quarta-feira, 23 de julho de 2014

Sociedade democratica

Oleg Tchoubakov
“Uma sociedade só é democrática
quando ninguém for tão rico
que possa comprar alguém e
ninguém seja tão pobre que
tenha de se vender a alguém”.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)

domingo, 20 de julho de 2014

Amor

Herbert James Draper
Vamos brincar, amor? Vamos jogar peteca
Vamos atrapalhar os outros, amor, vamos sair correndo
Vamos subir no elevador, vamos sofrer calmamente e sem precipitação?
Vamos sofrer, amor? males da alma, perigos
Dores de má fama íntimas como as chagas de Cristo
Vamos, amor? vamos tomar porre de absinto
Vamos tomar porre de coisa bem esquisita, vamos
Fingir que hoje é domingo, vamos ver
O afogado na praia, vamos correr atrás do batalhão?
Vamos, amor, tomar thé na Cavé com madame de Sevignée
Vamos roubar laranja, falar nome, vamos inventar Vamos criar beijo novo, carinho novo, vamos visitar N. S. do Parto?
Vamos, amor? vamos nos persuadir imensamente dos acontecimentos
Vamos fazer neném dormir, botar ele no urinol
Vamos, amor?
Porque excessivamente grave é a Vida.

Vinícius de Moraes (1913-1980)

sábado, 19 de julho de 2014

Canção do pintor Hitler

Pintura de Hitler

Hitler, o pintor de paredes
Disse: Caros amigos, deixem eu dar uma mão!
E com um balde de tinta fresca
Pintou como nova a casa alemã
Nova a casa alemã.

Hitler, o pintor de paredes
Disse: Fica pronta num instante!
E os buracos, as falhas e as fendas
Ele simplesmente tapou
A merda inteira tapou.

Ó Hitler pintor
Por que não tentou ser pedreiro?
Quando a chuva molha sua tinta
Toda a imundície vem abaixo
Sua casa de merda vem abaixo.

Hitler, o pintor de paredes
Nada estudou senão pintura
E quando lhe deixaram dar uma mão
Tudo o que fez foi um malogro
E a Alemanha inteira ele logrou.
Bertolt Brecht (1898-1956)

quinta-feira, 17 de julho de 2014

*** ***

Ming Wai
“As crianças não têm ideias religiosas,
mas têm experiências místicas.
Experiência mística não é ver seres de outro mundo.
É ver este mundo iluminado pela beleza.”

Rubem Alves

terça-feira, 15 de julho de 2014

Reflexão

Jeannette Woitzik
“As lutas da vida existem
para conduzir à revelação e à experiência,
e para que por fim a sabedoria seja reconhecida,
a fim de servir à alegria eterna da vitória”.

Jakob Böhme(1575 1624)
("Da vida suprassensível")

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Deixei Uma Terra Que Não Era a Minha

Haruyo Morit
Deixei uma terra que não era a minha
por outra à qual também não pertenço.
Refugiei-me num vocábulo de nanquim,
e tenho o livro como espaço;
palavra de lugar nenhum, obscura fala do
deserto.
Não me cobri durante a noite.
Nem mesmo tentei me proteger do sol.
Andei nu.
De onde eu vinha, não fazia mais sentido;
Aonde eu ia não incomodava ninguém.
Vento, digo-lhes, vento.
E um pouco de areia no vento!

Edmond Jabès (1912-1991)
Tradução: Caio Meira

sábado, 12 de julho de 2014

O Vagalume

Vagalumes, ilustração de Paige Keiser

Quem és tu, pobre vivente,
Que vagas triste e sozinho,
Que tens os raios da estrela,
E as asas do passarinho?

A noite é negra; raivosos
Os ventos correm do sul;
Não temes que eles te apaguem
A tua lanterna azul?
Quando tu passas, o lago
De estranhos fogos esplende,
Dobra-se a clícia amorosa,
E a fronte mimosa pende.

As folhas brilham, lustrosas,
Como espelhos de esmeralda;
Fulge o iris nas torrentes
Da serrania na fralda.

O grilo salta das sarças;
Piam aves nos palmares;
Começa o baile dos silfos
No seio dos nenúfares.

A tribo das mariposas,
Das mariposas azuis,
Segue teus giros no espaço,
Mimosa gota de luz!

São elas flores sem haste;
Tu és estrela sem céu;
Procuram elas as chamas;
Tu amas da sombra o véu!

Quem és tu, pobre vivente,
Que vagueias tão sozinho,
Que tens os raios da estrela,
E as asas do passarinho?

