quinta-feira, 21 de março de 2013

Do Jardim de Rosas Secreto

Wilhelm Menzler Casel
Penetra no coração de uma gota d’água
serás invadido pelas marés de cem oceanos puros
Se examinares com cuidado uma mancha de pó,
verás um milhão de seres inomináveis
Os membros de uma mosca são como um elefante
Cem colheitas residem no germe da semente de cevada.
Uma semente de painço suporta um mundo inteiro
A asa de um inseto desdobra um oceano
Raios cósmicos ficam ocultos na pupila do meu olho,
e, de alguma maneira, o centro do meu coração
abriga o Pulso do Universo.

Mahmud Shabistari (1288–1340)

quarta-feira, 20 de março de 2013

Terras do sem fim

“A sombra das roças é macia e doce, é como uma carícia. Os cacaueiros se fecham em folhas grandes que o sol amarelece. Os galhos se procuram e se abraçam no ar, parecem uma árvore subindo e descendo o morro, a sombra de topázio se sucedendo por centenas e centenas de metros. Tudo nas roças de cacau é em tonalidades amarelas, onde, por vezes, o verde rebenta violento. De um amarelo aloirado são as minúsculas formigas pixixicas que cobrem as folhas dos cacaueiros e destroem a praga que ameaça o fruto. De um amarelo desmaiado se vestem as flores e as folhas novas que o sol pontilha de amarelo queimado. Amarelos são os frutos precoces que pecaram ao calor demasiado. Os frutos maduros lembram lâmpadas de oiro das catedrais antigas, fulgem com um brilho resplandecente aos raios do sol, que penetram a sombra das roças. Uma cobra amarela - uma papa-pinto - acalenta o sol na picada aberta pelos pés dos lavradores. E até a terra, barro que o verão transformou em poeira, tem um vago tom amarelo, que se prende e colore as pernas nuas dos negros e dos mulatos que trabalham na poda dos cacaueiros”.
Jorge Amado (1912-1001)

terça-feira, 19 de março de 2013

19 de Março - Dia de São José

Georges De La Tour - St. Joseph the Carpenter
O culto a São José começou provavelmente no Egito, passando mais tarde para o Ocidente, onde hoje alcança grande popularidade. Em 1870, o papa Pio IX o proclamou "O Patrono da Igreja Universal" e, a partir de então, passou a ser cultuado no dia 19 de março. Em 1955 Pio XII fixou o dia 1º de maio para "São José Operário, o trabalhador". Apesar de ter grande importância dentro da Igreja Católica, o nome de São José não é muito citado dentro das fontes bibliográficas da Igreja, sendo apenas mencionado nos Evangelhos de S. Lucas e S. Mateus.
Descendente de Davi, São José era carpinteiro na Galileia e comprometido com Maria. Segundo a tradição popular, a mão de Maria era aspirada por muitos pretendentes, porém, foi a José que ela foi concedida.
Quando Maria recebeu a anunciação do anjo Gabriel de que daria à luz ao Menino Jesus, José ficou bastante confuso porque apesar de não ter tomado parte na gravidez, confiava na fidelidade dela. Resolveu, então, terminar o noivado e deixá-la secretamente, sem comentar nada com ninguém. Porém, em um sonho, um anjo lhe apareceu e contou que o Menino era Filho de Deus e que ele deveria manter o casamento.
José esteve ao lado de Maria em todos os momentos, principalmente na hora do parto, que aconteceu em um estábulo, em Belém. Quando Jesus tinha dois anos, José foi novamente avisado por um anjo que deveria fugir de Belém para o Egito, porque todas as crianças do sexo masculino estavam sendo exterminadas, por ordem de Herodes.
José, Maria e Jesus fugiram para o Egito e permaneceram lá até que um anjo avisasse da morte de Herodes.
Temendo um sucessor do tirano, José levou a família para Nazaré, uma cidade da Galileia.
Outro momento da vida de Cristo em que José aparece na condição de Seu guardião foi na celebração da Páscoa Judaica, em Jerusalém, quando Jesus tina 12 anos.
Em companhia de muitos de seus vizinhos, José e Maria voltavam para a Galileia com a certeza de que Jesus estava no meio do grupo.
Ao chegar a noite e não terem notícias de seu filho, regressaram para Jerusalém em uma busca que durou 3 dias.
Para a surpresa do casal, Jesus foi encontrado no templo em meio aos doutores da lei mais eruditos, explicando coisas que o deixavam admirados.
Apesar da grande importância de José na vida de Jesus Cristo não há referências da data de sua morte.
Acredita-se que José tenha morrido antes da crucificação de Cristo, quando este tinha 30 anos.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Os seres humanos são fracos

