Jean Discart
Para mim, filosoficamente (se posso ter a pretensão de usar tal palavra), o presente não existe.
Só o tempo passado é que é tempo «reconhecível» — o tempo que «vem», porque «vai», não se detém, não fica presente.
Portanto, para o escritor que eu sou, não se trata de «recuperar» o passado, e muito menos de querer fazer dele lição do presente. O tempo vivido (e apenas ele, do ponto de vista humano, é tempo «de fato») apresenta-se unificado ao nosso entendimento, simultaneamente completo e em crescimento contínuo.
Desse tempo que assim se vai acumulando é que somos o produto infalível, não de um inapreensível presente.
Só o tempo passado é que é tempo «reconhecível» — o tempo que «vem», porque «vai», não se detém, não fica presente.
Portanto, para o escritor que eu sou, não se trata de «recuperar» o passado, e muito menos de querer fazer dele lição do presente. O tempo vivido (e apenas ele, do ponto de vista humano, é tempo «de fato») apresenta-se unificado ao nosso entendimento, simultaneamente completo e em crescimento contínuo.
Desse tempo que assim se vai acumulando é que somos o produto infalível, não de um inapreensível presente.
José Saramago (1922-2010)
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