quinta-feira, 31 de março de 2011

Haikai

Fecho um livro
vou à janela
a noite é enorme

Carol Lebel

Poesia

“O que é importante é a história.
Porque quando todos nós formos pó,
- dentes e pedaços de pele-
quando estivermos a dançar com
os nossos próprios esqueletos- as nossas
palavras poderão ser tudo o que restará de nós.”

Alexandra Fuller

quarta-feira, 30 de março de 2011

Quem fez ao sapo o leito carmesim

Quem fez ao sapo o leito carmesim
De rosas desfolhadas à noitinha?
E quem vestiu de monja a andorinha,
E perfumou as sombras do jardim?

Quem cinzelou estrelas no jasmim?
Quem deu esses cabelos de rainha
Ao girassol? Quem fez o mar? E a minha
Alma a sangrar? Quem me criou a mim?

Quem fez os homens e deu vida aos lobos?
Santa Tereza em místicos arroubos?
Os monstros? E os profetas? E o luar?

Quem nos deu asas para andar de rastros?
Quem nos deu olhos para ver os astros?
- Sem nos dar braços para os alcançar?

Florbela Espanca (1894-1930)

terça-feira, 29 de março de 2011

Fofoca na arte

Albert Eckhout (1610-1666)- Dança Tapuia
Diego Rivera (1866-1957)
Alfredo Volpi (1896-1988)
Observem que nas três obras acima tem duas mulheres fazendo fofoca. É assim na vida, algumas pessoas mal esperam você sair de perto e já vão fazer "burburinhos".

segunda-feira, 28 de março de 2011

Em todas as janelas me debruço

Vicente Romero Redondo
Em todas as janelas me debruço,
em todos os abismos
estendo uma corda
e caminho sobre o nada.
Também ando sobre as águas,
subo em nuvens,
galgo intermináveis escadas.
Abro todas as portas
e cavernas com um sopro
ou três palavras mágicas.
Mergulho em torvelinhos,
danço no meio do vento,
pulo dentro da tempestade.
Em cada encruzilhada me sento
e tento arrumar o destino,
estranho castelo de areia.

Roseana Murray

A Cruz

Estrelas
Singelas,
Luzeiros
Fagueiros,
Esplêndidos orbes, que o mundo aclarais!
Desertos e mares, - florestas vivazes!
Montanhas audazes que o céu topetais!
Abismos
Profundos!
Cavernas
E t e r nas!
Extensos,
Imensos
Espaços
A z u i s!
Altares e tronos,
Humildes e sábios, soberbos e grandes!
Dobrai-vos ao vulto sublime da cruz!
Só ela nos mostra da glória o caminho,
Só ela nos fala das leis de - Jesus!

Fagundes Varela (1841-1875)

domingo, 27 de março de 2011

Dilma


A presidente da República, Dilma Rousseff, recebeu na noite da última sexta-feira (25) um grupo de atrizes e mulheres cineastas no cinema do Palácio da Alvorada. Durante o evento, foi exibido o filme "É Proibido Fumar", de Anna Muylaert. Após o longa, houve um jantar em comemoração ao mês da mulher.
Ao contrário de Mônica Bergamo que achou "estranho" a atriz Glória Pires pedir autógrafo para a presidente, eu acho que não é pouca coisa uma mulher que foi torturada tornar-se presidente. Isso é muito digno. Pena que a Imprensa tem todas essa resistência.

sábado, 26 de março de 2011

Águia

W. E. Garrett
“O gênio é como a águia:
quanto mais se eleva menos visível se torna,
e vê castigada a sua grandeza pela
solidão em que se lhe encontra a alma”.

Jean Racine

Lenda Celta

Segundo uma lenda celta,
as margaridas se formaram do espírito das crianças
que morriam após o nascimento.
Essa é a razão pela qual a flor possui aspecto tão inocente.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Alma gêmea

Alma gêmea da minh'alma,
Flor de luz da minha vida,
Sublime estrela caída
Das belezas da amplidão!...

