sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Trotula de Salerno

Trotula de Salerno (1050-1097)
Fonte: [Referência]
John William Waterhouse - Trotula de Salerno

Trotula de Salerno (1050-1097) 'a mãe da ginecologia' é uma dessas personagens históricas fascinantes. Sua vida está intimamente ligada à Escola Médica de Salerno, cidade situada no sul da atual Itália, que foi primeiro centro de ensino de medicina da era medieval, existindo no mínimo desde o século IX. Foi também a primeira instituição cultural a não ser controlada pela Igreja. Um dos distintivos da Schola Medica Salernitana foi ter admitido mulheres como alunas e como mestres. Foi nesse contexto que Trótula, também conhecida como Trótula de Ruggiero, referência à sua família de nascimento, se destacou.
A doutora de Salerno escreveu vários tratados sobre a anatomia e fisiologia feminina. O mais famoso, conhecido como Trotula Maior, explica a menstruação, a concepção, a gravidez, o parto, o puerpério, o controle de natalidade, as doenças do útero e das vias urinárias. Esta magnífica obra foi referência obrigatória nas melhores universidades da Europa até ao século XVI. Ela considerava a prevenção como o aspecto mais importante da Medicina. Por isso, escreveu um segundo tratado sobre o cuidado com a pele, a higiene e a cosmética.
Essas obras foram copiadas, traduzidas e bastante difundidas durante o período medieval. Diversos documentos da época fazem referências à médica de Salerno, ressaltando seu saber, seu prestígio e sua influência. Sua fama persistiu certamente até o século XVI, quando historiadores e escritores do Renascimento, na sua visão misógina, passaram a contestar a autoria das obras referidas, atribuindo-as a escritores do sexo masculino e até questionando a própria existência de Trótula. Aliás, a partir do Renascimento é que foi criada a ideia de que a Idade Média foi marcada pelo obscurantismo e atraso.
Hoje, a historiografia parece tender a reabilitar o papel e a existência de Trótula de Salerno como médica e mestra da medicina e, com o perdão do anacronismo, a primeira ginecologista. Além da sábia de Salerno, mulheres como Thomasia Mattheo, Frascesca de Romana, Constanza Calenda, Rebeca Guarda entre outras são citadas na historiografia como titulares da arte da medicina medieval.
A mulher esteve alijada da História por séculos. Trótula de Rugiero e de Salerno ajudou a mostrar que não foram poucas as representantes do sexo feminino que tiveram papel ativo na construção cultural do período medieval, pelo menos em alguns espaços como a Escola de Salerno e é mais uma evidência de que a Idade Média estava longe de ser a tão propalada “idade das trevas”.

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