‘Os Sequestros que Abalaram a Ditadura Militar’
Em 1 de abril de 1964 foi instaurada no Brasil uma ditadura militar que iria perdurar por mais de vinte anos. Durante este período, várias foram as fases e as faces do regime repressor. Recebidos por grandes manifestações favoráveis, com milhares de pessoas acorrendo às marchas de apoio, os militares iniciaram a caça às bruxas. Incitaram o incêndio ao prédio da sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), encerraram organizações sindicais e estudantis, caçaram políticos opositores, expurgaram as alas de esquerda de dentro das forças armadas, acabaram com o voto popular para presidente.
De 1964 a 1968 a luta dos estudantes passou a ser clandestina, ou seja, a UNE fora dissolvida, mas continuava a existir na ilegalidade, assim como vários partidos de esquerda. Havia uma esperança de que a situação política fosse revertida e os militares golpistas voltassem para a caserna.
1968 foi o ano de todos os protestos. Movida pelos movimentos internacionais daquele ano, a resistência à ditadura no Brasil promoveu passeatas e atos públicos de grande repercussão. A esperança apagou-se de vez, em 13 de dezembro de 1968, quando o Congresso foi fechado e o Ato Institucional Nº 5 foi promulgando, minando qualquer possibilidade de diálogo, numa ditadura que se tornou ainda mais repressiva e sanguinária.
As consequências do endurecimento do regime militar foram irreversíveis em alguns setores de oposição. Acossados, membros de esquerda, que viram os seus líderes presos e torturados, sem direito a habeas corpus, passaram a conclamar o fim da contestação pacífica, mergulhando numa contundente resistência guerrilheira. Estava declarada a luta armada no Brasil.
A luta armada gerou os famosos guerrilheiros da esquerda. Consistiu em jovens idealistas, a maioria com menos de 25 anos de idade, a pegar em armas, a assaltar bancos e supermercados, obtendo através destas ações, fundos para manter os guerrilheiros, todos a viver na clandestinidade, impossibilitados de trabalhar ou de ter direitos cívicos. Ataques a quartéis militares para a obtenção de armas e munições também fizeram parte da luta armada. Mas os movimentos mais complexos desta luta foram os sequestros a diplomatas de importantes governos que faziam a representação dos seus países no Brasil.
De 1969 a 1970, quatro grandes sequestros abalaram a ditadura militar, causando-lhe constrangimento diplomático no cenário internacional e proporcionando uma grande derrota política.
De 1964 a 1968 a luta dos estudantes passou a ser clandestina, ou seja, a UNE fora dissolvida, mas continuava a existir na ilegalidade, assim como vários partidos de esquerda. Havia uma esperança de que a situação política fosse revertida e os militares golpistas voltassem para a caserna.
1968 foi o ano de todos os protestos. Movida pelos movimentos internacionais daquele ano, a resistência à ditadura no Brasil promoveu passeatas e atos públicos de grande repercussão. A esperança apagou-se de vez, em 13 de dezembro de 1968, quando o Congresso foi fechado e o Ato Institucional Nº 5 foi promulgando, minando qualquer possibilidade de diálogo, numa ditadura que se tornou ainda mais repressiva e sanguinária.
As consequências do endurecimento do regime militar foram irreversíveis em alguns setores de oposição. Acossados, membros de esquerda, que viram os seus líderes presos e torturados, sem direito a habeas corpus, passaram a conclamar o fim da contestação pacífica, mergulhando numa contundente resistência guerrilheira. Estava declarada a luta armada no Brasil.
A luta armada gerou os famosos guerrilheiros da esquerda. Consistiu em jovens idealistas, a maioria com menos de 25 anos de idade, a pegar em armas, a assaltar bancos e supermercados, obtendo através destas ações, fundos para manter os guerrilheiros, todos a viver na clandestinidade, impossibilitados de trabalhar ou de ter direitos cívicos. Ataques a quartéis militares para a obtenção de armas e munições também fizeram parte da luta armada. Mas os movimentos mais complexos desta luta foram os sequestros a diplomatas de importantes governos que faziam a representação dos seus países no Brasil.
De 1969 a 1970, quatro grandes sequestros abalaram a ditadura militar, causando-lhe constrangimento diplomático no cenário internacional e proporcionando uma grande derrota política.
‘O Sequestro de Charles Elbrick’
O primeiro, realizado em setembro de 1969, foi do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, e o de maior repercussão nacional e internacional.
Em 1969 veio a resposta definitiva do AI-5 sobre os líderes da resistência ao regime militar. Muitos foram presos e torturados.
Foi no cenário desta confusão política que se planejou e executou uma das maiores ações da história recente do Brasil, o sequestro ao embaixador norte-americano Charles Elbrick. A ação foi desencadeada para acontecer em setembro, durante as comemorações da Semana da Pátria, considerada um ícone do regime autoritário.
Membros do PCB e da Ação Libertadora Nacional (ALN), a maior organização guerrilheira da época, debateram um plano para libertar os líderes estudantis Vladimir Palmeira, Luís Travassos e José Dirceu, presos desde o fatídico Congresso da UNE em Ibiúna, sem direito a habeas corpus.
O estudante Franklin Martins, da Dissidência da Guanabara, teve a ideia ao passar pela Rua Marques, no bairro do Botafogo, Rio de Janeiro. O estudante observou que todos as manhãs, Charles Elbrick, embaixador norte-americano, fazia aquele trajeto. Diante das evidências, Franklin Martins levou o seu plano aos dirigentes da Dissidência da Guanabara.
A aceitação do plano foi imediata. O líder da ALN concordou que a sua organização entraria na audaciosa ação, e que ela serviria como marco de propaganda na Semana da Pátria, para que se consolidasse uma guerrilha de campo.
Aproximadamente um mês depois da decisão do sequestro, em Setembro, a operação de sequestro ao embaixador Charles Elbrick foi desencadeada na manhã do dia 4 de setembro de 1969, numa quinta-feira. Ás nove horas da manhã, um grupo de pessoas tomou, discretamente lugares estratégicos do bairro do Botafogo, iniciando o aparato logístico e militar. Em um sobrado da Rua Barão de Petrópolis, no numero 1026, no Bairro de Santa Tereza, Charles Elbrick foi levado.
O manifesto, que exigia a libertação de quinze presos políticos em troca da vida de Charles Elbrick, e a sua publicação na imprensa, cobriria as páginas dos jornais do dia seguinte, 5 de setembro. Os nomes dos quinze presos seriam divulgados posteriormente, na manhã seguinte. O manifesto levava a assinatura da ALN e do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8), onde Fernando Gabeira era o destaque.
A ação dos guerrilheiros surpreendeu o regime militar e todo o Brasil. Deixou o governo brasileiro em uma situação diplomática delicada com os Estados Unidos. Para que o sequestro fosse solucionado, o governo militar foi obrigado a ceder a todas as exigências dos sequestradores, evitando assim, que algo sucedesse ao embaixador, pondo em risco a sua vida. Uma grande operação ofensiva foi montada, envolvendo mais cinco mil homens das três forças armadas, quatro mil policiais civis e militares, quinhentos agentes dos serviços de informações e trezentas viaturas. No dia 7 de setembro, no domingo à tarde, começou a operação de libertação do embaixador. Os sequestradores começaram a abandonar o sobrado de Santa Tereza divididos em grupos.
Despistados os agentes militares, Charles Elbrick é deixado no Largo da Segunda-Feira, levando de presente dos sequestradores um livro de poemas de Ho Chi Min, escrito em inglês. Elbrick voltou para a sua casa de táxi. Nos primeiros depoimentos após a sua libertação, surpreendentemente foi simpático aos sequestradores, descrevendo-os como jovens determinados, inteligentes e fanáticos. O embaixador morreria de pneumonia em seu país, em 1983.
Enfim isso na libertação dos três líderes estudantis que nas confabulações anteriores, seriam resgatados, e de mais doze presos políticos.
Flávio Tavares (1934), jornalista, coordenador do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), colaborador do jornal “O Estado de S. Paulo”.
Gregório Bezerra (1900-1983), Natural de Pernambuco. Gregório foi analfabeto até 25 anos de idade. Foi carregador de bagagens na estação central de Recífe, jornaleiro e ajudante de obras. Foi como jornaleiro que começou a se interessar pela política, com base na leitura que seus colegas de profissão faziam para ele dos jornais locais.
Em 1922 alistou-se no exército; alfabetizou-se e em 1929 entrou para a Escola de Sargentos.
Em 1930 filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em 1935, no Recife, liderou o levante militar promovido pela Aliança Nacional Libertadora (ALN), movimento também conhecido como "Intentona Comunista". Condenado a 28 anos de prisão, foi levado, primeiro para Fernando de Noronha e, depois para o Rio de Janeiro, no Presídio Frei Caneca, onde dividiu cela com o ex-comandante da Coluna Prestes e secretário geral do Partido Comunista do Brasil, Luís Carlos Prestes.
Com o fim do Estado Novo, foi anistiado e elegeu-se constituinte (depois deputado federal), em 1946, por Pernambuco, na legenda do PCB, sendo o deputado constituinte mais votado do estado. Teve seu mandato cassado em 1948, juntamente com todos os parlamentares comunistas. Viveu na clandestinidade por nove anos, organizando núcleos sindicais no Paraná e em Goiás.
Foi preso imediatamente após o Golpe Militar brasileiro de 1964. Após a prisão foi transferido para o Recife, onde foi torturado e arrastado pela praça do bairro de Casa Forte pelo tenente-coronel do Exército Brasileiro Darcy Viana Vilock, com uma corda no pescoço, e teve os seus pés imersos em solução de bateria de carro, ficando em carne viva, e este espetáculo foi exibido pelas televisões locais à época do Golpe Militar de 1964.
Condenado a 19 anos de reclusão, teve seus direitos políticos cassados por força do Ato Institucional nº 1. Foi libertado, em 1969, juntamente com outros 14 presos políticos, em troca da devolução do embaixador estadunidense no Brasil Charles Burke Elbrick.
Viveu no México e na então União Soviética. Com a promulgação da anistia, voltou ao Brasil dez anos depois, em 1979, e logo entrou em divergência com o seu partido (o PCB), desligando-se de seu quadro. Gregório apoiou o PMDB e, nessa legenda, candidatou-se, em 1982, à Câmara dos Deputados, ficando como suplente.
Gregório Bezerra passou 22 anos de sua vida preso por motivos exclusivamente políticos, comparando-se a Nelson Mandela, que passou 27 anos.
Antes de morrer, Gregório declarou: Gostaria de ser lembrado como o homem que foi amigo das crianças, dos pobres e excluídos; amado e respeitado pelo povo, pelas massas exploradas e sofridas; odiado e temido pelos capitalistas, sendo considerado o inimigo número um das ditaduras fascistas.
Em homenagem a Gregório Bezerra, o poeta Ferreira Gullar escreveu a poesia Feito de ferro e flor.
Morreu na cidade de São Paulo, no dia 23 de outubro de 1983.
Seu corpo foi velado na Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco, tendo reunindo milhares de pessoas. Do alto de uma galeria da Assembléia Legislativa, uma faixa pintada de vermelho, reproduzia os versos da música cantada por Elis Regina: choram Marias e Clarices no solo do Brasil.
Ivens Marchetti, arquiteto que viveu na Suécia, militante da Dissidência de Niterói, morto por um câncer em 2002;
João Leonardo da Silva Rocha (1939-1975) cursava o último ano de Direito e já integrava a ALN (Agrupamento Comunista de São Paulo) quando foi preso pelo DOPS, no final de janeiro de 1969. Foi um dos 15 presos políticos libertados e banidos do Brasil. Retornou ao Brasil clandestinamente em 1971, juntos com outros dissidentes da ALN que formaram a MOLIPO, Movimento de Libertação Popular, entre eles o ex-ministro José Dirceu, com o nome de José Lourenço da Silva.
Raspava sempre a cabeça e ficou conhecido como Zé Careca. Casou-se com uma viúva, Virgínia Paes de Lima, que morreu em 1990 sem saber que fora casada com um guerrilheiro. Em 1974, ao ser procurado pela polícia local, fugiu para o interior da Bahia, onde buscava trabalhar para viver.
Foi morto em junho de 1975, ano em que a ALN e a MOLIPO não existiam mais, por agentes da Polícia Militar da Bahia em Palmas de Monte Alto, margem direita do Rio São Francisco.
José Dirceu de Oliveira e Silva (1946), líder estudantil, preso em Ibiúna, futuro ministro da Casa Civil do governo do presidente Lula;
José Dirceu não queria ficar em Cuba. A solução: entrou no Brasil com nome falso e rosto mudado por uma plástica.
José Dirceu viveu clandestinamente no Brasil, de abril de 1975 a agosto de 1979, com o rosto mudado por uma cirurgia plástica feita por médicos vietnamitas em Cuba. Dirceu pôs uma prótese no nariz e puxou ligeiramente os olhos. O nome do personagem: Carlos Henrique Gouveia de Mello. A meio caminho entre São Paulo e Rondônia, onde pretendia se juntar aos companheiros da luta armada do Molipo, ele estacionou na cidade de Cruzeiro d'Oeste, no Paraná. O mais incrível desta história: em Cruzeiro d'Oeste ele se casou, viveu com uma mulher durante cinco anos, teve um filho - e ela nunca desconfiou de que o homem com quem se casara era outro. Até que, ao anúncio da Anistia, José Dirceu a chamou, mostrou a foto dos 13 diante do Hércules da FAB e disse: "Este sou eu". Separaram-se em pouco tempo. Dirceu voltou para Cuba, escondido, desfez a plástica e retornou ao Brasil pela porta da frente do aeroporto de Viracopos. Diz Clara Becker, a mulher com quem ele se casou no Paraná: "O homem que eu amava era o Carlos Henrique, não o Zé Dirceu". Para seu filho, Zeca, o pai foi um herói. "Tenho orgulho de contar a história dele aos meus amigos."
* José Ibrahin (1948-2013), líder do movimento operário paulista, futuro secretário de relações internacionais da Força Sindical.
Morreu no dia 2 de maio de 2013, aos 66 anos.
* Luis Travassos (1945-1982), ex-presidente da UNE, morto em um acidente de automóvel em 1982, no Rio de Janeiro;
Maria Augusta Carneiro Ribeiro (1947-2009) – Tinha 22 anos, única mulher da lista, militante da Dissidência da Guanabara, a DI-GB, presa em Ibiúna, futura proprietária de uma escola para deficientes no Rio de Janeiro.
Morreu no dia 15 de Maio de 2009 aos 62 anos. Sua morte foi consequência de ferimentos sofridos em um acidente de carro acontecido em 25 de abril em Búzios (RJ).
Mário Roberto Zanconato (1945), fundador da Corrente Revolucionária ligada a ALN, futuro médico da prefeitura de Diadema, em São Paulo. Foi o último a embarcar no Hércules 56 porque foi pego em Belém no Pará;
Onofre Pinto (1937-1974). Natural de Jacupiranga, SP, nasceu em 1937. Ex-sargento do Exército Brasileiro e integrante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), foi presidente da Associação dos Sargentos de São Paulo antes do golpe militar de 1964. Teve seus direitos políticos cassados. Retornou ao Brasil clandestinamente e desapareceu na fronteira do Brasil e da Argentina em 1974. Seu corpo nunca foi encontrado e é dado como desaparecido político.
Ricardo Vilasboas Sá Rego (1949), militante da DI-GB, futuro músico e compositor, que deixou a luta armada para viver na França;
Ricardo Zarattini (1935), do movimento operário, irmão do ator Carlos Zara, envolvido em lideranças partidárias no Brasil pós-ditadura;
Rolando Fratti, morto por um câncer em 1991;
Vladimir Palmeira (1944), líder estudantil que comandou a Passeata dos Cem Mil em 1968, futuro deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Atualmente está sem partido.
Em 1969 veio a resposta definitiva do AI-5 sobre os líderes da resistência ao regime militar. Muitos foram presos e torturados.
Foi no cenário desta confusão política que se planejou e executou uma das maiores ações da história recente do Brasil, o sequestro ao embaixador norte-americano Charles Elbrick. A ação foi desencadeada para acontecer em setembro, durante as comemorações da Semana da Pátria, considerada um ícone do regime autoritário.
Membros do PCB e da Ação Libertadora Nacional (ALN), a maior organização guerrilheira da época, debateram um plano para libertar os líderes estudantis Vladimir Palmeira, Luís Travassos e José Dirceu, presos desde o fatídico Congresso da UNE em Ibiúna, sem direito a habeas corpus.
O estudante Franklin Martins, da Dissidência da Guanabara, teve a ideia ao passar pela Rua Marques, no bairro do Botafogo, Rio de Janeiro. O estudante observou que todos as manhãs, Charles Elbrick, embaixador norte-americano, fazia aquele trajeto. Diante das evidências, Franklin Martins levou o seu plano aos dirigentes da Dissidência da Guanabara.
A aceitação do plano foi imediata. O líder da ALN concordou que a sua organização entraria na audaciosa ação, e que ela serviria como marco de propaganda na Semana da Pátria, para que se consolidasse uma guerrilha de campo.
Aproximadamente um mês depois da decisão do sequestro, em Setembro, a operação de sequestro ao embaixador Charles Elbrick foi desencadeada na manhã do dia 4 de setembro de 1969, numa quinta-feira. Ás nove horas da manhã, um grupo de pessoas tomou, discretamente lugares estratégicos do bairro do Botafogo, iniciando o aparato logístico e militar. Em um sobrado da Rua Barão de Petrópolis, no numero 1026, no Bairro de Santa Tereza, Charles Elbrick foi levado.
O manifesto, que exigia a libertação de quinze presos políticos em troca da vida de Charles Elbrick, e a sua publicação na imprensa, cobriria as páginas dos jornais do dia seguinte, 5 de setembro. Os nomes dos quinze presos seriam divulgados posteriormente, na manhã seguinte. O manifesto levava a assinatura da ALN e do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8), onde Fernando Gabeira era o destaque.
A ação dos guerrilheiros surpreendeu o regime militar e todo o Brasil. Deixou o governo brasileiro em uma situação diplomática delicada com os Estados Unidos. Para que o sequestro fosse solucionado, o governo militar foi obrigado a ceder a todas as exigências dos sequestradores, evitando assim, que algo sucedesse ao embaixador, pondo em risco a sua vida. Uma grande operação ofensiva foi montada, envolvendo mais cinco mil homens das três forças armadas, quatro mil policiais civis e militares, quinhentos agentes dos serviços de informações e trezentas viaturas. No dia 7 de setembro, no domingo à tarde, começou a operação de libertação do embaixador. Os sequestradores começaram a abandonar o sobrado de Santa Tereza divididos em grupos.
Despistados os agentes militares, Charles Elbrick é deixado no Largo da Segunda-Feira, levando de presente dos sequestradores um livro de poemas de Ho Chi Min, escrito em inglês. Elbrick voltou para a sua casa de táxi. Nos primeiros depoimentos após a sua libertação, surpreendentemente foi simpático aos sequestradores, descrevendo-os como jovens determinados, inteligentes e fanáticos. O embaixador morreria de pneumonia em seu país, em 1983.
Enfim isso na libertação dos três líderes estudantis que nas confabulações anteriores, seriam resgatados, e de mais doze presos políticos.
Da esquerda para a direita, em pé: Luís Travassos, José Dirceu, José Ibrahim, Onofre Pinto,
Ricardo Vilas Boas, * Maria Augusta Carneiro Ribeiro, Ricardo Zarattini e Rolando Frati.
Agachados: João Leonardo da Silva Rocha, Agonalto Pacheco, Vladimir Palmeira, Ivens Marchetti e Flávio Tavares. A foto foi tirada no Rio de Janeiro, pouco antes de eles embarcarem no avião Hércules 56 que os levou para o México. Gregório Bezerra juntou-se ao grupo em Recife e Mário Zanconato em Belém.
(*) Ja morreram
Os prisioneiros deixaram o país em um avião, o Hércules 56, que seguiu para o México, de onde seguiram cada um, para um destino no exílio.
Muitos deles retornariam incógnitos para o Brasil, alguns anos depois, continuando a luta na clandestinidade.
Muitos deles retornariam incógnitos para o Brasil, alguns anos depois, continuando a luta na clandestinidade.
- Agonalto Pacheco da Silva (1927-2007), militante da ALN; tinha 42 anos na época. Foi ferroviário.
Em 1922 alistou-se no exército; alfabetizou-se e em 1929 entrou para a Escola de Sargentos.
Em 1930 filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em 1935, no Recife, liderou o levante militar promovido pela Aliança Nacional Libertadora (ALN), movimento também conhecido como "Intentona Comunista". Condenado a 28 anos de prisão, foi levado, primeiro para Fernando de Noronha e, depois para o Rio de Janeiro, no Presídio Frei Caneca, onde dividiu cela com o ex-comandante da Coluna Prestes e secretário geral do Partido Comunista do Brasil, Luís Carlos Prestes.
Com o fim do Estado Novo, foi anistiado e elegeu-se constituinte (depois deputado federal), em 1946, por Pernambuco, na legenda do PCB, sendo o deputado constituinte mais votado do estado. Teve seu mandato cassado em 1948, juntamente com todos os parlamentares comunistas. Viveu na clandestinidade por nove anos, organizando núcleos sindicais no Paraná e em Goiás.
Foi preso imediatamente após o Golpe Militar brasileiro de 1964. Após a prisão foi transferido para o Recife, onde foi torturado e arrastado pela praça do bairro de Casa Forte pelo tenente-coronel do Exército Brasileiro Darcy Viana Vilock, com uma corda no pescoço, e teve os seus pés imersos em solução de bateria de carro, ficando em carne viva, e este espetáculo foi exibido pelas televisões locais à época do Golpe Militar de 1964.
Condenado a 19 anos de reclusão, teve seus direitos políticos cassados por força do Ato Institucional nº 1. Foi libertado, em 1969, juntamente com outros 14 presos políticos, em troca da devolução do embaixador estadunidense no Brasil Charles Burke Elbrick.
Viveu no México e na então União Soviética. Com a promulgação da anistia, voltou ao Brasil dez anos depois, em 1979, e logo entrou em divergência com o seu partido (o PCB), desligando-se de seu quadro. Gregório apoiou o PMDB e, nessa legenda, candidatou-se, em 1982, à Câmara dos Deputados, ficando como suplente.
Gregório Bezerra passou 22 anos de sua vida preso por motivos exclusivamente políticos, comparando-se a Nelson Mandela, que passou 27 anos.
Antes de morrer, Gregório declarou: Gostaria de ser lembrado como o homem que foi amigo das crianças, dos pobres e excluídos; amado e respeitado pelo povo, pelas massas exploradas e sofridas; odiado e temido pelos capitalistas, sendo considerado o inimigo número um das ditaduras fascistas.
Em homenagem a Gregório Bezerra, o poeta Ferreira Gullar escreveu a poesia Feito de ferro e flor.
Seu corpo foi velado na Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco, tendo reunindo milhares de pessoas. Do alto de uma galeria da Assembléia Legislativa, uma faixa pintada de vermelho, reproduzia os versos da música cantada por Elis Regina: choram Marias e Clarices no solo do Brasil.
Raspava sempre a cabeça e ficou conhecido como Zé Careca. Casou-se com uma viúva, Virgínia Paes de Lima, que morreu em 1990 sem saber que fora casada com um guerrilheiro. Em 1974, ao ser procurado pela polícia local, fugiu para o interior da Bahia, onde buscava trabalhar para viver.
Foi morto em junho de 1975, ano em que a ALN e a MOLIPO não existiam mais, por agentes da Polícia Militar da Bahia em Palmas de Monte Alto, margem direita do Rio São Francisco.
José Dirceu não queria ficar em Cuba. A solução: entrou no Brasil com nome falso e rosto mudado por uma plástica.
José Dirceu viveu clandestinamente no Brasil, de abril de 1975 a agosto de 1979, com o rosto mudado por uma cirurgia plástica feita por médicos vietnamitas em Cuba. Dirceu pôs uma prótese no nariz e puxou ligeiramente os olhos. O nome do personagem: Carlos Henrique Gouveia de Mello. A meio caminho entre São Paulo e Rondônia, onde pretendia se juntar aos companheiros da luta armada do Molipo, ele estacionou na cidade de Cruzeiro d'Oeste, no Paraná. O mais incrível desta história: em Cruzeiro d'Oeste ele se casou, viveu com uma mulher durante cinco anos, teve um filho - e ela nunca desconfiou de que o homem com quem se casara era outro. Até que, ao anúncio da Anistia, José Dirceu a chamou, mostrou a foto dos 13 diante do Hércules da FAB e disse: "Este sou eu". Separaram-se em pouco tempo. Dirceu voltou para Cuba, escondido, desfez a plástica e retornou ao Brasil pela porta da frente do aeroporto de Viracopos. Diz Clara Becker, a mulher com quem ele se casou no Paraná: "O homem que eu amava era o Carlos Henrique, não o Zé Dirceu". Para seu filho, Zeca, o pai foi um herói. "Tenho orgulho de contar a história dele aos meus amigos."
Morreu no dia 2 de maio de 2013, aos 66 anos.
Morreu no dia 15 de Maio de 2009 aos 62 anos. Sua morte foi consequência de ferimentos sofridos em um acidente de carro acontecido em 25 de abril em Búzios (RJ).
‘Filmes sobre esse Sequestro:’
Hércules 56
Lançamento: 2007 (Brasil)
Direção: Sílvio Da-Rin
Elenco: Franklin Martins,
José Dirceu,
Daniel Aarão Reis,
Vladimir Palmeira,
Flávio Tavares
Duração: 94 min
Gênero: Documentário.
Lançamento: 2007 (Brasil)
Direção: Sílvio Da-Rin
Elenco: Franklin Martins,
José Dirceu,
Daniel Aarão Reis,
Vladimir Palmeira,
Flávio Tavares
Duração: 94 min
Gênero: Documentário.
O Que É Isso, Companheiro?
Lançamento: 1997 (Brasil)
Direção: Bruno Barreto
Atores: Alan Arkin,
Fernanda Torres,
Pedro Cardoso,
Luiz Fernando Guimarães.
Duração: 105 min
Gênero: Drama
Em 1970 Vieram os sequestros do cônsul japonês Nobuo Okushi, do embaixador alemão Ehrenfried Anton Theodor Ludwig Von Holleben e, do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher. Realizados para chamar a atenção internacional do que acontecia no Brasil, os sequestros aos diplomatas serviram para a troca dos líderes políticos que estavam presos nos calabouços a sofrer torturas, tendo muitos deles perecido, não resistindo às atrocidades. Na manhã do dia 16 de janeiro de 1971, Bucher foi deixado próximo ao penhasco da igreja da Penha. Encerrava-se o ciclo de sequestros a diplomatas realizados pelas organizações da esquerda durante o período da ditadura. Encerrava-se um conturbado e complexo momento da história do Brasil. Os sequestros permitiram a libertação de cerca de 130 importantes presos políticos, que viviam sob tortura e risco de vida diante de um governo repressivo e ilegítimo, instaurado sob tanques de guerra e canhões, em 1964.
Lançamento: 1997 (Brasil)
Direção: Bruno Barreto
Atores: Alan Arkin,
Fernanda Torres,
Pedro Cardoso,
Luiz Fernando Guimarães.
Duração: 105 min
Gênero: Drama
Em 1970 Vieram os sequestros do cônsul japonês Nobuo Okushi, do embaixador alemão Ehrenfried Anton Theodor Ludwig Von Holleben e, do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher. Realizados para chamar a atenção internacional do que acontecia no Brasil, os sequestros aos diplomatas serviram para a troca dos líderes políticos que estavam presos nos calabouços a sofrer torturas, tendo muitos deles perecido, não resistindo às atrocidades. Na manhã do dia 16 de janeiro de 1971, Bucher foi deixado próximo ao penhasco da igreja da Penha. Encerrava-se o ciclo de sequestros a diplomatas realizados pelas organizações da esquerda durante o período da ditadura. Encerrava-se um conturbado e complexo momento da história do Brasil. Os sequestros permitiram a libertação de cerca de 130 importantes presos políticos, que viviam sob tortura e risco de vida diante de um governo repressivo e ilegítimo, instaurado sob tanques de guerra e canhões, em 1964.
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