Quando eu errava no mundo,
Triste e só no meu caminho,
Chegaste, devagarinho,
E encheste-me o coração.

Vinhas na bênção dos deuses,
Na divina claridade,
Tecer-me a felicidade
Em sorrisos de esplendor!...

És meu tesouro infinito,
Juro-te eterna aliança,
Porque sou tua esperança,
Como és todo o meu amor!

Alma gêmea da Minh alma,
Se eu te perder, algum dia,
Serei a escura agonia
Da saudade nos seus véus...

Se um dia me abandonares,
Luz terna dos meus amores,
Hei de esperar-te, entre as flores
Da claridade dos céus...

Públio Lêntulus para Lívia.

quinta-feira, 24 de março de 2011

o Ano Internacional das Florestas

Segundo dados do Pnuma – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, as florestas representam 31% da cobertura terrestre do planeta, servindo de abrigo para 300 milhões de pessoas de todo o mundo e, ainda, garantindo, de forma direta, a sobrevivência de 1,6 bilhões de seres humanos e 80% da biodiversidade terrestre. Em pé, as florestas são capazes de movimentar cerca de $ 327 bilhões todos os anos, mas infelizmente as atividades que se baseiam na derrubada das matas ainda são bastante comuns em todo o mundo.
Para sensibilizar a sociedade para a importância da preservação das florestas para a garantia da vida no planeta, a ONU – Organização das Nações Unidas declarou que 2011 será, oficialmente, o Ano Internacional das Florestas.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Poesia chinesa antiga

Wang Wei

Vem beber um copo e descansar,
os homens mudam sempre, como as ondas do mar.
Nós dois temos envelhecido juntos,
apesar dos reveses, continuamos vivos.
O primeiro a habitar uma casa de portões escarlates
pode sorrir, ao olhar os outros de chapéu na mão.
Tu sabes, basta um pouco de chuva
para reverdecer a erva dos caminhos.
O vento da Primavera é ainda frio
mas os botões das flores quase desabrocharam.
Por que tanta pergunta, tanta luta,
os negócios do mundo, as nuvens flutuantes?
Descansa, deixa fluir a vida,
e vem jantar comigo.

Wang Wei (701-761)
Wang Wei (701-761) foi um pintor, calígrafo, poeta, e estadista chinês da Dinastia Tang. Também foi conhecido como o "Poeta de Buda".

terça-feira, 22 de março de 2011

O bloqueio econômico sobre Cuba

O bloqueio econômico sobre Cuba começou no dia 7 de fevereiro de 1962 no governo John Kennedy, em resposta ao alinhamento de Cuba com a União Soviética em plena guerra fria. De acordo com o governo cubano, as restrições comerciais e financeiras representaram perdas à economia cubana de US$ 96 bilhões desde então.
A Guerra Fria acabou na década de 90, mas os Estados Unidos continuam com a mesma pratica repressora, inclusive com o presidente Barak Obama.

Aliás, esta semana a revista alemã Die Spiegel publicou fotos de soldados americanos, posando ao lado de cadáveres de civis afegãos assassinados por eles. Estão euforicamente rindo "debochando" de suas vítimas.
Ai a Hillary Clinton diz que nos EUA não fazem tortura.....
Imaginem se fizessem.

PS: A minha simpatia por Kadafi é ZERO. Mas não entendo o critério que leva a maior parte da comunicação social a considerar que a morte de civis numa guerra, causada por uma das partes, é um ato criminoso e, a causada por outra das partes, como "danos colaterais".

Arrasta-me

Illustration Of The Nina, Pinta is a photograph by Bettmann
Arraste-me numa caravela,
Numa velha e doce caravela,
Na roda de proa, ou se venta, na espuma,
E me faça naufragar, lá longe, longe.

Na atrelagem de uma outra época.
No aveludado engodo da neve.
No fôlego daqueles cães reunidos.
Na tropa extenuada das folhas mortas.

