Num ato insano, Rui Barbosa, à frente do Ministério da Fazenda, pôs todos os arquivos da escravidão na fogueira! A lenda deriva da interpretação exagerada de uma portaria publicada no Diário Oficial de 14 de dezembro de 1890. Nela, o ministro requisitava às tesourarias da Fazenda dos estados o envio dos documentos relativos à compra e posse de escravos para serem incinerados no Rio de Janeiro. Executada sem demora, a ordem ganhou as páginas dos jornais e revistas da época, que elogiaram a iniciativa de apagar pelo fogo “os últimos vestígios da escravidão”. Hoje se sabe que a preocupação do ministro era evitar que antigos donos de escravos usassem esses documentos para exigir indenizações à República; afinal, perderam seus bens por um ato do governo imperial. Como revelou o historiador Robert W. Slenes no artigo “O que Rui Barbosa não queimou. Novas fontes para o estudo da escravidão no século XIX” (revista Estudos Econômicos, da USP, 1983), a portaria teve alcance reduzido. Os registros de posse de escravos eram feitos em duas vias, e podem ser encontrados anexados a processos de herança e inventários post-mortem guardados nos cartórios de diversas cidades do país. Ironicamente, nossa tão malvista burocracia salvou das chamas uma parte importante da memória da escravidão. E não é demais lembrar que os “vestígios da escravidão” sobrevivem muito além dos arquivos, na formação histórica e cultural do Brasil.
Nívia Pombo
Até gênios fazem besteiras né??
Nívia Pombo
Até gênios fazem besteiras né??
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