Maria Quitéria (1792-1853),
mulher-soldado, heroína da luta pela independência
Domenico Failutti - Maria Quitéria
Maria Quitéria de Jesus nasceu entre os anos de 1792 e 1797, no Arraial de São José de Itapororocas, hoje distrito Maria Quitéria, em Feira de Santana, Bahia. Filha primogênita de Gonçalo Alves de Almeida e Quitéria Maria de Jesus, foi batizada em 27 de julho de 1798.
Depois da proclamação, por D. Pedro, cinco províncias – Bahia, Piauí, Maranhão, Grão-Pará e Cisplatina – continuaram leais às Cortes de Lisboa. Neste contexto de conflitos, houve necessidade de solicitar o apoio da população para lutar contra os portugueses. O movimento pró-independência enviou mensageiros a fim de angariar dinheiro e voluntários para as tropas brasileiras. Quando a Fazenda Serra da Agulha, na Bahia, foi visitada, seu proprietário, Gonçalo Alves de Almeida, em nada colaborou. A filha, Maria Quitéria, contudo, externou o desejo de juntar-se às tropas pela independência: “Tenho o coração abrasado; deixa-me ir e empunhar armas em tão justa guerra!”, disse ao pai. Autoritário, ele desaprovou: “As mulheres fiam, tecem e bordam. A guerra é para homens”. Não satisfeita, a humilde sertaneja baiana fugiu de casa e, com o apoio da irmã Teresa e do marido desta, José Cordeiro de Medeiros, cortou o cabelo, vestiu o uniforme do cunhado e alistou-se como se fosse “filho” deles no Corpo de Artilharia. Apresentou-se ao Corpo de Caçadores, com o nome de soldado Medeiros. Seu disfarce durou apenas duas semanas, quando o pai, que andava à sua procura, a revelou. No entanto, devido a seu grande desempenho em combate, à sua habilidade ao manejar armas e à sua bravura, o major Silva e Castro não permitiu que fosse desligada.
Em 2 de julho de 1823, o Exército Libertador cumpriu sua missão na Bahia. Maria Quitéria foi aclamada pela população. Foi recebida pelo imperador D. Pedro I, que lhe ofereceu a medalha de “Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro” e um soldo vitalício de alferes. Ela, então, pediu ao imperador que solicitasse a seu pai perdão pela desobediência. Obteve a sonhada reconciliação. Ao voltar para casa, casou-se com um antigo namorado, o lavrador Gabriel Pereira de Brito, com quem teve uma filha, Luísa Maria da Conceição. A família viveu com simplicidade. No dia 21 de agosto de 1853, Maria Quitéria faleceu em um triste anonimato, completamente esquecida pelo povo que ajudou a libertar. Foi, porém, homenageada pelo Exército, quando do centenário de seu falecimento, em 11 de maio de 1953. Por ordem do Ministério da Guerra, todas as unidades e repartições militares passaram a ter um retrato dela. Em 1996, foi declarada patrono do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro.
Maria Quitéria incorporou um saiote por cima da farda. Por seus atos de bravura, foi promovida a cadete. Após a Independência, chegou a ser recebida por Dom Pedro I, que a agraciou com uma insígnia imperial e lhe garantiu um soldo vitalício. Maria Quitéria morreu em Salvador em 1853, aos 61 anos, pobre e cega. Em 1996, um decreto presidencial a tornou um dos patronos do Exército brasileiro.