Euclides da Cunha (20 de janeiro de 1866 – 15 de agosto de 1909)
A morte do escritor Euclides da Cunha, alvejado pelo cadete Dilermando de Assis no dia 15 de agosto de 1909, foi manchete dos principais jornais do País e motivo de debate até no Parlamento. O julgamento de Dilermando, que mantinha um romance com Anna Sólon da Cunha, esposa de Euclides, de quem era amigo, dividiu o tribunal, mas o réu foi absolvido. A sentença não foi aceita facilmente pela sociedade, e o tema gerava polêmica em cada esquina. Até hoje, os detalhes das investigações nunca haviam sido revelados. Somente agora, 100 anos depois do crime, os autos do processo foram divulgados no livro “Crônica de uma Tragédia Inesquecível” (Editoras Albatroz, Loqüi e Terceiro Nome, 232 págs.), que revela também bastidores do julgamento.
Os documentos foram organizados por Walnice Nogueira Galvão, professora de letras da Universidade de São Paulo (USP) e autora de 11 livros sobre Euclides da Cunha. "São relatos importantes de um fato histórico que devem vir ao conhecimento do público", diz ela. A obra traz depoimentos de testemunhas. Elas refutam a tese de legítima defesa que absolveu Dilermando e relatos da viúva. Segundo Ana, o amante exigia dela mais de 500 mil réis por mês e jurava vingança, caso fosse abandonado.
A morte de Euclides da Cunha tem todos os elementos de um folhetim: traição, drama, suspense. O escritor teve uma crise nervosa na véspera da tragédia, quando descobriu que sua mulher não havia dormido em casa e tinha levado um dos cinco filhos com ela. Euclides chamou o primogênito, Sólon, de 15 anos, e disse: "Onde está a sua mãe, aquela adúltera?" Desesperado, Sólon foi à casa de Dilermando e implorou a Ana que voltasse, mas não adiantou. Ela estava decidida a se separar. "Sua mãe daqui não sai", bradou o cadete.
As suspeitas de traição de Euclides começaram com a desconfiança sobre a paternidade do seu filho mais novo, Luiz, de dois anos – mais tarde foi confirmado que o pai do menino era Dilermando. "Ele dizia que o filho era o retrato do 'Sargentão' (Dilermando)", contou Angélica Ratto, sua comadre, em depoimento. Naquele 15 de agosto, Euclides carregou um revólver calibre 22 e foi ao encontro do rival. Segundo Dinorah Cândido de Assis, irmã de Dilermando, ele invadiu a casa, puxou a arma do bolso do paletó e, arrombando a porta do quarto do cadete com um chute, disse: "Vim aqui para matar ou morrer." Ao tentar impedi-lo, Dinorah foi alvejada por Euclides. Em seguida, o escritor atirou em Dilermando, que revidou com uma sequência de quatro tiros.
Os depoimentos sobre o crime são contraditórios. O cadete disse à polícia que atirou em Euclides para se defender. Mas duas vizinhas de Dilermando presenciaram o crime e afirmam que o escritor foi morto no jardim, quando estava ferido e já não representava ameaça ao acusado. Ana, ao ver o marido ensanguentado na soleira da porta, pediu a Dilermando que o levasse para dentro. Euclides foi colocado na cama do amante de sua esposa e pediu um copo de água e um cálice de vinho do Porto antes de dar o último suspiro. No leito de morte, o cadete teria perguntado a Euclides: "Que precipitação foi essa, doutor? Eu não queria lhe matar. O senhor me perdoa?". Euclides sussurrou: "Odeio-te. Perdoo-te."
Para vingar a morte do pai, Euclides da Cunha Filho tentou assassinar Dilermando sete anos depois, mas também foi morto pelo cadete. Dilermando foi absolvido.
Após perder o marido e um filho, Ana ainda sofreria outro golpe. Dilermando abandonou Anna em 1926, com cinco filhos. Ela estava com 50 anos, ele com 36. Anna e Dilermando morreram no Rio de Janeiro, em 1951: ela no mês de Maio, câncer, aos 80 anos, e ele de ataque cardíaco, em Novembro, aos 63 anos de idade.