Arraste-me sem me quebrar, aos beijos,
Sobre os tapetes de palmas e seus sorrisos,
Nos corredores dos ossos longos, e das articulações.

Arraste-me, ou antes sepulte-me.

Henri Michaux (1899-1984)
Tradução: Leonardo de Magalhaens

segunda-feira, 21 de março de 2011

Obama no Brasil

Uma visita marcada por mais uma guerra
A marca da visita não está dada por nenhum pronunciamento ou acordo assinado aqui, mas pelo cenário do bombardeio da Líbia, com a sempre falsa justificativa de que fazem para defender os civis do país. Mesmo no plano do discurso, dos acordos e do seu itinerário, a visita foi decepcionante. Nos discursos, ele fez o mínimo possível de concessões: depois de ter apoiado expressamente a Índia para ingressar no Conselho de Segurança da ONU, fez apenas uma menção simpática ao Brasil – “apreço” -, longe do compromisso com o pais asiático. Os EUA não cumpriram com sua parte nos novos acordos comerciais e Obama tenta justificar a postura com a crise econômica, que dificultaria abrir o mercado dos EUA. Não havia nenhum sintoma de que anunciaria o fim do bloqueio a Cuba ou qualquer outra medida progressista, como seus pronunciamentos confirmaram.
Obama não trouxe o Ministro de Energia, como estava planejado, diminuindo as possibilidades de acordos nessa área. Rejeitou o convite para um jantar reservado com Dilma em Brasília, onde ficou apenas algumas horas, partindo rapidamente para o Rio. Aqui, fez programas familiares no jantar, na visita ao Corcovado e a Cidade de Deus. A suspensão do comício na Candelária – que tranquilizou o governo, que não via com bons olhos a operação – levou a um discurso no Teatro Municipal, onde houve mais seguranças, policiais e escoltas do que público.
Sua passagem – cujo aspecto mais importante foi o de que, pela primeira vez, um presidente empossado no Brasil é visitado por um presidente norteamericano, ao invés de ir visitá-lo – deixa uma imagem frágil, de pouca transcendência, de mais um presidente dos EUA que não somente não deixa um cenário de guerra – o Iraque – como prometido, como leva seu país, no momento da sua viagem, a mais uma.

Emir Sader
Na verdade, a economia dos EUA está um caos e com a guerra na Líbia ele venderá armas e com isso aeconomia dos EUA melhorará.
Moral: Dane-se as pessoas o que importa é ganhar dinheiro. Essa é a "filosofia", ou "os valores" dos norte-americanos.

Poema de Du Fu

Paul Gauguin

“Tu escreves como o pássaro canta. Teu gorjeio? Versos.
Se não cantasses, as manhãs seriam menos vermelhas e
os crepúsculos menos azuis.
Quando a embriaguez te inspira, os Imortais inclinam-
se das nuvens para te escutarem, o tempo suspende seu
vôo, o bem-amado esquece a bem-amada.
Tu és o Sol e nós, os outros poetas, somos apenas estrelas.
Acolhe, ó meu amigo, o balbucio do meu respeito!”.

Du Fu (712-770)
Tradução: Cecília Meireles

É considerado o maior poeta chinês. Viveu durante a dinastia Tang (618-907), nascido de uma família de classe alta, perto da capital Chang'an, descendente do oficial da dinastia Jin Du Yu. Como poeta, sobressaiu-se em todas as formas de versos e caracterizou-se pela linguagem rica e variada, pelo magnífico domínio das regras da métrica e pelo profundo sentimento de humanidade.

domingo, 20 de março de 2011

Contos de Amor Rasgado

Assim que anoiteceu, saiu para pescar.
Peixes não, estrelas.
Afastou-se da casa, atravessou um campo até o seu limite.
Na linha do horizonte, sentado à beira do céu,
abriu a caixa das frases poéticas que havia trazido como iscas.
Escolheu a mais sonora, prendeu-a firmemente na rebarba luzidia.
Depois, pondo-se de cabeça para baixo, lançou a linha no imenso azul,
deixando desenrolar todo o molinete.
E, paciente, enquanto a Lua avançava sem mover ondas,
começou a longa espera de que uma estrela
viesse morder o seu anzol.

