sábado, 31 de dezembro de 2011

Poema de Ano-Novo

É preciso que nos encontremos diante do amor como as árvores fêmeas
cuja raiz é a mesma e se perde na terra profana
É preciso...a tristeza está no fundo de todos
os sentimentos como a lágrima no fundo de todos os olhos
Sejamos graves e prodigiosos, ó minha amada,
e sejamos também irmãos e amigos.

É preciso que levemos diante de nós o retrato das nossas almas
como se fôssemos a um tempo a Verônica e o Crucificado
Eu sou o eterno homem e hoje que a dor fecunda o tempo
eu sinto mais que nunca a vontade de fechar
os braços sobre a minha miséria.
Fiquemos como duas crianças pensativas sentadas numa escada
- todos serão os peregrinos e apenas nós os contemplados.

Vinícius de Moraes (1913-1980)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Nascer do dia

Charles Courtney Curran
Fica, doçura, não te levantes;
A luz que brilha vem dos teus olhos neste instante;
Não é o dia que se levanta, meu coração é que tropeça
Porque devemos tu e eu nos separar com pressa.
Fica, senão minhas alegrias perecem,
Ainda na infância, já se extinguem.

John Donne (1572-1631)
Tradução: Marina Della Valle

A capela mais antiga de Campinas

Capela de Santa Cruz
Não se sabe ao certo quando foi construída a capela de Santa Cruz. Por esse motivo, acredita-se que ela seja a igreja mais antiga de Campinas.
Quando a notícia da descoberta do ouro se espalhou pelo Brasil, no início do século XVIII, os viajantes começaram a usar o pouso real para descanso e abastecimento. Naquela época, a capela já existia.
Hoje, discreta e simples, ela fica oculta pelo muro e portão que a protegem, mas recebe normalmente os munícipes para missas e festas religiosas. Desde 1871, a capela de Santa Cruz tem como padroeira Nossa Senhora do Monte Carmelo.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Saudade de ti

Federico Andreotti - Courting Couple
Mudei o gosto
mudei a idade
mudei o rosto
da identidade

Mudei de teto
troquei de rua
fui para perto
do fim da lua

Mudei o amor
dentro de mim
troquei de flor
do meu jardim

Troquei de tudo
mudo eu fiquei
só por vaidade
só não troquei
foi de saudade.

A. Estebanez

A fatalidade

Roman Lipinski

Um moço azul atirou-se de um jasmineiro
Os sinos perderam a fala
A fértil sementeira de espadas
Atrai o olhar das crianças

Não existem mais dimensões
Nem cálculos possíveis
O vento caminha
A léguas da história
As rosas quebram a vidraça.

Demoliram uma mulher
A sons de clarinete.

Escrevo para me tornar invisível,
Para perder a chave do abismo.

Murilo Mendes (1901-1975)

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Sagamar

Mar ave ilha
dessa vaga na milha

vento lavrador
nessa língua crespa

poreja o sal
nessa mão azul

um sol que ama
em cada verde

veia de saga
ardor do signo

viga de velejar
mastro que te veste

ao mar de silêncio
dardo dúbio do vento.

Cyro de Mattos

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Não encontraste a rua

Paul Gauguin
Não encontraste a rua
Não encontraste a casa
Não encontraste a mesa
No café que alguém
Por engano indicou.

Mas a cidade é esta
E não outra

Não encontraste o rosto

O anel caiu
Ninguém sabe aonde.

Alberto Lacerda (1928-2007)

domingo, 25 de dezembro de 2011

Natal

Piero Della Francesca
O
NATAL
anuncia
que Deus fugiu
de ser Deus.
Invejou os
prazeres que os homens
podiam ter e ele não:
dormir, tomar banho

de cachoeira, chupar
mexerica, brincar, amar,
ter que se esforçar por conseguir.
A teologia cristã dá a isso o
nome de "encarnação".
O NATAL é DEUS dizendo
que, divino, mesmo, é o humano.

Rubem Alves

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O que fizeram do Natal

Natal
O sino toca fino.
Não tem neves, não tem gelos.
Natal.
Já nasceu o deus menino.
As beatas foram ver,
Encontraram o coitadinho
(Natal)
mais o boi mais o burrinho
e lá em cima
a estrelinha alumiando.
Natal.

As beatas ajoelharam
e adoraram o deus nuzinho
mas as filhas das beatas
e os namorados das filhas
foram dançar black-bottom
nos clubes sem presépio.