Os documentos foram organizados por Walnice Nogueira Galvão, professora de letras da Universidade de São Paulo (USP) e autora de 11 livros sobre Euclides da Cunha. "São relatos importantes de um fato histórico que devem vir ao conhecimento do público", diz ela. A obra traz depoimentos de testemunhas. Elas refutam a tese de legítima defesa que absolveu Dilermando e relatos da viúva. Segundo Ana, o amante exigia dela mais de 500 mil réis por mês e jurava vingança, caso fosse abandonado.
A morte de Euclides da Cunha tem todos os elementos de um folhetim: traição, drama, suspense. O escritor teve uma crise nervosa na véspera da tragédia, quando descobriu que sua mulher não havia dormido em casa e tinha levado um dos cinco filhos com ela. Euclides chamou o primogênito, Sólon, de 15 anos, e disse: "Onde está a sua mãe, aquela adúltera?" Desesperado, Sólon foi à casa de Dilermando e implorou a Ana que voltasse, mas não adiantou. Ela estava decidida a se separar. "Sua mãe daqui não sai", bradou o cadete.
As suspeitas de traição de Euclides começaram com a desconfiança sobre a paternidade do seu filho mais novo, Luiz, de dois anos – mais tarde foi confirmado que o pai do menino era Dilermando. "Ele dizia que o filho era o retrato do 'Sargentão' (Dilermando)", contou Angélica Ratto, sua comadre, em depoimento. Naquele 15 de agosto, Euclides carregou um revólver calibre 22 e foi ao encontro do rival. Segundo Dinorah Cândido de Assis, irmã de Dilermando, ele invadiu a casa, puxou a arma do bolso do paletó e, arrombando a porta do quarto do cadete com um chute, disse: "Vim aqui para matar ou morrer." Ao tentar impedi-lo, Dinorah foi alvejada por Euclides. Em seguida, o escritor atirou em Dilermando, que revidou com uma sequência de quatro tiros.
Os depoimentos sobre o crime são contraditórios. O cadete disse à polícia que atirou em Euclides para se defender. Mas duas vizinhas de Dilermando presenciaram o crime e afirmam que o escritor foi morto no jardim, quando estava ferido e já não representava ameaça ao acusado. Ana, ao ver o marido ensanguentado na soleira da porta, pediu a Dilermando que o levasse para dentro. Euclides foi colocado na cama do amante de sua esposa e pediu um copo de água e um cálice de vinho do Porto antes de dar o último suspiro. No leito de morte, o cadete teria perguntado a Euclides: "Que precipitação foi essa, doutor? Eu não queria lhe matar. O senhor me perdoa?". Euclides sussurrou: "Odeio-te. Perdoo-te."
Para vingar a morte do pai, Euclides da Cunha Filho tentou assassinar Dilermando sete anos depois, mas também foi morto pelo cadete. Dilermando foi absolvido.
Após perder o marido e um filho, Ana ainda sofreria outro golpe. Dilermando abandonou Anna em 1926, com cinco filhos. Ela estava com 50 anos, ele com 36. Anna e Dilermando morreram no Rio de Janeiro, em 1951: ela no mês de Maio, câncer, aos 80 anos, e ele de ataque cardíaco, em Novembro, aos 63 anos de idade.
Este triste episódio deu origem à minisérie “Desejo”, encenada pela Rede Globo, em 1990.
Curiosidades: O pai de Anna Sólon da Cunha era o Major Sólon ➙ Major Frederico Sólon Sampaio Ribeiro (1839-1900). Ele foi incumbido de levar a D. Pedro II a mensagem na qual o monarca era intimado a deixar o País, pois não era mais considerado o legítimo governante. Isso porque os brasileiros foram dormir com o Brasil Império e acordaram com Brasil República.
Foi dado um Golpe na madrugada, na surdina e os militares tomaram o poder.
