quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Como devemos viver a vida segundo Omar Kahayyán

Omar Khayyám (1048-1131)
A vida não é um mar de rosas. A experiência nos mostra que pessoas honestas são perseguidas, que a hipocrisia e a mentira são normas e lei nas relações sociais, que os idiotas e ineptos são engrandecidos e adulados, que ter nascido não é uma graça divina, e que a vida é uma escravidão onde tudo é claustro, frívolo e precário. Quem pensa assim é Omar Kahayyán, o maior filósofo pessimista da Pérsia, atual Irã. Nasceu por volta do ano 1080 perto da cidade de Nishapur e veio morrer aos oitenta e cinco anos de idade. Era filósofo, matemático e astrônomo preocupado em entender o sentido da vida e o enigma do universo. Apesar de enxergar friamente a vida, tal como ela é, encontrou na poesia, no vinho e nas mulheres a razão do seu viver. O ocidente o conhece graças as suas poesias. Ele as escrevia despreocupadamente como uma forma de desabafo e de alívio de suas frustrações. Seus poemas foram denominados pela tradição de “Rubaiatas”, plural de Rubaía, cujo significado é quadra, estrofe de quatro versos. São três os motivos de seus rubaiatas: a tristeza de se viver neste mundo; a insensatez dos dogmas da religião; e os prazeres do vinho e da sensualidade.
Para ele a vida é sem sentido, sem rumo, sem finalidade; negava o mundo e o concebia como um “cárcere asfixiante”.
Em um de seus poemas Omar Khayyán dizia que se tivessem consultado sobre sua vinda a terra, teria dito não. Sentia-se triste por ter nascido, achava que a vida é um algoz que nos força a aceitar um destino que não escolhemos. Ele nunca aceitou o fato de viver nesse mundo. Sentia-se perplexo e desajustado, também sentia angustia diante da morte, uma vez que ela nos leva a um aniquilamento final inexorável.
Ele também criticou as crenças e valores de sua época. Achava impossível ao homem provar a realidade de Deus. Em seus poemas usava a ironia desvelando as contradições dos dogmas religiosos.
Rubaiatas Poema 08

O Allah!
semeaste de armadilhas
e eriçaste de pecados
as curvas do meu caminho!

E depois advertiste:
- Ai de ti se caíres!

Sabemos
que nem um só átomo se esconde
à Tua visão
Em todo o universo

Ora,
se determinaste
que assim se me desdobrasse
o percurso da existência
e se tão meticulosamente
preparaste a minha queda,

Allah!
Por que me chamas
Pecador?
Apesar de seu extremo pessimismo Omár Khayyán cultivava um ideal hedonista de vida. Incitava seus contemporâneos a renunciar a tudo neste mundo: poder, fama, cargos e dinheiro. Achava que esses desejos só traziam perturbação à alma, eram indícios inexoráveis de infelicidade.
Para ele o afeto, o amor e a compreensão são os alicerces da vida. “A vida é amor e nada mais”. O mais importante na existência é conquistar o quinhão de ventura no decorrer de cada dia e nos entregarmos a nossa amada com uma taça de vinho nas mãos. Também dizia que devemos ter poucas necessidades. Se diariamente um homem consegue um pedaço de pão e um pouco de água, por que deveria trabalhar para outro? Por que precisa se humilhar diante de um estranho?
Para ele, quanto mais necessidades temos, mais dores e sofrimentos colhemos para o corpo e para a alma. Dizia que na vida devemos ser livres e tranquilos.
Ele asseverava que não devemos molestar, não odiar e não causar dano ou prejuízo a ninguém. Temos que idealizar uma vida serena, em quietude suportando risonhos as ofensas e todo horror das calúnias. Também não devemos culpar o destino pelo mal de que padecemos e não devemos agradecer os céus pelos bens que desfrutamos. Toda fatalidade, alegria ou tristeza que temos surge à revelia. Tudo que ocorre no mundo é contingente.
Diante das tristezas e percalços da vida aconselhava-nos a beber vinho. O vinho é exaltado e enaltecido em quase a metade de suas poesias. Para ele, o vinho nos abre as portas da percepção e não nos deixa alheios à vida, fazendo com que satisfaçamos nossos instintos mais primordiais. Assim nos liberta da dor, do sofrimento e nos propicia alegria e prazer. Em toda sua vida Omar Khayyán só encontrou consolo na bebida e nas mulheres. Sentia-se perplexo diante da incógnita da existência, era uma alma torturada em busca da verdade. Não encontrou respostas as suas indagações, sentiu depressão, angústia, desespero e acabou por se resignar. O vinho não era uma fuga ou apenas um simples prazer dos sentidos, muito pelo contrário, era um instrumento de êxtase místico para se atingir a verdade. Uma verdade que ele nunca encontrou.

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