Pieter Brueghel (1525-1569)
A pintura de Brueghel mostra atividades lúdicas. Cerca de 250 personagens participando de 84 brincadeiras, em 1560. Grande parte delas é conhecida ainda hoje.
É o caso da Maria cadeira, em que duas crianças trançam os braços para formar uma cadeira humana, usada para lançar um dos companheiros, após o canto de um versinho:
“Onde vai, Maria Cadeira?
Vai à casa do capitão,
O capitão não está em casa,
Joga Maria Cadeira no chão
joga Maria Cadeira no chão...”.
De onde vêm as brincadeiras? Ninguém responde com certeza. Elas são universais e fazem parte da cultura popular como a literatura oral, a música, a culinária.
A brincadeira pode ser considerada uma linguagem. Sigmund Freud (1856-1939). Para o psicanalista, o jogo seria a vivência simbólica da presença e afastamento da mãe. Melanie Klein (1882-1960) e outros psicanalistas e psicólogos trabalharam com a ludoterapia e atribuíram aos jogos e brincadeiras a função de elaborar sentimentos e vivências. Eles divertem as crianças e as preparam para a realidade.
Homero fala de jogos infantis na “Odisseia”. Em túmulos de crianças do século 4 a.C., na Grécia, foram encontradas bonecas. Mas é impossível dar a palavra final sobre a origem de uma brincadeira, pois ela ganha variantes e se transforma no tempo e no espaço.
As primeiras famílias europeias que chegaram ao Brasil durante a colonização trouxeram a boneca, o pião e o soldadinho. E também monstros e gigantes, ogros e “trolls”, sereias e duendes, junto com canções de ninar e contos de fada.
Os africanos também contribuíram com criaturas que assustavam as crianças, como o tutu-marambá, o quibungo e o nironga.
Há referências de que as danças de umbigada têm origem africana. Em 1928, Simões Lopes Neto escreveu que certas danças teriam características indígenas e traços portugueses, como o sapateado.
As danças tinham nomes indígenas como anu e tatu, além de chimarrita, chico, galinha-morta, e eram dançadas em bailes chamados fandangos que, a partir de 1840, foram sendo substituídos pelas danças vindas da Europa. Eram divertimentos tanto das classes altas quanto das senzalas.
Muitas dessas danças passaram para as rodas infantis. É o caso da dança que acompanha a canção que diz:
“Folga, folga, minha gente,
que uma noite não é nada;
se não dormires agora,
dormirás de madrugada!”.
Tudo isso foi sendo misturado ao Brasil que já existia antes de ser descoberto. No imaginário dos índios, antes de eles sofrerem influência das missões catequéticas, heróis reinavam sobre a terra. Além de Macunaíma e Maíra, mitos mais difundidos, Nunes Pereira registrou, em 1940, o mito de Bahira, o herói bem-humorado que roubou o fogo guardado no céu pelos urubus.
Informam Orlando e Claudio Villas Boas que as crianças indígenas brincam durante todo o dia, especialmente com seus arquinhos e flechinhas. Têm, como se vê hoje entre as crianças do país, brincadeiras de disputa.
Um exemplo da miscigenação cultural e da dificuldade de datar e estabelecer origens pode ser observado nas interpretações sobre o conto jocoso “A Festa no Céu”.
Para o estudioso Sílvio Romero, a cultura brasileira toma forma a partir do século 17.
João Ribeiro escreveu no livro “O Folk-Lore” (1919) que as brincadeiras infantis “são mensagens e recados de raça a raça, de povo a povo, de século a século, sem sair da perene onda infantil que os leva a ignorados destinos”.
Ribeiro faz um estudo da expansão da brincadeira joão-do-cabo. Ele conta que, em 1919, o jogo vintém-queimado existia em Portugal e possessões, com vários nomes. Na Espanha, o nome era joão-das-cadeinhas. Alberto de Faria recolheu em Campinas (SP) a seguinte variante:
_ Vintém queimado!
_ Quem queimou?
_ Pilão do Carmo (Vilão do Cabo).
_ Quer que se prenda?
_ Prendido vá.”
Após o diálogo, vem outra série de versos, que autorizam a passagem de quem está na brincadeira:
Passa, passa cavaleiro, pela porta do carneiro!
_ Tem uma corda p’ra me emprestar?
_ Tenho; mas está suja.
_ De quê?
_ De cuspe de galinha!
_ Vamos experimentar...
_ Vamos!”
Depois dessas perguntas e respostas, feitas por dois meninos que estão nos extremos de uma cadeia de crianças de mãos dadas, todos passam sob os braços em arco dos meninos de uma ponta (a porta do carneiro) à outra; em seguida, os meninos dão um puxão para arrebentar a cadeia (a corda). Todo mundo cai.
A análise dos aspectos linguísticos demonstram o percurso que o jogo fez por Portugal, Espanha e Brasil.
A mudança pode ter apenas relação verbal. Explica João Ribeiro: “Quase todas as criações tradicionais devem suas formas a verdadeiros equívocos e trocadilhos das palavras. Só a essência escapa a essas erosões e metamorfoses da linguagem”.