Na manhã de 17 de novembro, D. Pedro II partiu com toda a família para o exílio na Europa, rumando primeiro para Portugal, onde falecera a imperatriz Teresa Cristina e depois para Paris, onde D. Pedro ficou residindo até sua morte em 1891.
Surpreendentemente fortes sentimentos de culpa se manifestaram dentre os republicanos, que se tornaram cada vez mais evidentes com a morte do imperador no exílio. E, em 1921 a tempo do centenário da independência brasileira em 1922, os restos mortais de D. Pedro II, assim como os de sua esposa, foram trazidos ao Brasil e estão na Catedral de São Pedro de Alcântara, em Petrópolis.
Na volta dos restos mortais de D. Pedro II foi feita uma cerimônia no Rio de Janeiro. Milhares participaram. O historiador Pedro Calmon descreveu a cena: "Os velhos choravam. Muitos ajoelhavam-se. Todos batiam palmas. Não se distinguiam mais republicanos e monárquicos. Eram brasileiros" Esta homenagem marcou a reconciliação do Brasil republicano com o seu passado monárquico.
Em 1993 foi realizado aqui no Brasil um plebiscito perguntando ao povo se preferiam que o regime fosse monarquia ou república.
Mesmo sem ter chances reais de mudança no cenário político brasileiro, o plebiscito tirou a família real brasileira de um anonimato de 104 anos. Pela primeira vez desde a proclamação da república, os monarquistas da família real brasileira encontravam um meio para falar e se mostrar para o povo brasileiro.
Major Sólon foi homenageado com o nome de uma Rua importante de Campinas.
Curiosidades: O pai de Anna Sólon da Cunha era o Major Sólon ➙ Major Frederico Sólon Sampaio Ribeiro (1839-1900). Ele foi incumbido de levar a D. Pedro II a mensagem na qual o monarca era intimado a deixar o País, pois não era mais considerado o legítimo governante. Isso porque os brasileiros foram dormir com o Brasil Império e acordaram com Brasil República.
Foi dado um Golpe na madrugada, na surdina e os militares tomaram o poder.
Na manhã de 17 de novembro, D. Pedro II partiu com toda a família para o exílio na Europa, rumando primeiro para Portugal, onde falecera a imperatriz Teresa Cristina e depois para Paris, onde D. Pedro ficou residindo até sua morte em 1891.
Surpreendentemente fortes sentimentos de culpa se manifestaram dentre os republicanos, que se tornaram cada vez mais evidentes com a morte do imperador no exílio. E, em 1921 a tempo do centenário da independência brasileira em 1922, os restos mortais de D. Pedro II, assim como os de sua esposa, foram trazidos ao Brasil e estão na Catedral de São Pedro de Alcântara, em Petrópolis.
Na volta dos restos mortais de D. Pedro II foi feita uma cerimônia no Rio de Janeiro. Milhares participaram. O historiador Pedro Calmon descreveu a cena: "Os velhos choravam. Muitos ajoelhavam-se. Todos batiam palmas. Não se distinguiam mais republicanos e monárquicos. Eram brasileiros" Esta homenagem marcou a reconciliação do Brasil republicano com o seu passado monárquico.
Em 1993 foi realizado aqui no Brasil um plebiscito perguntando ao povo se preferiam que o regime fosse monarquia ou república.
Mesmo sem ter chances reais de mudança no cenário político brasileiro, o plebiscito tirou a família real brasileira de um anonimato de 104 anos. Pela primeira vez desde a proclamação da república, os monarquistas da família real brasileira encontravam um meio para falar e se mostrar para o povo brasileiro.
Major Sólon foi homenageado com o nome de uma Rua importante de Campinas.
Fontes principais:
► Castro, Alceu Mendes de Oliveira (1951),
► O Futebol no Botafogo (1904-1950), Rio de Janeiro: Gráfica Milone.
► Castro, Alceu Mendes de Oliveira (1951),
► O Futebol no Botafogo (1904-1950), Rio de Janeiro: Gráfica Milone.
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