sábado, 31 de março de 2012

Haikai

Nicoletta Tomas Caravia
E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas.

Guilherme de Almeida (1890-1969)

Ditadura Militar

Os difíceis anos da História do Brasil.
Hoje faz 48 anos que os Militares deram um Golpe de Estado iniciando um período de Ditadura Militar. Esta época vai de 1964 a 1985.
Caracterizou-se pela:
  • Falta de democracia,
  • Supressão de direitos constitucionais,
  • Censura,
  • Perseguição política e
  • Repressão aos que eram contra o regime militar.
Foi um dos períodos mais conturbados da História do Brasil e um dos mais tristes episódios de nossa História.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Trem

Christopher Jenkins
Desembestar colina de emoções
Tremer as bitolas da paixão
Escancarar a boca do apito
Good-bye, fria razão.

Xidon Soares

quinta-feira, 29 de março de 2012

Outono

“Caem as folhas
tontas de sono e pelo ar voando...
Vão à procura do regaço morno do outono
ou de algum coração”.

Antônio Simões

Vento

Beatrix Potter - Peter Rabbit

“O vento é sempre o mesmo,
mas sua resposta é diferente em cada folha.
Somente a árvore seca
fica imóvel entre borboletas e pássaros”.

Cecília Meireles (1901-1964)

Carmem Miranda

Carmem Miranda por José Benicio

José Luiz Benício nasceu em Rio Pardo em, 1936. Considerado um dos maiores ilustradores do país, Benicio, é o nome por trás de 3.000 capas da editora Monterrey – de alguns dos melhores títulos da pulp fiction nacional – e dos cartazes de filmes da pornochanchada e dos Trapalhões, além de clássicos como Dona Flor e seus Dois Maridos.
Começando na carreira como aprendiz de desenhista em Porto Alegre com apenas 16 anos, transferiu-se para ao Rio de Janeiro em 1953, passando a trabalhar em departamentos de arte de agências de publicidade e na Editora Rio Gráfica. A partir de 1961, começou a trabalhar para a McCann Erickson Publicidade, fez importantes trabalhos para a Coca-Cola, Esso e outros grandes clientes. Com mais de 50 anos de carreira, ilustrando projetos de arquitetura e autor de trabalhos para as revistas Veja, Playboy e Isto É, entre outras, hoje dedica seu tempo a atender encomendas para ilustrações de anúncios publicitários e matérias internas de revistas, em seu estúdio particular no Leblon, Rio de Janeiro.
Veja o site do artista ( Aqui )

quarta-feira, 28 de março de 2012

Louise Labé

Louise Labé (1526-1566)
Uma intelectual e um "eu lírico feminino" em uma
harmoniosa articulação do Discurso Amoroso.

O Renascimento é uma época caracterizada por transições. Transição econômica e política (feudalismo – capitalismo), transição social (ruptura com as estruturas medievais) e transição artística (redescoberta e revalorização das referências da antiguidade clássica). Todas estas transições resultam em valores humanistas e naturalistas que levam em sua base conceitos associados ao Humanismo: o neoplatonismo, o antropocentrismo, o hedonismo, o racionalismo, o otimismo e o individualismo, cujo precursor é Petrarca.
Apesar de todas essas mudanças na sociedade e no pensamento da época, a mulher parecia estar em absoluto repouso intelectual e histórico; e continuava-se esperando que uma mulher fosse o objeto de mais alta virtude, que possuísse apenas dons naturais: bela e adorada, que se dedicasse às atividades cotidianas reduzidas ao casamento, em uma vida isolada e que, intelectualmente, somente desenvolvesse artes como tricô, tapeçaria, pintura e música. No entanto, nesse contexto aparece uma mulher que diz:
“Beijai-me agora, e muito, e outra vez mais,
Dai-me um de vossos beijos saborosos,
E depois, dai-me um desses amororos,
E eu pagarei com brasa o que me dais.

Com mais dez beijos longos, langorosos,
E assim, trocando afagos tão gostosos,
Gozemos um do outro, em calma e paz.

Eu viva em vós e vós vivendo em mim.
Deixai que vague, pois, meu pensamento:

Não dá prazer viver bem comportada;
Bem mais feliz me sinto, e contentada,
Quando cometo algum atrevimento”.

Louise Labé
Tradução: Sérgio Duarte

terça-feira, 27 de março de 2012

Soneto

Paul Fischer - Summer on the Beach
Vê-se morrer toda coisa animada,
Quando do corpo a alma leve parte.
Eu sou o corpo, e tu a melhor parte.
Onde estás, pois, ó alma bem-amada?

