Quintana, Drummond, Hilst e João Cabral, entre outros, compõem Comissão Poética de Inquérito para decifrar o silêncio de Carlos Cachoeira e companhia na CPI.
Há um silêncio de antes de abrir-se um telegrama urgente. Há um silêncio de um primeiro olhar de desejo. Há um silêncio trêmulo de teias ao apanhar uma mosca. E há um silêncio de confissão diante de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, completo Mário Quintana.
Não se resolve nada numa CPI. Ali, ao contrário daquelas festas em que ninguém é de ninguém, todo mundo tem dono. É como diz aquele verso bonito: "você é nosso e nós somos teu". Daí a questão filosófica: é melhor não atender ao convite para depor ou comparecer calado?
Dada a complexidade do tema, o cronista achou por bem instaurar uma Comissão Poética de Inquérito, para deliberar sobre os constrangedores silêncios da CPI do Cachoeira. Com a palavra, o relator Carlos Drummond de Andrade: "Mesmo no silêncio e com o silêncio dialogamos".
Cecília Meireles concorda ("Há uma doce luz no silêncio"), mas, para contraditar, Leminski cita Pessoa: "É fácil trocar as palavras, difícil é interpretar os silêncios!". "Difícil é fotografar o silêncio", acrescenta Manoel de Barros, aproveitando oportunamente uma questão de desordem.
Augusto dos Anjos cede à provocação e se exalta: "Ele quis falar e estava mudo!", referindo-se à promessa de Cachoeira de colaborar no futuro. "É o silêncio que diz tudo o que a intuição não adivinha", intervém Bandeira, na tentativa de trazer o debate para o eixo, mas é tarde demais. "Não há silêncio bastante para o meu silêncio", dispara Hilda Hilst.
E quando a reunião se encaminhava para um sarau entre tchutchucas e tigrões, João Cabral decifra a esfinge: "Foi o amor que comeu esse silêncio", levando todos a olhar para o fundo da sala, onde Andressa Mendonça, a musa da CPI, ouve, ao pé do ouvido, uma cantada de Vinícius de Moraes: "Ouve o silêncio que nos fala tristemente desse amor que não podemos ter". Falar o quê?
Não se resolve nada numa CPI. Ali, ao contrário daquelas festas em que ninguém é de ninguém, todo mundo tem dono. É como diz aquele verso bonito: "você é nosso e nós somos teu". Daí a questão filosófica: é melhor não atender ao convite para depor ou comparecer calado?
Dada a complexidade do tema, o cronista achou por bem instaurar uma Comissão Poética de Inquérito, para deliberar sobre os constrangedores silêncios da CPI do Cachoeira. Com a palavra, o relator Carlos Drummond de Andrade: "Mesmo no silêncio e com o silêncio dialogamos".
Cecília Meireles concorda ("Há uma doce luz no silêncio"), mas, para contraditar, Leminski cita Pessoa: "É fácil trocar as palavras, difícil é interpretar os silêncios!". "Difícil é fotografar o silêncio", acrescenta Manoel de Barros, aproveitando oportunamente uma questão de desordem.
Augusto dos Anjos cede à provocação e se exalta: "Ele quis falar e estava mudo!", referindo-se à promessa de Cachoeira de colaborar no futuro. "É o silêncio que diz tudo o que a intuição não adivinha", intervém Bandeira, na tentativa de trazer o debate para o eixo, mas é tarde demais. "Não há silêncio bastante para o meu silêncio", dispara Hilda Hilst.
E quando a reunião se encaminhava para um sarau entre tchutchucas e tigrões, João Cabral decifra a esfinge: "Foi o amor que comeu esse silêncio", levando todos a olhar para o fundo da sala, onde Andressa Mendonça, a musa da CPI, ouve, ao pé do ouvido, uma cantada de Vinícius de Moraes: "Ouve o silêncio que nos fala tristemente desse amor que não podemos ter". Falar o quê?
Rodolfo Borges
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