sábado, 30 de outubro de 2010

Momento Fofoca ...

Notícia que a Mônica Bergamo NÃO daria: O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a Ministra Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal, foram vistos, de mãos dadas a passear pelo Shopping Higienópolis.
Se este potin (como diria o FHC) se confirmar, estamos diante de fato político de relevância Suprema.
Claro que o amor é livre e, por isso, sublime. As pessoas, podem ir e vir e até, no ritmo frenético da cópula. Sagrado direito.
No entanto, a liturgia do cargo, no caso da Magistrada Gracie, não. Não com Ele, agente de tantas transformações, alguns avanços e tantos retrocessos, esses, questionados no STF e ora, julgados pela parceira.

A Prática Psicanalítica Hoje

Lasar Segall - Família
O psicanalista francês Charles Melman, foi íntimo colaborador de Jacques Lacan (1901-1981), o principal herdeiro de Sigmund Freud na França. Atento observador da realidade contemporânea, Melman usa os conceitos da psicanálise para interpretar as mudanças em curso na sociedade atual, como a dissolução do núcleo familiar.
“Pela primeira vez na história, a instituição familiar está desaparecendo, e as consequências são imprevisíveis. Impressiona que antropólogos e sociólogos não se interessem por isso”, diz. Ele trata do assunto em seu mais recente livro, “A Prática Psicanalítica Hoje”.
“Uma palavra pode ter seu sentido e seu contrário,
a língua não cessa de decidir de outra forma”.

(Charles Melman)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Parlamento derrubou planos de D. Pedro I de restringir a liberdade de imprensa