CHarlotte Sullivan
“Os seres humanos são fracos, é verdade, mas se eles são tão fracos é porque acabaram por considerar esta fraqueza como natural, como uma evidência, como ponto assente. Este é mesmo o tema predileto da moral e da religião: a natureza humana é fraca, pecadora. Na realidade, os humanos não são assim tão fracos, mas são preguiçosos, isso sim! Eles não querem assumir o controlo de si mesmos e deixam-se ir atrás de todos os seus impulsos egoístas, agressivos, e depois, evidentemente, só podem acontecer-lhes insucessos. Vós não sois fracos e constatareis isso mesmo se adquirirdes o hábito de não fugir das dificuldades; se fugirdes, elas tornar-se-ão inultrapassáveis e então tereis razões para vos lamentardes das vossas fraquezas. Mas decidi-vos a enfrentar as dificuldades e os esforços parecer-vos-ão cada vez mais fáceis. O que é um verdadeiro espiritualista? Um ser que "amansa" os obstáculos para poder, graças a eles, lançar-se para mais longe e mais alto”.
Omraam Mikhaël Aïvanhov (1900-1986)

sábado, 16 de março de 2013

Texto

Kristin Vestgard
“Tudo pode abandonar-nos, podemos perder tudo, exceto nós mesmos. Então, por que não havemos de procurar em nós, pois é a única posse, a única certeza que temos verdadeiramente? Quer nos encontremos na terra ou no outro mundo, nunca nos separaremos de nós. Para permanecermos senhores da situação em todas as circunstâncias, todos dispomos de algo que nada nem ninguém pode tirar-nos. E o que nada nem ninguém pode tirar-nos somos nós. Na vida, na morte, estaremos eternamente conosco. Sim, é o que há de mais seguro, tudo o resto não é seguro e pode escapar-nos. E este "nós" que nada pode tirar-nos é a consciência da centelha divina que nós somos, portanto, a capacidade que recebemos do Criador e ocasiões que nos são dadas todos os dias para pormos essas capacidades em ação”.
Omraam Mikhaël Aïvanhov (1900-1986)

sexta-feira, 15 de março de 2013

Ensinamento

William Sidney Mount
“De manhã, quando abris a vossa janela ou a vossa porta, pensai em saudar todas as criaturas dos mundos visíveis e invisíveis. Criais assim uma ligação com elas e, graças a esse simples gesto de saudação, sentir-vos-eis durante todo o dia na poesia, na luz. Vós enviais o vosso amor e, de todas as regiões do espaço, o amor volta a vós. Há tantas coisas a fazer para tornar a vida bela e poética! Mas é necessário que não vos deixeis apanhar pelas preocupações, pelas questões materiais, e que guardeis um pouco de tempo e de energias para todas as atividades que dão um sentido à existência. Os humanos ainda não compreenderam grande coisa: falam de amor, querem ser amados, mas continuam fechados, apagados, prosaicos. Eles que aprendam a viver essa vida poética! Se o fizerem, serão amados”.
Omraam Mikhaël Aïvanhov (1900-1986)

quarta-feira, 13 de março de 2013

O grito

Pablo Picasso
Há sempre um fiorde e uma ponte
em toda a vertigem humana,
e sempre essas nuvens em chama
no som da palavra horizonte.

Há sempre um fiorde, uma ponte,
dois homens de negro e o louco,
e curvas no espaço amplo e pouco,
e ser nesse andrógino instante.

Há sempre dois barcos que somem
além do fiorde e da ponte
que brumas tão rubras consomem.

E nesse grito a que ninguém responde,
há sempre esse eco bifronte,
esse espaço sem quando, esse tempo sem onde.

Cláudio Neves

terça-feira, 12 de março de 2013

Gota de Água

Eu, quando choro,
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.
As lágrimas são minhas
Mas o choro não é meu.

António Gedeão (1906-1997)

domingo, 10 de março de 2013

O Rei Reina e Não Governa

Laurent Botella
Não sei porque a língua humana
Os brutos não falam mais,
Quando hoje têm melhor vida.
E há muita besta instruída
Nas ciências sociais...

