quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Trilha na noite uma flauta

Sophie Gengembre Anderson

Trilha na noite uma flauta.
É de algum pastor? Que importa? Perdida
Série de notas vagas e sem sentido nenhum,
Como a vida.
Sem nexo ou princípio ou fim ondeia
A ária alada.
Pobre ária fora de música e de voz, tão cheia.
De não ser nada.
Não há nexo ou fio porque se lembra aquela
Ária ao parar, e já ao ouvi-la
Sofro a saudade dela
E o quando cessar.

Fernando Pessoa (1888-1935)

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