Marina Colasanti

sábado, 19 de março de 2011

As asas da minh'alma estão abertas

Ando Hiroshige
As asas da minh'alma estão abertas!
Podes te agasalhar no meu Carinho,
Abrigar-te de frios no meu Ninho
Com as tuas asas trêmulas, incertas.

Tu'alma lembra vastidões desertas
Onde tudo é gelado e é só espinho.
Mas na minh'alma encontrarás o Vinho
e as graças todas do Conforto certas.

Vem! Há em mim o eterno Amor imenso
Que vai tudo florindo e fecundando
E sobe aos céus como sagrado incenso.

Eis a minh'alma, as asas palpitando
Com a saudade de agitado lenço
o segredo dos longes procurando...

Cruz e Sousa (1861 -1898)
Cruz e Sousa morreu com 37 anos em 19 de março de 1898.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Charge

A História do morango

A história do morango pode ser considerada uma longa trajetória em busca do aprimoramento do sabor e do prazer. Segundo conta Pio Corrêa, embora existam espécies de morangos nativas na maioria das regiões temperadas, os frutos cultivados atualmente provêm do cruzamento e da união de várias espécies, entre as quais algumas encontradas apenas sob a forma silvestre nas Américas.
Embora, por toda a Europa, existam registros de que diferentes espécies de morangos silvestres já eram conhecidos e apreciados desde os tempos mais antigos, presume-se que essas frutas tenham sido levadas para cultivo em hortas caseiras apenas por volta do século XV. No entanto, apesar de fornecerem frutos de excelente qualidade e notável aroma, os morangos de então eram pequenos e sua produção era bastante irregular.
Este morango silvestre prosseguiu ainda por algum tempo deliciando e, ao mesmo tempo, frustrando aqueles que gostariam de poder prová-los em abundância, até que os colonizadores europeus chegaram à América do Norte. Ali encontraram uma espécie de morangueiro nativo extraordinariamente vigoroso e produtivo, que, logo no início do século XVII, foi levado para o continente europeu.
Um século depois, um novo e feliz encontro: mais ao sul, nas terras que hoje pertencem ao Chile, os colonizadores se depararam com uma outra espécie nativa, de maior tamanho, que há muito tempo já era cultivada pelos indígenas da terra, que foi também levada para a Europa.
Pio Corrêa acredita que o cruzamento casual entre estas diferentes espécies de Fragaria nos viveiros europeus originou as matrizes das inúmeras variedades de morangos que se conhecem hoje em dia.
Estes morangos, melhorados, voltaram mais tarde para a América para participar, na metade do século XX, nos Estados Unidos, dos primeiros estudos e experimentos objetivando a melhoria genética de espécies fruteiras de que se tem notícia na América. Ainda para o mesmo autor, não se tratava simplesmente de um aperfeiçoamento sensacional dos morangos', mas sim do verdadeiro "resultado de um esforço definitivo de genética".
Atualmente, no Brasil como em quase todo o mundo, existem inúmeras variedades diferentes de morangos sendo cultivadas e, em geral, utilizam-se as mais adaptadas localmente. O Estado de São Paulo destaca-se como o maior produtor de morangos do país, sendo o extremo sul de Minas Gerais também um polo considerável de cultivo da fruta.
Fonte: Escola do Futuro - USP.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Lua Cheia

William Turner

Solitária, a lua cheia suspensa
sobre uma casa na margem do rio.
Debaixo da ponte corre a água noturna
Está vivo o ouro derramado no rio
O meu cobertor brilha mais que seda preciosa
As montanhas silenciosas sem ninguém
O círculo sem mácula - a lua
gira entre as constelações.
Floresce uma árvore
A mesma glória banha dez mil léguas.