Ultimamente entenderam
Que tinham também razão
De proclamar seus direitos,
Pondo em uso os bons efeitos
Que trouxe a Revolução...

"Seja o leão, diz o asno,
Um rei constitucional;
Com assembleias mudáveis,
Com ministros responsáveis,
Não nos pode fazer mal.

Fiquem-lhe as garras ocultas,
Não ruja, não erga a voz,
Conforme a tese moderna
Que ele reina e não governa,
Quem governa somos nós...

Todas as bestas da terra,
Todas as bestas do mar,
Tenham os seus delegados,
Sendo os ministros tirados
Do seio parlamentar...

(...)
Só vejo, que bem nos quadre
No trono, algum animal,
Que coma e viva deitado:
O porco!... Exemplo acabado
De rei constitucional..."
Tobias Barreto (1839 - 1889)

sexta-feira, 8 de março de 2013

Vítimas da Guerra de Tróia encontradas ?!?

Giovanni Domenico Tiepolo
Arqueólogos turcos encontraram restos mortais de duas pessoas: um homem e uma mulher que acreditam poder terem morrido por volta de 1200 a.C., na época da lendária guerra de Troia, disse nesta terça-feira, 22, o professor alemão Ernst Pernicka, da Universidade de Tübinga, que comanda escavações no sítio arqueológico do noroeste da Turquia. Pernicka afirmou que os corpos foram achados próximos de uma linha de defesa dentro da cidade, construída no final da era do Bronze.
Isso pode ajudar a comprovar que a parte baixa de Troia no final da era do Bronze era maior do que se imaginava, alterando as percepções dos acadêmicos a respeito da cidade descrita na Ilíada, de Homero. ”Em poucas semanas saberemos a época exata de sua morte e suas idades aproximadas. Se os restos forem confirmados como sendo de 1200 a.C., isso iria coincidir com o período da guerra de Troia. Essa gente foi sepultada perto de um fosso. Estamos conduzindo um teste de radiocarbono, mas a descoberta é eletrizante“, disse Pernicka. “ Se nossas estimativas estão corretas, poderemos afirmar que encontramos as primeiras vítimas da guerra de Troia“, acrescentou Aslan. A guerra de Troia é um dos eixos centrais da Ilíada e da Odisseia, do poeta grego Homero.
A antiga Troia, na entrada do estreito de Dardanelos, relativamente próximo da zona sul de Istambul, foi encontrada na década de 1870, pelo empreendedor e arqueólogo alemão Heinrich Schliemann. Pernicka disse que cerâmicas encontradas perto dos corpos, que estavam sem as partes inferiores, eram confirmadamente de 1200 a.C., mas que o casal pode ter sido enterrado 400 anos depois em um cemitério na camada que os arqueólogos chamam de Troia 6 ou Troia 7, das diferentes camadas das ruínas de Troia.
Dezenas de milhares de turistas visitam anualmente as ruínas de Troia, onde uma enorme réplica de madeira do famoso cavalo de Troia está exposta ao lado de várias ruínas escavadas.
Fonte: ( Peregrina Cultural )

quinta-feira, 7 de março de 2013

Passarinhos

Jane Kim
A um passarinho que andava
Cantando pelo jardim,
Foi perguntar Elisinha
– Quem é que te cuida assim?

Onde achas doce alimento,
Coisas nutritivas, sãs?
– Tenho bichinhos gostosos
Figos, laranjas, romãs.

– E quando estás fatigado,
Onde é que vais descansar?
– Qual de nós não tem seu ninho?
Nosso ninho é o nosso lar.

– E sede não sentes nunca?
– Tenho rio e ribeirão,
E gotinhas de sereno,
Que as folhas verdes me dão.

– E no inverno não te falta
Agasalho contra o frio?
– Tenho penas que me cobrem,
Tenho agasalho macio.

– E quando não há bichinhos,
Grãos e frutinhas não há?
– Há uma boa criancinha
Que pão e alpiste me dá.

