Historiadora traz à tona a saga das mulheres brasileiras desde o Brasil Colônia até o século XXI, traçando uma análise daquelas que marcaram a história e a independência das atuais, em que muitas ainda estão submetidas ao mito da eterna beleza.
Mary Del Priore
Mary Del Priore, escritora e historiadora, entende bem de empoderamento feminino. Escreveu 37 livros, dos quais 25 fazem referência ao histórico da mulher, direta ou indiretamente. Em suas análises, considera que as mulheres do século XXI são feitas de rupturas e permanências. As rupturas empurram-nas para a frente e as ajudam a expandir todas as possibilidades, a se fortalecer e a conquistar. As permanências, por outro lado, apontam fragilidades: “São criadas em um mundo patriarcal e machista, não conseguem se enxergar fora do foco masculino de serem belas. Vivem pelo olhar do homem, do ‘outro’. As meninas crescem com o sonho cor-de-rosa da Barbie. Quando conseguem a independência, querem apenas encontrar um príncipe encantado. Têm filhos, mas se sentem culpadas por deixá-los em casa. São machistas, quando não estimulam os homens a lavarem louças e arrumarem os quartos. Em casa, querem sair para trabalhar, mas sem uma ideologia definida. “Se cheinhas, querem emagrecer, a vida é controlada pela balança. Se magras, desejam seios, nádegas e o que mais tiverem direito... em silicone”, diz.
Obra feminista
No mais recente livro, Histórias e Conversas de Mulher, da editora Planeta, publicado este ano, Mary trata de namoros com homens mais jovens, a paixão por usar botinhas de salto, do corpo trabalhado artificialmente para projetar seios e nádegas e ficar mais voluptuoso. “Foi preciso mais de 200 anos para que as mulheres conquistassem direitos que permitem a livre expressão e o exercício da cidadania, onde a futilidade não pode prevalecer: votar, usar anticoncepcionais, divorciar-se, ir à praia de biquíni, ocupar cargos de alto escalão em empresas multinacionais, é o que importa.”
Dentro do aspecto histórico em que a autora se distingue, o livro mais premiado foi Condessa de Barral, em que traça um perfil de uma personalidade pouco conhecida, mas nem por isso irrelevante: Luísa Margarida Portugal e Barros, aquela que manteve durante 30 anos um relacionamento lendário com o Imperador do Brasil, D. Pedro II. “Muito mais do que uma simples amante, esta filha de um senhor de engenhos apaixonado pelas letras foi uma das figuras femininas mais originais e interessantes de seu tempo.” Naquela época, a maioria das mulheres vivia como mera sombra dos homens. No entanto, segundo a escritora, o imperador se apaixonou por Barral não só pela sua personalidade. “Os dois se viam como almas gêmeas, porque encaravam o amor de outra forma, como uma amizade com finas sintonias emocionais e intelectuais. Isso não significa que os dois não tenham se entregado ao desejo, mas não era esse o cerne de sua ligação”, observa.
Em Castelo de Papel, há uma mescla de fábulas de princesa e o panorama político: um mundo em transição através do romance da princesa Isabel com o conde D’Eu, um casamento arranjado embora feliz dentro dos padrões. É revelada a participação de ambos no movimento abolicionista, a derrocada do Império, a intimidade do casal e as tensões com D. Pedro II. “Tudo como se o leitor estivesse dentro do palácio”, considera a historiadora.
O livro Histórias Íntimas retrata o sexo sob o aspecto pecaminoso. “As mulheres levantavam as saias e os homens abaixavam as calças e ceroulas. Tirar a roupa era proibido. No entanto, o proibido aguçava a vontade, e a Igreja, instituição que mais repreendia os afoitos, ironicamente acabou se tornando o templo da perdição”, comenta.
Em A Carne e o Sangue é descrito o famoso triângulo do imperador D. Pedro I, a imperatriz Leopoldina e Domitila, a marquesa de Santos. “O leitor confere detalhes íntimos dessas relações, numa leitura que envolve erotismo e ciúme, apelidos e intrigas, a linhagem e o prazer, que caminham lado a lado com a história do Brasil.”
Em Histórias do Cotidiano, um dos aspectos enfocados é a vida da mulher, em textos curtos e ágeis, que também abordam o cotidiano do tempo presente, conduzindo leitores e leitoras a um passeio instigante pelos assuntos relativos ao corpo, à família, ao convívio social e à condição de crianças, jovens e velhos em nossa sociedade. Em uma agradável viagem literária, a obra passa por temas diversos: de sutiãs a aviões, de maternidade à modernidade, de solidão a casamento, da sujeira nas ruas à sujeira na política, de férias no sítio à violência urbana, de herança do passado a novos desafios, em que demonstra a necessidade das mulheres irem para as ruas no exercício de suas cidadanias.