D. Pedro I vivia em guerra com os jornais que criticavam o seu Governo. Das 12 ocasiões em que discursou no Parlamento, em duas o imperador cobrou dos senadores e deputados uma lei que reduzisse a liberdade de imprensa e lhe permitisse punir e calar as “folhas” oposicionistas.
— O abuso da liberdade de imprensa, que infelizmente se tem propagado com notório escândalo por todo o Império, reclama a mais séria atenção da assembleia. É urgente reprimir um mal que não pode deixar em breve de trazer após de si resultados fatais — afirmou D. Pedro I em 1829. O imperador pedia a aprovação de um projeto de lei restritivo que havia sido apresentado em 1827, mas vinha sendo levado em banho-maria pelo Parlamento. Diante da cobrança imperial, os parlamentares se viram obrigados a desengavetar essa proposta de Lei de Imprensa.
Documentos históricos hoje guardados no Arquivo do Senado, em Brasília, mostram que o projeto rachou os senadores. Para os governistas, a liberdade desfrutada pelos jornais estava mais para libertinagem e punha em risco a existência do Império recém-fundado (independente em 1822) e ainda não consolidado. Para os senadores oposicionistas, ao contrário, a imprensa livre era um dos requisitos para a sobrevivência da nação.
No fim, a oposição conseguiu barrar o ímpeto autoritário de D. Pedro I. A Lei de Imprensa de 1830 —a primeira do tipo aprovada pelo Parlamento brasileiro— concedeu aos jornais muito mais autonomia do que desejava o monarca.
Trecho do discurso pronunciado por D.Pedro I no Parlamento em 1830:
desejo de amordaçar a imprensa (imagem: Falas do Trono/Biblioteca do Senado)
No Senado, a base governista tentou até o fim evitar a derrota do imperador. — É lícito a cada um mostrar a sua opinião, mas é do nosso dever sustentar este governo e prevenir revoluções. Portanto, devemos castigar a quem atacar — argumentou o senador Carneiro de Campos (BA).
— O governo da Inglaterra é forte e justiceiro — discursou o senador Visconde de Cayru (BA), referindo-se ao grande modelo de Monarquia da época. — Quando há abuso da imprensa, o escritor é punido com pesada multa. Conforme a gravidade do caso, até é desterrado para a Nova Holanda [Austrália], sendo o transporte marítimo a ferros no porão do navio.
Para Cayru e Carneiro de Campos, jornais tendenciosos envenenavam a opinião pública e até poderiam persuadir os cidadãos a pegar em armas contra o governo, levando à dissolução do Império. Os autores de “folhas incendiárias”, portanto, deveriam ser levados ao banco dos réus e exemplarmente castigados.
Os senadores oposicionistas, por sua vez, argumentavam que os jornais não tinham tal poder e tão somente refletiam — e não criavam — a opinião pública. De acordo com esses parlamentares, a imprensa deveria ser o mais livre possível para que o monarca pudesse conhecer os verdadeiros anseios dos súditos e, assim, melhor governar o Brasil.
— A liberdade de imprensa é o esteio e o paládio do governo monárquico constitucional representativo. Sem ela, o governo não pode progredir — afirmou o senador Marquês de Caravelas (BA).
— A liberdade de imprensa é o veículo da felicidade de toda a sociedade, porque daqui é que vêm as luzes a todo o Império — acrescentou o senador Marquês de Queluz (PB). — Havemos nós de pôr uma mordaça ao cidadão? Será justo proibir-se-lhe que fale do governo, conhecendo qualquer defeito, quando das suas reflexões podem resultar melhoramentos? Eu quereria que a lei não punisse o escritor filósofo.
Jornal Astrea faz crítica ao autoritarismo de D. Pedro I
sem citar o nome do imperador (imagem: Biblioteca Nacional Digital)
As tendências despóticas de D. Pedro I já eram explícitas. A sua medida mais rumorosa foi o fechamento arbitrário da Assembleia Constituinte em 1823. O imperador ficou irritado com os termos da Constituição em elaboração, que lhe dava menos poderes do que ele desejava. No ano seguinte, impôs uma Constituição ao seu gosto.
Mesmo com a Constituição de 1824 em pleno vigor, D. Pedro I adiou a convocação do Senado e da Câmara o máximo que pôde. As duas Casas do Parlamento só começariam a funcionar em 1826. Nesse interregno de dois anos, ele pôde comandar o país livremente, sem precisar dividir o governo com o Poder Legislativo.
No vácuo parlamentar, D. Pedro I assinou com Portugal o tratado de reconhecimento da Independência, que previa uma pesada indenização a ser paga pelos brasileiros. Ele também entrou na malfadada Guerra da Cisplatina, ao fim da qual o atual Uruguai conseguiu se libertar do Brasil. Ambos os episódios abalaram profundamente as finanças públicas, o custo de vida, o orgulho nacional e a confiança da população no soberano.
Mesmo quando o Parlamento se formou, o imperador relutou a repartir o poder. Ao escolher os ministros, por exemplo, ele recorria a pessoas do seu círculo de relações, e não a deputados da maioria parlamentar. As elites reagiram escrevendo na imprensa e votando na Câmara contra o monarca.
No início, o Senado não foi palco dessa reação pelo fato de ser naturalmente governista. Enquanto os deputados eram eleitos no voto, os senadores vitalícios eram escolhidos pelo próprio D. Pedro I a partir de uma lista tríplice. Ele, claro, só selecionava gente de sua confiança.
Sem assinar os textos, deputados recorriam aos jornais para disseminar as críticas ao monarca que não ousavam pronunciar da tribuna da Câmara. As leis da época permitiam o anonimato na imprensa.