Du Fu (712-770)
Tradução: Cândido Viveiros
É considerado o maior poeta chinês. Viveu durante a dinastia Tang (618-907), nascido de uma família de classe alta, perto da capital Chang'an, descendente do oficial da dinastia Jin Du Yu. Como poeta, sobressaiu-se em todas as formas de versos e caracterizou-se pela linguagem rica e variada, pelo magnífico domínio das regras da métrica e pelo profundo sentimento de humanidade.

Monumento aos Heróis da Laguna

Na Rua Major Sólon fica a homenagem de Campinas aos soldados que passaram por aqui antes de ir para a guerra. Ao lado da praça XV de Novembro, que fica no Largo Santa Cruz, pode ser visto um monumento (uma pedra) que marca o lugar exato onde acamparam cerca de 1700 soldados, por volta de 1865.
Na época, Brasil, Argentina e Uruguai se uniram para combater o Paraguai, na guerra que ficou conhecida como Guerra da Tríplice Aliança. Quando o estado do Mato Grosso do Sul foi invadido pelos paraguaios, o governo brasileiro enviou o exército para expulsá-los.
Parte do exército saiu de Santos e acampou em Campinas. Chegando ao seu destino, a tropa se deparou com falta de alimentos, clima instável e doenças, além da própria batalha. Então, o exército decidiu se retirar de lá, para salvar o máximo de vidas possíveis – o episódio ficou conhecido como “retirada da Laguna”.
A homenagem feita na praça chama os soldados de “Heróis de Laguna” por tudo que enfrentaram.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Ciprestes de Van Gogh

Ciprestes de Van Gogh
Imóveis labaredas
verdes incêndios sobre a tela
verdes mulheres nuas
em seus cabelos.
Ciprestes de Van Gogh
bizantinas colunas
da paisagem
vórtice
remoinho erguido
como o grito
o fallus
o arremesso de gozo
do pintor.

Marina Colasanti

segunda-feira, 14 de março de 2011

Rua Major Sólon - Campinas

Rua Major Sólon, Campinas, SP, 1907. Casa da Viúva Amêndola
Quem passa diariamente pela Rua Major Sólon não imagina a quantidade de água que passa por baixo do asfalto e das casas da região.
Onde hoje existe um posto de gasolina, na esquina com a Avenida Anchieta, havia uma bica, que era conhecida como “Bica do Juca Aleijado”. Na época, a água da bica era utilizada para o abastecimento diário das moradias da vila.
Atualmente, a água ainda passa por lá, mas canalizada. “Se você cavar meio metro de qualquer ponto do chão aqui, sai muita água”, conta Arquimedes dos Santos, funcionário do posto há cinquenta anos.
A maioria da rua é tomada por prédios e casas. O hotel Cambuí Hotel Residence é procurado pela tranquilidade e fácil localização. “Os hóspedes gostam daqui porque é perto do Centro, além de ser calmo”, conta o recepcionista Adriano, que trabalha há sete anos na Rua Major Sólon.
Hoje, a rua liga pontos do Centro de Campinas, atravessando o bairro Cambuí. Entre o final do século XVIII e o início do século XIX, ela era conhecida por ligar Campinas às cidades e vilas vizinhas, pelo caminho dos Goiases. Com o passar do tempo, a via já teve pelo menos cinco nomes. Começou com Rua de Mogi, por conduzir os moradores para a Vila de Mogi Mirim. Depois, com o desenvolvimento do Largo Santa Cruz e a implantação do comércio na região, a via começou a ser usada pelos trabalhadores da região. Para alcançar o largo, as pessoas precisavam atravessar o riacho do Tanquinho (que hoje segue o direcionamento da Avenida Anchieta). Por esse motivo, a rua ficou conhecida como Rua do Rio.
Em meados do século XIX, uma ponte foi construída com pranchões de madeira no local da travessia do riacho, exatamente onde se cruzam a Rua Major Sólon e a Avenida Anchieta. A rua ficou então conhecida como Rua da Ponte do Rio, e a ponte como “Ponte de Santa Cruz”.
Essa frequência de areeiros no ritual do último trago, cruzando com a tagarelice das comadres lavadeiras que marcavam ponto bem ali próximo também, na boca do Juca Aleijado, perto da ponte de Santa Cruz, na baixada da antiga Rua do Rio, depois Rua da Ponte (atual Rua Major Sólon, no cruzamento da atual Av. Anchieta), onde justamente havia uma ponte de madeira, sobre o córrego do Tanquinho, que, aliás, dera o nome à rua, acabaram por tornar mal afamada aquela área num dos extremos da cidade. Um dos espaços públicos malditos de Campinas, que não demorará, como veremos, em transformar-se também num espaço mágico.
O próprio largo de Santa Cruz (Praça XV de novembro) era também conhecido como largo da Forca. Também pudera, existira outrora naquele local um patíbulo, ali construído para o enforcamento do escravo cabinda Elesbão, o que se deu em 9 de dezembro de 1835.

