Rua Major Sólon, Campinas, SP, 1907. Casa da Viúva Amêndola
Quem passa diariamente pela Rua Major Sólon não imagina a quantidade de água que passa por baixo do asfalto e das casas da região.
Onde hoje existe um posto de gasolina, na esquina com a Avenida Anchieta, havia uma bica, que era conhecida como “Bica do Juca Aleijado”. Na época, a água da bica era utilizada para o abastecimento diário das moradias da vila.
Atualmente, a água ainda passa por lá, mas canalizada. “Se você cavar meio metro de qualquer ponto do chão aqui, sai muita água”, conta Arquimedes dos Santos, funcionário do posto há cinquenta anos.
A maioria da rua é tomada por prédios e casas. O hotel Cambuí Hotel Residence é procurado pela tranquilidade e fácil localização. “Os hóspedes gostam daqui porque é perto do Centro, além de ser calmo”, conta o recepcionista Adriano, que trabalha há sete anos na Rua Major Sólon.
Hoje, a rua liga pontos do Centro de Campinas, atravessando o bairro Cambuí. Entre o final do século XVIII e o início do século XIX, ela era conhecida por ligar Campinas às cidades e vilas vizinhas, pelo caminho dos Goiases. Com o passar do tempo, a via já teve pelo menos cinco nomes. Começou com Rua de Mogi, por conduzir os moradores para a Vila de Mogi Mirim. Depois, com o desenvolvimento do Largo Santa Cruz e a implantação do comércio na região, a via começou a ser usada pelos trabalhadores da região. Para alcançar o largo, as pessoas precisavam atravessar o riacho do Tanquinho (que hoje segue o direcionamento da Avenida Anchieta). Por esse motivo, a rua ficou conhecida como Rua do Rio.
Em meados do século XIX, uma ponte foi construída com pranchões de madeira no local da travessia do riacho, exatamente onde se cruzam a Rua Major Sólon e a Avenida Anchieta. A rua ficou então conhecida como Rua da Ponte do Rio, e a ponte como “Ponte de Santa Cruz”.
Essa frequência de areeiros no ritual do último trago, cruzando com a tagarelice das comadres lavadeiras que marcavam ponto bem ali próximo também, na boca do Juca Aleijado, perto da ponte de Santa Cruz, na baixada da antiga Rua do Rio, depois Rua da Ponte (atual Rua Major Sólon, no cruzamento da atual Av. Anchieta), onde justamente havia uma ponte de madeira, sobre o córrego do Tanquinho, que, aliás, dera o nome à rua, acabaram por tornar mal afamada aquela área num dos extremos da cidade. Um dos espaços públicos malditos de Campinas, que não demorará, como veremos, em transformar-se também num espaço mágico.
O próprio largo de Santa Cruz (Praça XV de novembro) era também conhecido como largo da Forca. Também pudera, existira outrora naquele local um patíbulo, ali construído para o enforcamento do escravo cabinda Elesbão, o que se deu em 9 de dezembro de 1835.
Elesbão, segundo o inquérito de 11 de agosto de 1831, era um negro africano, pertencente à nação cabinda, solteiro, escravo e fugitivo que vivia em um quilombo formado por escravos fugidos do engenho Romão, de propriedade do capitão Luiz José de Oliveira. A versão contada pelas autoridades é de que Elesbão e Narciso teriam matado o Capitão Luiz José de Oliveira, no dia 20 de Maio de 1831, na beira de um córrego.
A pedido Câmara de vereadores de Campinas da época, ELesbão e Narciso foram julgados e então condenados à morte. Narciso foi executado no dia 24 de maio de 1833, em São Paulo. Elesbão foi executado em 9 de dezembro de 1835 em Campinas, após cortejo saído da Cadeia Velha (atual Praça Bento Quirino) e composto pelas autoridades públicas, o Réu, o Vigário, o Sacristão, o Carrasco, a Infantaria da Guarda Nacional e os Soldados da Cavalaria. A população local também estava presente, além de vários escravos enviados por seus senhores para assistirem à execução no Largo Santa Cruz.
Elesbão foi enforcado, desmembrado e colocado em exposição como exemplo de alerta e ameaça aos quilombolas e libertadores. Para os que lutam por igualdade e justiça, Elesbão tornou-se um símbolo de resistência.
Em 1846, Campinas despontava no cenário nacional, pela alta produção de café. O Imperador Dom Pedro II veio então visitar a cidade. Em 1848, a Câmara de Vereadores resolveu batizar a via como Rua do Imperador, em homenagem a essa visita. Um mês depois, quando foi confirmado que Dom Pedro nem sequer passou por lá, o nome da rua mudou para Rua da Ponte.
O nome oficial de Rua Major Sólon veio em homenagem aos serviços que este prestou à nação brasileira. Na época, Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro, natural de Porto Alegre (RS), fazia parte da campanha republicana.
Como tenente do exército imperial brasileiro, ele participou da Guerra do Paraguai. Com o advento da República, Sólon ficou responsável por intimar Dom Pedro II a deixar o país com toda a família imperial.
Em 25 de novembro de 1889, a rua recebeu seu nome. Ele ainda estava vivo para receber a homenagem.
Só pra lembrar Major Sólon era pai de Ana Solon de Assis esposa de Euclides da Cunha que protagonizou o escândalo de traição culminado com o assassinato do escritor.
| Fonte:
Livro: - "A cidade: os cantos e os antros":
Campinas, 1850-1900S
Autor: José Roberto do Amaral Lapa |