Como a Constituição estabelecia que a pessoa do imperador era “inviolável e sagrada”, os ataques por texto se davam de forma camuflada. O expediente mais comum era chamá-lo de “tirano”, “déspota” e “absolutista” sem citar o seu nome. Por vezes, a referência direta era a reis de outras nações e outros tempos, como o francês Luís XIV. O contexto, porém, deixava claro que o alvo era D. Pedro I. Os jornais mais atrevidos recorriam à palavra “Poder” — anagrama de “Pedro”.
A imprensa oposicionista também alertava para o risco de o monarca tentar reunificar o Brasil a Portugal e rebaixar o novo Império à velha condição subalterna de Colônia. A hipótese não era de todo fantasiosa. Diante da morte de D. João VI em Lisboa em 1826, D. Pedro I havia despachado sua filha mais velha, D. Maria da Glória, para assumir o trono português, o que deixava os interesses das duas Coroas perigosamente embaralhados.
Nas discussões da Lei de Imprensa de 1830, os senadores governistas sugeriram a punição de quem escrevesse contra o monarca inclusive ataques dissimulados. O Visconde de Cayru discursou:
— Seria nula e irrisória a lei se unicamente punisse os ataques diretos. Só loucos rematados ou pessoas com tédio à vida poderiam publicar impressos em que diretamente afirmassem que se pode desobedecer ao chefe da nação. A esse respeito, os arteiros e temerários só inculcam malignas ironias, alegorias, epigramas, parábolas e romances, que são ainda de maior perigo, espalhando-se pelo vulgo. Muitas vezes, tais ataques indiretos são tão pungentes e evidentes que parecem apontar com o dedo os objetos contra os quais os mal-intencionados dirigem os seu tiros, ainda que os não nomeiem.
Outro ponto defendido pelo apoiadores de uma Lei de Imprensa dura foi a inclusão dos livros entre os escritos passíveis de processo judicial. Em reação, os adversários argumentaram que essa ideia não fazia sentido porque a população do Império era majoritariamente analfabeta —segundo o Censo de 1872, o primeiro do Brasil, não sabiam ler e escrever por volta de 80% das pessoas livres; entre os escravizados, o índice era de 99%. — O livro que tivesse para cima de 100 páginas, este poderia circular. O povo não o lê nem quer que se lhe leia um livro assim. Lê folhas avulsas, e não livros, mormente se são dos que exigem mais aturada reflexão. Portanto, o livro pode muito bem passar, porque à liberdade de imprensa deve dar-se toda a extensão — disse o Marquês de Caravelas.
Apropriando-se justamente do argumento do analfabetismo, os governistas apresentaram outra ideia para tentar calar os adversários de D. Pedro I. Eles pediram que a futura Lei de Imprensa punisse também os desenhos. O senador Saturnino (MT) discursou:
— Quem duvida que pela estamparia se pode fazer, e de fato se tem feito, uso da poderosa arma do ridículo para abater, desacreditar e ainda transtornar os atos do Governo dos quais muitas vezes pode depender a segurança do Estado?
Recorrendo a eufemismos, ele ainda tocou na delicada questão das gravuras pornográficas:
— Quem também duvida que a estamparia fornece o meio de espalhar pinturas indecentes, que corrompem a moral pública, principalmente na mocidade pouco acautelada, e que pela vulgarização de tais estampas se excitam paixões das quais podem resultar grandes males à sociedade?
Charge francesa trata da briga de D. Pedro I com o irmão D. Miguel
pelo trono português: imperador jamais permitiria tal caricatura na imprensa brasileira
(imagem: Honoré Daumier)
Um dos argumentos mais recorrentes dos aliados de D. Pedro I no Senado foi a Revolução Francesa, de 1789, marcada tanto pela convulsão social quanto pelo guilhotinamento do rei e pela derrubada do absolutismo monárquico. Apoiados nesse episódio, os senadores governistas sugeriram que a Lei de Imprensa punisse não só a palavra escrita, mas também a falada. Cayru continuou:
— O abuso nas palavras é a maior arma dos traidores. A hórrida prova se viu na Revolução da França tanto pela devassidão dos impressos malignos como pela verbal propagação de doutrinas subversivas em clubes, corpos de guarda, sociedades e até pelas inflamatórias pregações dos saltimbancos. Guardemo-nos dos horrores dos que, com gritarias, açulavam [incitavam] a plebe na França a enforcar nas lanternas das ruas, apelidando “aristocratas”, as pessoas mais distintas por seus títulos e serviços à nação. Para que fazermos ilusão, se este mesmo mal está entre nós e sobre nós?
Para os senadores da oposição, esse discurso do medo era balela.
— Não tem paridade o exemplo. Será o mesmo entre nós, uma nação pacífica, que uma nação revoltosa que não conhece lei, mas só o impulso do seu delírio em fermentação? — rebateu o senador Borges (PE). — Digo que, em tal caso [sendo as falas enquadradas na Lei de Imprensa], eu ficarei tremendo e não falarei mais, porque de minhas simples palavras se pode interpretar mal. Eu figuro um exemplo: se eu estiver fazendo um elogio a um ministro e der uma risada sardônica, será delito?
A imprensa no Primeiro Reinado era muito diferente da imprensa de hoje. Os jornais não noticiavam os acontecimentos, mas defendiam causas. A historiadora Tassia Toffoli Nunes, autora de uma dissertação de mestrado na Universidade de São Paulo (USP) sobre a liberdade de imprensa naquele tempo, explica:
— Os jornais foram espaços que as elites criaram para expor suas ideias políticas. Certas publicações faziam a defesa do governo; outras, a crítica. Para usar uma expressão da atualidade, o que se dava por meio da imprensa era uma guerra de narrativas. Sendo uma guerra, muito do que se publicava, claro, não era verdade. E não existiam jornais grandes, consolidados, profissionais. Eles normalmente rodavam algumas edições e desapareciam, sendo logo substituídos por novos títulos.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Trilha na noite uma flauta

