domingo, 22 de julho de 2012

Branca noite de luar

Mal o dia se esgueira
e foge entre as árvores do crepúsculo,
insinuam-se os seus finais
entre as dúvidas do nascer da noite.

Para o rio e sua viagem.
Cessam as águas a sua voz.
Cantos de pássaros interrompem-se
e tombam nos ouvidos da solidão.

Póstumos bois adormecem no relvado as suas sombras,
e um gesto final do ocaso conduz a ovelha derradeira.

Entre os rebanhos recolhidos recolheu-se a tarde
e, enquanto as distâncias se estiram brancamente,
lúcido vinho vai a terra embebedando:
o chão é claro sonho e firmamento.

Verte o céu a sua azul antiguidade
sobre as formas, as ausências e os corações dos homens,
e a lua vai abrindo em leve solo nas alturas
imaginativas ruas de silêncio, de outrora,
de alva tristeza e amoroso pensamento.

Abgar Renault (1901-1995)

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