Elesbão, segundo o inquérito de 11 de agosto de 1831, era um negro africano, pertencente à nação cabinda, solteiro, escravo e fugitivo que vivia em um quilombo formado por escravos fugidos do engenho Romão, de propriedade do capitão Luiz José de Oliveira. A versão contada pelas autoridades é de que Elesbão e Narciso teriam matado o Capitão Luiz José de Oliveira, no dia 20 de Maio de 1831, na beira de um córrego.
A pedido Câmara de vereadores de Campinas da época, ELesbão e Narciso foram julgados e então condenados à morte. Narciso foi executado no dia 24 de maio de 1833, em São Paulo. Elesbão foi executado em 9 de dezembro de 1835 em Campinas, após cortejo saído da Cadeia Velha (atual Praça Bento Quirino) e composto pelas autoridades públicas, o Réu, o Vigário, o Sacristão, o Carrasco, a Infantaria da Guarda Nacional e os Soldados da Cavalaria. A população local também estava presente, além de vários escravos enviados por seus senhores para assistirem à execução no Largo Santa Cruz.
Elesbão foi enforcado, desmembrado e colocado em exposição como exemplo de alerta e ameaça aos quilombolas e libertadores. Para os que lutam por igualdade e justiça, Elesbão tornou-se um símbolo de resistência.

Em 1846, Campinas despontava no cenário nacional, pela alta produção de café. O Imperador Dom Pedro II veio então visitar a cidade. Em 1848, a Câmara de Vereadores resolveu batizar a via como Rua do Imperador, em homenagem a essa visita. Um mês depois, quando foi confirmado que Dom Pedro nem sequer passou por lá, o nome da rua mudou para Rua da Ponte.
O nome oficial de Rua Major Sólon veio em homenagem aos serviços que este prestou à nação brasileira. Na época, Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro, natural de Porto Alegre (RS), fazia parte da campanha republicana.
Como tenente do exército imperial brasileiro, ele participou da Guerra do Paraguai. Com o advento da República, Sólon ficou responsável por intimar Dom Pedro II a deixar o país com toda a família imperial.
Em 25 de novembro de 1889, a rua recebeu seu nome. Ele ainda estava vivo para receber a homenagem.

Só pra lembrar Major Sólon era pai de Ana Solon de Assis esposa de Euclides da Cunha que protagonizou o escândalo de traição culminado com o assassinato do escritor.

Fonte:
Livro: - "A cidade: os cantos e os antros":
Campinas, 1850-1900S
Autor: José Roberto do Amaral Lapa

domingo, 13 de março de 2011

Temos que nos habituar

Marc Chagall
Há duas coisas a que temos de nos habituar,
sob pena de acharmos a vida insuportável:
• as injúrias do tempo e
• as injustiças dos homens.

Nicolas Chamfort (1741-1794)