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Haikai

Tarde de verão.
O Papai Noel suando
distribui presentes.

Delores Pires

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Haikai

Sapato à janela
sonha com Papai Noel
junto da favela.

Delores Pires

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Poesia

Peter Taylor Quidley
Dir-se-ia de repente
O horizonte é mais vasto e generoso

O coração repousa
Um pouco

Distende as asas
Mas sem levantar voo.

Alberto Lacerda (1928-2007)

Acendem-se catedrais

John Buckler
... e o sedento busca o cântaro

Acendem-se catedrais
porque a fé renasce despejando sons
fecundando ideias

Presença entrelaça mãos
num ritual de cânticos milenares

Reencontram-se os perdidos no século!

Acendem-se catedrais
porque a poesia vence barreiras
restaura imagens
limitando espaço

O sedento busca o cântaro
e habita a alma do poeta.

Lia Corrêa

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O silêncio é crístico

O silêncio é crístico.
É o emblema da luz.
A conexão com a fonte.
Tome-o por filho
e ouça a sua respiração.
Ouvirás o inspirar da prece
e o expirar da paz.

Maria Lúcia Siqueira

domingo, 18 de dezembro de 2011

Eu queria uma rede

William Chadwick - The Hammock
Eu queria uma rede
Uma redinha
Para balançar o tempo
E fazê-lo tarde no meu dia lento
E assim sentir o vento
Na mansidão de quem nina
Nana
Nana menina
Que tudo pode esperar
A vida já não tem mais pressa
E o que de verdade interessa é te balançar
Nana
Nana menina
Jogue os pés para o alto
E sinta-os voar
Mas voe devagarinho
E vá piscando os olhinhos
Pro sonho te embalar.

Romana Alves

sábado, 17 de dezembro de 2011

Reformulamos amar

Albena Vatcheva
Reformulamos amar, porém se fórmula
não existia como repeti-la?

É preciso criar um eco ambíguo
que deixe de ser eco e tome a forma

do que viver possa ter sido:
encontraremos restos do sentido

que num instante incerto alguma coisa fez
e nunca poderá ser repetido.

Gastão Cruz

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Ícaro

Charles Paul Landon
O sol dos Sonhos derreteu-lhe as asas.
E caiu lá do céu onde voava
Ao rés-do-chão da vida.
A um mar sem ondas onde navegava
A paz rasteira nunca desmentida...

Mas ainda dorida
No seio sedativo da planura,
A alma já lhe pede impenitente,
A graça urgente
De uma nova aventura.

Miguel Torga (1907-1995)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Civilização Minoica

