quinta-feira, 26 de maio de 2011

A velha midia e seus papagaios

Para fazer a denúncia das aventuras de Palocci, um jornal conta ao leitor que analisou documentos, fez cálculos etc. Nos dias seguintes, revela mais detalhes, cita os desmentidos, os desmentidos dos desmentidos, novos nomes, novos números. Retoma-se o caso Francenildo etc.
A velha mídia e seus papagaios de repetição bateram duro em um livro com base na leitura de apenas uma das páginas de um dos capítulos. Mais que um vexame, um papelão! O texto que se segue é de Sírio Possenti, professor do Departamento de Linguística e Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, um dos mais respeitados estudiosos da Língua Portuguesa também na Internet.
“Suponhamos que a mídia tratasse da mesma forma o caso livro do MEC. Em uma página, encontra duas ou três passagens das quais suspeita. Então, lê o capítulo, depois, lê o livro. Acha que tem alguma coisa estranha. Vai mais fundo: considera o fato de que se trata de um livro aprovado e distribuído pelo MEC. Obviamente, quererá saber se há mais algum implicado. Analisa outros livros de português abonados pelo Ministério. Encontra coisas semelhantes, pelo menos em um capítulo em cada manual. Desconfiada, porque nunca ouviu falar disso (só conhecia o manual da redação), decide investigar se é coisa do PT. Avança sobre os livros de português distribuídos no governo anterior, na certeza de que não encontrará nada disso (imagina!). Mas encontra. Tenta descobrir que conversa é essa.
O repórter pede uma diária extra, ou pede socorro à sucursal e ganha um reforço (parece ser coisa que vale a pena...). Lêem os Parâmetros Curriculares, do primeiro governo FHC (e que são um pouco confusos, mas deixa pra lá). Encontram passagens como "A discriminação de algumas variedades linguísticas, tratadas de modo preconceituoso... Por isso mesmo, o preconceito lingüístico...". Ficam apavorados. Verificam quem são os culpados. Consultam a bibliografia e encontram uma lista de autores, nacionais e estrangeiros, uns mais antigos, outros mais recentes. Dão umas googladas. Acham os temas meio complicados! Incrédulos, conferem os "créditos": Presidente da República: Fernando Henrique Cardoso (continuaria comunista?); Ministro da Educação: Paulo Renato Souza.
Como têm interesse em apurar a verdade, procuram Paulo Renato, que foi o "ministro dos PCNs". Querem entender melhor essa coisa estranha. Ele informa que vários dos que trabalharam na elaboração dos Parâmetros são paulistas, e fizeram um trabalho semelhante durante o governo Montoro (um petista doente!). Basta ir à CENP, órgão da Secretaria da Educação do Estado, e ver os documentos, ele diz. Vão.
Descobrem os textos do Projeto IPÊ (como são radicais!), que foram distribuídos a todas as escolas do Estado, distribuição seguida de numerosos cursos para professores de português, em diversas cidades do Estado e, na capital, para coordenadores pedagógicos e coordenadores da área. Está escrito: Governador: Montoro; Secretário da Educação: Paulo Renato. Dois criptocomunistas, eles pensam. Mas era apenas o primeiro governo democrático do Estado depois dos interventores!
[...]
Não entendi (mesmo!) a bronca em relação ao livro Por uma vida melhor. Num texto que escrevi para o caderno Aliás (Estadão, 22/05), cheguei a dizer que o capítulo era conservador. Reafirmo que é. Por isso, não consigo mesmo atinar com a origem da estrondosa reação. Afinal, o prof. Pasquale ministrou centenas de aulas do mesmo tipo na TV Cultura. A diferença principal é que ele "partia" de letras de música nas quais identificava um "erro" e, em seguida, dizia qual era a regra que deveria ser seguida "no formal". Mas ele nunca corrigiu as letras das músicas. Nenhuma diferença de fundo, portanto. Foi a palavra "preconceito"? Foi "pode"?”

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