“O que enobreceu a “guilhotina” diante do “garrote vil” – e da forca – não foram as cabeças nobres degoladas em seu surgimento, para as quais monsieur Guillotin expressamente a dedicou, mas muito mais o propósito manifesto de aniquilar a vida sem descartar a efusão de sangue: o significado vitimário do sacrifício. A invenção moderna da “cadeira elétrica”, usada na América do Norte, se tornou, porém, em comparação com seus antepassados homicidas nobres e plebeus, mais racional e científico; embora não nos pareça, talvez, muito filosófico. Diz-me como matas, e te direi o modo de vida que preferes. O aparelho que executa mortalmente uma razão de Estado simboliza cruelmente o modo de vida social que a lei desse Estado prefere e protege tão racionalmente. A Igreja condenava à morte nas chamas.
A forca, a guilhotina e a cadeira elétrica, ou a câmara de gás, com estilos muito distintos, coincidem em um mesmo jogo. Têm uma expressão correspondente de espanto, um mesmo gesto atroz de seriedade racionalista e uma idêntica careta patibular. Traçam um sinal sarcástico de interrogação semelhante à história social de um mundo que o homem chama de civilização e de progresso; seu objetivo é sublinhar e marcar sua autenticidade fratricida, legalizando-a pela mão irresponsável do carrasco”.
A forca, a guilhotina e a cadeira elétrica, ou a câmara de gás, com estilos muito distintos, coincidem em um mesmo jogo. Têm uma expressão correspondente de espanto, um mesmo gesto atroz de seriedade racionalista e uma idêntica careta patibular. Traçam um sinal sarcástico de interrogação semelhante à história social de um mundo que o homem chama de civilização e de progresso; seu objetivo é sublinhar e marcar sua autenticidade fratricida, legalizando-a pela mão irresponsável do carrasco”.
José Bergamín
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