sábado, 12 de outubro de 2013

Hildegard von Bingen

Idade Media (Séc. V - XIV)
Parte 2
Hildegard von Bingen (1098-1179)
Hildegard von Bingen- O homem-microcosmo

Num mundo medieval dominado pela insegurança, pelo clero e por senhores feudais, Von Bingen não se deixou dominar. Foi a primeira feminista da história. Com muita habilidade e trabalho, construiu e administrou dois conventos, escreveu livros de teologia, medicina e ciências naturais, compôs música sacra. Sua maior batalha, no entanto, foi não se deixar calar.
Hildegard provinha de família nobre do sul da Alemanha. Já aos três anos de idade, a futura abadessa demonstrava habilidades visionárias. Mas foi somente aos 15 anos, como interna do convento junto ao mosteiro beneditino de Disibodenberg, que percebeu quão especial era a habilidade que possuía.
Como era de costume entre as famílias nobres medievais, meninas e meninos saíam de casa, já na idade de sete anos, para a formação como cavaleiros e freiras. Além disso, muitas famílias preferiam ver suas filhas num convento do que nas mãos de um bruto senhor feudal.
Além da leitura dos escritos sagrados, a curiosa Hildegard pode, no convento beneditino, aprender a ler e a escrever rudimentos de latim. Ela não teve, no entanto, um aprendizado sistemático dos cânones do conhecimento medieval baseados nas sete artes liberais, divididas em trívio (gramática, retórica e dialética) e quadrívio (aritmética, geometria, música e astrônomia). Isto era reservado aos membros masculinos da ordem.
Hildegard demonstrou grande talento como administradora. Conseguiu o apoio do papa e do arcebispo de Mainz na briga com os monges de Disibodenberg pelas terras, até então administradas pelos monges beneditinos, dadas pelas famílias das freiras que a acompanharam para o novo convento.
No convento, a abadessa afrouxa as regras beneditinas. A música é muito importante para Hildegard. Para receberem o sacramento da comunhão, suas freiras, com anel no dedo e vestidas de branco e de flores, entoam canções que ela mesmo compunha. A ideia do casamento substitui a da morte na relação com Cristo, o que explica as procissões de freiras que antes pareciam fúnebres. Para Hildegard, a Igreja é uma mulher ao lado do Senhor.
Os trabalhos no hospital e na horta do convento levam a duas outras importantes obras da abadessa, o livro de ciências naturais e o livro de medicina natural. A obra de Hildegard sobre plantas medicinais escrita em 1158 é, até hoje, referência da medicina natural. Assim como São Bernardo de Clairvaux, Hildegard não acredita encontrar Deus na razão.
Ela aprendeu a olhar os lírios dos campos e a ver neles a presença divina que também levaria a cura de doenças. Para ela, o homem saudável estava em sintonia com Deus. Hildegard aliou a antiga medicina dos gregos, propagada por Galeno, à fé cristã. Para ela, micro e macrocosmo interagem lado a lado em sua percepção do homem e de Deus. Para honrar a Deus, o homem teria que interagir com seu meio-ambiente.
O século 12 trouxe muitas mudanças para a Idade Média, que se distanciava da ideia de um Deus absoluto. Hildegard foi aristotélica avant la lettre. Somente no século seguinte, São Tomás de Aquino, o mais sábio dos santos, resgataria teologicamente o aristotelismo na doutrina cristã.
Por volta de 1150, Hildegard mudou o seu convento de Disibodenberg para Bingen, 30 km. a norte, nas margens do Reno. Mais tarde, fundou outro convento em Eibingen, na outra margem do rio.
Escreveu música e textos em honra da Virgem Maria em canto chão (gregoriano) e antífonas. Dessa época, é “Peça sobre as Virtudes”.
Escreveu ainda dois livros de visões “Livro dos merecimentos da Vida” e “Livro das Obras Divinas”.
Se o interesse pelos seus livros é hoje puramente histórico, já a sua música é objeto de enorme divulgação nos últimos decênios, com inúmeros discos gravados.
Em 2009 sua vida virou filme. O nome do filme é Vision – From the Life of Hildegard von Bingen, dirigido por Margarethe von Trotta.
Ela previu a própria morte para o dia 17 de setembro de 1179. E assim o foi. Hildegard von Bingen nunca foi canonizada pela Igreja Católica. Sua sagacidade também lhe gerou muitos inimigos. Talvez por isto seu processo de canonização foi arquivado já no século 13.
Por outro lado, como poderia ser canonizada uma mulher que ousou penetrar um terreno destinado aos homens? Como pode ser santificado alguém que sempre esteve tão próximo à terra?
Para Hildegard, Deus existia para aqueles que achavam que ele existia. Na mesma lógica, Von Bingen é santa para aqueles que acham que ela o é. O boom da medicina natural prova que, até hoje, ressoam suas ideias, pois as doenças da sociedade industrial não podem ser curadas com os remédios que ela mesmo produz.

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