Afresco do Palácio Cnossos
A Civilização Minoica surgiu durante a Idade do Bronze Grega em Creta aproximadamente 1628 a.C. Foi redescoberta no começo do século XX durante as expedições arqueológicas do britânico Arthur Evans (1851-1941), devido ao lendário Rei Cretense, Minos. O historiador Will Durant refere-se a civilização como "o primeiro elo da cadeia europeia". Os primeiros sinais de práticas agrícolas não surgiram antes de 5 000 a.C., caracterizando então o começo da civilização.
O termo "minoico" foi cunhado por Arthur Evans e deriva do nome do rei mítico "Minos". Minos foi associado no mito grego do labirinto, que Evans identificou como o sítio de Cnossos.
Uma das características mais interessantes das ruínas de Cnossos, cidade situada em Creta, a maior ilha do Egeu, e que foi o centro da civilização minoica, é o fato de que os palácios e as cidades não são amuralhados. Isso transmite a ideia de uma civilização pacífica e sem rivais. O auge de Cnossos coincide com uma parte da história faraônica do Egito e com a civilização Assíria.
Os minoicos tinham certas cerimônias religiosas que ficaram retratadas em peças de decoração como cálices de metal. Elas retratam jovens, vinhas e bois. Estas características são um primeiro indício de ligação entre Creta e Atlântida, pois, segundo o documentário, Platão havia se referido cerimônias parecidas com aquelas retratadas naquelas peças.
O que é muito interessante é que na estética da arte deste povo, existe um ar de contemporaneidade. Sua expressão artística foi alegre, cheia de movimentos rítmicos e podemos até dizer, lúdica. A arte Cretense revelou uma concepção de beleza diferente: em lugar da estabilidade, da arte egípcia existe o ritmo, as ondas, ela é mais natural e suas formas têm balanço.
As cores fortes, como o vermelho, amarelo, azul e roxo foram suas paixões.
Toda a sua arte e as principais realizações deste povo apareceram e desapareceram abruptamente, provavelmente por forças externas sobre as quais os historiadores pouco sabem. Não se pode falar em crescimento ou desenvolvimento da civilização Minoica, pois ela simplesmente acabou, deixando a história sem continuidade. É isso que intriga e aguça a curiosidade!
O que pareceria muito divergente seria o fato, narrado por Platão, de que a civilização Atlântida havia desaparecido no mar em uma única noite. E isso não aconteceu com nenhuma parte da ilha de Creta. Mas aconteceu com a Ilha de Tera. Atualmente, essa outra ilha é um rochedo vulcânico, recoberto por cinzas de uma grande explosão que ocorreu durante a era minoica. As modernas escavações feitas no local revelaram traços muito semelhantes aos de Cnossos, indicando que os habitantes faziam parte da mesma civilização que dominava Creta durante aquela era. Mais do que isso, as construções de Tera se mostraram extremamente avançadas para os padrões da época: afrescos em quase todos os cômodos, fontes, água corrente no interior das casas. Assim como em Cnossos, as construções de Tera não revelaram o menor sinal de atividade militar. Os temas dos afrescos são cenas do cotidiano. A representação de animais africanos nesses afrescos mostra que Tera, assim como Cnossos, também deve ter mantido contato comercial com a África.
Essa civilização desenvolvida e pacífica, que possuía atividades religiosas onde o touro desempenhava papel central, é bastante assemelhada com o relato platônico da civilização Atlântida. Além disso, existem muitos registros de que a erupção que soterrou a ilha foi de proporções gigantescas. Existem relatos dos antigos escribas egípcios e chineses descrevendo as nuvens (certamente de origem vulcânica) que cobriram os céus no ano da erupção. Para que a tal nuvem tenha chegado até a China, sua causa tem que ter sido realmente catastrófica.
Também existem indícios de que os efeitos da erupção tenham chegado até a América do Norte. Na Califórnia existem pinheiros milenares cujo padrão de crescimento é alterado ao longo do ano devido à duração do dia. A cada ano, uma nova camada de madeira se forma nos pinheiros, que acabam servindo como um registro histórico de alterações climáticas. Precisamente na data provável da erupção no Egeu (aproximadamente século XVII antes de Cristo), os pinheiros registram uma redução de luminosidade fora de época, apontando para a provável influência da erupção em Tera.
A tese, portanto, é de que a lenda de Atlântida corresponde a uma narrativa um pouco distorcida dos acontecimentos passados em Tera. Mais ainda, é possível que o maremoto formado com a erupção tenha abalado seriamente a marinha mercante em Creta, contribuindo para a decadência relativamente rápida da civilização minoica.
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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O gosto solitário do orvalho

As folhas da bananeira são suficientemente amplas
para ocultarem uma paixão.
Quando expostas às intempéries
recordam-me ora a cauda ferida duma fénix
ora um leque verde rasgado pelo vento.
A bananeira floresce.
Todavia as suas flores nada têm de atraente.
O mesmo acontece com o tronco enorme.
Talvez por isso
a bananeira acabou por conquistar o meu coração.
Sento-me debaixo dela
enquanto o vento e a chuva a fustigam.

Matsuo Bashô (1644 - 1694)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Arte Naïf