Sophie Gengembre Anderson

Trilha na noite uma flauta.
É de algum pastor? Que importa? Perdida
Série de notas vagas e sem sentido nenhum,
Como a vida.
Sem nexo ou princípio ou fim ondeia
A ária alada.
Pobre ária fora de música e de voz, tão cheia.
De não ser nada.
Não há nexo ou fio porque se lembra aquela
Ária ao parar, e já ao ouvi-la
Sofro a saudade dela
E o quando cessar.

Fernando Pessoa (1888-1935)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Imprensa

Com o tempo,
uma imprensa cínica,
mercenária, demagógica
e corrupta formará um público
tão vil como ela mesma.

Joseph Pulitzer (1847-1911)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Texto

“Desrespeitando os fracos, enganando os incautos, ofendendo a vida, explorando os outros, discriminando o índio, o negro, a mulher, não estarei ajudando meus filhos a ser sérios, justos e amorosos da vida e dos outros.”

“Ninguém sabe tudo, assim como ninguém ignora tudo. O saber começa com a consciência do saber pouco (enquanto alguém atua). É sabendo que se sabe pouco que uma pessoa se prepara para saber mais...O homem, como um ser histórico, inserido num permanente movimento de procura, faz e refaz constantemente o seu saber”.
Paulo Freire (1921-1997)
♦ ♦ ♦

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Pus o meu sonho num navio

Carl Gustav Rodde
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

Cecília Meireles (1901-1964)

Reflexão

Henri Rosseau
Os príncipes fazem a guerra
Mas é o povo quem atravessa
O deserto, e tábuas desamigas.
A quem prometeram ouro e ébano
Restam apenas o cisco e a cólera.
Quando a guerra findar outra doença
Nascerá, flor púrpura, quando
Em caves de pedra a palavra
Hibernar.Quem vive tapa os ouvidos
Aos carros que levantam a poeira
Nos campos do meio-dia.Arde o ar.
Ardem árvores no meio do caminho.

Casimiro de Brito
In Música do Mundo

domingo, 24 de outubro de 2010

35 Anos da morte de Vladimir Herzog

Vlado Herzog (1937-1975). Jornalista, professor da USP (Universidade de São Paulo) e teatrólogo, Vlado Herzog nasceu em 1937 na cidade de Osijsk, Iugoslávia. Filho de Zigmund Herzog e Zora Herzog, imigrou com os pais para o Brasil em 1942. A família saiu da Europa fugindo do nazismo.
Vlado foi criado em São Paulo e se naturalizou brasileiro. Fez Filosofia na USP e tornou-se jornalista do jornal O Estado de S. Paulo em 1959.
Nesta época, Vlado achava que o nome soava exótico nos trópicos e resolveu passar a assinar Vladimir. No início da década de 60, casou-se com Clarice. Com o golpe militar de 1964, o casal resolveu passar uma temporada em Inglaterra e Vladimir conseguiu trabalho na BBC de Londres. Lá, tiveram dois filhos, Ivo e André. Em 1968, a família voltou ao Brasil. Vlado trabalhou um ano em publicidade, depois na editoria de cultura da revista Visão. Em 1975, foi escolhido pelo Secretário de Cultura de SP, José Mindlin, para dirigir o jornalismo da TV Cultura.
Na noite do dia 24 de outubro de 1975, o jornalista apresentou-se na sede do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações/ Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo, para prestar esclarecimentos sobre suas ligações com o PCB (Partido Comunista Brasileiro). No dia seguinte, foi morto aos 38 anos.
Segundo a versão oficial da época, ele teria se enforcado com o cinto do macacão de presidiário. Porém, de acordo com os testemunhos de Jorge Benigno Jathay Duque Estrada e Rodolfo Konder, jornalistas presos na mesma época no DOI/CODI, Vladimir foi assassinado sob torturas.
Como Herzog era judeu, o Shevra Kadish (comitê funerário judaico) recebeu o corpo e, ao prepará-lo para o funeral, o rabino percebeu que havia marcas de tortura no corpo do jornalista, prova de que o suicídio tinha sido forjado.
Hoje, dia em que se completam 35 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog, segunda-feira (25), o Jornal da Cultura leva ao ar uma reportagem especial sobre o ex-diretor de jornalismo da TV Cultura, que foi vítima da ditadura militar.
Serão mostrados fatos marcantes da vida profissional de Vlado e o reflexo de sua morte no processo de redemocratização do País. O telejornal terá depoimentos de personalidades que estiveram ligadas ao episódio, como o cineasta João Batista de Andrade, que dirigiu o documentário Vlado – 30 anos depois, e o desembargador Márcio José de Moraes, que em 1978, como juiz federal, condenou a União pela morte de Herzog.

sábado, 23 de outubro de 2010

Vi uma estrela tão alta

Robert Foster
Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.

Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?

E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.

Manuel Bandeira (1886-1968)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Poucas certezas tenho

Poucas certezas tenho e mesmo essas
foram, não raro, erguidas sobre a areia
sem qualquer resistência à maré cheia
das decepções, mentiras e promessas
de que a vida se faz, contra as pregressas
convicções radicadas na ideia
de o mundo ser premeditado e certo,
ondas no mar e dunas no deserto.

Mas, acima do vago e inconsistente
fluir dos dias, basta-me saber
que te tenho comigo e estás presente
para o que der e vier
sem me cobrar coisa alguma
e isso é que importa, o mais é espuma.

Torquato da Luz (1943)
é um poeta e jornalista português.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Bullying

O termo bullying, palavra de origem inglesa, sem tradução para o português, tem como raiz a palavra bully, que significa brigão.
O termo Bullying é novo, mas o problema é antigo. Os noticiários globais e a mídia, de uma forma geral, andam explorando cada vez mais o tema, principalmente quando este ocorre no ambiente escolar, porém isso acontece em qualquer contexto no qual seres humanos interajam, como por exemplo, a Família.
Antes da internet fazer parte do nosso cotidiano não tínhamos tanta informação, na verdade, agora o tema foi colocado em pauta.
Bullying se caracteriza todas as formas de atitudes agressivas intencionais e recorrentes praticadas onde há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas, causando dor, humilhação, angustia podendo levar a depressão, e diminuição de sua autoestima pelo resto de suas vidas.
Qualquer que seja a situação, a estrutura de poder é tipicamente evidente entre o agressor (bully) e a vítima. Para aqueles fora do relacionamento, parece que o poder do agressor depende somente da percepção da vítima, que parece estar a mais intimidada para oferecer alguma resistência. Todavia, a vítima geralmente tem motivos para temer o agressor, devido às ameaças ou concretizações de violência física/sexual, ou perda dos meios de subsistência.
Deixar filho sem almoço, bater nele com cinta e cordão de ferro, chama-lo de “bicho”, são exemplos de bullying e tortura familiar.
Hoje fala-se muito do bullying nas escolas, bullying na internet, mas a meu ver, o que causa mais danos é sem dúvida, o bullying familiar. Aquele praticado por irmãos, pai e mãe.
“As famílias felizes são semelhantes,
e toda família infeliz é infeliz ao seu próprio modo.”
Leon Tolstoi (1828-1910)

Criança

“Qualquer criança me desperta dois sentimentos:
ternura pelo que ela é
e respeito pelo que poderá vir a ser.”

Louis Pasteur (1822-1895)
Exceto os pedófilos.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Sonhar

Em sonho, às vezes, se o sonhar quebranta
Este meu vão sofrer, esta agonia,
Como sobe cantando a cotovia,
Para o Céu a minha alma sobe e canta.

Canta a luz, a alvorada, a estrela santa,
Que ao Mundo traz piedosa mais um dia...
Canta o enlevo das coisas, a alegria
Que as penetra de amor e as alevanta...

Mas, de repente, um vento húmido e frio
Sopra sobre o meu sonho: um calafrio
Me acorda. A noite é negra e muda: a dor

Cá vela, como d'antes, ao meu lado...
Os meus cantos de luz, anjo adorado,
São sonho só, e sonho o meu amor!

Antero de Quental (1842–1891)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Mensagem

Há todo um velho mundo ainda por destruir
e todo um novo mundo a construir.
Mas nós conseguiremos, jovens amigos,
não é verdade?

