sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A quinze metros do arco-íris

“A quinze metros do arco-íris o sol é cheiroso.
Caracóis não aplicam saliva em vidros; mas,
nos brejos, se embutem até o latejo.
Nas brisas vem sempre um silêncio de garças.
Mais alto que o escuro é o rumor dos peixes.
Uma árvore bem gorjeada, com poucos segundos,
passa a fazer parte dos pássaros que a gorjeiam.
Quando a rã de cor palha está para ter —
ela espicha os olhinhos para Deus.
De cada vinte calangos, enlanguescidos por estrelas,
quinze perdem o rumo das grotas.
Todas estas informações têm soberba
desimportância científica — como andar de costas”.

Manoel de Barros

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