quarta-feira, 16 de maio de 2012

Poema sujo

Filippino Lippi

Ah, minha cidade suja
de muita dor em voz baixa
de vergonhas que a família abafa
em suas gavetas mais fundas
de vestidos desbotados de camisas mal cerzidas
de tanta gente humilhada comendo pouco
mas ainda assim bordando flores
suas toalhas de mesa
suas toalhas de centro
de mesa com jarros
- na tarde
durante a tarde
durante a vida -
cheio de flores
de papel crepom
já empoeiradas
minha cidade doída.

Ferreira Gullar, em Poema Sujo
"Fragmento"

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