Nunca me deixes tão sobressaltada,
Para salvar-me após seria tarde.
Ah, não coloques teu corpo em tal arte:
Junta-lhe a parte e metade estimada.

Mas vem, Amigo, e sê bem cuidadoso
Nesse reencontro e retorno amoroso,
Acompanhando-o, nunca de dureza.

Nem de rigor: mas de graça amigável,
Que docemente tem tua beleza,
Antes cruel, agora favorável.

Louise Labé (1526-1566)
Tradução: Felipe Fortuna

segunda-feira, 26 de março de 2012

O Amor, Meu Amor

Richard Schmid
(...)
Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.

Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.

E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.
(...)

Mia Couto
"Fragmento"

Artemisia Gentileschi

Artemisia Gentileschi (1593-1653)

Numa época em que a pintura era um mundo exclusivamente masculino, não por falta de talentos femininos, mas porque o acesso ao estudo e métier da pintura era reservado aos homens, Artemisia Gentileschi destacou-se neste mundo tornando-se o primeiro grande nome da pintura no feminino.
Artemisia Gentileschi nasceu em Roma em 1593. Era filha de um pintor talentoso Orazio Gentileschi, que dominava muito bem a técnica de claro/escuro, muito na linha de Caravaggio. Artemisia vai ser muito influenciada por estes grandes nomes da pintura barroca.
Depois de receber os primeiros ensinamentos do seu pai, este, perante a impossibilidade desta frequentar a Academia, vai entregá-la aos cuidados de um amigo (Agostino Tassi). Tassi aproveitou-se da juventude e ingenuidade da jovem pintora. Acabou por a seduzir e violar. Esta violação deu origem a um longo, humilhante e penoso processo judicial, a que Artemisia se viu exposta e vilipendiada.
Sabe-se hoje que Tassi acabou por ser condenado a um exílio de Roma por um período de cinco anos. Este exílio acabou por durar apenas quatro meses, graças às influências que ele soube mexer.
A obra de Artemisia vai refletir este desejo de vingança. Neste quadro, tema recorrente na pintora, o general assírio Holofernes é decapitado por Judite, que assim libertou o seu povo (judeu) do jugo dos pagãos. Judite é quase um autorretrato da própria Artemisia: forte, vingadora e convicta. A degolação pode simbolizar a castração que ela certamente queria infligir ao seu abusador.
A pintora trabalhou arduamente para sustentar a família, visto que o seu marido, que gostava demasiado do jogo, apenas contribuía para que as dívidas se acumulassem.
Durante muito tempo a obra de Artemisia foi injustamente esquecida e por vezes atribuída a seu pai.
Hoje o seu reconhecimento é universal e constata-se que a sua obra contém, em muitos casos, um ponto de vista único, feminino e até feminista, extremamente avançado para a sua época.

domingo, 25 de março de 2012

Volta de passeio

Klimt - Water Serpents
Assassinado pelo céu,
entre as formas que vão para a serpente
e as formas que buscam o cristal,
deixarei crescer meus cabelos.

Com a árvore de tocos que não canta
e o menino com o branco rosto de ovo.

Com os animaizinhos de cabeça rota
e a água esfarrapada dos pés secos.

Com tudo o que tem cansaço surdo-mudo
e mariposa afogada no tinteiro.

Tropeçando com meu rosto diferente de cada dia.
Asassinado pelo céu !

Federico Garcia Lorca (1898-1936)
Tradução - William Agel de Melo

sábado, 24 de março de 2012

A poesia

Susan Rios
A poesia não é uma liberação de emoção,
mas um libertar-se da emoção.
A poesia não é uma expressão da personalidade,
mas um libertar-se da personalidade.
Mas só os que têm personalidade e emoções
sabem o que significa querer se libertar destas coisas.

T.S. Eliot (1888-1965)

Como a tuberculose mudou a arquitetura das cidades?

