sexta-feira, 26 de abril de 2013

Literatura

Análise do livro "A Hora da Estrela:"
Clarice Lispector
Clarice Lispector reúne em "A Hora da Estrela" três abordagens fundamentais: filosófica, social e estética.
Pela perspectiva filosófica, enfoca os limites e alcances do conhecimento do mundo mediante a palavra e a consciência, através das quais o ser humano se diferencia dos outros seres; em relação ao social, investiga os impasses criados pela separação dos indivíduos em diferentes grupos, destacando o escritor e o nordestino. Quanto à estética, investiga o ato da criação e da originalidade.
A narrativa se estrutura a partir de um narrador-personagem que fala de si mesmo e de um narrador onisciente que conta a história de Macabéa.
Há trechos na obra de Clarice que lembram grandes autores da fase realista e modernista. Observe os fragmentos a seguir:
I - "E só minto na hora exata da mentira.
Mas quando escrevo não minto."
(Fernando Pessoa )
II - "Mas voltemos a hoje. Porque, como se sabe, hoje é hoje. Não estão me entendendo e eu ouço escuro que estão rindo de mim em risos rápidos e ríspidos de velhos.
"(Machado de Assis)
"É coisa muito séria e muito alegre: sua vida vai mudar completamente!"
(Machado de Assis )
III - "Por Deus! Eu me dou melhor com os bichos do que com gente."
(Graciliano Ramos )
IV - "Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui."
(Manuel Bandeira)
Todos aparecem ao longo da narrativa, durante o processo de criação. Reúnem narrador, escritor e criação. É importante observar que apenas o 5º título é acompanhado por ponto final. Isto acontece porque a história a ser narrada contém segredos (um deles pode ser lido como "o que é o mistério da morte?") e também é a frase que Macabéa pronunciou antes de morrer.
A "Hora da Estrela" representa o momento epifânico de Macabéa: a hora da morte. É irônica porque só no momento da morte é que Macabéa alcança a grandeza do ser. Já a autora atinge a epifania ao concluir a obra. É a epifanização do tormento de escrever.
O narrador também é personagem principal porque, ao desenvolver a narrativa, mostrando-nos Macabéa, busca a própria identidade. Moldara Macabéa sobre o seu próprio destino e solidão, e morre com ela. Ao mesmo tempo, ele é um disfarce do "eu" da escritora.
A escritora e o narrador, usando as personagens Macabéa e Olímpico, tecem críticas a respeito do ato de falar, expressar-se, escrever, ler, interpretar. Macabéa possui um vocabulário restrito, cultura por flashes, baseada na memorização acrítica. Olímpico não tem consciência crítica para interrogar o código linguístico e aproximar-se das palavras sem conhecer o seu conceito.
A obra de Clarice Lispector pertence à Terceira Geração Modernista. Há o trabalho com o fluxo de consciência, com a linguagem; transita pelo plano metafísico (indagações existenciais), pelo inconsciente, pela autoanálise com projeções da filosofia existencialista.

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