domingo, 7 de setembro de 2014

Versos áureos

Anne-François-Louis Janmot
Mas como! Tudo é sensível!
Pitágoras
Oh! homem pensador, julgas que é em ti somente
Que há a razão neste mundo onde em tudo arfa a vida?
Das forças que tu tens tua vontade é servida,
Mas dos conselhos teus o universo está ausente.

Respeita no animal um espírito agente:
Cada flor é uma alma à natureza erguida;
Um mistério de amor no metal tem guarida;
"Tudo é sensível!" Tudo em teu ser é potente.

Teme, no muro cego, um olho que te espia:
Pois mesmo na matéria um verbo está sepulto...
Não a faças servir a alguma função ímpia!

No ser obscuro às vezes mora um Deus oculto,
E, como olho a nascer por pálpebras coberto,
Nas pedras cresce um puro espírito desperto!

Gérard de Nerval (1808-1855)
Tradução: Alexei Bueno

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