Rosa Luxemburgo (1871-1919)

sábado, 16 de outubro de 2010

A hipocrisia nas sacristias paulistas

Gráfica da Igreja imprime panfletos contra Dilma
Uma gráfica no bairro do Cambuci, região sudeste da capital paulista, estava imprimindo, na manhã deste sábado, panfletos com um texto de um
braço da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) contra o PT e a presidenciável Dilma Rousseff.
Como fica o bispo de Guarulhos nessa história toda?
De onde saiu o dinheiro para imprimir um milhão de prospectos no primeiro turno e mais um milhão no segundo turno, como revela o contador da gráfica (que aliás recusou parte da encomenda por não ter capacidade para atender o pedido no prazo exigido pelo bispo)?
Resultado da contribuição de fiéis para obras sociais, ou outras da Igreja, ou das igrejas sob a responsabilidade de D. Luís Gonzaga?
Por que de tal atitude se a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – em nota reiterada em diversas oportunidades condenou esse tipo de decisão?
Seria equivocado chamar o bispo de mentiroso? De cínico? De partidário? De usar o dinheiro de sua diocese para fins outros que não os anunciados? Nesse caso o bispo é honesto?
É claro que não. Nem o candidato José FHC Serra, nem sua mulher Mônica Serra, muito menos o bispo D. Luís Gonzaga.
Mentem, são hipócritas ao usar a religião e a fé do povo como instrumentos para alcançar objetivos eleitorais, ludibriam, enganam.
Qual o propósito do bispo de Guarulhos? Consciente, não é um idiota, que está mentindo, está enganando fiéis?
Usando a Igreja como disfarce para atividades no mínimo equivocadas, na verdade, criminosa.

O que há por trás de todo esse revoltante cinismo?
Quais interesses o bispo representa? Por que o candidato José FHC Serra é apoiado por um bispo num tema em que ilude a boa fé das pessoas? Por que Mônica Serra usou de um expediente tão baixo quando disse no Rio que Dilma “mata criancinhas”.

E ela?

Há algo mais que hipocrisia nas sacristias paulistas. Há corrupção. Há fascismo. Há um sórdido e mentiroso complô que nada tem a ver com fé, mas com interesses subalternos, mesquinhos, criminosos, tanto do bispo, como do candidato e sua mulher.

Não basta uma nota da CNBB sobre o assunto. Há um bispo mentiroso, usando a Igreja para fins outros que não os que lhe dão sentido.
E os padres pedófilos? Por que a Igreja não cuida disso?

Há cerca de trinta anos existe um processo de desmonte da Igreja na ação de bispos como esses.

Saem figuras grandiosas como Hélder Câmara, Leonardo Boff, D. Demétrio, tantos que tombaram vítimas da brutalidade da ditadura militar, entram bispos destituídos de honra e respeito que com certeza não têm nada a ver com a cruz de Cristo.

Carregam a mentira e em seus bolsos o dinheiro de fiéis ludibriados em sua fé. Se não existir outro dinheiro, o do caixa dois do engenheiro Paulo, o tal do apartamento de milhões que comprou por trezentos mil.

Gandhi quando perguntado sobre Cristo respondeu assim – “aceito o Cristo de vocês, mas não o cristianismo que praticam”.


Esses bispos...

É caso de Polícia.
Felizmente morreu em 13 de junho de 2012

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ribeira da minha vida

Joel Santos - Pescador de Sonhos
Ribeira da minha vida
por onde agora andarão
meus barcos de ausência e bruma,
com sua tripulação!

Pergunto se estão de volta,
pergunto se ainda se vão.
Ribeira dos meus cuidados,
minha voz é solidão.

Ribeira da minha vida,
por que sinto o coração
morrer-me nestas areias
de antiga recordação?

Hei de ser o mar e o vento,
e a noite, e a constelação,
- ribeira dos meus cuidados! -
e a própria navegação.

Ribeira da minha vida,
hei de mudar de aflição:
não mais despedida ou espera,
mas naufrágio ou salvação.

Cecília Meireles (1901-1964)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Texto

Pablo Neruda
Sim, senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam. Prosterno-me diante delas. Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as. Amo tanto as palavras. As inesperadas. As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem. Vocábulos amados. Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, espuma, fio, metal, orvalho. Persigo algumas palavras. São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema. Agarro-as no voo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas. E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as. Deixo-as em meu poema como pedacinhos de pedra polida, como carvão, como restos de um naufrágio, presentes da onda. Tudo está na palavra. Uma ideia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu. Tem sombra, transparência, peso, plumas, pelos, têm tudo o que se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes. São antiquíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada. Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos. Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos, frutos, com aquele apetite voraz que nunca mais se viu no mundo. Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas. Por onde passavam a terra ficava arrasada. Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras, como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes. O idioma. Saímos perdendo. Saímos ganhando. Levaram o ouro e nos deixaram o ouro. Levaram tudo. E nos deixaram tudo. Deixaram-nos as palavras.
Pablo Neruda (1904-1973)
♠ ♠ ♠

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Jardim

Donald Zolan
_Menina faceira
de laço de fita
não vás tão bonita
sozinha ao jardim.
Se pensar Beija-Flor
que teu laço é flor,
pelos ares levará
um anel dos teus cabelos.

