Andrea Kowch
“A casa não é destinada a morar, o tecido não é disposto a vestir,
O pão ainda é destinado a alimentar: ele tem de dar lucro.
Mas se a produção apenas é consumida, e não é também vendida
Porque o salário dos produtores é muito baixo – quando é aumentado
Já não vale mais a pena mandar produzir a mercadoria –, por que
Alugar mãos? Elas têm de fazer coisas maiores no banco da fábrica
Do que alimentar seu dono e os seus, se é que se quer que haja
Lucro! Apenas: para onde com a mercadoria? A boa lógica diz:
Lã e trigo, café e frutas e peixes e porcos, tudo junto
É sacrificado ao fogo, a fim de aguentar o deus do lucro!
Montanhas de maquinaria, ferramentas de exércitos em trabalho,
Estaleiros, altos-fornos, lanifícios¹, minas e moinhos:
Tudo quebrado e, para amolecer o deus do lucro, sacrificado!
De fato, seu deus do lucro está tomado pela cegueira.
As vítimas...
Ele não vê.
[…] As leis da economia se revelam
Como a lei da gravidade, quando a casa cai em estrondos
Sobre as nossas cabeças. Em pânico, a burguesia atormentada
Despedaça os próprios bens e desvaira com seus restos
Pelo mundo afora em busca de novos e maiores mercados.
(E pensando evitar a peste alguém apenas a carrega consigo, empestando
Também os recantos onde se refugia!) Em novas e maiores crises
A burguesia volta atônita a si. Mas os miseráveis, exércitos gigantes,
Que ela, planejadamente, mas sem planos, arrasta consigo,
Atirando-os a saunas e depois de volta a estradas geladas,
Começam a entender que o mundo burguês tem seus dias contados
Por se mostrar pequeno demais para comportar
a riqueza que ele próprio criou.”
O pão ainda é destinado a alimentar: ele tem de dar lucro.
Mas se a produção apenas é consumida, e não é também vendida
Porque o salário dos produtores é muito baixo – quando é aumentado
Já não vale mais a pena mandar produzir a mercadoria –, por que
Alugar mãos? Elas têm de fazer coisas maiores no banco da fábrica
Do que alimentar seu dono e os seus, se é que se quer que haja
Lucro! Apenas: para onde com a mercadoria? A boa lógica diz:
Lã e trigo, café e frutas e peixes e porcos, tudo junto
É sacrificado ao fogo, a fim de aguentar o deus do lucro!
Montanhas de maquinaria, ferramentas de exércitos em trabalho,
Estaleiros, altos-fornos, lanifícios¹, minas e moinhos:
Tudo quebrado e, para amolecer o deus do lucro, sacrificado!
De fato, seu deus do lucro está tomado pela cegueira.
As vítimas...
Ele não vê.
[…] As leis da economia se revelam
Como a lei da gravidade, quando a casa cai em estrondos
Sobre as nossas cabeças. Em pânico, a burguesia atormentada
Despedaça os próprios bens e desvaira com seus restos
Pelo mundo afora em busca de novos e maiores mercados.
(E pensando evitar a peste alguém apenas a carrega consigo, empestando
Também os recantos onde se refugia!) Em novas e maiores crises
A burguesia volta atônita a si. Mas os miseráveis, exércitos gigantes,
Que ela, planejadamente, mas sem planos, arrasta consigo,
Atirando-os a saunas e depois de volta a estradas geladas,
Começam a entender que o mundo burguês tem seus dias contados
Por se mostrar pequeno demais para comportar
a riqueza que ele próprio criou.”
(BRECHT, Bertolt. O manifesto. Crítica marxista,
São Paulo, n. 16, p.116, mar. 2003.)
Os versos anteriores fazem parte de um poema inacabado de Brecht (1898-1956) numa tentativa de versificar O manifesto do partido comunista de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). De acordo com o poema e com os conhecimentos da teoria de Marx sobre o capitalismo, é correto afirmar que, na sociedade burguesa, as crises econômicas e políticas, a concentração da renda, a pobreza e a fome são: inerentes a esse modo de produção e a essa formação social.
¹ = tecido de lã
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