domingo, 1 de maio de 2011

Guerrilha do Araguaia

Em 1972 quando começou a guerrilha na TV passava a novela Selva de Pedra com Regina Duarte e Francisco Cuoco. Lembro muito bem da música tema Rock And Roll Lullaby com B.J. Thomas aliás, gosto da música até hoje, e era branco e preto.
Os assuntos marcantes desse ano e dos próximos foram:
  • Incêndio no Edifício Andraus (1972)
  • Morte da Leila Diniz (1972)
  • Sequestro do menino Carlos Ramires da Costa – “Carlinhos” (1973)
  • Morte de Agostinho dos Santos (1973)
  • Incêndio no Edifício Joelma (1974)
  • Liza Minnelli fazia sucesso com o filme "Cabaret",
  • Marlon Brando com o filme "O Poderoso Chefão",
  • Paul Newman com o filme "Golpe de Mestre".
  • Aos domingos passava o "Programa Silvio Santos"
Guerrilha do Araguaia é como se costuma chamar um conjunto de operações guerrilheiras ocorridas durante a década de 1970 promovidas por grupos contrários ao Regime militar em vigor no Brasil. Desconhecida do restante do país à época em que ocorreu, protegida por uma cortina de silêncio e censura a que o movimento e as operações militares contra ela foram submetidos, os detalhes sobre a guerrilha só começaram a aparecer cerca de vinte anos após sua extinção pelas Forças Armadas, já no período de redemocratização. O movimento foi organizado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Na ilegalidade, entre 1966 e 1974. Por meio de uma Guerra Popular Prolongada, os integrantes do PCdoB pretendiam combater o governo militar e implementar o Comunismo no Brasil, iniciando o movimento pelo campo, à semelhança do que já ocorrera na China (1949) e em Cuba (1959). O nome Araguaia foi dado por se localizar às margens do rio Araguaia, próximo às cidades de São Geraldo e Marabá no Pará e de Xambioá, no norte de Goiás (região onde atualmente é o norte do Estado de Tocantins, também denominada como Bico do Papagaio). Estima-se que participaram em torno de oitenta guerrilheiros sendo que, destes, a maior parte se dirigiu àquela região em torno de 1970. O Exército Brasileiro descobriu a localização do núcleo guerrilheiro em 1971 e para combater os 80 guerrilheiros do PCdoB, houve a mobilização de cinco mil soldados brasileiros que iniciaram-se efetivamente em 1972, tendo oferecido resistência até março de 1974. Em janeiro de 1975 as operações foram consideradas oficialmente encerradas com a morte ou detenção da maioria dos guerrilheiros. Em 1976 ocorreu a chamada Chacina da Lapa quando foram executados os últimos dirigentes históricos do PCB. João Amazonas, na ocasião, se encontrava na Albânia. Mais de cinquenta deles são considerados ainda hoje como desaparecidos políticos. Pedro Albuquerque Neto e sua companheira, Tereza Cristina de Siqueira Cavalcante, ambos do PC do B, chegaram ao Araguaia em fevereiro de 1971, integrando-se ao Destacamento C. Pedro tinha 11 anos de militância, Tereza um. Ao contrario do que disse Arroyo ele sustenta que nenhum. Após seis meses Tereza engravidou, então Pedro face à impossibilidade de conciliar a assistência à sua companheira, grávida, com as obrigações revolucionárias, e face à insistência dos dirigentes do partido para que a gravidez fosse interrompida por um aborto fugiu com a seis meses após lá chegarem. Foram para Fortaleza. Pedro ficou lá, enquanto Tereza seguiu para a casa de parentes no Recife. Pedro de Albuquerque foi preso em Fortaleza, pelo DOPS, em fevereiro de 1972, quando tentava tirar uma nova carteira de identidade. No relatório da PF, publicado pelo Correio Braziliense, está registrado que Pedro teria citado o município de Conceição e um lugar conhecido como "Cigana", onde "Paulo" os teria deixado. "Nessa localidade, estavam estruturadas cerca de cinco células de base, com a tarefa de se prepararem para a guerrilha rural, constituindo-se o grupo em exercícios de 15 pessoas". Ouvido pelo jornal, Pedro Albuquerque, hoje professor em Fortaleza, disse que o documento "é uma condensação de vários momentos de extração de informações sob tortura". O relatório da PF foi produzido no dia seguinte à noite em que Pedro tentou suicídio, certamente em consequência da tortura, quando foi encontrado por um policial e levado para o hospital. O PC do B, que inicialmente acreditou ser esta a razão da descoberta da Guerrilha pelos militares, mudou de posição, inocentando Pedro Albuquerque. Passou a achar que as informações que levaram o Exército à guerrilha saíram da militante Lúcia Regina de Souza Martins. Ex-estudante de obstetrícia