_Mamãe, não tenha cuidado,
eu sei dar laço bem dado.

_Menina trigueira
de faces vermelhas
no jardim sem teu irmão
não fiques, não.
Se Beija-Flor imagina
que teu rosto é flor,
menina, minha menina,
de certo um beijo te dá.

_Quando ele me der um beijo,
nas minhas mãos estará.

Henriqueta Lisboa (1901-1985)

domingo, 10 de outubro de 2010

Personalidades Históricas: Franz Bardon

Franz Bardon (1909-1958)
Franz Bardon nasceu na antiga Tchecoslováquia. Foi um dos mais importantes magos do século XX, embora seja pouco conhecido. Ele é principalmente conhecido pelos quatro livros que escreveu. Foram publicados em 1950. . Muitos utilizaram suas obras sem lhe dar créditos.
Bardon deu ênfase à prática e a viabilidade acima de tudo. Embora seus livros contem seções teóricas prolongadas, a ênfase esta nos resultados tangíveis, utilizáveis no treinamento mágico.
Bardon não criou uma lenda pessoal sobre seu trabalho. Poucas referências a seu respeito são encontradas em seus trabalhos.
De acordo com a estudante e amiga íntima Otti Votavova, Bardon foi o primeiro treze filhos, apenas quatro deles chegando à idade adulta.
Bardon tornou-se um mago conhecido nos meios iniciáticos, na Alemanha entre 1920 e 1930, sob o motte "Frabato”.
Com o surgimento de Adolf Hitler e o Nazismo, vários grupos esotéricos e até a Maçonaria foram proibidos e alguns membros foram presos.
Por negligência de um dos discípulos (que não tinha destruído a correspondência como Bardon tinha ordenado) Bardon e alguns de seus discípulos foram presos pelos Nazistas entre 1941/1942. Enquanto os prisioneiros estavam sendo chicoteados, um discípulo perdeu o controle e proferiu uma fórmula cabalística para imobilizar os torturadores. Quando Bardon recusou ajudar, os nazistas o torturaram cruelmente. Entre outras coisas, eles executaram operações em Bardon sem anestesia, forjaram anéis de ferro ao redor de seus tornozelos, com pesadas bolas de ferro.
Depois de recuperar sua liberdade, Bardon recomeçou o trabalho oculto e começou a curar pessoas. Foi aparentemente este último trabalho que Bardon começou a ter problemas com o governo. Eles desencorajaram fortemente este tipo de trabalho na Tchecoslováquia pós-guerra.
Começou a fazer demonstrações públicas de magia e de princípios herméticos em vários pontos do país. Foi nessa época em que começou a aceitar estudantes. Iniciava alguns até além da terceira carta de tarô, e também se correspondia com muitos discípulos em outras partes do mundo. Fazia hipnose, lia cartas dentro de envelopes lacrados, localizava objetos escondidos, entre outras coisas. Comprou motos e carros, indo frequentemente aos campos para buscar ervas especiais. Durante essa época, atendia pessoas pedindo ajuda, prevendo o futuro, contribuindo à busca de exilados da Guerra e achando os corpos de pessoas afogadas usando, como ponto de auxílio, fotografias. Também, na cozinha de sua casa, mantinha um laboratório no qual fazia remédios e elixires alquímicos.
Formou-se como naturopata e daí vem sua grande influência em condensadores fluídicos, ervas e medicamentos naturais.
Foi preso de novo em 26 de março de 1958, sob a acusação de preparação de drogas ilegais. Se essa prisão foi apenas um pretexto para outra coisa, como dizem as teorias sobre Adolf Hitler, não sabemos até hoje. Não sabemos também o porquê de ter morrido de, provavelmente, inflamação no pâncreas, após comer um pedaço de presunto defumado que sua própria esposa preparou. Isso aconteceu no dia 10 de julho de 1958. Há muitas teorias sobre sua morte, desde a de que envenenaram esse presunto defumado até a de ele ter se suicidado.
O livro Magia Prática - O Caminho do Adepto - Publicado em 1956 e lançado no Brasil pela Editora Ground, é a única obra de Bardon disponível em português. Um verdadeiro clássico do Hermetismo, esse livro é divido em uma parte teórica e uma parte prática.

