreja Católica menos de dois anos após falecer, em 1228, e por seu apreço à natureza é mundialmente conhecido como o santo patrono dos animais e do meio ambiente.

Clara de Assis (1194-1253)
Foi a fundadora do ramo feminino da Ordem Franciscana.
Pertencia a uma nobre família e era dotada de grande beleza. Destacou-se desde cedo pela sua caridade e respeito para com os pequenos, tanto que, ao deparar-se com a pobreza evangélica vivida por São Francisco de Assis, foi tomada pela irresistível tendência religiosa de segui-lo.
Enfrentando a oposição da família, que pretendia arranjar-lhe um casamento vantajoso, aos dezoito anos Clara abandonou o seu lar para seguir Jesus mais radicalmente. Para isto foi ao encontro de São Francisco de Assis na Porciúncula e fundou o ramo feminino da Ordem Franciscana, também conhecido por "Damas Pobres" ou Clarissas. Viveu na prática e no amor da mais estrita pobreza.

Santo Antônio de Lisboa (1195 - 1231)
Santo Antonio viveu na primeira metade do século XIII, em plena Idade Média. Desenvolviam-se os burgos e uma nova classe social de artesãos, mercadores, banqueiros, notários e médicos ascendia na sociedade e no poder: a burguesia.
Na Europa formavam-se as nacionalidades sob a égide do Sacro Império e os exércitos dos anglos, francos e germanos, dominados pelo espírito da cruzada, combatiam os turcos muçulmanos na Terra Santa.
Na primavera de 1221, dirigindo-se para Assis. Em Assis encontrou-se com Francisco e os seus primeiros seguidores, um evento de grande importância em sua carreira. Sendo designado para um eremitério em Montepaolo, na província da Romagna, ali passou cerca de quinze meses em intensas meditações e árduas disciplinas.

Santa Isabel da Hungria (1207-1231)
Edmund Blair Leighton - Santa Isabel da Hungria
Elisabeth de Hongrie , representa o tipo de caridade feminina da Idade Média. O poder das mulheres para dignificar, elevar, a cavalaria feudal. As tradições criaram lendas de uma vida cheia de milagres, mas os fatos essenciais têm registro histórico e sua bela personalidade não oferece dúvida alguma.
Filha de André II, rei da Hungria. Com a idade de quatro anos, foi dada como noiva a Luis, filho do príncipe de Turíngia, Alemanha. Foi educada na corte de seu futuro marido, quando sua graça na infância e sua santidade de jovem menina se destacaram.
A curta união do casal, que durou seis anos, é representada como o tipo de felicidade conjugal, da caridade sem limites, da terna solicitude pelos interesses de seu povo e pelo ascendente espiritual da santidade feminina. Quando o papa convidou Frederico II a fazer uma nova cruzada, Luis seguiu o imperador e morreu pela febre na viagem, em Otrante, no ano de 1227. A jovem viúva, que tinha então 20 anos, se afastou com seus quatro filhos de seu castelo de Wartbourg. Esse mesmo castelo é que se tornou, 300 anos depois, o refúgio de Lutero, onde ele terminou sua tradução da bíblia.
Com a perda do esposo, ela vendeu tudo que tinha e foi trabalhar para criar seus quatro filhos. Com caridade, distribuía sempre o pão dos pobres e, durante um tempo de fome generalizada na Alemanha, fez uma grande oferta de trigo ao povo. Por essa caridade, mais tarde, Isabel passou a ser considerada a santa padroeira dos padeiros.
Isabel se negou a ser a regente em nome de seu filho ainda criança, se retirou de Marburgo com suas filhas e se dedicou inteiramente a uma vida de penitência e de caridade, sob a direção de seu confessor Conrado.
Depois de alguns anos de sofrimento que ela se impôs a si mesma, morreu com a idade de 24 anos, no ano de 1331, esgotada, ao que parece, por seu zelo na caridade e pelas ordens severas de seu orientador espiritual. Morreu como franciscana, a corda dos frades em torno de seu corpo.

São Benedito (1524-1589)
Nasceu na Sicília, sul da Itália, em 1524, no seio de família pobre e era descendente de escravos oriundos da Etiópia. Tinha o apelido de “mouro” pela cor de sua pele. Foi pastor de ovelhas e lavrador.
Aos 18 anos de idade já havia decidido consagrar-se ao serviço de Deus e aos 21 um monge dos irmãos eremitas de São Francisco de Assis chamou-o para viver entre eles e aceitou.
Cumprindo seu voto de obediência, depois de 17 anos entre os eremitas, foi designado para ser cozinheiro no Convento dos Capuchinhos. Sua piedade, sabedoria e santidade levaram seus irmãos de comunidade a elegê-lo Superior do Mosteiro, apesar de analfabeto e leigo, pois não havia sido ordenado sacerdote. Seus irmãos o consideravam iluminado pelo Espírito Santo, pois fazia muitas profecias. Ao terminar o tempo determinado como Superior, reassumiu suas atividades na cozinha do convento.
São Benedito morreu aos 65 anos, no dia 4 de abril de 1589, em Palermo, na Itália.