Fagundes Varela (1841-1875)
Vocabulário:
Clícia = inseto de duas asas.
Sarça = matagal.
Silfo = gênio das florestas (mitologia celta).
Nenúfares = planta aquática.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

O desejo que move os poetas

Vladimir Mukhin
“O desejo que move os poetas
não é ensinar, esclarecer, interpretar.
O desejo que move os poetas é
fazer soar de novo a melodia esquecida”.

Rubem Alves

terça-feira, 8 de julho de 2014

Deus

Louis Emile Adan
“Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também.”
Rubem Alves

domingo, 6 de julho de 2014

Todo o Amor em Nosso Amor se Encerra

Jose De la Barra
Minha moça selvagem, tivemos
que recuperar o tempo
e caminhar para trás, na distância
das nossas vidas, beijo a beijo,
retirando de um lugar o que demos
sem alegria, descobrindo noutro
o caminho secreto
que aproximava os teus pés dos meus,
e assim tornas a ver
na minha boca a planta insatisfeita
da tua vida estendendo as raízes
para o meu coração que te esperava.
E entre as nossas cidades separadas
as noites, uma a uma,
juntam-se à noite que nos une.

Tirando-as do tempo, entregam-nos
a luz de cada dia,
a sua chama ou o seu repouso,
e assim se desenterra
na sombra ou na luz nosso tesouro,
e assim beijam a vida os nossos beijos:
todo o amor em nosso amor se encerra:
toda a sede termina em nosso abraço.
Aqui estamos agora frente a frente,
encontramo-nos,
não perdemos nada.
Percorremo-nos lábio a lábio,
mil vezes trocamos
entre nós a morte e a vida,
tudo o que trazíamos
quais mortas medalhas
atiramo-lo ao fundo do mar,
tudo o que aprendemos
de nada serviu:
começamos de novo,
terminamos de novo
morte e vida.

E aqui sobrevivemos,
puros, com a pureza que criamos,
mais largos do que a terra que não pôde extraviar-nos,
eternos como o fogo que arderá
enquanto durar a vida.

Pablo Neruda (1904-1973)

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Perguntei ao Tempo

Ivan Vukelic
Perguntei ao tempo
O remédio para dor
Ele parou
Pensou
E falou

Deixe-me passar.

Orides Siqueira

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Giro e Sigo

Van Gogh
Quando os caminhos
Bifurcam-se
Na plenitude do tempo
Vou e venho
Giro e sigo

Porque......

Dar sentido a vida
Pode levar-nos a loucura
Mas..........
A vida sem sentido
É uma tortura.

Orides Siqueira

terça-feira, 1 de julho de 2014

Meu pé de laranja lima

“Às vezes sou feliz na minha ternura, às vezes me engano, o que é mais comum.
Agora sabia mesmo o que era dor. Dor não é apanhar. Agora sabia mesmo o que era a dor. Dor não era apanhar até desmaiar. Não era cortar o pé com caco de vidro e levar pontos na farmácia.
Dor era aquilo que doía o coração todinho, que a gente tinha que morrer com ela, sem poder contar para ninguém o segredo.”
José Mauro de Vasconcelos (1920-1984)
- "O meu pé de laranja lima".

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Avatar

Henri Fantin-Latour – Immortality
Um dia terei a morte aparente que têm todos os seres e todas as coisas.
A minha alma irá para Deus.
Meu coração, separado da sua amiga, irá para o seio da terra,
Para onde vão os corações que as almas deixaram.
Não haverá tristeza na separação…não é triste cumprir-se destino…
Mas um dia Deus reparará que no mundo, entre as alegrias profundas,
está faltando aquela suave alegria da minha alma e do meu coração.
E mandará minha alma à terra para junto do meu coração.
Meu coração sentirá uma planta qualquer
Sugar o seu húmus, lançar pela terra raízes tenazes…
Contente dará vida a essa planta, porque é destino dos corações
Darem vida às plantas, ao desfazerem-se em adubo da terra.
E perceberá feliz que a minha alma estará florindo na haste da planta,
Tornada em flor extremamente simpática.
A minha alma, abrindo a corola a todo o sol, a todo vento, a todo
dia, e a toda noite, dirá baixinho:
"Coração, como é linda a vida! Como é lindo este Universo de Deus!"
E meu coração, como fazia em meu peito,
Responderá saltando contente no peito da terra…

Rodrigues de Abreu (1897-1927)

sábado, 28 de junho de 2014

Sorte

Tardio, ainda assim
eu me invento.
Vozes chegam
de outro tempo
e devolvem
meu silêncio:
nele, calo o medo
e todo corte.

Alberto Bresciani