quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Soneto

Albert Joseph Moore - Seagulls
Já o Inverno, espremendo as cãs nervosas,
geme, de horrendas nuvens carregados;
luz o aéreo fuzil, e o mar inchado
investe ao polo em serras escumosas;

oh, benignas manhãs! tardes saudosas,
em que folga o pastor, medrando o gado,
em que brincam no ervoso e fértil prado
Ninfas e Amores, Zéfiros e Rosas!

Voltai, retrocedei, formosos dias:
ou antes, vem, vem tu, doce beleza,
que noutros campos mil prazeres crias;

e ao ver-te sentirá minh'alma acesa
os perfumes, o encanto, as alegrias
da estação, que remoça a natureza.

Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805)

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