Frei Galvão (1739-1822)
Foi um frade brasileiro. Uma das figuras religiosas mais conhecidas do Brasil, famoso por seus supostos poderes de cura, Galvão foi canonizado pelo Papa Bento XVI em 11 de maio de 2007, tornando-se o primeiro santo nascido no Brasil.

domingo, 24 de junho de 2012

Flor

Vladimir Volegov
O verbo flor é conjugável
Por quase todas as pessoas
Em certos tempos definidos,
A saber:
Quase nunca no outono
No inverno quase não
Quase sempre no verão
E demais na primavera
Que no coração poderá ficar
E ser eterna
Quando o coração conjugar:
Quando eu flor, quando tu flores
Quando ele flor e você flor
Quando nós,
Quando todo o mundo flor.

Renato Rocha

A um negrilho

Fasani
Na terra onde nasci há um só poeta
Os meus versos são folhas dos seus ramos.
Quando chego de longe e conversamos,
É ele que me revela o mundo visitado.
Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
E a luz do sol aceso ou apagado
É nos seus olhos que se vê pousada.

Esse poeta és tu, mestre da inquietação
Serena!
Tu, imortal avena
Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
Redil de estrelas ao luar maninho.
Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!

Miguel Torga (1907-1995)

sábado, 23 de junho de 2012

Os pobres

Helen Allingham
E é da gente ignorada que levo as maiores impressões da existência.
Foram os pobres que me obrigaram a pensar - foi a série de figuras toscas que encontrei na estrada, duma realidade tão grande que nunca consegui afastá-las da minha alma.
Ainda hoje desfilam diante de mim os mortos e os vivos…
Não posso esquecê-los: parece que todos eles esperam alguma coisa de mim.
Raul Brandão (1867-1930)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

A voz solitária do homem

Sir Edward Burne-Jones
Há palavras que escrevemos mais depressa
o terror dessas palavras derruba
o passado dos homens
são tão pouco: vestígios, índices, poeira
mas nada lhes é desconhecido
as horas em que vigiamos o escuro
os sítios nenhuns das imagens
a ligeira mudança que resgataria
o abandono, todo o abandono
de Baldios.

José Tolentino Mendonça

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Propaganda Eleitoral

Meu caro Coronel Martins Ferreira,
candidato extra chapa a deputado
ao congresso da Câmara Mineira,
desejo ser aí o mais votado.

A minha fé de ofício é de primeira.
Vale por um programa o meu passado,
e no congresso não direi asneira
todas as vezes...que ficar calado.

Fui caixeiro, depois fui negociante,
e do torrão natal, representante,
agora aspiro a ser como escrivão;

e, eleito, espero, mas que maravilha!
ser pai da Pátria e receber da filha
todo o subsídio, quer trabalhe ou não...

Belmiro Braga (1872-1937)

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Rio + 20

Aquecimento Global
No Período de Aquecimento Medieval entre os séculos 9 e o 14, conhecido como Óptimo Climático Medieval, algumas regiões do mundo experimentam uma alta de temperatura como a que estamos vivendo hoje . Depois desse período, a Terra viveu uma Pequena Era Glacial, com resfriamento da temperatura planetária. É concebível que o planeta esteja uma vez mais passando por fenômeno semelhante.
Registos históricos provenientes de toda a Europa e da Groelândia atestam a realidade destes dois acontecimentos e do seu impacto profundo na humanidade. A colonização da Groelândia pelos vikings no início do milênio, por exemplo, só foi possível graças ao calor que se fazia sentir na época medieval. Durante a Pequena Era do Gelo, estas colônias da Groelândia desapareceram. Na mesma época, o Tamisa gelou muitas vezes.
Os períodos do Óptimo Climático Medieval e da Pequena Era do Gelo dependem de certa maneira daquilo que se considera "quente" e "frio" em relação às temperaturas atuais.
A conclusão é clara: as variações solares foram a causa da Pequena Era do Gelo e, com forte probabilidade, também do Óptimo Medieval. Utilizando o isótopo de carbono 14 como indicador da atividade solar antes de 1600, foi possível pôr em evidência um nível elevado de atividade solar durante o período medieval. Esse nível arrastou a elevação da temperatura. Também sobressaiu um período frio designado "mínimo de Sporer", durante o ano de 1350.
Esta análise histórica do clima contém duas dificuldades sérias para a teoria atual do aquecimento global:


1) Se o período Óptimo Medieval, sem contribuição de gases antropogênicos, foi mais quente do que o dos dias de hoje, qual o espanto por a época moderna ser igualmente quente?

