A vida de umas das musas inspiradoras de Carlos Drumund e e Murilo Mendes é contada por Ana Arruda Callado em livro lançado pela editora Relume Dumará.
Adalgisa Nery foi uma dessas mulheres mais admiradas por aquilo que se imagina que elas sejam do que pelo que elas são. Uma Frida Kahlo, por exemplo - de quem, aliás, ficou amiga quando embaixatriz no México, nos anos 40. Frida tinha Diego Rivera assim como Adalgisa teve Ismael Nery, e tanto uma quanto outra construíram certo mérito em suas respectivas artes, Frida nos pincéis, Adalgisa com a métrica. Mas o que faz delas lendas vivas é a mística de uma beleza irrequieta, rebelde e de considerável voltagem erótica. Sua história está contada na biografia Adalgisa Nery .
"Acho que todos nós a amávamos, mesmo sem saber que se tratava de amor", escreveu Carlos Drummond de Andrade, em 1980, após a morte de uma Adalgisa paradoxalmente solitária, silenciosa, enrijecida pela amagura. Sussurrados como o de Drummond, alucinados como o de outro poeta, Murilo Mendes, os amores envolveram Adalgisa desde os 16 anos, quando, menina de beleza atordoante, fugiu para se casar com o pintor Ismael Nery. Foi a musa de seus melhores retratos.
Viúva aos 29 anos, Adalgisa Nery iria incendiar a fantasia masculina com seus versos de paixão e com seu figurino de femme fatale, "lábios muito pintados", "colos e ombros deslumbrantes". Em torno dela havia, além da permanente névoa de perfume ("Adalgisa, você vai empestear os livros", queixou-se Graciliano Ramos, seu colega de saraus na Livraria José Olympio), uma aura de extravagância misteriosa, a ponto de as pessoas atribuírem a ela amores clandestinos até com Getúlio Vargas.
Foi com um dos mais notórios serviçais do ditador que Adalgisa perpetrou, em 1940, um gesto de provocação dadaísta. Casou-se com Lourival Fontes, chefe da censura do Estado Novo, homem odiado e, de resto, feíssimo. Ao se separar, 13 anos depois, Adalgisa surpreendeu com novo rodopio, ingressando no jornalismo da escola Samuel Wainer e, depois, na política, com direito a uma cadeira na Assembléia Legislativa pelo Partido Socialista.
Em 1976, tomou um táxi em Petrópolis e internou-se, sem aviso, numa clínica geriátrica de Jacarepaguá. "Não quero mais pensar em conta de luz. Também não quero que ninguém me procure mais", avisou. A interna do quarto 56 chegou a cobrir a televisão "para não ver nada do que se passava no mundo". Quatro anos depois, o pano da fatalidade desceu sobre a grande dama do mundo.
Nirlando Beirão
Jornalista e Escritor
Adalgisa Nery foi uma dessas mulheres mais admiradas por aquilo que se imagina que elas sejam do que pelo que elas são. Uma Frida Kahlo, por exemplo - de quem, aliás, ficou amiga quando embaixatriz no México, nos anos 40. Frida tinha Diego Rivera assim como Adalgisa teve Ismael Nery, e tanto uma quanto outra construíram certo mérito em suas respectivas artes, Frida nos pincéis, Adalgisa com a métrica. Mas o que faz delas lendas vivas é a mística de uma beleza irrequieta, rebelde e de considerável voltagem erótica. Sua história está contada na biografia Adalgisa Nery .
"Acho que todos nós a amávamos, mesmo sem saber que se tratava de amor", escreveu Carlos Drummond de Andrade, em 1980, após a morte de uma Adalgisa paradoxalmente solitária, silenciosa, enrijecida pela amagura. Sussurrados como o de Drummond, alucinados como o de outro poeta, Murilo Mendes, os amores envolveram Adalgisa desde os 16 anos, quando, menina de beleza atordoante, fugiu para se casar com o pintor Ismael Nery. Foi a musa de seus melhores retratos.
Viúva aos 29 anos, Adalgisa Nery iria incendiar a fantasia masculina com seus versos de paixão e com seu figurino de femme fatale, "lábios muito pintados", "colos e ombros deslumbrantes". Em torno dela havia, além da permanente névoa de perfume ("Adalgisa, você vai empestear os livros", queixou-se Graciliano Ramos, seu colega de saraus na Livraria José Olympio), uma aura de extravagância misteriosa, a ponto de as pessoas atribuírem a ela amores clandestinos até com Getúlio Vargas.
Foi com um dos mais notórios serviçais do ditador que Adalgisa perpetrou, em 1940, um gesto de provocação dadaísta. Casou-se com Lourival Fontes, chefe da censura do Estado Novo, homem odiado e, de resto, feíssimo. Ao se separar, 13 anos depois, Adalgisa surpreendeu com novo rodopio, ingressando no jornalismo da escola Samuel Wainer e, depois, na política, com direito a uma cadeira na Assembléia Legislativa pelo Partido Socialista.
Em 1976, tomou um táxi em Petrópolis e internou-se, sem aviso, numa clínica geriátrica de Jacarepaguá. "Não quero mais pensar em conta de luz. Também não quero que ninguém me procure mais", avisou. A interna do quarto 56 chegou a cobrir a televisão "para não ver nada do que se passava no mundo". Quatro anos depois, o pano da fatalidade desceu sobre a grande dama do mundo.
Jornalista e Escritor
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