da USP, Lúcia chegou ao Araguaia acompanhando o marido Lúcio Petit. Desiludida com a guerrilha e o casamento, deixou a região grávida, em lombo de burro, para tratar de uma curetagem mal feita num hospital de Anápolis. Fugiu do hospital em dezembro de 1971, ainda antes da primeira ofensiva militar, voltando a São Paulo para viver com a família e recusando-se a voltar ao Araguaia. Só foi presa em 1974, quando a guerrilha já estava aniquilada. Foi acusada por Elza Monnerat de ter contado aos militares sobre a guerrilha, permitindo que ela fosse descoberta. Vive em Taubaté, SP. Lúcia Regina manteve-se calada por muitos anos. No segundo semestre de 2002, foi entrevistada por quatro alunos da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Encontraram-na em Taubaté (SP), exercendo as profissões de dentista e professora universitária. A entrevista que obtiveram consta de seu trabalho de conclusão de curso, “Vestígios do Araguaia”, orientando pelos professores-jornalistas Carlos Dias, Maurício Stycer e Sidney Ferreira Leite, apresentado e aprovado em 14 de novembro de 2002. O que se segue é um resumo do que ela contou. Estudante de Obstetrícia na Universidade de São Paulo, na qual fora diretora interina do Centro Acadêmico, Lucia Regina foi presa no congresso da UNE, em Ibiúna. Não militava em nenhum partido e se considerava despolitizada, como até hoje. Já namorava o engenheiro Lúcio Petit. Só descobriu que ele era do PC do B depois do casamento – o que considerou “um coice no peito”. Lúcio insistia para que estudasse o comunismo, sem conseguir entusiasmá-la. Um dia, um certo “Heitor”, do partido, visitou o casal, em Campinas. Lúcia aceitou a proposta de irem para o interior. “Lindo”. Eu era um personagem de filme estava indo para as regiões inóspitas do país exercer minha “obstetrícia”. Lúcio foi o primeiro, em 1970. Três meses depois, foi a vez dela. Instalou-se no destacamento da Faveira e não gostou do que viu, a começar pela ausência do marido, na chegada. Quando o viu, ele já não era o mesmo Lúcio. Além de ter mudado fisicamente, com a barba e os cabelos crescidos, estava distante, como se não quisesse proximidade nem qualquer demonstração de carinho. Regina chamou-o para pedir explicações sobre seu comportamento e sobre o intuito daquela organização, pois até então nunca ninguém havia lhe explicado com todas as letras sobre a guerrilha. Tudo o que Lúcio disse foi: "Sei que somos bucha de canhão." "Ele fez boca-de-siri. Não queria contar nada. Nunca consegui conversar sobre esse assunto com nenhum de meus companheiros, porque o primeiro com quem conversei, foi o Lúcio, foi um granito. São dogmas de fé. Ou você está do lado deles, ou está contra eles. Não tem meio-termo”. A partir desse dia Regina que era o meio termo passou a ser dissimulada, vivendo a rotina da casa sem deixar transparecer sua descrença. Ela nunca acreditou na proposta de se misturar ao povo do Araguaia, politizá-lo e recrutá-lo para a luta revolucionária. Enfim, nunca foi comunista. Ficou 18 meses na área, mas em nenhum momento se entusiasmou. O desencanto foi alimentado por problemas eventuais de saúde e por uma gravidez não permitida que a obrigou ao aborto. Sobre a imposição do aborto, Regina faz a inevitável comparação com Criméia (esposa de André Grabois) e arrisca uma explicação: “Ela estava ligada a uma família de pessoas do partido. Não era como eu, que cai lá por um erro do destino. Ela teve um filho com o filho do Maurício Grabois”. A curetagem, em condições precárias, foi feita pela ex-estudante de medicina Lúcia Maria de Souza (Sônia), que mais tarde teria pela frente o "Dr. Asdrúbal". Lúcia Regina teve febre alta, cansaço, furúnculos e brucelose. "Eu não me responsabilizo pela vida desta companheira. Ela precisa ir a um hospital”, avisou Sonia a Maurício Grabois. Ele ficou irritado e disse que não era permitido. “Lavo minhas mãos. Não sou capaz de tratar dela”. João Amazonas ainda teria tido uma conversa com Grabois para convencê-lo de que não poderiam mantê-la viva. Com a permissão do PC do B, então, Maurício avisou Regina de que iriam a Anápolis, em Goiás. E assim foi feito. Antes disso, ela ainda pegou o dinheiro que escondera ao chegar. "Porque Deus é grande, a inexperiência da Sônia salvou a minha vida." Regina saiu da área no lombo de um burro, acompanhada por Lúcio, Maurício Grabois e Elza Monerat, estes a pé. Na Transamazônica, tomou um ônibus, com Elza, até Anápolis, em Goiás. Um médico recomendou a hospitalização. Elza, com