Jose De la Barra
Minha moça selvagem, tivemos
que recuperar o tempo
e caminhar para trás, na distância
das nossas vidas, beijo a beijo,
retirando de um lugar o que demos
sem alegria, descobrindo noutro
o caminho secreto
que aproximava os teus pés dos meus,
e assim tornas a ver
na minha boca a planta insatisfeita
da tua vida estendendo as raízes
para o meu coração que te esperava.
E entre as nossas cidades separadas
as noites, uma a uma,
juntam-se à noite que nos une.
Tirando-as do tempo, entregam-nos
a luz de cada dia,
a sua chama ou o seu repouso,
e assim se desenterra
na sombra ou na luz nosso tesouro,
e assim beijam a vida os nossos beijos:
todo o amor em nosso amor se encerra:
toda a sede termina em nosso abraço.
Aqui estamos agora frente a frente,
encontramo-nos,
não perdemos nada.
Percorremo-nos lábio a lábio,
mil vezes trocamos
entre nós a morte e a vida,
tudo o que trazíamos
quais mortas medalhas
atiramo-lo ao fundo do mar,
tudo o que aprendemos
de nada serviu:
começamos de novo,
terminamos de novo
morte e vida.
E aqui sobrevivemos,
puros, com a pureza que criamos,
mais largos do que a terra que não pôde extraviar-nos,
eternos como o fogo que arderá
enquanto durar a vida.
Pablo Neruda (1904-1973)
que recuperar o tempo
e caminhar para trás, na distância
das nossas vidas, beijo a beijo,
retirando de um lugar o que demos
sem alegria, descobrindo noutro
o caminho secreto
que aproximava os teus pés dos meus,
e assim tornas a ver
na minha boca a planta insatisfeita
da tua vida estendendo as raízes
para o meu coração que te esperava.
E entre as nossas cidades separadas
as noites, uma a uma,
juntam-se à noite que nos une.
Tirando-as do tempo, entregam-nos
a luz de cada dia,
a sua chama ou o seu repouso,
e assim se desenterra
na sombra ou na luz nosso tesouro,
e assim beijam a vida os nossos beijos:
todo o amor em nosso amor se encerra:
toda a sede termina em nosso abraço.
Aqui estamos agora frente a frente,
encontramo-nos,
não perdemos nada.
Percorremo-nos lábio a lábio,
mil vezes trocamos
entre nós a morte e a vida,
tudo o que trazíamos
quais mortas medalhas
atiramo-lo ao fundo do mar,
tudo o que aprendemos
de nada serviu:
começamos de novo,
terminamos de novo
morte e vida.
E aqui sobrevivemos,
puros, com a pureza que criamos,
mais largos do que a terra que não pôde extraviar-nos,
eternos como o fogo que arderá
enquanto durar a vida.
Pablo Neruda (1904-1973)
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