domingo, 20 de outubro de 2013

Nas asas das horas

Camille Pissarro
As asas das horas passam ligeiras
Como andorinhas riscando o ar…
Ruídos de penas de aves viageiras
Que as minhas penas vêm aumentar.

Porque no voo do tempo a vida
Passa com as horas, de braços dados.
Quanta poesia mal compreendida!
Quantos amores mal compensados!

E as horas passam levando a vida
Como andorinhas nos céus nublados.

E os rios passam levando a vida…
Tudo que corre, tudo que voa,
O vento… as águas… E, na corrida,
Quanto castelo no ar se esboroa,
Quanta esperança desiludida!

E pelos ares, angustiado
Coro de vozes longe ressoa:
“Tempo maldito! Tempo apressado!
Ventos bravios! Águas correntes!
Não corram tanto! Vão devagar!…”

E as andorinhas indiferentes
Passam ligeiras, riscando o ar…
Olegário Mariano (1889-1958)

Nenhum comentário: