domingo, 29 de janeiro de 2012

Literatura

“A ideia de trabalho como castigo precisa ser substituída pelo conceito de realizar uma obra. Enxergar um significado maior na vida aproxima o tema da espiritualidade do mundo do trabalho”.
Mario Sergio Cortella
O autor é, sem dúvida, um dos maiores pensadores brasileiros da atualidade, o filósofo e professor Mario Sergio Cortella. E o livro "Qual é a tua obra?" já traz um subtítulo que nos seduz para a leitura - "inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética". Discussões e questionamentos sobre os pilares para a construção de uma sociedade sustentável, de fato.
Como bem antecipa a filha do autor em um belíssimo prefácio, encontrar a resposta para a pergunta título do livro é uma tarefa muito difícil. Mas não se iluda, a resposta não está no livro... O autor apenas nos ajuda a buscá-la, cada um no seu próprio ritmo.
O livro foi estruturado em três partes: gestão, liderança e ética, mantendo sempre o papel do líder como pano de fundo. Os capítulos são curtos e densos, com formatos variando entre exemplos, citações e parábolas. Mas os temas são tratados em profundidade, provocando forte reflexão no leitor.
A primeira parte aborda Gestão, enfocando a importância da busca de um sentido no trabalho e, consequentemente, de enxergar um significado maior na sua vida. O autor explica porque o trabalho ainda é tratado como uma espécie de castigo, e porque precisamos mudar este conceito pela ideia da realização de uma obra. De certa forma, isto explica o fato da espiritualidade ser um assunto cada vez mais presente no universo corporativo.
O professor Cortella recorre à física quântica para mostrar a cura para casos crônicos de arrogância e falta de humildade. Em um ensaio acadêmico, em resposta à pergunta "você sabe com quem está falando?", o autor sugere uma resposta com uma força metafísica. Afinal, seja "você" quem for, é apenas um entre 6,4 bilhões de indivíduos, pertencente a uma única espécie entre outras 3 milhões já classificadas, que vive num planeta que gira em torno de uma estrela, que é apenas uma entre 100 bilhões que compõem uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer. E ainda tem gente que se acha...
Cortella fala sobre o lado bom de não saber, pois reconhecer o desconhecimento é um sinal de inteligência fundamental para mudança. O autor aborda também o estoque de conhecimento, a educação continuada como forma de aprimorar competências e habilidades e a importância do reconhecimento para uma nova "lealdade relativa". Afinal, todos querem aumentar a empregabilidade, mas nem sempre estão dispostos ao sacrifício, daí surge a "síndrome de Rocky Balboa".
Os capítulos seguintes tratam da mudança, do medo de enfrentá-la e a capacidade de antecipá-la. E encerra com o grande estrago das pequenas ondas e a necessidade de melhorar a nossa gestão pessoal. Quando um modelo de vida leva a um esgotamento, é fundamental questionar se vale a pena continuar no mesmo caminho. Já pensou nisso?
Na sessão sobre Liderança, o autor afirma que esta é uma virtude e não um dom. E explica que o fundamental é chegar ao essencial, ou seja, tudo aquilo que você não pode deixar de ter como felicidade, amizade, sexualidade, religiosidade, etc. Por isso, contar com mecanismos de reconhecimento é um sinal de inteligência estratégica.
Cortella afirma que uma das principais tarefas do líder é precisamente esclarecer a obra coletiva. Realizar e perceber-se no conjunto da obra é a perfeita sensação daquilo em que me reconheço como indivíduo. Mesmo em tempos velozes, onde o jogo e a estratégia mudam constantemente, temos que permanecer alertas para as duas piores armadilhas para o líder: a arrogância e a fascinação pelo mesmo. Daí a necessidade da renovação pelo outro e a vitalizarão constante.
Um líder precisa ser capaz de inspirar e animar as pessoas. Elas precisam se sentir bem e plenamente integradas à obra. Para isso, Cortella elenca as cinco competências essenciais na arte de liderar: abrir a mente, elevar a equipe, recrear o espírito, inovar a obra e empreender o futuro.
Na última parte, o autor desvenda o mistério da Ética de forma brilhante, com uma fórmula capaz de dirimir qualquer dúvida. Ele sugere três perguntas simples que são essenciais para cuidarmos da vida coletiva. Quero? Posso? Devo? Afinal, a ética é um conjunto de princípios e valores que usamos para responder estas perguntas. E a integridade é um princípio ético para não apequenar a vida, que já é curta.
Enfim, uma leitura agradável, rápida e profunda. Mas nada servirá se você não praticar seus conceitos. Dê-se esta oportunidade! Como diz o professor Cortella, um poder que se serve em vez de servir, é um poder que não serve. Lembra-te que és mortal.
Mario Sergio Cortella
Editora: Vozes

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