Georgina de Albuquerque
Sou guardião dos dias
em que se mascava o fumo da algibeira,
e o tecido escorria pelas mãos das tecelãs.
Comia, faminto, a maçaroca dos tachos,
recontava, aflito, o rebanho nos pastos,
percebia a prenha, o piolho e a inanição.
Aprendiz de um tempo novo,
persigo ruas e luas
(nuas!...)
E nunca entendo a vida,
enquanto versus morte,
pretendo ir ao sul e quando atinjo é norte,
se dou início, encontro-me no fim.
O aconchego que agasalha a alma:
onde o sono tranquilo,
a vastidão que acalma,
e o céu pintado, azul-anil?
Aprendiz de um tempo novo,
nem tudo que escutei eu realmente ouvi
pra onde olhei, muito pouco eu vi.
Parece que retenho o que persigo em mim...
os passos que aguardo,
as sombras de que necessito,
o som que me enternece,
enquanto a noite cresce
no futuro que há de vir.
Criança minha, que o destino há de parir,
aguardo a virada dos dias,
prometo acolhê-la e sorrir.
O novo está mais velho
e ainda assim sou aprendiz,
apesar de todo o tanto que já fiz !...
Georgina de Albuquerque (1885-1962)
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