Madison Grant - Sua obra seviu como "Bíblia" para o Führer
Ele é uma das mais obscuras figuras entre os precursores do nazismo, mas a importância desse advogado americano em sua época foi extremamente marcante e, claro, alcançou a Alemanha e impressionou um jovem ambicioso de Viena: Adolf Hitler.
Adepto e grande divulgador das teorias racistas por um lado e conservador naturalista pioneiro por outro, Madison Grant nasceu em 1865 – ano que marca a abolição da escravatura nos Estados Unidos, a descoberta das primeiras leis da genética e da sistematização do eugenismo pelo cientista – matemático e antropólogo – inglês Francis Galton. Grant morreria em 1937, ano de construção do campo de Buchenwald, na ocasião em que Hitler, seu mais célebre admirador, se dedicava a dar uma sequência industrial a mais um de seus ensinamentos.
No curso dos anos de juventude de Grant, a sociedade americana é dominada pelos WASP (cidadãos de raça branca, origem anglo-saxã e religião protestante), membros da classe dirigente que amam se apresentar como “patrícios” – um termo, como sabemos, tomado emprestado à aristocracia detentora do poder em Roma. Eles são descendentes dos “pais fundadores”, que se organizaram para formar um novo país no fim do século anterior. Esses “patrícios” estão convencidos de sua destinação natural: as virtudes que teriam herdado pelo sangue os designaram para a tarefa de governar os Estados Unidos, impondo a sua visão do mundo aos demais.
Assim, os WASP veem o país como o seu patrimônio, e aos habitantes não WASP da América estão reservados dois papéis: ou o de servos de sua missão ou o de parasitas aproveitadores das sobras da grande obra dos pais fundadores. Assim, os ameríndios, herdeiros de uma terra inculta à qual os pioneiros levam as bênçãos da civilização, são dizimados sistematicamente e concentrados em suas reservas, por causa de sua “selvageria”, como é classificada qualquer forma de resistência.
Os descendentes dos escravos são tratados com mais condescendência, vistos como “primitivos”. As discretas populações asiáticas são desprezadas. Católicos e judeus, como o conjunto dos imigrantes da Europa central ou meridional, são acusados de déficit moral, os primeiros por uma suposta inclinação atávica, e os segundos por sua cupidez (“o judeu polonês”, escreve Grant, “anão por natureza e concentrado em seu interesse particular...”).
O mexicano é pouco mais que um indígena. Sua imagem tradicional é a de um bandoleiro pouco asseado, desordeiro e propenso ao consumo excessivo de álcool – e nesse perfil se enquadram indistintamente todos os latinos. As outras populações do mundo são ignoradas ou tratadas como fauna exótica.
A educação recebida por essa elite, que mistura cultura clássica, ritualística social estrita e exercícios físicos, faculta aos mais altos responsabilidades em aproximadamente todos os domínios. Formado por preceptores em Manhattan e em Dresden, na Alemanha, admitido no círculo estreito de Yale, diplomado em direito em Columbia, Madison Grant se forma como um “gentleman erudito”. Um de seus amigos mais próximos é Theodore Roosevelt (1858-1919), historiador, naturalista, explorador, escritor e soldado que se torna, em 1901, o 26º presidente dos Estados Unidos.
Caçador e naturalista, Grant é, também ele, inspirador da ecologia, das reservas naturais, um dos criadores do zoológico do Bronx, em Nova York, (1899), e o salvador de várias espécies vivas. Mas é a salvação da “raça branca” que lhe confere a celebridade e uma influência decisiva sobre todo o pensamento racista do século XX e, particularmente, a ideologia hitlerista.
Jean-Louis Vullierme
Filósofo e Escritor
Filósofo e Escritor
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