outras tarefas, combinou de se encontrarem quatro dias depois, na mesma pensão em que ficaram. Assim que Elza saiu, Regina fugiu, de ônibus, para São Paulo onde moravam seus pais. Era 17 de dezembro de 1971, na casa dos pais recebeu um telefonema de Elza Monerat, mas recusou-se a voltar. Sempre segundo a versão da Dra. Lúcia em “Vestígios do Araguaia”, Elza teria dito que a decisão era do partido, marcando um contato para depois, com outro militante. Esse contato nunca foi feito, embora Lúcia afirme ter tentado, por três vezes. Nunca mais foi procurada. Voltou, então, a faculdade de Odontologia. Dois anos depois, no segundo semestre de 1974, foi presa em casa, pela polícia, em companhia do namorado, sob a justificativa de que alguém estava “aprontando horrores” com os seus documentos de identidade. Os policiais pediram que os dois os acompanhassem até a Oban, na Rua Tutóia. Naquele momento, Regina sentiu-se aliviada. “Agora eu vou acertar os ponteiros e acabou. Eu não tenho mais do que ter medo”. Nos poucos instantes em que foram deixados sozinhos, ela pediu para que Gerval dissesse que não conhecia seu passado no Araguaia. Os dois foram separados. Gerval foi interrogado e dissimulou perguntando se a namorada era bandida. Foi informado que "aquilo lá era uma pouca vergonha... as mulheres tinham de ser de todos os homens". O moço conseguiu convencer a polícia fazendo cara de espanto a cada “nova informação” e foi solto na mesma noite. Regina ficou dois dias sendo interrogada. Lembra-se de um sujeito alto, loiro; de uma maquininha de dar choque que puseram diante dela; de uma cadeira pesada, de madeira, com algumas correias, onde a fizeram sentar; do capuz que lhe punham na cabeça quando era levada de um lado para o outro; de um outro homem que avaliou seu estado de saúde. “Viu que eu estava legal, que eu podia aguentar”. "Você esteve em Xambioá?", perguntou o loiro. “Não”, respondeu Regina. Ele esmurrou a mesa e começou a gritar: "Eu tenho provas!". Regina desculpou-se afirmando que sempre achou que o lugar onde estava era Ponta de Pedras, perto de Apinagés, e não Xambioá. O policial ficou muito irritado e chamou de incompetentes os seus subordinados, a quem pediu que providenciassem um mapa. Ela mostrou a região onde esteve. "Ele sossegou." Além do loiro, outros dois homens interrogaram Regina. Ora ouvia gracejos do tipo "Pois é, tão bonitinha... por que será?", ora chegava a ser ofendida com mãos lhe tocando o corpo. “Houve coisas humilhantes, mas não apanhei. Foi uma atemorização”. Em outro momento do interrogatório, depois de contar sobre o frustrado encontro na Domingos de Morais, Regina apontou, em um álbum com fotografias de dirigentes do PC do B (de quando este estava na legalidade), quem era a pessoa que a encontraria. Dele, ela só se lembra do sobrenome, Pontes, e de algumas características físicas: era bem alto, magro e de pele morena. Perguntaram se ela queria saber oque acontecera com ele. Regina soube que fora preso e torturado mas nada falou — nem do encontro que teria com ela em frente à padaria. Depois do espancamento, Pontes concordou em ir até um "ponto" entregar alguém. Amarrarem-lhe a bolsa escrotal na perna. Se ele corresse, sentiria dor. Tentou correr para fugir e foi morto. O conhecimento do local, data e tipo de morte de outro comunista, porém, lhe foi negado. Mostrarem-lhe um livro grande com vários nomes escritos e tamparam todas as anotações, menos duas: Lúcio Petit e morto. Não teve coragem de perguntar sobre o cunhado Jaime. Logo depois foi solta. Da primeira farmácia que avistou, ligou para o pai.
A conclusão de Lucia Regina:
Tudo o que eu dissesse quando estive presa não faria diferença porque a guerrilha já havia caído. Eu tive uma sorte muito grande de não ter que carregar essa incerteza de que eu, de alguma forma, tivesse prejudicado alguém. De Fortaleza, onde estava preso, Pedro Albuquerque foi levado a Brasília, onde ficou no Pelotão de Investigações Criminais (PIC) da 3a Brigada de Infantaria, a disposição do general Antônio Bandeira, que a comandava. Foi lá que o major Lício o conheceu. — Por que o Pedro Albuquerque foi levado para Brasília? — Ele foi preso em Fortaleza, por vadiagem. Não tinha identidade, não tinha nada, e disse que tinha vindo de um campo de guerrilha. Ele tentou se suicidar, no xadrez, cortando os pulsos, com a gilete. O sentinela viu, deu o alarme e o salvou. Foi mandado para um hospital.

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