Wilhelm Schulz
A pandemia de coronavírus não foi a primeira a mudar hábitos e a maneira como nos relacionamos com o espaço.
Com as epidemias surge o design atual da casas, bem cono as práticas de saúde passaram dos laboratórios para as cidades e depois para as residências.
Com quase todo mundo passando mais tempo em casa, é normal que você tenha começado a reparar em coisas que não notava antes. Também é normal que você tenha se perguntado, em algum momento, se existe algo a se fazer, além da limpeza, para se livrar dos vírus. Mas o que você pode não saber é que muito do design das nossas casas contemporâneas surgiu em decorrência de outras grandes epidemias e pandemias, como a da gripe de 1918, tuberculose e disenteria, por exemplo.
A história do mobiliário dos últimos duzentos anos está muito relacionada a medidas de saúde. A professora de História da Arquitetura Juliana Suzuki explica que isso começa com as medidas sanitaristas na Europa, no final do século 19. Foi nessa época que as grandes descobertas sobre a transmissão de doenças estava acontecendo.
Naquela época, tarefas muito básicas, como lavar as mãos e limpar a casa, não eram costumes. Foi só com os avanços da Ciência e a descoberta das bactérias que a compreensão sobre higiene passou a ser difundida.
Não fosse pela tuberculose, talvez a arquitetura moderna não tivesse os contornos que a identificam hoje. Ambientes iluminados e assépticos, projetados para deixar circular o ar puro, foram a marca dos sanatórios voltados para o tratamento da tuberculose no fim do século 19, quando a doença era vista como resultado de falta de ventilação, clima desfavorável, sedentarismo, enclausuramento e falta de luz solar.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Arte

Susan Rios
Arte é um fazer
Em que se utiliza uma gama
muito variada de materiais,
Como a pedra, o corpo, a
voz,
Na criação de obras
relativamente duradouras, como
as catedrais, ou breves, como os
movimentos de uma dança,
Dando forma à multiplicidade
de experiências e valores
humanos,
Ampliando nossa consciência
De nós mesmos, do outro e do
mundo.

Luís Camargo

quinta-feira, 22 de março de 2012

És da origem do mar

Robert Fowler - Aphrodite

És da origem do mar, vens do secreto,
do estranho mar espumaroso e frio
que põe rede de sonhos ao navio
e o deixa balouçar, na vaga, inquieto.
Possuis do mar o deslumbrante afeto,
as dormências nervosas e o sombrio
e torvo aspecto aterrador, bravio
das ondas no atro e proceloso aspecto.
Num fundo ideal de púrpuras e rosas
surges das águas mucilaginosas
como a lua entre a névoa dos espaços…
Trazes na carne o eflorescer das vinhas,
auroras, virgens músicas marinhas,
acres aromas de algas e sargaços…

Cruz e Souza (1861-1898)

quarta-feira, 21 de março de 2012

Atenção!

Outono

Renoir - Duck pond
A manhã de Outono amarelou a janela
como se em vez de minha, fosse dela.
Um céu azul insistente
veio compor a pintura
por entre galhos de ipê.
Agora, só faltava você
pra completar a cena na moldura.

Flora Figueiredo

terça-feira, 20 de março de 2012

Dia de outono

Marc Lucien - Golden Autumn Day
Senhor, foi um verão imenso: é hora.
Estende as tuas sombras nos relógios
de sol e solta os ventos prado afora.

Instiga a sazonarem, com dois dias
a mais de sul, as frutas que, tardias,
conduzes rumo à plenitude, e apura,
no vinho denso, a última doçura.

Quem não tem lar já não terá; quem mora
sozinho há de velar e ler sozinho,
escrever longas cartas e, a caminho
de nada, há de trilhar ruas agora,
enquanto as folhas caem em torvelinho.

Rainer Maria Rilke (1875-1926)
(Tradução: Nelson Ascher)

Outono

Imagens de Outono.
Eugène Delacroix - (Francês,1798-1863) .
Evelyn Pickering De Morgan - (Britânico, 1855-1919).
Isaak Il’ich Levitan - (Russia, 1860-1900).
Nicolas Poussin - (Francês, 1594-1665).
John William Godward (Britânico, 1861-1922).
Jean-Léon Gérôme - (Francês, 1824-1904).

segunda-feira, 19 de março de 2012

Voz de Gente

Edmund Blair Leighton - A Stolen Interview
Não é voz de passarinho
flauta do mato
viola

Não é voz de violão
clarinete pianola

É voz de gente
(na varanda? na janela?
na saudade? na prisão?)

é voz de gente - poema:
fogo logro solidão.

Ferreira Gullar

Simplicidade... Simplicidade...

Washington Maguetas
Simplicidade... Simplicidade...
Ser como as rosas, o céu sem fim,
a árvore, o rio... Por que não há de
ser toda gente também assim?

Ser como as rosas: bocas vermelhas
que não disseram nunca a ninguém
que têm perfumes... Mas as abelhas
e os homens sabem o que o que elas têm!