2) Se as variações solares foram a causa simultânea do Óptimo Medieval e da Pequena Era do Gelo, a mais forte atividade solar do século XX não explicará, pelo menos em parte, o pretenso calor anunciado?

Escrever

Albert Anker
“Escrevo para não ficar louco”, dizia Bataille - o que queria dizer que escrevia a loucura; mas quem poderia dizer: “Escrevo para não ter medo”? Quem poderia escrever o medo (o que não impediria dizer contá-lo)? O medo não expulsa, não constrange nem realiza a escritura: pela mais imóvel das contradições, os dois coexistem – separados.
Roland Barthes (1915-1980)

Os amigos

Picasso - Friendship
Esses estranhos que nós amamos
e nos amam
olhamos para eles e são sempre
adolescentes, assustados e sós
sem nenhum sentido prático
sem grande noção da ameaça ou da renúncia
que sobre a luz incide
descuidados e intensos no seu exagero
de temporalidade pura

Um dia acordamos tristes da sua tristeza
pois o fortuito significado dos campos
explica por outras palavras
aquilo que tornava os olhos incomparáveis

Mas a impressão maior é a da alegria
de uma maneira que nem se consegue
e por isso ténue, misteriosa:
talvez seja assim todo o amor.

José Tolentino Mendonça

terça-feira, 19 de junho de 2012

É Urgente

Camomilas
É urgente abrir novos caminhos
Acender novas estrelas
Descobrir novos horizontes
Inventar outras cores
Penetrar outros espaços
Abrir fendas no tempo

É urgente quebrar o silêncio
E, passo a passo, habitar outras noites.


É urgente criar novos versos
Pensar novas metáforas
Buscar novas forças
Inventar novas artes
E partir sem medo e sem demora
Para onde nasce o sonho
E, de novo, esculpir a vida.

Albino Santos

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Oração de Clara ao seu jardim

Michael Tompsett
“Meu espírito clama pelos poderes cicatrizantes
Do amor. Neles penso, enquanto escurece ou
Chove torrencialmente na ravina obscura que
Atravesso. Vi levantar-se a ilusão da alegria
Perene como dádiva. Que dardo cravas em mim,
Que assim entenebreço, que nervuras tão densas
Me crias, se em ti me perco?”

Maria Gabriela Llansol (1931-2008)

domingo, 17 de junho de 2012

Cinzas de Sísifo

Piet Mondrian - Grey Tree

Eu vi o sobressalto.
Nesse bosque de lâminas e luvas
tocaste cada coisa como
um grito.

E amaste a minha boca
com quem corta
os pulsos ao silêncio.
Se o vento te derrama
entre folhas e cinza
é sempre a mesma voz que não perdoa
a mesma lei
o mesmo labirinto.