Zalina Rolim (1869-1961)

quarta-feira, 6 de março de 2013

Neandertais eram vaidosos

Uma equipe de pesquisadores disse que encontrou as primeiras evidências convincentes de que o homem de Neandertal pintava o corpo e usava bijuteria há 50 mil anos. Conchas contendo resíduos de pigmentos usados para este fim foram encontradas em dois sítios arqueológicos em Múrcia, no sul da Espanha.
O arqueólogo português, João Zilhão, que lidera a equipe a partir da Universidade de Bristol, na Inglaterra, disse que foram examinadas conchas que eram usadas como utensílios para misturar e armazenar pigmentos. Bastões pretos com um pigmento à base de manganês podem ter sido usados como tinta para o corpo.
Artefatos semelhantes foram encontrados na África no passado. “(Mas) esta é a primeira evidência segura do uso de cosméticos”, disse o arqueólogo à BBC. “A utilização destas receitas complexas é novidade. É mais do que tinta para o corpo.”
Os cientistas encontraram fragmentos de um pigmento amarelo que, segundo eles, pode ter sido usado como base para maquiagem. Descobriram também um pó vermelho junto com manchas de um mineral negro brilhante. Algumas das conchas, entalhadas e pintadas com cores fortes, podem, também, terem sido usadas como bijuteria.
Até agora, muitos especialistas acreditavam que só os seres humanos modernos usavam maquiagem como adorno ou para rituais. Durante um período na pré-história Neandertais e humanos podem ter compartilhado a Terra, mas João Zilhão disse que a descoberta de sua equipe data de 10 mil anos antes do contato entre ambos e, portanto, ela não indicaria uma influência humana. Zilhão vê na prática do uso de pintura corporal e bijuteria um certo grau de sofisticação.
“As pessoas têm que acabar com essa ideia de que os Neandertais eram débeis mentais”, afirmou. O estudo foi divulgado em Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Fonte: Portal Terra

domingo, 3 de março de 2013

Breve História Ilustrada da Humanidade

Por maior que seja o esforço em contar a história da humanidade, esta é tão extensa, complexa e recheada de detalhes que torna esta tarefa quase impossível. A proposta que aqui fica é a de contar essa história com imagens.
Veja galeria completa: Obvious (um olhar mais demorado).