Já na obra Corpo a Corpo com a Mulher, a professora acompanha as transformações ocorridas no corpo das brasileiras ao longo da nossa história. Documentos do século XVI ao XVIII embasam esse resgate de personagens e situações anônimas, que revelam as marcas deixadas pela diferença de gênero, que ainda hoje fazem parte do imaginário brasileiro. “Um dos exemplos é o estereótipo da santa-mãezinha provedora, piedosa, dedicada e assexuada, arquétipo que ainda hoje permanece vivo.”
Para atingir as mais diferentes leitoras, História das Mulheres no Brasil levanta nossa história falando para adultos e jovens, especialistas e curiosos, estudantes e professores. “Procuro arrastá-los numa viagem em que viveram e morreram as mulheres, o mundo que as cercava, do Brasil colonial aos nossos dias.” Não é apenas a história delas, mas também da família, da criança, do trabalho, da mídia, da literatura e das suas imagens frente à sociedade.
Dentro do aspecto histórico em que a autora se distingue, o livro mais premiado foi Condessa de Barral, em que traça um perfil de uma personalidade pouco conhecida, mas nem por isso irrelevante: Luísa Margarida Portugal e Barros, aquela que manteve durante 30 anos um relacionamento lendário com o Imperador do Brasil, D. Pedro II. “Muito mais do que uma simples amante, esta filha de um senhor de engenhos apaixonado pelas letras foi uma das figuras femininas mais originais e interessantes de seu tempo.” Naquela época, a maioria das mulheres vivia como mera sombra dos homens. No entanto, segundo a escritora, o imperador se apaixonou por Barral não só pela sua personalidade. “Os dois se viam como almas gêmeas, porque encaravam o amor de outra forma, como uma amizade com finas sintonias emocionais e intelectuais. Isso não significa que os dois não tenham se entregado ao desejo, mas não era esse o cerne de sua ligação”, observa.
Em Castelo de Papel, há uma mescla de fábulas de princesa e o panorama político: um mundo em transição através do romance da princesa Isabel com o conde D’Eu, um casamento arranjado embora feliz dentro dos padrões. É revelada a participação de ambos no movimento abolicionista, a derrocada do Império, a intimidade do casal e as tensões com D. Pedro II. “Tudo como se o leitor estivesse dentro do palácio”, considera a historiadora.
O livro Histórias Íntimas retrata o sexo sob o aspecto pecaminoso. “As mulheres levantavam as saias e os homens abaixavam as calças e ceroulas. Tirar a roupa era proibido. No entanto, o proibido aguçava a vontade, e a Igreja, instituição que mais repreendia os afoitos, ironicamente acabou se tornando o templo da perdição”, comenta.
Em A Carne e o Sangue é descrito o famoso triângulo do imperador D. Pedro I, a imperatriz Leopoldina e Domitila, a marquesa de Santos. “O leitor confere detalhes íntimos dessas relações, numa leitura que envolve erotismo e ciúme, apelidos e intrigas, a linhagem e o prazer, que caminham lado a lado com a história do Brasil.”
Em Histórias do Cotidiano, um dos aspectos enfocados é a vida da mulher, em textos curtos e ágeis, que também abordam o cotidiano do tempo presente, conduzindo leitores e leitoras a um passeio instigante pelos assuntos relativos ao corpo, à família, ao convívio social e à condição de crianças, jovens e velhos em nossa sociedade. Em uma agradável viagem literária, a obra passa por temas diversos: de sutiãs a aviões, de maternidade à modernidade, de solidão a casamento, da sujeira nas ruas à sujeira na política, de férias no sítio à violência urbana, de herança do passado a novos desafios, em que demonstra a necessidade das mulheres irem para as ruas no exercício de suas cidadanias.
Já na obra Corpo a Corpo com a Mulher, a professora acompanha as transformações ocorridas no corpo das brasileiras ao longo da nossa história. Documentos do século XVI ao XVIII embasam esse resgate de personagens e situações anônimas, que revelam as marcas deixadas pela diferença de gênero, que ainda hoje fazem parte do imaginário brasileiro. “Um dos exemplos é o estereótipo da santa-mãezinha provedora, piedosa, dedicada e assexuada, arquétipo que ainda hoje permanece vivo.”
Para atingir as mais diferentes leitoras, História das Mulheres no Brasil levanta nossa história falando para adultos e jovens, especialistas e curiosos, estudantes e professores. “Procuro arrastá-los numa viagem em que viveram e morreram as mulheres, o mundo que as cercava, do Brasil colonial aos nossos dias.” Não é apenas a história delas, mas também da família, da criança, do trabalho, da mídia, da literatura e das suas imagens frente à sociedade.
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