Armando Silva Carvalho

sábado, 16 de junho de 2012

Os Raios de Luz

As cores que vemos no nosso dia-a-dia são frequências de onda variadas, em que cada uma tem as suas características específicas.
Quanto maior a frequência, maior é a energia.
Abaixo fica uma lista dos raios da fraternidade branca.
1º Raio – Azul
  • Virtudes: Vontade Divina, fé, felicidade, equilíbrio, paz e criação cósmica.
  • Desenvolve: Iniciativa, proteção, poder, força interior, perseverança.
  • Arcanjo: Miguel
  • Elohim - Hércules e Amazon
  • Mestres - El Morya e Míriam passando para o Lord Sírius o encargo divino.
2º Raio – Amarelo (na tonalidade amarelo-dourado)
  • Virtudes: Inteligência, iluminação interior, sabedoria
  • Desenvolve: Sabedoria, intuição, força mental
  • Arcanjo: Jofiel e Constância
  • Elohim - Cassiopéia e Minerva
  • Mestres - Lanto e Kwan Yin.
3º Raio - Rosa
  • Virtudes: Amor, pureza, beleza, opulência, coesão
  • Desenvolve: Amor divino, tolerância.
  • Arcanjo: Chamuel e Caridade
  • Elohim - Orion e Angélica
  • Mestres - Lady Rowena e Paulo Veronezi.
4º Raio - Cristal
  • Virtudes: Ascensão, pureza, ressurreição
  • Desenvolve: Artes, música, pintura
  • Arcanjo: Gabriel e Esperança
  • Elohim - Claridade e Ashtréia
  • Mestres - Serapys Bey e Lis.
5º Raio - Verde
  • Virtudes: Ascensão, pureza, ressurreição
  • Desenvolve: Ciências em geral ou específicas, principalmente a medicina
  • Arcanjo: Mãe Maria e Raphael
  • Elohim - Vista e Cyclope
  • Mestres - Hilarion e Matilde.
6º Raio – Ouro Rubi
  • Virtudes: Paz, fé interior, graça, providência, adoração
  • Desenvolve: Culto devocional, serenidade e paciência
  • Arcanjo: Uriel e Graça
  • Elohim - Paz e Pacífica
  • Mestres - Nada e Tudo.
7º Raio –Violeta
  • Virtudes:Transmutação, misericórdia, libertação, perdão
  • Desenvolve: Cultura, refinamento, diplomacia, prudência
  • Arcanjo: Ezequiel e Santa Ametista
  • Elohim - Arcturos e Rítmica
  • Mestres - Saint Germain e Pórtia (Neida - Deusa da Oportunidade) .
8º Raio –Branco
  • Virtudes: Supremacia espiritual, iluminação e despertar cósmico
  • Desenvolve: Ascensão, disciplina, mestria cósmica e proteção
  • Distribuidor - Paulo Veneziano
  • Deva – Dorniel
  • Diretores - Ossok e Liberdade.

Fênix

Stephaine Pui-Men Law
Estou lá onde me invento e me faço:
De giz é meu traço. De aço, o papel.
Esboço uma face a régua e compasso:
É falsa. Desfaço o que fiz.
Retraço o retrato. Evoco o abstrato
Faço da sombra minha raiz.
Farta de mim, afasto-me
e constato: na arte ou na vida,
em carne, osso, lápis ou giz
onde estou não é sempre
e o que sou é por um triz.

Maria Esther Maciel

Sair

Largar o cobertor, a cama, o
medo, o terço, o quarto, largar
toda simbologia e religião; largar o
espírito, largar a alma, abrir a
porta principal e sair. Esta é
a única vida e contém inimaginável
beleza e dor. Já o sol,
as cores da terra e o
ar azul – o céu do dia –
mergulharam até a próxima aurora; a
noite está radiante e Deus não
existe nem faz falta. Tudo é
gratuito: as luzes cinéticas das avenidas,
o vulto ao vento das palmeiras
e a ânsia insaciável do jasmim;
e, sobre todas as coisas, o
eterno silêncio dos espaços infinitos que
nada dizem, nada querem dizer e
nada jamais precisaram ou precisarão esclarecer.

Antonio Cicero

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Sou guardião dos dias

Georgina de Albuquerque

Sou guardião dos dias
em que se mascava o fumo da algibeira,
e o tecido escorria pelas mãos das tecelãs.
Comia, faminto, a maçaroca dos tachos,
recontava, aflito, o rebanho nos pastos,
percebia a prenha, o piolho e a inanição.

Aprendiz de um tempo novo,
persigo ruas e luas
(nuas!...)
E nunca entendo a vida,
enquanto versus morte,
pretendo ir ao sul e quando atinjo é norte,
se dou início, encontro-me no fim.
O aconchego que agasalha a alma:
onde o sono tranquilo,
a vastidão que acalma,
e o céu pintado, azul-anil?

Aprendiz de um tempo novo,
nem tudo que escutei eu realmente ouvi
pra onde olhei, muito pouco eu vi.
Parece que retenho o que persigo em mim...
os passos que aguardo,
as sombras de que necessito,
o som que me enternece,
enquanto a noite cresce
no futuro que há de vir.

Criança minha, que o destino há de parir,
aguardo a virada dos dias,
prometo acolhê-la e sorrir.
O novo está mais velho
e ainda assim sou aprendiz,
apesar de todo o tanto que já fiz !...


Georgina de Albuquerque (1885-1962)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A Lebre e a Tartaruga

August Macke
“Apostemos, disse à lebre
A tartaruga matreira,
Que eu chego primeiro ao alvo
Do que tu, que és tão ligeira!”

Dado o sinal da partida,
Estando as duas a par,
A tartaruga começa
Lentamente a caminhar.

A lebre tendo vergonha
De correr diante dela,
Tratando uma tal vitória
De peta ou de bagatela,

Deita-se, e dorme o seu pouco;
Ergue-se, e põe-se a observar
De que parte corre o vento,
E depois entra a pastar;

Eis deita uma vista de olhos
Sobre a caminhante sorna,
Inda a vê longe da meta,
E a pastar de novo torna.