sábado, 2 de março de 2013

Erasmo de Roterdã vs. Martinho Lutero

Quando a poderosa Igreja Católica começou a ter sua autoridade moral questionada na Europa, por volta do final do século XV, em razão da corrupção e da lassidão de seus líderes, vários foram os pensadores, dentro e fora da própria Igreja, que defenderam reformas na instituição – quando não, a superação da mesma. Dois desses reformadores foram Erasmo de Roterdã e Martinho Lutero.
O espírito reformador
Erasmo, apesar de profundamente cristão, se opôs ao domínio da Igreja Católica na ciência, na cultura e na Educação. Seguia a linha de tradição de Tertuliano e Pelágio, que consideravam normal que leigos cultos pudessem perfeitamente conduzir a Igreja, recusando a exclusividade dessa função ao clero. Ele era, em grande medida, um produto da nova civilização urbana renascentista, e ficou contente em notar, por exemplo, que um número cada vez maior de escolas estavam sendo fundadas por pessoas laicas, quando a Igreja ainda reivindicava o direito de monopolizar o ensino. Essa defesa da diminuição do papel clerical na vida das pessoas era fruto de sua crença de que não podiam haver intermediários entre os cristãos e as Escrituras, e isso era um ponto que ele tinha em comum com todos os reformadores, numa época em que as tentativas de se estudar a Bíblia por si só constituíam prova circunstancial de heresia – e a pessoa poderia ir para a fogueira por isso. A imprensa popularizou o acesso às Escrituras de tal modo que os censores da Igreja já não podiam dar conta do volume de cópias publicadas, e Erasmo saudou esse acontecimento de sua Época: Será que Cristo ficaria ofendido que o leiam aqueles que Ele escolheu para seus ouvintes? Em minha opinião, o agricultor deveria lê-lo, junto com o ferreiro e o pedreiro, e mesmo prostitutas, alcoviteiras e turcos. Se Cristo não lhes recusou sua voz, tampouco serei eu a recusar-lhes seus livros” A Bíblia era, para Erasmo, bem como para os reformadores, o centro da vida cristã. Rejeitavam o cristianismo mecânico da Igreja Católica e suas indulgências, peregrinações, privilégios especiais, todo o negócio de conquistar a salvação com dinheiro.
Pontos de divergência com protestantes
Onde estaria, então, a salvação para os cristãos? Aqui é o ponto onde começam as divergências entre a reforma erasmiana e a luterana (e mais tarde, a calvinista). Erasmo defendia que a salvação era conquistada com a devoção privada, de maneira direta, sem intermediários. A Igreja, na sua visão, precisava reduzir a teologia ao mínimo, de modo a simplificar a fé e a salvação. Os crentes poderiam ou não aceitar as definições oficiais dos teólogos, usando o próprio discernimento para solucionar as dúvidas. Sua proposta era abominável para os olhos da Igreja, ávida, pelo contrário, por mais controle e autoridade sobre os fiéis, mas também era incompatível com a ideia dos reformadores protestantes. Erasmo defendia uma reforma moral, pura e simples; para Martinho Lutero, uma reforma moral da Igreja era importante, mas não podia parar por aí. Ela só faria sentido se ocorresse dentro de um contexto de mudança institucional e correções drásticas na doutrina. Não era questão de apenas simplificar a doutrina mas de corrigi-la – o que significava mais doutrinas, não menos.
Os ataques e acusações entre católicos e protestantes
Erasmo se mantinha neutro com relação aos ataques violentos de Lutero contra o clero, e as respostas dos correligionários destes na mesma moeda. Lutero convocava a cristandade a “lavar suas mãos no sangue desses cardeais, papas e o restante da ralé da Sodoma romana”, enquanto os teólogos papistas bradavam pela execução “daquele pestilento flato de Satanás, cujo mau cheiro chega aos céus”. Lutero não abria mão de fazer valer suas doutrinas nas áreas de sua influência, e Erasmo deplorava o fato do líder protestante haver recorrido aos príncipes germânicos para apoiarem sua Reforma. O governante de cada Estado definir do alto a religião do seu povo era um acinte. Sendo pacifista e tolerante, não aceitava o princípio da “guerra justa”, contra as religiões minoritárias, como Lutero. Conforme escreveu ao duque da Saxônia: “tolerar seitas pode parecer-lhe um grande mal, mas ainda é muito melhor do que a guerra religiosa”.
Erasmo contesta Lutero publicamente
Martinho Lutero publicamente mantinha uma postura de respeito frente a Erasmo, mas na verdade, via-o como um “cético orgulhoso”, um homem de pouca fé. Por sua vez, Erasmo considerava Lutero como um “godo”, um homem do passado, por conta de seu radicalismo fanático. A ampla disseminação das visões deterministas da salvação defendidas por Martinho Lutero obrigou Erasmo a sair da neutralidade. Em sua Discussão do Livre-Arbítrio (1524) rejeitou a ideia de predestinação, enfatizando a capacidade humana de obter a salvação pelos seus próprios meios, obtendo de Lutero uma resposta, como sempre rude. À medida que Lutero ia se impondo, Erasmo ia se afastando dos reformadores. Passou seus últimos dias em cidades tolerantes onde desejava escapar da guerra religiosa que estava por vir. Acreditava que o mundo estava enlouquecendo, e em uma de suas últimas obras, Sobre a Doce Concórdia da Igreja, fez seu último apelo por tolerância mútua, humildade, boa vontade e moderação. Foi atacado violentamente pelos dois lados, o católico e o luterano.
A terceira via que não vingou
Alguns dos intelectuais mais proeminentes defendiam as propostas de Erasmo. O reformador moderado Ecolampédio escreveu-lhe, em 1522: “Não desejamos nem a igreja luterana, nem a católica. Queremos uma terceira”. Como todos sabem, infelizmente essa terceira igreja, como o próprio Erasmo se referia, não prevaleceu, e até hoje assistimos a essa disputa teológica entre católicos e protestantes, mas que pelo menos já sem as cenas de matança, guerras, expulsões, e conflitos violentos de tempos atrás. O mundo perdeu a chance de ter uma instituição religiosa mais tolerante e defensora da paz, como era o sonho de Erasmo, e em vez disso, viu aumentar cada vez mais as disputas e guerras em torno da fé com a Reforma e a Contra-Reforma.
Almir Ferreira ( Rama na Vimana )

sexta-feira, 1 de março de 2013

Estética do labirinto

Vincent van Gogh
A natureza, em seu amor ardente,
no círculo da própria negação,
em ouro, pedra e sal ambivalente,
trabalha na perene transição.
Dissolve e coagula eternamente
a vida, que renasce, em floração,
da morte, como a lua refulgente,
surgindo na profunda escuridão.
Na síntese do velho Magofonte,
a vívida matéria se desfaz
em águas claras, na secreta fonte:
até que inesperada se refaz,
envolta, como a Uroburos insonte,
num círculo sutil que não se esfaz.

Marco Lucchesi