É o caso da Maria cadeira, em que duas crianças trançam os braços para formar uma cadeira humana, usada para lançar um dos companheiros, após o canto de um versinho:
“Onde vai, Maria Cadeira?
Vai à casa do capitão,
O capitão não está em casa,
Joga Maria Cadeira no chão
joga Maria Cadeira no chão...”.
De onde vêm as brincadeiras? Ninguém responde com certeza. Elas são universais e fazem parte da cultura popular como a literatura oral, a música, a culinária.
A brincadeira pode ser considerada uma linguagem. Sigmund Freud (1856-1939). Para o psicanalista, o jogo seria a vivência simbólica da presença e afastamento da mãe. Melanie Klein (1882-1960) e outros psicanalistas e psicólogos trabalharam com a ludoterapia e atribuíram aos jogos e brincadeiras a função de elaborar sentimentos e vivências. Eles divertem as crianças e as preparam para a realidade.
Homero fala de jogos infantis na “Odisseia”. Em túmulos de crianças do século 4 a.C., na Grécia, foram encontradas bonecas. Mas é impossível dar a palavra final sobre a origem de uma brincadeira, pois ela ganha variantes e se transforma no tempo e no espaço.
As primeiras famílias europeias que chegaram ao Brasil durante a colonização trouxeram a boneca, o pião e o soldadinho. E também monstros e gigantes, ogros e “trolls”, sereias e duendes, junto com canções de ninar e contos de fada.
Os africanos também contribuíram com criaturas que assustavam as crianças, como o tutu-marambá, o quibungo e o nironga.
Há referências de que as danças de umbigada têm origem africana. Em 1928, Simões Lopes Neto escreveu que certas danças teriam características indígenas e traços portugueses, como o sapateado.
As danças tinham nomes indígenas como anu e tatu, além de chimarrita, chico, galinha-morta, e eram dançadas em bailes chamados fandangos que, a partir de 1840, foram sendo substituídos pelas danças vindas da Europa. Eram divertimentos tanto das classes altas quanto das senzalas.
Muitas dessas danças passaram para as rodas infantis. É o caso da dança que acompanha a canção que diz:
“Folga, folga, minha gente,
que uma noite não é nada;
se não dormires agora,
dormirás de madrugada!”.
Tudo isso foi sendo misturado ao Brasil que já existia antes de ser descoberto. No imaginário dos índios, antes de eles sofrerem influência das missões catequéticas, heróis reinavam sobre a terra. Além de Macunaíma e Maíra, mitos mais difundidos, Nunes Pereira registrou, em 1940, o mito de Bahira, o herói bem-humorado que roubou o fogo guardado no céu pelos urubus.
Informam Orlando e Claudio Villas Boas que as crianças indígenas brincam durante todo o dia, especialmente com seus arquinhos e flechinhas. Têm, como se vê hoje entre as crianças do país, brincadeiras de disputa.
Um exemplo da miscigenação cultural e da dificuldade de datar e estabelecer origens pode ser observado nas interpretações sobre o conto jocoso “A Festa no Céu”.
Para o estudioso Sílvio Romero, a cultura brasileira toma forma a partir do século 17.
João Ribeiro escreveu no livro “O Folk-Lore” (1919) que as brincadeiras infantis “são mensagens e recados de raça a raça, de povo a povo, de século a século, sem sair da perene onda infantil que os leva a ignorados destinos”.
Ribeiro faz um estudo da expansão da brincadeira joão-do-cabo. Ele conta que, em 1919, o jogo vintém-queimado existia em Portugal e possessões, com vários nomes. Na Espanha, o nome era joão-das-cadeinhas. Alberto de Faria recolheu em Campinas (SP) a seguinte variante:
_ Vintém queimado!
_ Quem queimou?
_ Pilão do Carmo (Vilão do Cabo).
_ Quer que se prenda?
_ Prendido vá.”
Após o diálogo, vem outra série de versos, que autorizam a passagem de quem está na brincadeira:
Passa, passa cavaleiro, pela porta do carneiro!
_ Tem uma corda p’ra me emprestar?
_ Tenho; mas está suja.
_ De quê?
_ De cuspe de galinha!
_ Vamos experimentar...
_ Vamos!”
Depois dessas perguntas e respostas, feitas por dois meninos que estão nos extremos de uma cadeia de crianças de mãos dadas, todos passam sob os braços em arco dos meninos de uma ponta (a porta do carneiro) à outra; em seguida, os meninos dão um puxão para arrebentar a cadeia (a corda). Todo mundo cai.
A análise dos aspectos linguísticos demonstram o percurso que o jogo fez por Portugal, Espanha e Brasil.
A mudança pode ter apenas relação verbal. Explica João Ribeiro: “Quase todas as criações tradicionais devem suas formas a verdadeiros equívocos e trocadilhos das palavras. Só a essência escapa a essas erosões e metamorfoses da linguagem”.
Folha de SP - Brasil 500 anos
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