Ser como o espaço, que é azul de longe,
de perto é nada... Mas quem o vê
— árvores, aves, olhos de monge... —
busca-o sem mesmo saber porque.

Ser como o rio cheio de graça,
que move o moinho, dá vida ao lar,
fecunda as terras... E, rindo, passa,
despretensioso, sempre a cantar.

Ou ser como a árvore: aos lavradores
dá lenha e fruto, dá sombra e paz;
dá ninho às aves; ao inseto flores...
Mas nada sabe do bem que faz.

Felicidade — sonho sombrio!
Feliz é o simples que sabe ser
como o ar, as rosas, a árvore, o rio:
simples, mas simples sem o saber!

Guilherme de Almeida (1890-1969)

domingo, 18 de março de 2012

Soneto

Haibin
Eu me pergunto pelo teu caminho,
pelas veredas desse teu viver;
porque eu quisera dar-te meu carinho
e ver teu rosto a cada amanhecer.

Eu te procuro... Mas não te adivinho,
onde meu toque possa te envolver...
E me pergunto se vives sozinho...
E se me guardas junto ao teu querer.

Eu te procuro, dia ou madrugada,
meu pensamento voa, sem parada...
Quem é aquela que te faz feliz?

Quem te resguarda, quando tens tristeza,
quem te acarinha, quando há incerteza...
Quem te aconchega, como eu sempre quis?

- Patricia Neme –

sábado, 17 de março de 2012

O Gênio da Humanidade

Gina Deininger
Sou eu quem assiste às lutas,
Que dentro d´alma se dão,
Quem sonda todas as grutas
Profundas do coração:
Quis ver dos céus o segredo;
Rebelde, sobre um rochedo
Cravado, fui Prometeu;
Tive sede do infinito,
Gênio, feliz ou maldito,
A Humanidade sou eu.

Ergo o braço, aceno aos ares,
E o céu se azulando vai;
Estendo a mão sobre os mares,
E os mares dizem: passai!…
Satisfazendo ao anelo
Do bom, do grande e do belo,
Todas as formas tomei:
Com Homero fui poeta,
Com Isaías profeta,
Com Alexandre fui rei.

(...)

Travei-me em lutas imensas,
Por vezes, cansado e nu,
Gritei ao céu: em que pensas?
Ao mar: de que choras tu?
Caminho… e tudo que faço
Derramo sobre o regaço
Da história, que é minha irmã:
Chamem-me Byron ou Goethe,
Na fronte do meu ginete
Brilha a estrela da manhã.

Tobias Barreto (1839-1889)

sexta-feira, 16 de março de 2012

O Homem que Contempla

Kamil Swiatek - Crashing Waves
Vejo que as tempestades vêm aí
pelas árvores que, à medida
que os dias se tomam mornos,
batem nas minhas janelas assustadas
e ouço as distâncias dizerem coisas
que não sei suportar sem um amigo,
que não posso amar sem uma irmã.
E a tempestade rodopia, e transforma tudo,
atravessa a floresta e o tempo
e tudo parece sem idade:
a paisagem, como um verso do saltério,
é pujança, ardor, eternidade.
Que pequeno é aquilo contra que lutamos,
como é imenso, o que contra nós luta;
se nos deixássemos, como fazem as coisas,
assaltar assim pela grande tempestade,
chegaríamos longe e seríamos anônimos.
Triunfamos sobre o que é Pequeno
e o próprio êxito torna-nos pequenos.
Nem o Eterno nem o Extraordinário
serão derrotados por nós.
Este é o anjo que aparecia
aos lutadores do Antigo Testamento:
quando os nervos dos seus adversários
na luta ficavam tensos e como metal,
sentia-os ele debaixo dos seus dedos
como cordas tocando profundas melodias.
Aquele que venceu este anjo
que tantas vezes renunciou à luta.
esse caminha ereto, justificado,
e sai grande daquela dura mão
que, como se o esculpisse,
se estreitou à sua volta.
Os triunfos já não o tentam.
O seu crescimento é: ser
o profundamente vencido
por algo cada vez maior.





Rainer Maria Rilke (1875-1926)

quinta-feira, 15 de março de 2012

Pequeno parágrafo sobre a procura

Sir Lawrence Alma-Tadema

Há sempre um amor procurando seu nome
Na solidão do livro dos tempos.

Há sempre uma veste nupcial
Pendendo da guilhotina da noite.

Há sempre restos do Minotauro
A escurecer os campos tranquilos.

Há sempre um olhar espiando o horizonte,
Um olhar que não foi visto.

Murilo Mendes (1901-1975)