Olha; e depois que a vê perto,
Começa a sua carreira;
Mas então apressa os passos
A tartaruga matreira.

À meta chega primeiro,
Apanha o prémio apressada,
Pregando à lebre vencida
Uma grande surriada.

Não basta só haver posses
Para obter o que intentamos;
É preciso pôr lhe os meios,
Quando não, atrás ficamos.

O contendor não desprezes
Por fraco, se te investir;
Porque um anão acordado
Mata um gigante a dormir.

Curvo Semedo (1766-1838)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Dia de Santo Antonio

Domenico Ghirlandaio

(Lisboa, 15 de Agosto de 1195 - Pádua, 13 de Junho de 1231), foi um Doutor da Igreja que viveu na viragem dos séculos XII e XIII.
Primeiramente foi frade agostiniano, tendo ingressado como noviço (1210) no Convento de São Vicente de Fora, em Lisboa, indo posteriormente para o Convento de Santa Cruz, em Coimbra, onde fez seus estudos de Direito. Tornou-se franciscano em 1220 e viajou muito, vivendo inicialmente em Portugal, depois na Itália e na França.
Santo António viveu na primeira metade do século XIII, em plena Idade Média. Desenvolviam-se os burgos e uma nova classe social de artesãos, mercadores, banqueiros, notários e médicos ascendia na sociedade e no poder: a burguesia.
Na Europa formavam-se as nacionalidades sob a égide do Sacro Império e os exércitos dos anglos, francos e germanos, dominados pelo espírito da cruzada, combatiam os turcos muçulmanos na Terra Santa.
Na primavera de 1221, dirigindo-se para Assis. Em Assis encontrou-se com Francisco e os seus primeiros seguidores, um evento de grande importância em sua carreira. Sendo designado para um eremitério em Montepaolo, na província da Romagna, ali passou cerca de quinze meses em intensas meditações e árduas disciplinas.
Até então os franciscanos não sabiam de sua sólida formação, mas faltando o pregador para a cerimônia, e não havendo nenhum frade preparado para tal, o provincial solicitou a Antônio que falasse o que quer que o Espírito Santo o inspirasse. Protestou, mas obedeceu, e dissertando para os franciscanos e dominicanos lá reunidos de forma fluente e admirável, para a surpresa de todos, foi de imediato destinado pelo provincial à evangelização.
Em 1227 foi indicado provincial da Romagna e passou os três anos seguintes pregando na região, incluindo Pádua, para audiências cada vez maiores. Nesse período colocou por escrito diversos sermões. Em 1230 solicitou ao papa dispensa de suas funções como provincial para dedicar-se à pregação, reservando algum tempo para a contemplação e prece no mosteiro que havia fundado em Pádua.
Pouco depois da Páscoa de 1231 sentiu-se mal, declarou-se hidropisia e ele deixou Pádua para dirigir-se ao eremitério de Camposanpiero, nos arredores da cidade. Seus companheiros ergueram lhe uma cabana no alto de uma árvore, onde permaneceu alguns dias. Percebendo que a morte estava próxima, pediu para ser levado de volta a Pádua, mas apenas tendo alcançado o convento das clarissas de Arcella, ali faleceu, em 13 de junho de 1231.
No Brasil, onde o santo tem muitos devotos, é também frequentemente reverenciado como Santo Antônio, o Casamenteiro.
O Santo é também padroeiro da cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e de Patos de Minas, Rio Acima e Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais, onde seu dia é feriado municipal.
Em São Paulo, há muitas igrejas em homenagem ao santo, e ao menos duas catedrais, em Osasco, que guarda uma relíquia do santo em Lins, no interior do estado.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Dia dos Namorados

Federico Andreotti
O amor, quando se revela,
não se sabe revelar.
Sabe bem olhar para ela,
mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente.
Cala: parece esquecer.

Ah, mas se ela adivinhasse,
se pudesse ouvir o olhar,
e se um olhar lhe bastasse
pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
quem quer dizer quanto sente
fica sem alma nem fala,
fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
o que não lhe ouso contar,
já não terei que falar-lhe
porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa (1888-1935)

Há lembranças que matam

Henri Rousseau
Há lembranças que matam
Há bosques onde os amados vivem para sempre

Há um cutelo de água nas fontes
quando as palavras voam para muito longe

Há a noite
e os cães que dormem em cordas de sono
em vogais de vento e abandono

Há barcos que deslizam no horizonte
muito lentamente
e as estrelas descem por dentro dos mastros
na noite

Há uma orquídea azul que se suicida
onde começa o teu nome.

Maria Azenha