quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Folheto

Zdzisław Beksiński,
Sou o comprimido calmante.
Atuo em casa,
sou eficaz na repartição,
sento-me no exame,
apresento-me em tribunal,
colo minuciosamente a louça partida.
Basta que me tomes, que me ponhas debaixo da língua,
que me engulas
com um copo de água.

Sei o que fazer na desgraça,
como aguentar a má notícia,
diminuir a injustiça,
desanuviar a falta de Deus,
escolher o chapéu de luto a condizer.
Por que esperas?
Confia na piedade química.

Wislawa Szymborska (1923-2012)
Tradução: Elżbieta Milewska e Sérgio das Neves

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