Incompletude

Edward Cucuel
A maior riqueza do homem é sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre
portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que
compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora,
que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.

Eu penso
renovar o homem usando borboletas.

Manoel de Barros

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Plebiscito sobre aborto ?


Para Marilena Chauí, segundo turno
não pode se tornar 'plebiscito sobre aborto'
A filosofa Marilena Chauí fez palestra nesta sexta-feira (8), ao lado de intelectuais e membros do corpo docente da Faculdade de Direito do Largo São Francisco (FDUSP) em um ato organizado para defender a candidatura da governista para a Presidência da República. Ela afirmou que o monopólio da imprensa no Brasil transforma a mídia em um agente antidemocrático e que a disputa não pode se tornar em um plebiscito sobre o aborto, baseado em boatos.
A maioria dos participantes usou seu espaço de discurso para, além de diferenciar os projetos de governo dos candidatos, fazer críticas ao comportamento da imprensa.
Marilena Chauí defendeu que lideranças de esquerda e do PT deixem de atender jornalistas da imprensa convencional, em uma espécie de boicote a pedidos de entrevista. "Para defender a liberdade de expressão é preciso não falar com a mídia", propõe Marilena Chauí. Ela acredita que a mídia dá espaço para figuras do partido e de movimentos sociais apenas para "parecer plural", mas promovendo um "controle de opinião" sobre o que é publicado.
A professora aludiu ao caso da dispensa da colunista Maria Rita Kehl pelo jornal O Estado de S. Paulo. "A democracia não é simplesmente um regime da lei e da ordem", explicou, defendendo que é necessário haver diversidade de opinião na mídia. A professora esclareceu que não se pode permitir que três ou quatro famílias mantenedoras dos meios de comunicação pautem a agenda política do Brasil.
"Temos que impedir que o segundo turno das eleições se torne um plebiscito nacional sobre o aborto", definiu. Para ela, a cada semana é definida uma nova temática para o debate político – se referindo às discussões eleitorais levantadas recentemente, como a da liberdade de imprensa e a da religião.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Prêmio Nobel

No dia 8 de outubro de 1998 José Saramago é o 1º da língua portuguesa a receber o prêmio Nobel de Literatura. Comunista, atraiu a crítica da Igreja em “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, que retrata Jesus como simples mortal.

Hoje o escritor peruano Mario Vargas Llosa de 74 anos conhecido por suas posições políticas consideradas de direita, recebeu o Nobel de Literatura.
Llosa é o quinto escritor latino-americano a receber um Nobel. Antes dele, foram premiados:
  • a escritora chilena Gabriela Mistral (1945),
  • o guatemalteco Miguel Ángel Asturias (1967),
  • o também chileno Pablo Neruda (1971)
  • e o colombiano Gabriel García Márquez (1982).

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Quando se tira um vestido velho do baú

“Quando se tira um vestido velho do baú,
Um vestido que não é para usar, só para olhar.
Só para ver como ele era.
Depois a gente dobra de novo e guarda,
mas não se cogita em jogar fora ou dar.

Acho que saudade é isso.”

Lygia Fagundes Telles

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Antevasin

Antevasin. Em sânscrito, significa alguém que vive na fronteira.
“Em tempos antigos era uma descrição literal. Indicava uma pessoa que abandonara o centro agitado da vida mundana para ir viver para a orla da floresta, onde os mestres espirituais habitavam. O antevasin já não era um dos aldeãos – já não era um chefe de família com uma vida convencional. Mas também ainda não era um ser transcendente – não era um daqueles sábios que vivem nas profundezas das florestas inexploradas, totalmente realizado. O antevasin era alguém entre dois mundos. Habitava essa fronteira. De onde estava, podia ver ambos os mundos, mas olhava para o desconhecido. E era um erudito.
Em sentido figurado, esta é uma fronteira que está sempre a deslocar-se – à medida que avançamos nos nossos estudos e percepções, aquela misteriosa floresta do desconhecido mantém-se sempre alguns passos à nossa frente, para que tenhamos de andar ligeiros para a continuarmos a seguir. Temos de nos manter móveis e flexíveis”.
Elisabeth Gilbert, in "Comer, Orar, Amar".