Lucia Buccini - Pedrinho vai passear na vila.
O termo arte naïf aparece no vocabulário artístico, em geral, como sinônimo de arte ingênua, original e/ou instintiva, produzida por autodidatas que não têm formação culta no campo das artes. Nesse sentido, a expressão se confunde frequentemente com arte popular, arte primitiva por tentar descrever modos expressivos autênticos, originários da subjetividade e da imaginação criadora de pessoas estranhas à tradição e ao sistema artístico. A pintura naïf se caracteriza pela ausência das técnicas usuais de representação (uso científico da perspectiva, formas convencionais de composição e de utilização das cores) e pela visão ingênua do mundo. As cores brilhantes e alegres - fora dos padrões usuais -, a simplificação dos elementos decorativos, o gosto pela descrição minuciosa, a visão idealizada da natureza e a presença de elementos do universo onírico são alguns dos traços considerados típicos dessa modalidade artística.
Ana Maria Dias (1945) nasceu na capital paulista e passou a infância na histórica cidade de Porto Feliz, protagonista da maioria das cenas retratadas em suas telas. Os campos verdes, enriquecidos pela fartura das colheitas de milho, café e trigo, as brincadeiras infantis e as festas populares são interpretadas em cores vibrantes e luminosas.
Suas pinturas são citadas nos livros La Cite et les Naïfs e L'Arbre et les Naïfs, do Max Fourny, fundador do Musée D´art Naïf de L´lle, na França. A primeira individual, em 1980, foi no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, embora desde 1975 já participasse de coletivas.
Ana Maria Dias-Gift for My Mother
Ana Maria Dias-Nova Vida
Barbara Rochlitz. Nasceu na Polônia, em 1941. Veio para o Brasil com apenas 6 anos de idade, fixando-se com a família em São Paulo desde 1947.
Já foi premiada no Brasil. Portugal e Paris.
Barbara Rochlitz - Playing
Barbara Rochlitz – Paraíso Tropical
Malu Delibo (1947) é de Ribeirão Preto, onde viveu uma infância tranquila numa pequena propriedade rural, com os avós e bisavós paternos. Aos 10 anos, Malu mudou-se para São Paulo. Aos 32 anos iniciou sua vida artística.
A dedicação e a paixão pela pintura dão ao seu horizonte, à sua razão de ser. Uma artista criativa que dá alento à alma das pessoas. O resultado é sempre uma mensagem de amor. Hoje mora no interior de São Paulo.
Malu Delibo- Garden of Eden
Malu Delibo- Walk by line fields
Constância Nery nasceu em 1936 no interior de São Paulo - Ipiguá (SP). Depois transferiu-se para São Paulo. Começou a expor seus trabalhos em 1969, mas desde então tem participado de diversas mostras no Brasil e no estrangeiro.
Constância Nery- Nunca se viu tanto mamão
Constância Nery- Circo na Cidade

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Reflexão

Baron Arild Rosenkrantz - A Pilgrim
“A natureza dos homens é a mesma.
São os seus hábitos que os mantêm separados”.

Confúcio (551 a.C. - 479 a.C.)

Revelações do infame Anselmo

A verdade do traidor (11/12/2011)
Folha de S.Paulo - Ilustrissima
Arquivo Núcleo de Preservação da Memória Política
À esq., José Raimundo da Costa, o Moisés, morto pela ditadura após informações de Anselmo (ao microfone)
Resumo: Documentos reunidos por entidade que tenta resgatar a memória dos anos de chumbo mostram com riqueza de detalhes informações que cabo Anselmo, o mais notório militante da esquerda a mudar de lado, reuniu sobre a luta armada e entregou à ditadura. Relatórios a que a Folha teve acesso incluem textos do próprio "cachorro", escritos com estilo quase jornalístico.
A Folha teve acesso a quase uma centena de documentos daquele período sobre o ex-marinheiro José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo - vários escritos por ele mesmo -, que entrou para a história como o mais famoso dos "cachorros", como eram chamados os militantes de esquerda que passavam a atuar como espiões para os órgãos de segurança.
Os relatórios foram coligidos pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, entidade que tenta resgatar a memória do período de 1964 a 85, quando sucessivos governos militares assenhoraram-se do poder no Brasil. Saídos dos arquivos da repressão, de órgãos como o Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (Dops) e os centros de informações do Exército (CIE) e da Marinha (Cenimar), são instantâneos dramáticos da história enquanto ela era escrita.
O CARA Bom de discurso, carismático, Anselmo foi "o cara" nos tempos irados que marcaram o fim do governo João Goulart (1961-64). Era então presidente da Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil. Depois, ainda envolto na aura mística de líder sindical de massas, virou guerrilheiro quando parte da esquerda nativa embarcou no sonho heavy metal de derrubar a ditadura pela via das armas. Preso, em 1971, Anselmo -que nunca chegou a cabo, mas recebeu a alcunha por um mal-entendido com suas insígnias militares- tornou-se um traidor.
Chegou a se vangloriar de ter fornecido à repressão informações que levaram à morte 200 militantes. Seguro é que as delações de Anselmo permitiram à polícia liquidar pelo menos 11 "inimigos do regime", entre os quais sua própria mulher, a "sensível", "loira", "esguia", "de olhos azuis", "simpática" e poeta (assim designada por ele mesmo, qual namorado apaixonado) Soledad Barrett Viedma, então com 28 anos, grávida de um filho seu, gestação de quatro meses.

Veja matéria completa aqui

domingo, 11 de dezembro de 2011

Ainda bem que sempre existe outro dia

Sam Toft - A Nice Day
E...
Ainda bem que sempre existe outro dia.
E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas.
E outras coisas...

Clarice Lispector (1920-1977)