Jean-Antoine Watteau - Prazeres do amor
Grupos de homens, unidos sob a mesma denominação de libertinos, apresentavam como característica comum a rejeição do cristianismo, na teoria e na prática, e a adoção de uma vida pagã ou de uma concepção pagã da vida. Continuavam os críticos racionalistas do Renascimento, Pomponazzi, Maquiavel e o principe dos céticos, Montaigne. Como eles, utilizavam os Antigos. A Antiguidade integral passara ao ensino. Um jovem encontrava nos autores latinos e gregos tudo o que era necessário à vida: moldava uma alma antiga e anticristã.
Tais homens afastavam-se do cristianismo em primeiro lugar devido aos maus costumes do clero, que os Estados recrutavam por motivos políticos: padres ignorantes que haviam esquecido até a fórmula da absolvição, freiras devassas, abadessas mundanas, prelados de vida pouco edificante, abades que eram crianças de peito, cônegos escolares, padres bêbados [...]. Um reformador dizia: "O que se faz de pior... passa-se entre os eclesiásticos". As controvérsias religiosas, as discussões de teólogos, ortodoxos e jansenistas, gomaristas e arminianos, trazidas a público e desprovidas amiúde de elementar caridade, enfastiavam. As guerras de religião desconsideravam e aviltavam a religião. Em nome de Cristo e do Evangelho, os homens injuriavam-se, caluniavam-se, semeavam a imundície em panfletos rancorosos, descomedidos, escandalosos, traíam, assassinavam. Acabava-se duvidando de que houvesse uma verdade religiosa e aos poucos insinuava-se a ideia de que a religião talvez fosse nefasta. As guerras civis e estrangeiras desbridavam a violência dos instintos e destruíam o respeito à religião. No curso das campanhas, as igrejas eram invadidas, os ornamentos roubados, os tabernáculos quebrados, os cibórios arrebatados, as hóstias profanadas. A vida dos acampamentos favorecia a vida dos sentidos, o abandono aos impulsos da carne, as pilhagens, as rapinas, os estupros. a galanteria, a bebida; afastava os homens de uma religião da pureza, que procurava derivar todos os poderes do indivíduo para o puro amor a Deus, para a santidade perfeita e imaculada.
Tais homens afastavam-se do cristianismo em primeiro lugar devido aos maus costumes do clero, que os Estados recrutavam por motivos políticos: padres ignorantes que haviam esquecido até a fórmula da absolvição, freiras devassas, abadessas mundanas, prelados de vida pouco edificante, abades que eram crianças de peito, cônegos escolares, padres bêbados [...]. Um reformador dizia: "O que se faz de pior... passa-se entre os eclesiásticos". As controvérsias religiosas, as discussões de teólogos, ortodoxos e jansenistas, gomaristas e arminianos, trazidas a público e desprovidas amiúde de elementar caridade, enfastiavam. As guerras de religião desconsideravam e aviltavam a religião. Em nome de Cristo e do Evangelho, os homens injuriavam-se, caluniavam-se, semeavam a imundície em panfletos rancorosos, descomedidos, escandalosos, traíam, assassinavam. Acabava-se duvidando de que houvesse uma verdade religiosa e aos poucos insinuava-se a ideia de que a religião talvez fosse nefasta. As guerras civis e estrangeiras desbridavam a violência dos instintos e destruíam o respeito à religião. No curso das campanhas, as igrejas eram invadidas, os ornamentos roubados, os tabernáculos quebrados, os cibórios arrebatados, as hóstias profanadas. A vida dos acampamentos favorecia a vida dos sentidos, o abandono aos impulsos da carne, as pilhagens, as rapinas, os estupros. a galanteria, a bebida; afastava os homens de uma religião da pureza, que procurava derivar todos os poderes do indivíduo para o puro amor a Deus, para a santidade perfeita e imaculada.
Roland Mousnier (1907-1993)
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